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10 dezembro, 2007

mão suja, pena sabuja

Uma Europa com um líder que não foi eleito e uma constituição imposta sem votos usou a sua agenda democratizadora como cortina de fumo. Os soundbytes de Kadhafi e Mugabe -sempre à procura de um palco - fizeram o resto e proporcionaram a jornalistas, bloggers e activistas uma cobertura fácil da cimeira.

Neo-colonialismo versus dívidas do colonialismo, democratas versus ditadores, esqueletos no armário versus realpolitik. Histórias de fácil digestão que asseguraram, de uma maneira ou outra, a mensagem oficial de Lisboa: os direitos humanos no centro da nova parceria, abria o Público de ontem (p.2, sem link), assegurando que "Sócrates vence aposta da Presidência Portuguesa". Happy ending portanto apesar de todas as nuvens negras no horizonte do grande timoneiro. Ou não?

Tal como boa parte da imprensa mundial (basta googlar) e Ricardo Paes Mamede (aqui) e Pedro Sales (mesmo aqui) notam, em jogo nesta cimeira estavam os Acordos de Parceria Económica - leia-se, a liberalização de comércio e investimento entre os dois continentes - que vem substituir os acordos de Lomé e Cotonou. A sacrossanta governância foi apenas uma cortina de fumo que serviu para esconder o objectivo económico falhado.

E falhou devido à postura arrogante da Comissão Europeia. Falhou quando Peter Mandelson - outro grande democrata não eleito - ameaçou os países africanos com a subida unilateral de tarifas por parte da UE, falhou quando Barrasshole repetiu a mesma ameaça este fim de semana e já tinha falhado quando outro grande-democrata-comissário-não-eleito, Louis Michel teve de avisar:

"In the words of the EU's development commissioner, Louis Michel, Europeans must now clearly understand that Africa is no longer Europe's private hunting ground. " (aqui para BBC).

Da perspectiva de Bruxelas, a cimeira esteve sob o espectro da ameaça Chinesa na sua zona de caça, mas nenhum jornalista pareceu ter presente que seria importante entrevistar o observador Chinês na conferência. Ficaram-se pelo aplauso aos direitos humanos estarem no centro: não se sabe bem no centro do quê, mas no centro de qualquer das maneiras. E nem aí notaram a contradição de a Líbia ter assinado um acordo com a Secil - com o aceno mafioso de Kadhafi e do Governo Português- quando a tinta ainda não tinha secado nos dignos acordos de Lisboa.

Nada mudou no velho continente: a superioridade moral, a mão suja e a pena sabuja.

Foi um sucesso pá, não foi?

A mensagem vem repetida, a uma só voz, em toda a imprensa portuguesa. A cimeira Europa-África foi um sucesso alterando o paradigma das relações entre os dois continentes. Doravante partilhamos a “mesma agenda”. Que sentido tem isto? Como é que o continente onde se encontra a maioria dos países mais miseráveis do mundo pode ter a mesma agenda do bloco comercial mais poderoso do planeta? Qual é a agenda comum entre um operário qualificado alemão e um trabalhador agrícola moçambicano, que passa quase toda a sua a vida sem sair do latifúndio onde trabalha? E entre a economia francesa e do Chade. A "mesma agenda" não passa de um eufemismo para a liberalização e desregulação dos mercados. Foi esse o caminho para o desenvolvimento que a Europa propôs a África. Não deixa de ser irónico que os líderes de um gigante agrícola altamente subsidiado, fechado e regulado se dirijam, paternalistamente, para os países pobres ou em vias de desenvolvimento e exijam a abertura total e desregulação do seu mercado como condição para o seu interesse. O que é bom para nós nos desenvolvermos e tornarmos ricos não serve para vocês. Nós temos a receita. É o liberalismo assimétrico no seu esplendor

Que tenha sido um dos poucos líderes decentes a bater com a porta, o presidente do Senegal, ou a principal potência industrial, a África do Sul, a dizer que os acordos de parceria economia não servem é sintomático. Parece que alguns ditadores provocam dores de cabeça a Gordon Brown e demais líderes europeus. Passam a vida a falar de bom governo e governança enquanto as empresas europeias florescem com acordos leoninos assinados às claras com as piores tiranias. Mas, como sempre, as dores de cabeça e os embaraços que contam ainda têm lugar com a autonomia que só a democracia permite.

08 dezembro, 2007

Do que é que julgavam que estava a falar?

Durante o fim-de-semana, a zona da antiga Expo 98 acolhe um dos espectáculos mais mediáticos e aguardados do mundo, esperando-se a presença de milhares de pessoas. Novos e velhos juntam-se, à vez, para representarem o papel que lhes está previamente destinado. Fala-se bastante dos seus direitos, mas não é de democracia que se está a tratar junto da Gare do Oriente. Como toda a gente percebe aquilo mais parece o circo, sendo certa a festa e fanfarra de todas as cores. As câmaras de televisão marcam presença. O Noddy e as crianças invadiram o Pavilhão Atlântico. Sejam bem vindos. Por estes dias são mesmo a única reserva de sanidade mental que se passeia junto à zona Oriental de Lisboa.

06 dezembro, 2007

Um (péssimo) cartão de visita

Em vésperas de aterrar em Lisboa, mais a sua gigantesca comitiva, Khadafi fez publicar em vários jornais nacionais um anúncio de página inteira criticando a Convenção de Otava sobre minas terrestres. Ficámos assim a saber que, num país que tem mais de 27% do seu território arável coberto por minas colocadas na II Guerra Mundial, o seu presidente não aceita a proibição do fabrico e utilização de minas terrestres, nem a destruição da sua reserva. Para nos convencer, diz que “os países poderosos não precisam de minas para se protegerem. As minas são o meio de auto-defesa dos países fracos”. O senhor não deve ter estado com atenção às incursões americanas não muito longe do seu país. As minas não travam nenhum exército rudimentar, quanto mais as modernas máquinas de guerra. As minas terrestres não defendem nenhum Estado. São uma arma contra os civis. São estas as suas vítimas. Os civis pobres. É uma arma cobarde. Que alguém entenda que a sua apologia é um bom cartão de visita do seus país no estrangeiro diz bastante sobre o delírio absoluto em que se baseia o regime líbio.

22 julho, 2007

Dilemas Socráticos: Mugabe

Conselho politicamente correcto:
"Welcoming their tormentor to Lisbon for the sake of a jamboree would be a corresponding disgrace", The Economist, July 5th.

Conselho do cardeal conselheiro:
"Seja como for, a Europa não pode "perder" a África...," Causa Nossa, 29 Junho

Conselho de seus homólogos:
"I’ll stay away from the summit if Mugabe goes," Times July 15th


Conselho Zero de Conduta:
Zé não leves isto tão a sério. Relaxa. Olha, podias levantar-te na cimeira e cantar assim