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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Trecho da carta à Lúcio Cardoso

"No dia em que eu conseguir uma forma tão pobre quanto eu o sou por dentro, em vez de carta, parece que já lhe disse, você recebe uma caixinha cheia de pó de Clarice."

Trecho da carta à Fernando Sabino


{...} Ás três da tarde sou a mulher mais exigente do mundo. Fico ás vezes reduzida ao essencial, que dizer, só meu coração bate. Quando passa, vêm seis da tarde, também indescritíveis, em que eu fico cega. Se o telefone toca eu dou um pulo e se me 'convidam' eu pareço criança ou cachorrinho, saio correndo e enquanto corro digo: estou perdendo minha tarde.

Carta à Lúcio Cardoso

Belo Horizonte, 13/7/41
Carta à Lúcio Cardoso

Hellô, bem

Está tudo direito, agora. Antes de partir falei com aquela pessoa por causa de quem eu me encontrei com V. de noite. Não aludi à carta principal e só falei das outras que vieram com belíssimas flores, morangos e outras coisas.Houve um momento em q ele me disse: S. está tonto pq V. vai embora. Menti: "certamente entra aí um pouco de álcool. E, nesse caso, eu sempre me desculpo". Não olhei para ele, não quis ver a reação. Voltei para casa triste com a meia perturbação q eu notara. Mas eu me tinha prometido ser outra, não é? Fiquei defronte do espelho e fiz uma cara belíssima: uma mistura de Nicolau Couro de Cobra com a tua Amélia.Eu pretendia chorar na viagem, pq fico sempre com saudade de mim. Mas infelizmente sou um bom animal sadio e dormi muito bem, obrigada. "Deus" me chama a si, quando eu dele preciso.
Quanto ao teu fantasma, procuro-o inutilmente pela cidade. As mulheres daqui sao quase todas morenas, baixinhas, de cabelo liso e ar morno. Aliás, quase que só há homens nas ruas. Elas, parece, se recolhem em casa e cumprem o seu dever, dando ao mundo uma dúzia de filhos por ano. As pessoas daqui me olham como se eu tivesse vindo do Jardim Zoológico. Concordo inteiramente. Para não chamar a atenção, estou usando cachinhos na testa e uma voz doce como nem Julieta conheceu.Que mais? Eu tinha vontade de escrever outras coisas. Mas vc diria: ela está querendo ser "genial".Sabe Lúcio, toda a efervescência q eu causei só veio me dar uma vontade enorme de provar a mim e aos outros q eu sou mais do q uma mulher. Eu sei q vc não o crê.
Mas eu tb nao o acreditava, julgando o q tenho feito até hoje. É q eu nao sou senão um estado potencial, sentindo que há em mim água fresca, mas sem descobrir onde é sua fonte.
Ok. Basta de tolices. Tdo isso é mto engraçado. Só q eu ñ esperava rir da vida. Como boa eslava eu era uma jovem séria, disposta a chorar pela humanidade...(estou rindo)

Um grande abraço da

Clarice

Ps: esta carta vc ñ precisa "rasgar"...


Correspondências

sábado, 24 de janeiro de 2009

Carta ao filho Paulo Gurgel Valente


Rio, 25 de janeiro de 1969

Meu gafanhoto querido,

por favor não se sinta só: você está rodeado de nosso amor, até Azaléia tem rezado por você.Eu sei, Gafanhoto, como é duro embarcar assim sozinho: mas esta é a grande aventura. E se você soubesse como vai lucrar com esta aventura, você ficaria eufórico.
O sentimento de solidão é um dos mais difíceis de viver. Mas você, se Deus quiser, não vai se sentir só, vai ter muitos amigos.Meu coração te acompanhará sempre e sempre.Deus te abençõe. Tua

Mãe