Prólogo
Já lá vai há algum tempo desde que falei do “lado de lá doDouro”. Aqui está o outro lado (todas as imagens e considerações se referem a
agosto de 2013, mas por certo ainda se mantêm)…
Do lado de cá do Douro
Estávamos frente ao que resta da ponte Pensil, aquela que
esteve entre duas: a ponte das Barcas, de 1806, uma fila de 20 barcas atadas
umas às outras por cabos e a atual Ponte D. Luis, de 1886 . Da Pensil restam os dois pilares, esta
foi água abaixo aquando da invasão napoleónica , quando mais de 4 mil pessoas
tentaram fugir para a outra margem e acabaram por perecer nas águas do Douro.
Douro, de ouro, diz o mito que nas suas águas rolava ouro. Não creio que alguém
o veja, mas as alminhas da ponte ainda por lá andam e são relembradas neste
lado de cá.

Deste lado da ponte Pensil está-se na baixa, não aquela que é
conhecida por esse nome, onde estão as “ruas das montras” (essa baixa fica na
alta), mas a baixa frente ao rio, a que as águas invadem quando o rio sobe e
todos têm de o despejar a baldes. Estamos, pois, na ribeira (literalmente
“perto do rio”, com o seu frenesim de vendedeiras, bares, restaurantes,
esplanadas, locais e turistas, as suas estreitas ruelas e “bécos”, o cheiro a
sardinha no S. João e a febras, a gritaria dos catraios que mergulham da ponte
para o Douro, o S. João do Siza Vieira à espera do 13 de junho ou sei lá de que
balão que o faça ver o Porto de outra perspetiva…
Lá no alto está a Sé catedral para a qual se
vai sempre a subir, ou por estreitas ruelas e escadarias, ou estreitas escadarias
e ruelas ou ainda pelo funicular. Nada como as escadas do Barredo para penetrar
no íntimo da cidade, ou por outras que tais por aí acima ou por aí abaixo,
dependendo se queremos subir ou descer.
À volta da catedral o primeiro núcleo donde tudo brotou, a
catedral barroca. O seu tesouro, o claustro, o palácio episcopal, o Pelourinho e
uma pequena parte da muralha medieval.
Perto da Sé encontramo-nos próximos das ruas comerciais e
movimentadas, a “baixa-alta” igual a tantas outras mas por outro lado
diferente, com pequenas pérolas que fazem toda a diferença, como a livraria
Lello, os antigos armazéns Fernandes Mattos (agora a nova loja de “A vida
portuguesa”), o bar-restaurante “Galeria de Paris” , o Majestic, e no Bolhão, “A pérola do Bolhão” e
o incontornável mercado, claro.
Olha o Bolhão
Há um cheiro a galinheiros
Alface fresca de orvalho
Deslizam já os dinheiros
Nos segredos do retalho
(…)
E logo o calão corta o ar
Desta língua sem emenda
É o motor a arrancar para mais um
dia de venda
(…)
Carlos Tê, in Cimo de
Vila
Para além deste, outros mercados existem no Porto, alguns
renovados e perfumados, como o Ferreira Borges, agora espaço para concertos,
exposições e festas e o do Bom Sucesso, transformado em espaço cultural e de gourmets vários. Aconselhamos o “melhor
rissol do mundo” que pode ser degustado pacatamente, por exemplo, num
piquenique ao ar livre, no Palácio de Cristal, por que não?
O Porto é pródigo em espaços verdes, que se podem aproveitar
para piquenicar, atividade que não perdemos quando visitamos a “Invicta”. Desta
vez bisámos: aproveitámos a relva do Jardim da Cidade
e as mesas de piqueniques nos
jardins do Palácio de Cristal, onde os pavões nos tentam roubar as belas das
iguarias. Ainda ali perto, a Biblioteca Municipal com direito a uma sopa numa
tigela de Camões (ideias fantásticas de uma bibliotecária amante de sopas
??!!!).
Para
quem prefira outras ementas, existe no Porto um ponto incontornável para a
famosa francesinha: "Bufete Fase", na Rua Santa Catarina.
Hum!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Para digerir a terrivelmente calórica, mas suculenta
francesinha, há que ir cedo, uma vez que o bar tem apenas 15 lugares sentados e
é mais concorrido que a Torre dos Clérigos .
Falei da torre apenas para não esquecer outro dos ícones da
cidade. Recusei-me a subir os 200 e tal degraus e pagar para tal esforço, mas há
sempre alguém na família que o faz e do topo fotografa para a posteridade.
Eu, que não subi, com a minha guia portuense, decidimo-nos
por uma visita a um vizinho dos Clérigos, o hostel
Yes Porto, uma outra sugestão que
aqui fica para quem preferir este novo conceito de viajar. Bem moderno, bem decorado e central.
Lá mais para a hora do chá, aconselhamos a zona das galerias
de arte, na Rua Miguel Bombarda. De ambos ao lado da rua, montras diferentes,
possibilidades diferentes e quiçá um chá fora do comum numa esplanada
igualmente diferente. Se não encontrar esta, as esplanadas em quintais e jardins
são uma constante no Porto, para chá ou café, mas sempre escondidinhas e com um
toque artístico. Apetece copiar para os nossos quintais…
Também a música é sinónimo de Porto. A casa mais popular, a
da Música, fica na Boavista e é ainda um exemplar único de arquitetura, com os
seus ângulos pontiagudos, num cubo que já foi controverso.
Cansados de calcorrear (mesmo andando de metro), nada como
nova pausa num outro jardim. O Botânico, por exemplo, com a exposição “Invasão
da Casa Andersen”, com animais embalsamados (http://invasaodacasaandresen.up.pt/?page=jardim_botanico)
ou um relaxe sem bichos pelos jardins e esplanada. O mesmo passeio poderá
ocorrer pelo fresco da manhã, percorrendo a “Floresta” de Sophia, com as suas
tílias, abetos, nenúfares e catos:
“ Era uma vez uma quinta toda cercada de
muros. Tinha arvoredos maravilhosos e antigos, lagos, fontes, jardins, pomares,
bosques, campos e um grande parque seguido por um pinhal que avançava quase até
ao mar”.
Ou podemos ficarmo-nos pela esplanada a contemplar as rosas
com wi-fi grátis.
Se em vez do verde prefere o azul marinho, deste lado de cá
tem ainda a linha de Matosinhos até Leça e mais ainda. Neste agosto que já
passou o calor apertava, a linha estava saturada de banhistas e a tão
apetecível piscina das marés tinha lotação esgotada!
Por esgotar ficaram todas as possibilidades e alternativas
portuenses, deste lado de cá muito ainda ficou por ver , visitar e estar. Mais
uma vez estamos em aberto para a próxima, do lado de cá ou até de lá,
saltitando de um lado para o outro, por entre as 6 pontes, de carro ou de barco…