Muitas vezes nos
referimos a morte de uma pessoa como "tendo chegado a hora", ou ainda
"ninguém morre antes da hora".
Daí a pergunta que
muitos fazem: temos pré-determinada a hora de nossa morte? Ninguém morre antes
da hora determinada?
Dentro da visão
espírita, temos que analisar dois aspectos importantes quando do nascimento
(reencarnação) de um ser humano.
O primeiro aspecto é o
potencial genético do corpo formado, resultante da fusão de óvulo e
espermatozóide, que determinam a formação de um corpo com determinados
potenciais e determinadas limitações.
O segundo aspecto é o
potencial energético do perispírito, pois este último promove a ligação do
espírito com o corpo físico, arrastando para esse corpo energias positivas e/ou
negativas, de acordo com as suas características evolutivas específicas. Essas
energias provocam alterações nos potenciais genéticos e de funcionamento do
corpo físico.
Da interação entre esses
dois aspectos no complexo humano (corpo+perispírito+espírito), temos,
teoricamente, estabelecido um potencial de vitalidade ou de energia vital que, em
tese, determina um potencial máximo de vida para aquele organismo, ou se
quiser simplificar, um tempo máximo de vida orgânica.
Colocamos e destacamos "em
tese", pois o exercício do livre arbítrio leva ao perispírito
possibilidades de alterar suas características energéticas, com energias
positivas ou negativas, o que, por sua vez, altera o potencial de energia vital
do complexo humano. Essa alteração pode melhorar ou piorar o potencial de
energias vitais.
Da mesma forma, o nosso
livre arbítrio também nos leva a utilizar o nosso patrimônio físico, com maior
ou menor cuidado com suas necessidades específicas, o que pode gerar um
"gasto correto" (econômico) ou um "gasto excessivo" de
nossa vitalidade orgânica ou energia vital.
Fica fácil de entender
que a pessoa pode "danificar" seu corpo físico, encurtando seu tempo
de vida orgânica em relação ao seu "potencial de vitalidade". Só isso
já poria por terra a teoria de que "ninguém morre antes da hora".
Quem não cuidar das suas
energias no perispírito (o que está ligado ao equilíbrio espiritual) e do seu
corpo físico, diminui seu tempo de vida orgânica, ou seja, "morre antes da
hora". Com isso, adquire débito energético, ou seja, necessidade de
"resgate" desse "débito" em outra(s) encanação(ões).
Analisando de um ângulo
externo ao próprio complexo humano, temos que nos lembrar que todos estamos
numa vida de relação, com outros indivíduos e com a natureza. E sofremos as
conseqüências disso.
Não existe uma
"programação de morte". Existe um potencial de vida, que pode mesmo
ser "estendido" pelo equilíbrio espiritual e respeito e cuidado com o
corpo físico, ou ainda, encurtado pelo próprio indivíduo ou por terceiros, que
responderão por isso nesta e em outras vidas.
Se as mortes estivessem
programadas, cada movimento em todo o mundo estaria programado. Se uma pessoa
morre atropelada numa rua, na hora do "pico" do movimento, por
exemplo, e isso estivesse "programado", o atropelador já nasceria com
essa "missão", e para ajustar a sincronia entre atropelador e
atropelado, todo o trânsito deveria estar "programado".
O que os espíritas devem
cuidar é para não se tornarem crentes do determinismo, acreditando numa
"programação absoluta da reencarnação", pois isso fere uma verdade
basilar – a do livre arbítrio - , sob a qual reside grande parte da filosofia e
doutrina espírita.
É preciso estudar um
pouco mais a Lei de Causa e Efeito, relacionando isso com o estudo do registro
energético do perispírito, de modo a entendermos o correto mecanismo do
"resgate e expiação.
Nada acontece sem que a
Vontade Divina o queira, pois o Criador estabeleceu as Leis Universais,
perfeitas e justas, e tudo ocorre de acordo com essas Leis.
E as Leis são tão
perfeitas que Deus nada mais precisa fazer para que elas se concretizem. Sua
vontade já está manifesta na Lei.
Quanto a termos "...nossa
hora de partir..." , isso é fundamentalmente uma verdade pois,
obrigatoriamente, temos que partir do corpo físico (morte ou desencarnação), e
isso está estabelecido desde o momento que reencarnamos (nascemos), pois a
única certeza de que temos, é que enfrentaremos "a hora da morte".
Mas em nenhum momento isso significa que temos uma hora pré determinada
para morrer.
E as pessoas que
sobrevivem a graves desastres onde várias outras morreram, foram
"escolhidas" e "protegidas" para não morrerem?
Desapareceriam as
responsabilidades dos "supostos" causadores ou responsáveis materiais
dos problemas, dos acidentes e desastres, das mortes, pois apenas estariam
dando cumprimento e seguimento a uma "programação divina", sem
possibilidades outras que não cumprir o destino, o que estava escrito, o que
estava determinado. Se as mortes violentas estivessem realmente programadas,
seríamos todos infelizes marionetes.
Nessa
"equação" entre o bem, o mal, a vida e a morte, tudo está relacionado
e decorrente da utilização de nosso livre arbítrio, onde temos inclusive a
possibilidade de mudar a vida, a duração ou até mesmo a época da morte nossa e
de outras pessoas. E por isso assumimos responsabilidades.
Não se deve interpretar
literalmente e fora de contexto o colocado na questão nº 853 do Livro dos
Espíritos (L.E.). Deve ser analisado e considerado que Kardec afirma existir
"a hora da morte" e não "uma hora da morte" (a diferença
semântica é sutil, mas o conceito muda "da água para o vinho"), e que
fica muito claro nas Obras Básicas como um todo, que não existe uma data e hora
da morte pré-determinada. Constata-se isso estudando Kardec com cuidado, e não
apenas "lendo Kardec".
Assim, podemos morrer
"antes da hora", no sentido estrito de não termos atingido a nossa
idade potencial. E isso pode se dar em virtude de nossos abusos e imperfeições
Muitos não querem
aceitar isso, pois é muito cômodo responsabilizar o destino e a programação
reencarnatória por tudo o que acontece de ruim. Muitos espíritas querem que a
espiritualidade, a "vontade divina" e o destino sejam responsáveis
por fatos, atos e coisas que são de inteira, única e exclusiva responsabilidade
individual e/ou coletiva.
Texto
extraído: Carlos Augusto Parchen - Centro Espírita Luz Eterna - CELE