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ineiev |
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Transcrição do discurso de Richar M. Stallman, "Software Livre: Liberdade de |
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Cooperação" Universidade de Nova Iorque, em 29 de Maio de 2001. |
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Original em inglês: http://www.gnu.org/philosophy/rms-nyu-2001-transcript.txt |
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Traduzido por Edgard Lemos <edgard@edconsultoria.com.br> |
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Uma outra tradução pode ser encontrada em: |
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http://www.msantunes.com.br/palestra.htm |
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URETSKY: Eu sou Mike Uretsky. Sou da "Escola de Negócios Stern". Também sou |
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um dos co-diretores do Centro de Tecnologia Avançada. E, em nome de todos nós |
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do Departamento de Ciência da Computação, quero dar-lhes as boas-vindas aqui. |
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Quero fazer alguns comentários antes de dar a palavra a Ed, que vai lhes |
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apresentar o palestrante. |
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O papel da Universidade é fomentar o debate e levantar discussões |
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interessantes. E o papel de uma universidade proeminente é ter discussões |
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particularmente interessantes. E esta apresentação em particular, este |
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seminário entra bem dentro desse molde. Eu considero a discussão sobre código |
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aberto particularmente interessante. De certo modo, [Risos] |
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STALLMAN: Meu negócio é "software livre". Código aberto é outro movimento. |
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[Risos] [Aplausos] |
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URETSKY: Quando iniciei nesta área nos anos 60, software era basicamente |
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livre. Então entramos numa fase. Ele era livre, e então os fabricantes [[ou |
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"alguns dos fabricantes"]] de software, precisando expandir seus mercados, o |
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levaram para outras direções. Muito do desenvolvimento que aconteceu com a |
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entrada do PC foi exatamente nessa fase. |
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Há um filósofo francês muito interessante -- Pierre Levy -- que fala sobre |
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essas mudanças, e que fala sobre o movimento para o ciberespaço não só tendo a |
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ver com tecnologia, mas também com restruturação social e política, através da |
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mundança dos relacionamentos para a melhoraria do bem-estar da |
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humanidade. E esperamos que este debate seja um movimento nessa direção; pois |
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este debate atravessa várias disciplinas que são a base da Universidade. |
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Estamos desejosos de discussões verdadeiramente interessantes. Ed? |
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SCHONBERG: Eu sou Ed Schonberg do Departamento de Ciência da Computação do |
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Insituto Courant. Sejam todos bem-vindos a este evento. Apresentadores são |
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normalmente, e particularmente, um aspecto inútil em apresentações públicas, |
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mas, neste caso, realmente, um deles serviu a um propósito útil como |
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demonstrado por Mike. Um apresentador por exemplo, ao fazer |
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comentários imprecisos, pode permitir que ele endireite, corrija e [Risos] |
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esclareça consideravelmente os parâmetros do debate. |
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Portanto, vou apresentar da maneira mais rápida possível alguém que dispensa |
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apresentações. Richard é o exemplo perfeito de alguém que, agindo localmente, |
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começou a pensar globalmente a partir de problemas relativos à não |
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disponibilidade de código fonte para drivers de impressora no AI-Lab muitos |
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anos atrás. Ele desenvolveu uma filosofia coerente que nos forçou a todos a |
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reexaminar nossas idéias de como se produz sofwtare, o que significa |
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propriedade intelectual e o que realmente representa a comunidade de software. |
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Convido, portanto, Richard Stallman. [Aplausos] |
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STALLMAN: Alguém pode me emprestar um relógio? [Risos] Obrigado. Bem, eu |
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gostaria de agradecer à Microsoft por me oferecer esta oportunidade de [Risos] |
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estar neste púlpito. Nas últimas semanas, eu me senti como um escritor cujo |
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livro tivesse sido fortuitamente proibido. [Risos] Exceto que todos os artigos |
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sobre ele davam o nome errado do autor, pois a Microsoft descreve GNU GPL como |
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uma licença de código aberto, e a maior parte da cobertura da imprensa adotou |
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isso. Muitas pessoas, obviamente inocentemente não percebem que nosso trabalho |
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não tem nada a ver com código aberto; de fato, fizemos quase tudo antes de |
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cunharem o termo "código aberto". |
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Somos do Movimento do Software Livre, e vou falar sobre o que é o movimento de |
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software livre, o que significa, o que temos feito e, como este evento é |
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parcialmente patrocinado pela Escola de Negócios, vou falar algumas coisas a |
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mais do que normalmente falo sobre como o software se relaciona com os negócios |
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e algumas outras áreas da vida social. |
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Bem, alguns de vocês talvez não escrevam programas, mas talvez cozinhem. E se |
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cozinham, a não ser que sejam muito bons, provavelmente seguem receitas. E se |
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seguem receitas, provavelmente já tiveram a experiência de obter uma cópia da |
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receita de um amigo. E provavelmente já tiveram a experiência -- a não ser que |
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sejam totalmente neófitos -- de alterar a receita. A receita diz certas coisas, |
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mas você não está obrigado a segui-la exatamente. Você pode excluir alguns |
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ingredientes. Adicionar cogumelos, porque você gosta. Pôr menos sal porque seu |
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médico disse para reduzir o sal -- etc. Você pode fazer alterações ainda |
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maiores de acordo com sua habilidade. E ao modificar uma receita, e cozinhar |
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para amigos e eles gostarem, um deles pode dizer "puxa, dá pra passar a |
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receita?" Então o que você faz? Você poderia escrever essa versão modificada da |
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receita e entregar uma cópia ao seu amigo. Isto é natural de se fazer com |
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receitas de qualquer tipo. |
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Ora, receitas têm muito em comum com programas. Programas têm muito em comum |
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com receitas. Uma série de passos de execução para obter algum resultado que |
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se queira. Assim, é natural agir da mesma forma com programas. Ceder uma cópia |
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a um amigo. Modificá-lo porque a tarefa para a qual foi escrito não é |
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exatamente o que você quer. Até fez uma excelente trabalho para outros, mas |
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você tem uma tarefa diferente. E, depois de modificá-lo, pode ser que seja útil |
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para outras pessoas ainda. Talvez elas tenham uma tarefa a fazer que seja como |
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a sua. Assim, elas pedem, posso conseguir uma cópia? E como você é |
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um cara legal, você vai dar a cópia. É assim que agem as pessoas decentes. |
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Agora imagine como seria se as receitas viessem lacradas dentro de caixas |
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pretas -- sem poder ver os ingredientes que estivesse usando, muito menos |
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modificá-los -- e imagine, se ao copiá-las para um amigo, eles o chamassem |
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de pirata e tentassem colocá-lo na cadeia por anos. Um mundo assim traria |
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tremenda indignação para todos aqueles acostumados a trocar receitas. Mas é |
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exatamente desse jeito que é o mundo do software proprietário. Um mundo no |
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qual a decência comum para com outras pessoas é proibida ou impedida. |
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E porque eu notei isso? Eu notei isso porque tive sorte, nos anos 70, de fazer |
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parte de uma comunidade de programadores que compartilhavam software. Essa |
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comunidade tinha sua origem essencialmente lá no início da computação. Nos |
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anos 70, porém, já estava ficando raro encontrar uma comunidade em que se |
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compartilhava software. E, de fato, era um caso extremo, pois no laboratório |
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em que trabalhava, o sistema operacional inteiro era software desenvolvido |
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pelas pessoas de nossa comunidade, e o compartilhávamos com qualquer |
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pessoa. Qualquer um era convidado a vê-lo e levar uma cópia, e fazer com ele o |
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que quisesse. Não havia nenhum aviso de direito de cópia nesses programas. |
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Cooperação era nosso modo de vida. E nos sentíamos seguros nesse tipo de vida. |
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Não lutávamos por ela. Não tínhamos que lutar por ela. Apenas vivíamos assim. |
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E, até onde eu soubesse, continuaríamos a ver daquela maneira. Assim, havia |
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software livre, mas não havia movimento de software livre. |
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Mas então, nossa comunidade foi destruída por uma série de calamidades que |
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aconteceram. No fim acabou sendo eliminada. No fim, o computador PDP-10 que |
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usávamos para todo nosso trabalho foi descontinuado. E como vocês sabem, nosso |
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sistema -- O Sistema de Compartilhamento de Tempo Incompatível -- fora |
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escrito nos anos 60, portanto fora escrito em assembler. Era assim que se |
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escrevia sistemas operacionais nos anos 60. Obviamente, programas em |
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assembler são feitos para uma arquitetura de hardware em particular; se for |
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descontinuado, todo o trabalho vira pó -- não serve para mais nada. E foi o |
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que aconteceu conosco. 20 anos ou tanto de trabalho da nossa comunidade virou |
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pó. |
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Mas antes que isso acontecesse, eu tive uma experiência que me preparou, me |
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ajudou a saber o que fazer, ajudou a me preparar para saber o que fazer quando |
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isso acontecesse, porque a certa época, a Xerox deu ao laboratório de |
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inteligência artificial em que trabalhava, uma impressora a laser, um presente |
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muito interessante, pois era a primeira vez que alguém fora da Xerox tinha uma |
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impressora a laser. Ela era muito rápida, imprimia uma página por segundo, |
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muito boa em muitos aspectos, mas não era confiável, porque ela era na verdade |
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uma copiadora de alta velocidade para escritórios modificada para impressora. |
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E vocês sabem, as copiadoras engasgam, mas o operador está junto para reparar. |
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A impressora engasgava sem ninguém ver. E ficava assim por longo tempo. |
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Então tivemos uma idéia para lidar com este problema. Modificá-la de modo |
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que quando engasgasse, a máquina que controlava a impressora pudesse avisar |
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nosso computador central, e avisar aos usuários que estivessem aguardando |
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as impressões, ou algo do tipo, por exemplo, de problemas na impressora. Se |
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soubessem que ela tinha engasgado, quer dizer, se você está esperando por |
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uma impressão, e sabe que a impressora está engasgada, você não vai ficar |
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sentado, você vai lá e resolve o problema da impressora. |
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Mas, aí ficamos completamente de mãos atadas, porque o software que controlava |
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a impressora não era livre -- ele tinha vindo com a impressora, e era apenas |
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um binário. Não tínhamos como saber o código fonte -- a Xerox não nos deixava |
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obter o código fonte. Assim, apesar de toda nossa habilidade como |
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programadores -- afinal, tínhamos escrito nosso próprio sistema operacional -- |
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estávamos totalmente impedidos de adicionar o novo recurso ao software da |
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impressora. |
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Aí só nos restava sofrer com as demoras -- levava uma ou duas horas para |
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conseguir uma impressão porque a máquina engasgava a maior parte do tempo. E de |
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vez em quando -- a gente esperava uma hora sabendo que a impressora |
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iria engasgar mesmo e na hora de pegar a impressão via que a impressora não |
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tinha imprimido nada porque ninguém tinha ido lá desengasgá-la. Daí a gente a |
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punha em ordem e esperava mais meia hora. Ao voltar via que ela tinha |
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engasgado de novo -- antes de imprimir o seu trabalho. Imprimia três minutos e |
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engasgava trinta. Frustante à beça... Mas o pior era saber que nós podíamos |
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resolver o problema, mas alguém, por seu próprio egoísmo, nos impediu de |
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melhorar o software. Ficamos, então, um tanto ressentidos. |
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Um dia fiquei sabendo que uma pessoa da Universidade Carnegie Mellon tinha uma |
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cópia do software. Fiz uma visita lá um tempo depois e fui a seu escritório e |
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disse, "Olá, sou do MIT, posso copiar o código fonte da impressora?" Ao que |
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ele respondeu "Não, eu prometi não dá-lo a você". [Risos] Fiquei pasmado. |
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Fiquei -- fiquei tão nervoso, não tinha nem idéia de como revidar. Pensei em |
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virar as costas ali mesmo e sair da sala. Talvez batendo a porta. [Risos] Mais |
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tarde pensei sobre isso, pois percebi que não estava diante de um cretino |
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isolado, mas de um fenômeno social que era importante e afetava muita gente. |
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Isto -- para mim -- Tive sorte de apenas sentir o gosto, mas outras pessoas |
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tinham viver o tempo todo assim. Vejam, ele tinha prometido a se recusar a |
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|
cooperar conosco -- colegas seus do MIT. Ele tinha-nos traído. Mas não |
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|
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só a nós. Acho até que ele traiu vocês. Com certeza, pensei agora, ele traiu |
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|
|
vocês. [Risos] E provavelmente ele os traiu também. Ele provavelmente traiu |
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|
|
todos deste auditório -- com exceção de uns poucos que não eram ainda nascidos |
185 |
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|
nos anos 80. Pois ele tinha prometido não cooperar com simplesmente toda a |
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|
população do Planeta Terra. Ele tinha assinado um acordo de confidencialidade. |
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Este foi, então, meu primeiro encontro direto com um acordo de |
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confidencialidade e com isso aprendi uma lição importante -- uma lição |
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|
importante que a maioria dos programadores nunca aprende. Vejam, este foi meu |
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primeiro encontro com um acordo de confidencialidade e eu fui a vítima. Eu, e |
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|
todo o meu laboratório, fomos as vítimas. E a lição que aprendi foi que |
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|
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acordos de confidencialidade fazem vítimas. Eles não são inocentes. Eles não |
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são inofensivos. A maioria dos programadores se deparam com um acordo de |
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confidencialidade quando são convidados a assiná-lo. E há sempre aliciamento |
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|
-- a promessa de receber algo em troca se eles assinarem. Então inventam |
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|
|
desculpas. Daí dizem, "bem, o cliente nunca vai conseguir os fontes mesmo, |
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|
|
então porque não me unir ao cartel que o explora?" Ou dizem "sempre foi assim. |
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|
|
Quem sou eu para ir contra?" Ou também, "se eu não assinar isto, outro vai." |
200 |
|
|
Várias desculpas para abafar sua consciência. |
201 |
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202 |
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|
Mas, quando me convidaram para assinar um acordo de confidencialidade, minha |
203 |
|
|
consciência já estava alerta. Lembrei-me de quanta raiva tinha sentido quando |
204 |
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|
alguém prometeu não dar ajuda a mim nem a meu laboratório inteiro para resolver |
205 |
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|
um problema. Eu não podia ceder e fazer exatamente a mesma coisa a outros que |
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|
|
nunca me tinham feito mal nenhum. Sabe, se alguém me pedisse para prometer não |
207 |
|
|
dar informações úteis a um inimigo odiado, eu teria dito que não daria. |
208 |
|
|
Entende? Se alguém me fez mal, talvez mereça. Mas, outros -- eles não tinham |
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|
|
me feito mal algum. Por que serem mal tratados? Não se pode tratar mal toda e |
210 |
|
|
qualquer pessoa. Senão você se torna um predador da sociedade. Daí falei, |
211 |
|
|
muito obrigado por me oferecer seu excelente programa. Mas não posso aceitá-lo |
212 |
|
|
de consciência limpa, nas condições que você exige, vou ter de passar sem ele. |
213 |
|
|
Muito obrigado. Assim, jamais assinei conscientemente um contrato de |
214 |
|
|
confidencialidade para informações técnicas de utilidade geral, como software. |
215 |
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|
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|
|
Mas há outras informações que levantam questões éticas diferentes. Por |
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|
|
exemplo, existem informações pessoais. Se você conversar comigo sobre o que |
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|
|
aconteceu entre você e seu namorado, e me pedir para não contar a ninguém -- |
219 |
|
|
bem, eu posso guardar -- eu posso guardar esse segredo para você, porque não é |
220 |
|
|
uma informação técnica de utilidade geral. |
221 |
|
|
|
222 |
|
|
Pelo menos, não deveria ser de utilidade geral. [Risos] A não ser é claro -- |
223 |
|
|
e é só uma possibilidade, porém -- que você me revele alguma técnica sexual |
224 |
|
|
tão fantástica, [Risos] que me faça sentir no dever moral [Risos] de |
225 |
|
|
repassar isso para o resto da humanidade, para que todos possam se beneficiar. |
226 |
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|
Assim, teria de colocar uma condição nessa promessa. Detalhes de |
227 |
|
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quem quer isso, quem está com raiva de quem, e outras coisas assim -- uma |
228 |
|
|
novela -- mantenho segredo para você, mas algumas coisas de que a |
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|
|
humanidade pudesse se beneficiar tremendamente se soubesse, eu não iria |
230 |
|
|
segurar. Vejam, o propósito da ciência e da tecnologia é desenvolver |
231 |
|
|
informações úteis para que a humanidade ajude as pessoas a viverem melhor. Se |
232 |
|
|
prometemos segurar essa informação -- se mantivermos segredo -- então |
233 |
|
|
estaremos traindo a missão de nossa área. E assim, decidi que não devia |
234 |
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|
assinar. |
235 |
|
|
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236 |
|
|
Mas, enquanto isso, minha comunidade tinha sumido, e isso era o fundo do |
237 |
|
|
posso, daí fiquei numa situação ruim. Vejam, nosso sistema operacional estava |
238 |
|
|
obsoleto, porque o PDP-10 estava obsoleto, e assim, não havia meio de |
239 |
|
|
continuar trabalhando como desenvolvedor de sistema operacional do mesmo modo |
240 |
|
|
como vinha fazendo. Isso dependia de fazer parte da comunidade que usava |
241 |
|
|
software comunitário, e melhorá-lo. Isso não era mais uma possibilidade, e |
242 |
|
|
isso me pôs num dilema moral. O que deveria fazer? Pois a possibilidade mais |
243 |
|
|
óbvia significava ir contra a decisão que tinha tomado. A possibilidade mais |
244 |
|
|
óbvia era me adaptar à mudança do mundo. Aceitar que as coisas tinham mudado, |
245 |
|
|
abandonar meus princípios e passar a assinar acordos de confidencialidade |
246 |
|
|
para sistemas operacionais proprietários, e ainda muito provavelmente escrever |
247 |
|
|
software proprietário também. Mas percebi que desse modo eu poderia me |
248 |
|
|
divertir escrevendo programas, ganhar dinheiro -- especialmente se fizesse |
249 |
|
|
carreira fora do MIT -- mas, no fim, olharia para trás sobre minha carreira e |
250 |
|
|
diria "Gastei minha vida construindo muros para dividir as pessoas," e teria |
251 |
|
|
vergonha de minha vida. |
252 |
|
|
|
253 |
|
|
Então procurei outra alternativa, e havia uma que era óbvia. Até podia deixar |
254 |
|
|
a área de software, e fazer outra coisa. Eu não tinha nenhuma outra |
255 |
|
|
habilidade especial digna de nota, mas estou certo de que poderia me ter me |
256 |
|
|
tornado garçon. [Risos] Não em restaurante chique, ele não me contratariam, |
257 |
|
|
[Risos] mas talvez em outro lugar. E muitos programadores me dizem "as |
258 |
|
|
pessoas que contratam programadores exigem isso, isso e isso -- se não fizer |
259 |
|
|
do jeito deles, passo fome." É literalmente como dizem. Bem, garçon não |
260 |
|
|
passar fome. [Risos] Eles não correm esse risco. Mas -- e isso é |
261 |
|
|
importante, vejam vocês -- como às vezes se pode justificar o fazer algo que |
262 |
|
|
prejudica outras pessoas dizendo "se não for desse jeito, algo pior vai |
263 |
|
|
acontecer comigo". Se você está a ponto de passar fome, então está desculpado |
264 |
|
|
se escrever software proprietário [Risos]. Se alguém estivesse apontando uma |
265 |
|
|
arma para você, eu diria que é perdoável. [Risos] Mas, eu achei um modo de |
266 |
|
|
sobreviver sem fazer nada anti-ético, para que não houvesse desculpa. Percebi |
267 |
|
|
que ser garçon não me realizaria, e desperdiçaria minhas qualidades como |
268 |
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desenvolvedor de sistemas operacionais. Teria evitado o mal uso de minhas |
269 |
|
|
habilidades. Desenvolver software proprietário seria mal uso de minhas |
270 |
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habilidades. Incentivar outras pessoas a viver num mundo de softawre |
271 |
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proprietário seria fazer mal uso de minhas habilidades. Então seria melhor |
272 |
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jogá-las fora que usá-las mal, mas ainda não estava bom. |
273 |
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274 |
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Assim, por essas razões, decidi procurar outra alternativa. O que um |
275 |
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desenvolvedor de sistemas operacionais pode fazer para melhorar de fato a |
276 |
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situação, para fazer do mundo um lugar melhor? Percebi que um desenvolvedor de |
277 |
|
|
sistemas operacionais era exatamente o que era necessário. O problema, o |
278 |
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|
dilema, existia para mim e para todos porque todos os sistemas operacionais |
279 |
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|
disponíveis para computadores modernos eram proprietários. Os sistemas |
280 |
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|
operacionais livres eram para computadores velhos e obsoletos, certo? Assim |
281 |
|
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para computadores modernos -- se você quisesse adquirir um computador moderno |
282 |
|
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e usá-lo, seria forçado a usar um sistema operacional proprietário. Se um |
283 |
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desenvolvedor escrevesse um novo sistema operacional -- e |
284 |
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depois dissesse, todo mundo vem aqui e copia, vocês estão convidados -- isso |
285 |
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seria uma saída para o dilema, uma outra alternativa. Assim percebi que |
286 |
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|
havia algo que podia fazer para resolver o problema. Eu tinha as habilidades |
287 |
|
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certas para fazê-lo. E foi a coisa mais útil que eu podia imaginar que seria |
288 |
|
|
capaz de fazer na minha vida. Era um problema que ninguém mais estava tentando |
289 |
|
|
resolver. Todo mundo via a coisa toda ficando pior e ninguém se mexia exceto |
290 |
|
|
eu. Daí me senti um "escolhido". "Quem tem de resolver sou eu. Se não for, quem |
291 |
|
|
vai?" Então decidi desenvolver um sistema operacional livre -- ou morrer |
292 |
|
|
tentando. De velho, naturalmente. [Risos] |
293 |
|
|
|
294 |
|
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Naturalmente, eu tinha de decidir que tipo de sistema operacional deveria ser |
295 |
|
|
-- havia algumas decisões técnicas de projeto a serem feitas. Decidi fazer um |
296 |
|
|
sistema compatível com UNIX por uma série de razões. Primeiro, eu tinha visto |
297 |
|
|
um sistema operacional de que eu realmente gostava ficar obsoleto porque ele |
298 |
|
|
tinha sido escrito para um tipo específico de computador. Eu não queria que |
299 |
|
|
isso acontecesse de novo. Precisávamos ter um sistema portável. Bem, UNIX era |
300 |
|
|
um sistema portável. Então se seguisse as linhas de projeto do UNIX, teria uma |
301 |
|
|
boa chance de fazer um sistema que fosse portável e operável. E além disso ser |
302 |
|
|
compatível com ele nos detalhes. A razão é que os usuários odeiam mudanças |
303 |
|
|
incompatíveis. Se tivesse projetado o sistema do jeito que mais gostasse -- o |
304 |
|
|
que teria adorado fazer, com certeza -- teria produzido algo incompatível. |
305 |
|
|
Bem, os detalhes seriam diferentes. Assim, se escrevesse o sistema -- os |
306 |
|
|
usuários teriam-me dito "olha... é bem legal, mas incompatível. Vai dar |
307 |
|
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muito trabalho migrar. Não compensa usar seu sistema em vez do UNIX, assim |
308 |
|
|
ficaremos com o UNIX", eles teriam dito. |
309 |
|
|
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310 |
|
|
Então, se quisesse criar de fato uma comunidade em que houvesse gente -- |
311 |
|
|
pessoas usando este sistema livre, e usufruindo dos benefícios da livre |
312 |
|
|
cooperação -- eu teria de fazer um sistema que as pessoas usassem, um sistema |
313 |
|
|
que eles achassem fácil de usar, que não apresentasse obstáculo, levando-o ao |
314 |
|
|
insucesso logo no início. Ao fazê-lo compatível com UNIX, ficaram definidas |
315 |
|
|
todas as decisões de projeto imediatas, porque o UNIX é composto de muitas |
316 |
|
|
peças, e elas se comunicam por interfaces que são de alguma forma documentadas. |
317 |
|
|
Se quiser ser compatível com UNIX, você precisa substituir cada peça, uma por |
318 |
|
|
uma, por outra compatível. As decisões de projeto restantes ficam dentro |
319 |
|
|
de cada peça. E poderiam ser escritas mais tarde por quem decidisse |
320 |
|
|
escrevê-las; elas não precisavam ser feitas todas desde o início. |
321 |
|
|
|
322 |
|
|
Assim, o que precisávamos fazer para começar o trabalho era encontrar um nome |
323 |
|
|
para o sistema. Nós, hackers, sempre achamos um nome engraçado ou maroto para |
324 |
|
|
os programas, já que pensar nas pessoas achando graça do nome é metade da |
325 |
|
|
diversão de se escrever programas. [Risos] E tínhamos uma tradição de usar |
326 |
|
|
siglas recursivas para dizer que o programa escrito era similar a outro |
327 |
|
|
existente. Você pode criar uma sigla recursiva que diga -- este programa não |
328 |
|
|
é o aquele. Assim, por exemplo, havia muitos editores de texto Tico nos anos 60 |
329 |
|
|
e 70, ele eram geralmente chamados de "isto não é o Tico". Um hacker chamou o |
330 |
|
|
seu de Tint que quer dizer Tint Is Not Tico -- a primeira sigla recursiva. Em |
331 |
|
|
1975, desenvolvi o primeiro editor de texto Emacs, e houve muitas imitações do |
332 |
|
|
Emacs, e muitos deles eram chamados de isto não é Emacs, mas um era chamado |
333 |
|
|
Fine -- Fine Is Not Emacs, e havia o Sine -- Sine Is Not Emacs e IINA, IIna Is |
334 |
|
|
Not Emacs e MINCE, Mince Is Not Complete Emacs. [Risos] Era uma imitação |
335 |
|
|
"light". E, então, IINA foi completamente reescrito, e a nova versão se chamou |
336 |
|
|
ZWII. ZWII Was IINA Initially. [Risos] |
337 |
|
|
|
338 |
|
|
Então procurei uma sigla recursiva para "Something Is Not UNIX". Tentei todas |
339 |
|
|
as 26 letras e descobri que nenhuma delas formava uma palavra. [Risos] Hmm, |
340 |
|
|
vamos tentar de outro jeito. Fiz uma contração. Assim, podia ter uma sigla com |
341 |
|
|
três letras, Something's Not UNIX. E aí veio a palavra "GNU" -- a palavra |
342 |
|
|
"GNU" é a mais engraçada da língua inglesa. [Risos] Foi isso mesmo. |
343 |
|
|
Naturalmente, a razão de ser engraçada é dada pelo dicionário, sua pronúncia é |
344 |
|
|
"new". Estão vendo? É por isso que as pessoas a usam para fazer vários |
345 |
|
|
trocadilhos. Vou contar, este é o nome de um animal que vive na África. A |
346 |
|
|
pronúncia africana tem um estalo. [Risos] Talvez ainda tenha. Os colonizadores |
347 |
|
|
europeus, quando chegaram lá, não se incomodaram em aprender a pronunciar este |
348 |
|
|
estalo. Assim o deixaram de fora, e escreveram o "G" para dizer "existe um som |
349 |
|
|
aqui que deveria ser pronunciado". [Risos] Hoje à noite eu parto para a África |
350 |
|
|
do Sul, e já pedi a eles. Espero que me encontrem alguém que possa me ensinar |
351 |
|
|
a pronunciar esses estalos. [Risos] Assim vou saber como pronunciar GNU |
352 |
|
|
corretamente, ao me referir ao animal. |
353 |
|
|
|
354 |
|
|
Mas, ao se referir ao sistema operacional, a pronúncia correta é G-NU -- |
355 |
|
|
pronuncie um "G" mudo. Se você falar sobre um tal de sistema operacional |
356 |
|
|
"new", as pessoas vão ficar confusas, já que trabalhamos nele há 17 anos, |
357 |
|
|
então não é mais novo. [Risos] Mas ainda é, e sempre será GNU -- não importa |
358 |
|
|
quantas pessoas o chamem erradamente de Linux. [Risos] |
359 |
|
|
|
360 |
|
|
Assim, em janeiro de 1984, me demiti do MIT para começar a escrever as peças |
361 |
|
|
do GNU. Eles foram muito legais em me deixar usar os equipamentos. E, naquela |
362 |
|
|
época, pensei em escrever todas as peças, fazer um sistema GNU completo, para |
363 |
|
|
depois dizer "venham e peguem" e aí as pessoas começariam a usá-lo. Mas não |
364 |
|
|
foi o que aconteceu. As primeiras peças que escrevi eram boas substitutas, com |
365 |
|
|
poucos bugs para alguns UNIX, mas não eram tremendamente atraentes. Ninguém |
366 |
|
|
particularmente queria obtê-las nem instalá-las. Daí, em setembro de 1984, |
367 |
|
|
comecei a escrever o GNU Emacs -- que foi minha segunda implementação do Emacs |
368 |
|
|
-- no início de 1985, já estava funcionando. Podia usá-lo para tudo que |
369 |
|
|
editasse, o que foi um grande alívio, porque não tinha nenhuma vontade de usar |
370 |
|
|
o VI, o editor do UNIX. [Risos] Assim, até aquele momento, eu editava em |
371 |
|
|
outros máquinas, gravava os arquivos pela rede, assim podia testá-los. Mas |
372 |
|
|
quando o GNU Emacs estava rodando bem para que eu usasse, também estava -- |
373 |
|
|
outras pessoas queriam usá-lo também. |
374 |
|
|
|
375 |
|
|
Assim tive de resolver detalhes de distribuição. Naturalmente, pus uma cópia |
376 |
|
|
em um diretório de FTP anônimo, o que era bom para as pessoas conectadas na |
377 |
|
|
rede; eles podiam puxar o arquivo tar, mas muitos programadores estavam fora |
378 |
|
|
da Internet em 1985. Eles me mandavam emails dizendo "Como consigo uma cópia?" |
379 |
|
|
Eu tinha de decidir o que responder para eles. Eu poderia ter dito, quero |
380 |
|
|
gastar meu tempo escrevendo mais software GNU, não gravando fitas, assim por |
381 |
|
|
favor ache um amigo conectado na Internet e que queira baixá-lo e ponha-o em |
382 |
|
|
uma fita para você. E tenho certeza de que as pessoas teriam encontrado |
383 |
|
|
amigos, mais cedo ou mais tarde, não é? Eles teriam conseguido as cópias. Mas |
384 |
|
|
eu estava desempregado. De fato, estava desempregado desde que saíra do MIT em |
385 |
|
|
janeiro de 1984. Estava procurando um meio de ganhar dinheiro pelo meu |
386 |
|
|
trabalho no software livre, e assim iniciei um negócio de software livre. Eu |
387 |
|
|
anunciava "me manda 150 dólares que eu lhe mando uma fita do Emacs". E os |
388 |
|
|
pedidos começaram a pingar. Lá pelo meio do ano eles já estavam gotejando. |
389 |
|
|
|
390 |
|
|
Eu recebia de 8 a 10 pedidos por mês. E, se necessário, poderia ter vivido só |
391 |
|
|
com aquilo, porque sempre vivi uma vida modesta; eu vivo como um estudante, |
392 |
|
|
basicamente. E gosto disso, porque isso significa que o dinheiro não dita o |
393 |
|
|
que devo fazer. Eu posso fazer aquilo que julgo importante para mim. Isso me |
394 |
|
|
libera para fazer o que parece valer a pena. Por isso, façam um esforço real |
395 |
|
|
para evitar serem sugados para dentro de todos esses hábitos de vida |
396 |
|
|
dispendiosos do americano típico. Pois se fizerem isso, as pessoas com |
397 |
|
|
dinheiro vão ditar o que você deve fazer com sua vida. Você não vai conseguir |
398 |
|
|
fazer o que é realmente importante para você. |
399 |
|
|
|
400 |
|
|
Assim, ia tudo bem, mas as pessoas me perguntavam "Como você diz que seu |
401 |
|
|
software é livre se custa 150 dólares?" [Risos] Bem, o motivo da pergunta era |
402 |
|
|
que eles se confundiam com os múltiplos significados da palavra "free" do |
403 |
|
|
inglês. Um dos significados se refere a preço, e o outro se refere a |
404 |
|
|
liberdade. Quando falo software livre, estou me referindo a liberdade não a |
405 |
|
|
a preço. Assim pensem em imprensa livre, não boca livre. [Risos] Ora, não |
406 |
|
|
teria dedicado tantos anos de minha vida para fazer os programadores ganhar |
407 |
|
|
menos. Não é meu objetivo. Eu sou programador e não me importo de receber |
408 |
|
|
dinheiro. Eu só não vou dedicar minha vida a obtê-lo, mas não me importo em |
409 |
|
|
receber. E não sou contra -- e portanto, a ética é mesma para todos -- não sou |
410 |
|
|
contra outros programadores receber dinheiro. Não quero que os preços sejam |
411 |
|
|
baixos. Não é essa absolutamente a questão. A questão é liberdade. Liberdade |
412 |
|
|
para todos que usam software, quer a pessoa seja um programador ou não. |
413 |
|
|
|
414 |
|
|
Pois agora vou dar a definição de software livre. É melhor descer aos |
415 |
|
|
detalhes, entendem? Pois dizer "eu acredito na liberdade" é vago. Há tantos |
416 |
|
|
tipos de liberdade em que posso acreditar, e elas são conflitantes entre si, |
417 |
|
|
de modo que a questão realmente política é "Quais são as liberdades |
418 |
|
|
importantes, as liberdades que devemos garantir que as pessoas tenham?" E |
419 |
|
|
agora vou dar minha resposta a essa questão para a área específica do uso de |
420 |
|
|
software. |
421 |
|
|
|
422 |
|
|
Um programa é livre software livre para você, usuário, se você tem as |
423 |
|
|
seguintes liberdades: primeiro, liberdade zero é a liberdade de rodar um |
424 |
|
|
programa para qualquer propósito, do jeito que quiser. Liberdade um é a |
425 |
|
|
liberdade ajudar a si próprio alterando o programa para atender suas |
426 |
|
|
necessidades. Liberdade dois é a liberdade de ajudar os outros distribuindo |
427 |
|
|
cópias do programa. E a liberdade três é a liberdade de ajudar a edificar sua |
428 |
|
|
comunidade publicando versões melhoradas para que outros possam se beneficiar |
429 |
|
|
de seu trabalho. Se você tem todas essas liberdades, o programa é livre, para |
430 |
|
|
você -- isso é crucial, é por isso que uso essa forma de falar. Vou explicar |
431 |
|
|
por que daqui a pouco, ao falar da Licença Pública Geral GNU, mas agora vou |
432 |
|
|
explicar o que significa software livre, que é uma questão mais básica. |
433 |
|
|
|
434 |
|
|
A liberdade zero é muito óbvia. Se a você não é permitido nem rodar o programa |
435 |
|
|
do jeito que quiser, é um programa pra lá de restritivo. Mas normalmente, a |
436 |
|
|
maioria dos programas lhe dão pelo menos a liberdade zero. A liberdade zero |
437 |
|
|
segue, legalmente, como conseqüência da liberdade um, dois e três -- que é |
438 |
|
|
como funciona a lei de direitos de cópia. Assim as liberdades que distinguem |
439 |
|
|
software livre do software típico são as liberdades um, dois e três, por isso |
440 |
|
|
vou falar mais sobre elas porque são mais importantes. A liberdade um é a |
441 |
|
|
liberdade de resolver seus problemas através de modificações no sofware que |
442 |
|
|
atendam suas necessidades. Isso pode significar consertar bugs. Pode significar |
443 |
|
|
acrescentar novos recursos. Pode significar portá-lo para um computador |
444 |
|
|
diferente. Pode significar traduzir todas as mensagens de erro para |
445 |
|
|
uma língua indígena. Qualquer mudança que queira fazer, você deve ter |
446 |
|
|
a liberdade para fazê-lo. |
447 |
|
|
|
448 |
|
|
Agora, é obvio que programadores profissionais podem fazer uso dessa liberdade |
449 |
|
|
com muita eficácia, mas não somente eles. Qualquer um com inteligência |
450 |
|
|
razoável pode aprender a programar. Vocês sabem, há tarefas difíceis e tarefas |
451 |
|
|
leves, mas muitas pessoas não vão aprender o bastante para fazer o trabalho |
452 |
|
|
difícil. Mas muitas pessoas podem aprender o suficiente para fazer tarefas |
453 |
|
|
leves, do mesmo modo, como há 50 anos atrás, muitos americanos sabiam reparar |
454 |
|
|
carros, o que permitiu aos EUA ter um exército motorizado na Segunda Guerra e |
455 |
|
|
vencer. Assim, é muito importante, ter muitas pessoas fuçando. E se você gosta |
456 |
|
|
de trabalhar com pessoas, não vai querer aprender tecnologia de modo nenhum -- |
457 |
|
|
isso provavelmente significa que você tem muitos amigos, e é bom em fazê-los |
458 |
|
|
lhe dever favores. [Risos] Alguns deles provavelmente são programadores. Assim |
459 |
|
|
você pode pedir a um de seus amigos programadores "Você pode por favor alterar |
460 |
|
|
isso para mim? Acrescentar esse recurso?" Assim, muitas pessoas podem ser |
461 |
|
|
beneficiar. |
462 |
|
|
|
463 |
|
|
Agora, se não houver essa liberdade, isso causa prejuízos práticos e materiais |
464 |
|
|
para a sociedade. Isso faz de vocês prisioneiros de seu software. Eu expliquei |
465 |
|
|
que como era no caso da impressora a laser. Ela trabalhava muito mal para nós e |
466 |
|
|
não podíamos consertá-la porque éramos prisioneiros de nosso software. Mas |
467 |
|
|
isso também afeta o ânimo das pessoas. Vocês sabem que se usar o computador |
468 |
|
|
for uma frustração constante, para as pessoas usam, suas vidas se tornam |
469 |
|
|
frustrantes, e se eles usam em seu trabalho, seu trabalho se torna frustrante |
470 |
|
|
também; eles vão odiar o trabalho. E vocês sabem, as pessoas se protegem das |
471 |
|
|
frustrações decidindo não estar nem aí. Daí você acaba com pessoas cuja |
472 |
|
|
atitude é "Bem, apareci para trabalhar hoje. E é só o que tenho de |
473 |
|
|
fazer. Não consigo fazer progressos, mas isso não é problema meu, é do |
474 |
|
|
chefe." E quando isso acontece é ruim para essas pessoas, é ruim para a |
475 |
|
|
sociedade como um todo. Esta é a liberdade um, a liberdade de resolver seus |
476 |
|
|
problemas você mesmo. |
477 |
|
|
|
478 |
|
|
A liberdade dois é a liberdade de ajudar os outros, ao distribuir cópias do |
479 |
|
|
programa. Para seres que podem pensar e aprender, compartilhar conhecimento |
480 |
|
|
útil é um ato fundamental de amizade. Quando esses seres usam computadores, |
481 |
|
|
este ato de amizade toma forma de compartilhamento. Amigos compartilham uns |
482 |
|
|
com os outros. E, de fato, este espírito de boa vontade -- o espírito de |
483 |
|
|
ajudar seu próximo, voluntariamente -- é o recurso mais importante da |
484 |
|
|
sociedade. Ele faz a diferença entre uma sociedade em que se pode conviver e um selva em |
485 |
|
|
que um devora o outro. Sua importância tem sido reconhecida pelas religiões |
486 |
|
|
mais importantes do mundo por milhares de anos, e elas procuram incentivar |
487 |
|
|
explicitamente esta atitude. |
488 |
|
|
|
489 |
|
|
Quando ia para o jardim-de-infância, os professores tentavam nos ensinar essa |
490 |
|
|
atitude -- o espírito da partilha -- obrigando-nos a fazê-lo. Achavam que se o |
491 |
|
|
fizéssemos, aprenderíamos. Eles diziam "Se você trouxer um chocolate para a |
492 |
|
|
escola, não fique com ele, compartilhe com outras crianças". Ensinando-nos -- a |
493 |
|
|
sociedade foi formada para ensinar o espírito de cooperação. E porque ensinar |
494 |
|
|
desse modo? Porque as pessoas não são totalmente cooperativas. Não é parte da |
495 |
|
|
natureza humana, e há outras partes da natureza humana. Assim, se quiser uma |
496 |
|
|
sociedade melhor, você deve trabalhar para incentivar o espírito de |
497 |
|
|
cooperação. Bem, nunca vai chagar a 100%. Mas isso é compreensível. As pessoas |
498 |
|
|
também se preocupam consigo. Mas,quanto mais conseguirmos, melhor será para |
499 |
|
|
todos. |
500 |
|
|
|
501 |
|
|
Hoje em dia, de acordo com o Governo dos EUA, os professores devem fazer |
502 |
|
|
exatamente o contrário. Joãozinho, você trouxe software para a escola. Olha, |
503 |
|
|
não mostre pra ninguém. Não, não. Compartilhar é errado. Compartilhar |
504 |
|
|
significa que você é pirata. O que eles querem dizer quando falam "pirata"? |
505 |
|
|
Eles querem dizer que ajudar os outros é o equivalente moral de um ataque a um |
506 |
|
|
navio. [Risos] O que Buda e Jesus diriam sobre isso? Escolham seu líder |
507 |
|
|
religioso favorito. Eu não sei -- talvez Manson tivesse dito algo diferente |
508 |
|
|
[Risos] Quem sabe o que L. Ron Hubbard diria. Mas, ... |
509 |
|
|
|
510 |
|
|
PERGUNTA: [Inaudível] |
511 |
|
|
|
512 |
|
|
STALLMAN: naturalmente, ele morreu. Mas eles não admitem. O que? |
513 |
|
|
|
514 |
|
|
PERGUNTA: Os outros também, estão mortos. [Risos] [Inaudível] Charles |
515 |
|
|
Manson também morreu. [Risos] Eles todos morreram, Jesus morreu, Buda |
516 |
|
|
morreu... |
517 |
|
|
|
518 |
|
|
STALLMAN: É, é verdade. [Risos] Eu acredito, nesse aspecto, que L. Ron Hubbard |
519 |
|
|
não é pior que os outros. [Risos] Então -- [Inaudível] |
520 |
|
|
|
521 |
|
|
PERGUNTA: L. Ron usava software livre -- ele ficou livre de Zanu. |
522 |
|
|
|
523 |
|
|
[Risos] |
524 |
|
|
|
525 |
|
|
STALLMAN: Então -- bem esta é de qualquer forma a razão mais importante de por |
526 |
|
|
que software deve ser livre. Não podemos deixar que seja poluído o recurso |
527 |
|
|
mais importante da sociedade. Com certeza não é um recurso físico como ar |
528 |
|
|
puro e água potável. É um recurso psico-social, mas é tão real quanto, e faz |
529 |
|
|
uma diferença tremenda em nossas vidas. Vejam, as ações que fazemos |
530 |
|
|
influenciam os pensamentos das outras pessoas. Quando saímos por aí dizendo |
531 |
|
|
para as pessoas "não compartilhe com os outros" -- se eles nos ouvirem -- |
532 |
|
|
teremos um efeito na sociedade que não será bom. Essa é a liberdade dois. A |
533 |
|
|
liberdade de ajudar os outros. |
534 |
|
|
|
535 |
|
|
E, a propósito, se você não tiver essa liberdade -- não só prejudica os |
536 |
|
|
recursos psico-sociais da sociedade -- mas também provoca desperdício -- |
537 |
|
|
prejuízos práticos e materiais. Se o programa tem um dono, e o dono arranja um |
538 |
|
|
estado de coisas em que cada usuário tem de pagar para poder usá-lo, alguns |
539 |
|
|
vão dizer "Tudo bem, fico sem ele". E isso é perda, perda deliberadamente |
540 |
|
|
infringida. E o interessante em software, naturalmente, é que menos |
541 |
|
|
usuários não significa que você tem de produzir menos. Se poucas pessoas |
542 |
|
|
compram carros, você pode fabricar menos carros. Aí você economiza. Há |
543 |
|
|
recursos a serem alocados, ou não alocados, ao fabricar carros. Assim você |
544 |
|
|
pode dizer que pôr preço num carro é bom. Ele impede que as pessoas |
545 |
|
|
desperdicem recursos para fabricar carros que não serão realmente necessários. |
546 |
|
|
Mas, se produzir cada carro adicional, não empregar mais recursos, |
547 |
|
|
restringir a fabricação de carros não fará nenhum bem. Bem, para objetos |
548 |
|
|
físicos, obviamente, como carros, sempre vai se usar recursos para fabricar |
549 |
|
|
cada um deles. Cada exemplar adicional. |
550 |
|
|
|
551 |
|
|
Mas para software isso não vale. Qualquer um pode fazer mais um cópia. E é |
552 |
|
|
quase trivial fazê-lo. Isso não gasta recursos, com exceção de muito pouca |
553 |
|
|
energia elétrica. Assim não há nada para que se possa economizar; nenhum |
554 |
|
|
recurso que precisemos alocar melhor que justifique colocar um desincentivo |
555 |
|
|
financeiro no uso do software. Você sempre encontra pessoas pegando -- as |
556 |
|
|
conseqüências dos princípios econômicos, baseados nas premissas que não se |
557 |
|
|
aplicam a software e tentando transplantar de outras área da vida em que essas |
558 |
|
|
premissas podem se aplicar e que as conclusões podem ser válidas. Eles só pegam |
559 |
|
|
as conclusões e assumem que sejam válidas para software também -- quando o |
560 |
|
|
argumento é baseado em nada no caso do software. As premissas não funcionam |
561 |
|
|
nesse caso. É muito importante examinar como você chega a essa conclusão, e |
562 |
|
|
de que premissas ela depende, para ver onde ela possa ser válida. Assim, |
563 |
|
|
essas é a liberdade dois, a liberdade de ajudar os outros. |
564 |
|
|
|
565 |
|
|
A liberdade três é a liberdade de contribuir para sua comunidade ao publicar |
566 |
|
|
uma versão melhor do software. As pessoas costumam me dizer, se o |
567 |
|
|
software for livre, ninguém receberá para trabalhar nele, porque alguém iria |
568 |
|
|
querer trabalhar com ele? Bem, naturalmente, elas estão confundindo os dois |
569 |
|
|
significados de livre, assim seu raciocínio é baseado num mal-entendido. Mas, |
570 |
|
|
de qualquer modo, essa é a teoria delas. Hoje, podemos comparar a teoria |
571 |
|
|
delas com fatos empíricos, e descobrir que centenas de pessoas são pagas para |
572 |
|
|
escrever software livre e mais de 100.000 estão trabalhando como voluntários. |
573 |
|
|
Temos muitas pessoas trabalhando com software livre por vários motivos |
574 |
|
|
diferentes. |
575 |
|
|
|
576 |
|
|
Quando lancei o GNU Emacs -- a primeira peça do sistema GNU que as pessoas |
577 |
|
|
realmente queriam usar -- e quando comecei a ter usuários, depois de um tempo, |
578 |
|
|
alguém mandou uma mensagem dizendo "Acho que vi um bug no código fonte, e aqui |
579 |
|
|
está o conserto". E recebi outra mensagem "Isto é código para adicionar um |
580 |
|
|
novo recurso". E mais outro reparo de bug. E mais um novo recurso. E mais |
581 |
|
|
outro, e outro e outro -- até que estavam vindo tão rápido que fazer uso de |
582 |
|
|
todo esse apoio que estava recebendo se tornou uma grande tarefa. A Microsoft |
583 |
|
|
não tem esse problema. [Risos] |
584 |
|
|
|
585 |
|
|
Por fim, as pessoas notaram este fenômeno. Vejam, nos anos 80, muitos de nós |
586 |
|
|
pensavam que software livre talvez não viesse a ser tão bom quando |
587 |
|
|
software proprietário, porque não teríamos muito dinheiro para pagar às |
588 |
|
|
pessoas. E, naturalmente, pessoas como eu que valorizam a liberdade e a |
589 |
|
|
comunidade disseram "É, vamos conseguir usar software livre afinal". Vale a |
590 |
|
|
pena fazer um pouco de sacrifício em algumas meras comodidades técnicas para |
591 |
|
|
ter liberdade. Mas o que as pessoas começaram a notar, por volta dos anos 90 |
592 |
|
|
era que nosso software era mesmo melhor. Era mais poderoso, e mais confiável |
593 |
|
|
que as alternativas proprietárias. |
594 |
|
|
|
595 |
|
|
No começo dos anos 90, alguém descobriu um meio de fazer uma medida científica |
596 |
|
|
da confiabilidade do software. Ele fez o seguinte. Ele pegou vários grupos |
597 |
|
|
de programas comparáveis que faziam as mesmas tarefas -- exatamente as mesmas |
598 |
|
|
tarefas -- em sistemas diferentes. Pois havia certos utilitários básicos |
599 |
|
|
à là UNIX. E as tarefas que realizavam, sabemos, eram todas, mais ou |
600 |
|
|
menos, imitando a mesma coisa, ou seguiam as especificações POSIX, assim elas |
601 |
|
|
eram todas iguais em termos das tarefas que cumpriam -- mas eram mantidas por |
602 |
|
|
pessoas diferentes, escritas separadamente. O código era diferente. Assim ele |
603 |
|
|
dizia, OK, vamos pegar esses programas e rodar com dados aleatórios, e |
604 |
|
|
medimos quão freqüentemente eles travam ou dão pau. Assim eles mediram e o |
605 |
|
|
conjunto de programas mais confiável foi os programas GNU. Todas as |
606 |
|
|
alternativas comerciais proprietários eram menos confiáveis. Então |
607 |
|
|
publicamos isso e contamos a todos os desenvolvedores, e alguns anos mais |
608 |
|
|
tarde, ele fez a mesma experiência com versões mais novas e conseguiu o mesmo |
609 |
|
|
resultado. As versões GNU eram mais confiáveis. Gente -- vocês sabem que há |
610 |
|
|
clínicas de tratamento de câncer nas operações 911 [NT.: operações de resgate e |
611 |
|
|
polícia] que usam sistema GNU, porque são muito confiáveis, e confiabilidade é |
612 |
|
|
muito importante para eles. |
613 |
|
|
|
614 |
|
|
De qualquer modo, há ainda um grupo de pessoas que focam nesse benefício |
615 |
|
|
particular como como justificativa -- como justificativa -- dada para por que |
616 |
|
|
ao usuário deveria ser permitido fazer todas essas coisas, e ter toda essa |
617 |
|
|
liberdade. Se vocês estão me acompanhado, notaram que-- vocês viram que eu -- |
618 |
|
|
falando do movimento de software livre -- falo de questões éticas, e em que |
619 |
|
|
tipo de sociedade queremos viver; o que contribui para uma boa sociedade -- |
620 |
|
|
bem como benefícios materiais práticos. Eles são ambos importantes. Isso é o |
621 |
|
|
movimento do software livre. |
622 |
|
|
|
623 |
|
|
O outro grupo de pessoas -- chamados de movimento de "código aberto" -- eles |
624 |
|
|
só citam os benefícios práticos. Eles negam que isso seja uma questão de |
625 |
|
|
princípios. Eles negam que as pessoas têm direito à liberdade de compartilhar |
626 |
|
|
com os outros, de verem o que o programa faz e alterá-lo se não gostar dele. |
627 |
|
|
Eles dizem, no entanto, que é útil permitir que as pessoas façam isso. Eles |
628 |
|
|
vão às empresas e dizem "Olha, você poderia ganhar mais dinheiro se deixasse |
629 |
|
|
as pessoas fazerem isso". Assim, o que você vê é que até certo ponto, eles |
630 |
|
|
levam as pessoas a uma direção similar, mas por razões totalmente -- |
631 |
|
|
razões filosóficas fundamentalmente diferentes. Pois na questão mais profunda |
632 |
|
|
de todas, nas questões éticas, os dois movimentos discordam entre si. No |
633 |
|
|
movimento de software livre dizemos "Você tem direito a estas liberdades. As |
634 |
|
|
pessoas não deveriam impedi-lo de fazer estas coisas". No movimento de |
635 |
|
|
"código aberto" eles dizem "Eles pode podem impedi-lo sim, mas |
636 |
|
|
tentaremos convencê-los a deixar você fazer essas coisas". Bem, eles |
637 |
|
|
contribuíram -- eles convenceram um certo número de empresas a lançar software |
638 |
|
|
substancial como software livre em nossa comunidade. E trabalhamos juntos em |
639 |
|
|
projetos práticos. Mas, filosoficamente, há um desacordo tremendo. |
640 |
|
|
|
641 |
|
|
Infelizmente, o movimento de código aberto é um dos que mais tem suporte das |
642 |
|
|
empresas, e assim a maioria dos artigos sobre nosso trabalho o descrevem como |
643 |
|
|
código aberto, e muitas pessoas inocentemente pensam que somos todos parte do |
644 |
|
|
movimento de código aberto. É por isso que estou mencionando esta distinção. |
645 |
|
|
Quero que vocês estejam cientes de que o movimento do software livre, que |
646 |
|
|
trouxe nossa comunidade à existência e desenvolveu sistemas operacionais |
647 |
|
|
livres, ainda está aqui -- e que ainda pregamos esta filosofia ética. Quero que |
648 |
|
|
vocês saibam disso, de modo que não confundam as pessoas sem saber. |
649 |
|
|
|
650 |
|
|
Mas também, para que vocês possam pensar sobre a posição vão tomar. O que |
651 |
|
|
prega o movimento que vocês apóiam. Vocês podem concordar com os |
652 |
|
|
movimentos de software livre e meus pontos de vista. Vocês podem concordar com |
653 |
|
|
o movimento de código aberto. Você pode discordar de ambos. Vocês decidem em |
654 |
|
|
que posição ficar quanto a estas questões políticas. Mas se concordarem com o |
655 |
|
|
movimento de software livre -- se virem que há alguma idéia aqui tal que as |
656 |
|
|
pessoas cujas vidas são controladas e dirigidas por esta decisão mereçam ser |
657 |
|
|
ouvidas -- então espero que digam que vocês concordam com o movimento de |
658 |
|
|
software livre e uma forma como vocês podem fazer isso é usando o termo |
659 |
|
|
software livre e assim ajudar as pessoas a saberem que existimos. |
660 |
|
|
|
661 |
|
|
Assim, a liberdade três é muito importante tanto prática quanto |
662 |
|
|
psico-socialmente. Se você não tem esta liberdade, isso vai causar danos |
663 |
|
|
práticos e materiais, porque o desenvolvimento dessa comunidade não vai |
664 |
|
|
acontecer e não teremos software poderoso e confiável. Mas também provoca |
665 |
|
|
danos psico-sociais que afetam o espírito da cooperação científica -- a idéia |
666 |
|
|
de que estamos trabalhando juntos para avançar o conhecimento humano. Como |
667 |
|
|
vêem, o progresso da ciência depende crucialmente de pessoas que sejam |
668 |
|
|
capazes de trabalhar em conjunto. E hoje em dia porém, você sempre acha um |
669 |
|
|
pequeno grupo de cientistas agindo como se estivessem em guerra com outra |
670 |
|
|
gangue de cientistas e engenheiros. E se não trocarem informações, eles todos |
671 |
|
|
perderão. |
672 |
|
|
|
673 |
|
|
Assim, estas são as três liberdades que distinguem software livre do software |
674 |
|
|
típico. A liberdade um é a liberdade de resolver seus problemas você mesmo -- |
675 |
|
|
fazendo mudanças para atender suas próprias necessidades. A liberdade dois é a |
676 |
|
|
liberdade de ajudar os outros distribuindo cópias. E a liberdade três é a |
677 |
|
|
liberdade de ajudar a construir uma comunidade ao fazer mudanças e publicá-las |
678 |
|
|
para que as outras pessoas a usem. Se você tem todos estas liberdades, o |
679 |
|
|
programa é software livre para você. Agora, porque defino dessa forma em termos |
680 |
|
|
de um usuário particular? O software é livre para você, o software é livre |
681 |
|
|
para você, o software é livre para você? Sim? |
682 |
|
|
|
683 |
|
|
PERGUNTA: Você pode explicar um pouco a diferença entre a liberdade dois e a |
684 |
|
|
liberdade três? [inaudível] |
685 |
|
|
|
686 |
|
|
STALLMAN: Bem, elas certamente se relacionam, pois se você não tem liberdade |
687 |
|
|
nenhuma para redistribuir, você certamente não tem liberdade para distribuir |
688 |
|
|
uma versão modificada, mas elas são atividades diferentes. |
689 |
|
|
|
690 |
|
|
QUESTION: Ah. |
691 |
|
|
|
692 |
|
|
STALLMAN: A liberdade dois é, como vocês sabem, ler -- você faz uma cópia |
693 |
|
|
exata e passar para seus amigos, para que eles possam usá-lo. Ou talvez você |
694 |
|
|
faça cópias exatas e as venda para um monte de gente para que possam usar. A |
695 |
|
|
liberdade três é quando você faz aperfeiçoamentos -- ou pelos menos você acha |
696 |
|
|
que são aperfeiçoamentos, e algumas outras pessoas podem achar que são também. |
697 |
|
|
Assim essa é a diferença. Ah, e a propósito, um ponto crucial. As liberdades |
698 |
|
|
um e três dependem de você ter acesso ao código-fonte. Pois modificar uma |
699 |
|
|
programa binário é extremamente difícil [Risos] Mesmo mudanças triviais como |
700 |
|
|
usar quatro dígitos para a data. [Risos]... se você não tem os fontes. Assim, |
701 |
|
|
por razões imperativas e práticas o acesso ao código-fonte é uma pré-condição, |
702 |
|
|
um requisito do software livre. |
703 |
|
|
|
704 |
|
|
Então, por que eu defini em termos de software livre ou não para *você*? A |
705 |
|
|
razão é que algumas vezes o mesmo programa pode ser software livre para alguns |
706 |
|
|
e pode não ser para outros. Ora, isso pode parecer uma situação paradoxal, |
707 |
|
|
deixe-me dar um exemplo para mostrar como isso acontece. Um grande exemplo |
708 |
|
|
-- talvez o maior problema de todos seja o do sistema de janelas X que foi |
709 |
|
|
desenvolvido no MIT e lançado sob uma licença que fazia dele software livre. |
710 |
|
|
Se você conseguisse a versão do MIT com a licença do MIT, você tinha |
711 |
|
|
liberdades um, dois e três. Era software livre para você. Mas entre os que |
712 |
|
|
obtiveram cópias, estavam vários fabricantes de computador que distribuíam |
713 |
|
|
sistemas UNIX e eles fizeram todas as mudanças necessárias no X para rodar em |
714 |
|
|
seus sistemas. Você sabe, provavelmente alguns milhares de linhas dentro de |
715 |
|
|
centenas de milhares de linhas do X. E, ao compilarem, eles puseram os |
716 |
|
|
binários no sistema UNIX deles e distribuíram sob o mesmo acordo de |
717 |
|
|
confidencialidade do resto do sistema UNIX. E então, milhões de pessoas |
718 |
|
|
obtiveram essas cópias. Eles tinham o sistema de janelas X, mas não tinham |
719 |
|
|
essas liberdades. Não era software livre para eles. |
720 |
|
|
|
721 |
|
|
Assim, o paradoxo era que o X era software livre dependendo de onde você feito |
722 |
|
|
a observação. Se observassem num grupo de desenvolvedores, vocês diriam "Eu |
723 |
|
|
observo todas as três liberdades aqui. O software é livre." Se fizessem |
724 |
|
|
suas observações entre os usuários vocês diriam "Hmm, muitos usuários não têm |
725 |
|
|
estas liberdades. Não é software livre". Bem, as pessoas que desenvolviam X não |
726 |
|
|
consideravam isso um problema, pois seu objetivo era popularidade -- ego, |
727 |
|
|
essencialmente. Eles queriam um grande sucesso profissional. Eles queriam |
728 |
|
|
sentir "ah, muitas pessoas estão usando nosso software". E foi assim que |
729 |
|
|
aconteceu. Muitas pessoas estavam usando o software deles, mas não tinham |
730 |
|
|
liberdade. |
731 |
|
|
|
732 |
|
|
Bem, no projeto GNU, se a mesma coisa tivesse acontecido como o software GNU, |
733 |
|
|
ele teria sido um fracasso, pois nosso objetivo não era sermos populares; |
734 |
|
|
nosso objetivo era dar liberdade às pessoas e incentivar a cooperação, permitir |
735 |
|
|
que as pessoas cooperassem. Lembre-se, nunca force ninguém a cooperar com |
736 |
|
|
qualquer outra pessoa, mas garanta que a todos seja permitido cooperar; todo |
737 |
|
|
mundo tem a liberedade de agir assim ou não, se quiser. Se milhões de pessoas |
738 |
|
|
estivessem rodando versões não livres do GNU, não teria sido um sucesso de |
739 |
|
|
jeito nenhum; e a coisa toda teria se desviado de seus objetivos. |
740 |
|
|
|
741 |
|
|
Então procurei uma maneira de impedir que isso acontecesse. O método que criei |
742 |
|
|
é chamado de "copyleft" [N.T.: uma possível brincadeira com esse nome em |
743 |
|
|
português seria "esquerdo de cópia"]. É chamado copyleft porque é como |
744 |
|
|
copyright [N.T.: direito de cópia] só que virado de cabeça para baixo. [Risos] |
745 |
|
|
Legalmente, copyleft é baseado no direito de cópia. Usamos a lei existente de |
746 |
|
|
direito de cópia, mas a usamos para atingir um objetivo muito diferente. Isso |
747 |
|
|
é que fazemos. Dizemos "Este programa tem direitos de cópia". E, naturalmente, |
748 |
|
|
por default, significa que é proibido copiá-lo, ou distribuí-lo ou |
749 |
|
|
modificá-lo. Mas então dizemos, "Você está autorizado a distribuir cópias |
750 |
|
|
dele. Você está autorizado a modificá-lo. Você está autorizado a distribuir |
751 |
|
|
versões modificadas e estendidas. Mude do modo que quiser." |
752 |
|
|
|
753 |
|
|
Mas há uma condição. E a condição, naturalmente -- é a razão pela qual nos |
754 |
|
|
demos a todo esse trabalho -- para que pudéssemos colocar essa condição. A |
755 |
|
|
condição diz -- sempre que distribuir algo que contenha qualquer parte dese |
756 |
|
|
programa, o programa todo deve ser distribuído sob estes mesmos termos -- não |
757 |
|
|
mais não menos. Assim, você pode mudar o programa e distribuir a versão |
758 |
|
|
modificada. Mas se o fizer, as pessoas que o obtiverem de você devem ter a |
759 |
|
|
mesma liberdade que você recebeu de nós. E não só para partes dele -- as parte |
760 |
|
|
que você copiou do nosso programa -- mas também para as outras partes daquele |
761 |
|
|
programa que eles obtiveram de você. O programa como um todo deve ser software |
762 |
|
|
livre para eles. |
763 |
|
|
|
764 |
|
|
As liberdades de modificar e redistribuir este programa se tornam direitos |
765 |
|
|
inalienáveis -- um conceito de nossa Declaração de Independência. Direitos que |
766 |
|
|
damos garantia de não ser tirados de você. E, naturalmente, a licença |
767 |
|
|
específica que incorpora a idéia do copyleft é a Licença Geral Pública GNU |
768 |
|
|
[GNU General Public License, ou GNU GPL]. Uma licença controversa -- porque |
769 |
|
|
na realidade tem força para dizer não às pessoas que pudessem virar parasitas |
770 |
|
|
em nossa comunidade. |
771 |
|
|
|
772 |
|
|
Há muitas pessoas que não apreciam os ideais da liberdade. E adorariam tomar o |
773 |
|
|
trabalho que fizemos e usá-lo para conseguir uma vantagem ao distribuir |
774 |
|
|
programas proprietários e tentando as pessoas a desistir de sua liberdade. E o |
775 |
|
|
resultado seria -- vocês sabem, se deixarmos as pessoas fazerem isso -- |
776 |
|
|
estaríamos desenvolvendo esses programas livres, e teríamos de competir |
777 |
|
|
constantemente com versões modificadas de nossos próprios programas. Isso |
778 |
|
|
não é bom. E muita gente também pensa -- eu quero dar meu tempo |
779 |
|
|
voluntariamente para contribuir com a comunidade, mas por que deveria |
780 |
|
|
contribuir voluntariamente para aquela empresa -- para melhorar o programa |
781 |
|
|
proprietário daquela empresa? Você sabe, algumas pessoas podem nem mesmo achar |
782 |
|
|
que isso seja ruim - mas elas querem ser pagas se for para fazer isso. Eu, |
783 |
|
|
pessoalmente, não o faria, mesmo. Mas, estes dois grupos de pessoas -- ambos |
784 |
|
|
como eu que diriam -- não quero ajudar aquele programa não livre a fincar o pé |
785 |
|
|
em nossa comunidade -- e os que dizem, claro, eu trabalharia para eles, mas |
786 |
|
|
então me pagem -- ambos têm uma boa razão para usar GNU GPL. Porque isso diz à |
787 |
|
|
empresa -- você não pode tomar assim meu trabalho e distribuí-lo sem a |
788 |
|
|
liberdade. Ao passo que licenças não copyleft -- com a licença do X Window, |
789 |
|
|
permitem isso. |
790 |
|
|
|
791 |
|
|
Isto, portanto é a grande diferença entre as duas categorias de |
792 |
|
|
software livre -- do ponto de vista das licenças. Há programas com copyleft |
793 |
|
|
-- de modo que a licença defenda a liberdade do software para todos os |
794 |
|
|
usuários. E há programas sem copyleft, para os quais se permite versões não |
795 |
|
|
livres. Você pode obter o programa numa versão não livre. E este problema |
796 |
|
|
existe até hoje. Ainda há versões não livres do X Windows sendo usadas em |
797 |
|
|
nossos sistemas operacionais não livres. Há inclusive hardware -- que não é |
798 |
|
|
suportado -- exceto por uma versão não livre do X Windows. E isso é um grande |
799 |
|
|
problema em nossa comunidade. Por outro lado, eu não diria que o X Windows é |
800 |
|
|
algo ruim -- sabe, eu só diria que os desenvolvedores não fizeram o que |
801 |
|
|
de melhor poderia ter sido feito. Mas eles *de fato* lançaram muito software |
802 |
|
|
que todos nós poderíamos usar. |
803 |
|
|
|
804 |
|
|
Vocês sabem, há uma grande diferença entre menos que perfeito, e ruim. Há |
805 |
|
|
muitos graus entre bom e ruim. Temos de resistir à tentação de dizer -- se você |
806 |
|
|
não conseguir fazer o melhor absoluto possível você não é bom. As pessoas que |
807 |
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desenvolveram o X Windows deram uma grande contribuição a nossa comunidade. |
808 |
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Mas, há algo melhor que poderiam ter feito. Eles poderiam ter feito copylefts |
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de partes do programa e impedido versões que negam a liberdade de serem |
810 |
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distribuídas por outros. Ora, o fato de que a GNU GPL defende sua liberdade -- |
811 |
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usa a lei de copyright para defender sua liberdade -- é, naturalmente, a razão |
812 |
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pela qual a Microsoft a está atacando hoje. Vejam, a Microsoft realmente |
813 |
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adoraria poder pegar todos os códigos que escrevemos e pô-los em programas |
814 |
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proprietários. Pedir para que alguém fizesse alguns aperfeiçoamentos. Ou talvez |
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só algumas mudanças incompatíveis é tudo o que precisassem. [Risos] |
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Mas, com a influência de marketing da Microsoft, eles não precisam |
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aperfeiçoá-lo para ter uma versão que suplante a nossa. Eles só têm de fazê-la |
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diferente e incompatível. E então, colocá-la no desktop de todo o mundo. Assim, |
820 |
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eles não gostam mesmo da GNU GPL. Pois a GNU GPL não os deixa fazê-lo. Não |
821 |
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permite adotar e estender [N.T.: embrace and extend]. Ela [a GPL] diz [à |
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Microsoft], se você quiser usar nosso código em seus programas, você pode. Mas, |
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|
você vai ter de compartilhar e compartilhar da mesma forma. As mudanças que |
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fizer teremos permissão de usar. Assim, é uma cooperação de mão dupla, que é a |
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cooperação real. |
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Muitas empresas -- mesmo grandes empresas como IBM e HP querem usar nosso |
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software nesta base [GPL].A IBM e a HP contribuem com aperfeiçoamentos |
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substanciais ao software GNU. E desenvolvem outros software livres. Mas a |
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|
|
Microsoft não quer fazer isso, assim eles passam a idéia de que as empresas |
831 |
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não podem lidar com a GPL. Bem, se [o que chamamos de] empresas não incluir |
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|
|
IBM, HP e Sun então talvez eles estejam certos. [Risos] |
833 |
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|
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834 |
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|
Mais sobre isso adiante. Eu preciso terminar a história. Como vêem, começamos |
835 |
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|
em 1984 -- não só para escrever software livre -- mas também para fazer algo |
836 |
|
|
muito mais coerente: desenvolver um sistema operacional que fosse inteiramente |
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software livre. Assim, isso significava que tínhamos que escrever parte por |
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|
|
parte. E naturalmente, estávamos a procura de meios mais rápidos. O trabalho |
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|
era tão grande que as pessoas diziam que não conseguiríamos terminar nunca. E, |
840 |
|
|
eu achava que havia pelo menos uma chance de terminá-lo, mas obviamente, valia |
841 |
|
|
a pena queimar etapas. Assim ficamos procurando -- há algum programa que alguém |
842 |
|
|
escreveu que poderíamos conseguir adaptar, para acoplar aqui de modo que não |
843 |
|
|
precisássemos escrever do zero? Por exemplo, o sistema X Window -- é verdade |
844 |
|
|
que não tinha copyleft, mas era software livre -- assim podíamos usar. |
845 |
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|
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|
Bem, eu queria colocar um sistema de janelas no GNU desde o primeiro dia. Eu |
847 |
|
|
escrevi uma série de sistemas de janelas no MIT antes de começar o GNU. E |
848 |
|
|
apesar do Unix não ter um sistema de janelas em 1984, eu decidi que o |
849 |
|
|
GNU deveria ter. Mas, acabamos não escrevendo o Sistema de Janelas GNU, porque |
850 |
|
|
o X apareceu. Daí eu disse, beleza! Um grande trabalho que não temos de fazer. |
851 |
|
|
Usaremos o X. Então falei, vamos pegar X e colocá-lo no sistema GNU. Então |
852 |
|
|
faremos as outras partes do GNU, você sabe, trabalhar com o X, quando |
853 |
|
|
apropriado. E o encontramos outros programas que tinham sido escritos por |
854 |
|
|
outras pessoas, tal como o formatador de texto TeX. Alguns códigos de |
855 |
|
|
bibliotecas da Berkeley. E naquela época tinha o Berkeley Unix -- mas não era |
856 |
|
|
software livre. O código de biblioteca, inicialmente, era de um grupo |
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|
|
diferente na Berkeley, que fazia pesquisas sobre ponto flutuante. E assim |
858 |
|
|
continuamos -- encaixamos estas peças. |
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860 |
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|
Em outrubro de 1985, fundamos a Fundação do Software Livre [N.T.: Free Software |
861 |
|
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Foundation, ou FSF]. Notem que o projeto GNU veio primeiro. A Fundação do |
862 |
|
|
Software Livre veio depois. Depois de quase dois anos do anúncio do projeto. E |
863 |
|
|
a Fundação de Software Livre é uma entidade isenta de impostos, sem fins |
864 |
|
|
lucrativos, que levanta fundos para promover a liberdade de compartilhar e |
865 |
|
|
modificar software. E nos anos 80, uma das coisa principais que fizemos com |
866 |
|
|
nosso fundo foi contratar pessoas para escrever partes do GNU. E, programas |
867 |
|
|
essenciais, tais como o Shell e as bibliotecas C foram escritos dessa forma, |
868 |
|
|
bem como outras parte de outros programas. O programa tar, que é absolutamente |
869 |
|
|
essencial -- apesar de nenhum pouco empolgante [Risos] foi escrito dessa |
870 |
|
|
forma. Eu acredito que o GNU grep foi escrito dessa forma. E assim, fomos |
871 |
|
|
chegando perto do objetivo. |
872 |
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|
|
Em 1991, havia apenas uma parte importante faltando, e era o kernel. Ora, |
874 |
|
|
por que tinha deixado o kernel de fora? Provavelmente porque na verdade não |
875 |
|
|
importa a ordem em que você faz as coisas. Pelo menos, tecnicamente, não. |
876 |
|
|
Você tem que fazê-las todas até chegar ao fim de qualquer jeito. E, |
877 |
|
|
parcialmente, porque eu esperava encontrar um kernel já começado em algum |
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|
|
lugar. E encontramos. Encontramos o Mach, que tinha sido desenvolvido na |
879 |
|
|
Carnegie Mellon. Não era um kernel completo, era a metade de baixo do kernel. |
880 |
|
|
Assim, tivemos que escrever a metade de cima, mas tinha de imaginar coisas |
881 |
|
|
como o sistema de arquivos, o código da rede, etc. Mas o Mach roda |
882 |
|
|
essencialmente como fazem os programas dos usuários, o que devia fazê-los mais |
883 |
|
|
fácil de debugar. Você pode debugar com um debugador no nível do código real |
884 |
|
|
ao mesmo tempo. E assim, pensava eu, desse modo, poderemos ter isto, as partes |
885 |
|
|
mais altas do kernel, terminadas em pouco tempo. Não funcionou dessa maneira. |
886 |
|
|
Aqueles processos assíncronos e multifilamentados [multithreaded], enviando |
887 |
|
|
mensagens uns aos outros, acabaram-se tornando muito difíceis de debugar. E o |
888 |
|
|
sistema baseado no Mach que usamos para alavancar o desenvolvimento tinha um |
889 |
|
|
ambiente de debug terrível, não funcionava direito, e vários problemas. Levou |
890 |
|
|
anos e anos para conseguir que um kernel GNU funcionasse. |
891 |
|
|
|
892 |
|
|
Mas, felizmente, nossa comunidade não precisou esperar pelo kernel GNU. Pois |
893 |
|
|
em 1991, Linus Torvalds desenvolveu um kernel livre chamado Linux. E ele usou |
894 |
|
|
a antiga tecnologia monolítico e aconteceu que ele conseguiu fazê-lo funcionar |
895 |
|
|
muito mais rápido que o nosso. Assim talvez esse tenha sido um dos erros que |
896 |
|
|
cometi: aquela decisão de projeto. De qualquer forma, a princípio, não |
897 |
|
|
sabíamos sobre Linux, pois ele nunca nos contatou para falar sobre ele. Apesar |
898 |
|
|
de saber do projeto GNU. Mas ele o anunciou para outras pessoas e para outras |
899 |
|
|
partes da Internet. E assim, outras pessoas então, fizeram o trabalho de |
900 |
|
|
combinar Linux com o resto do sistema GNU fazendo um sistema operacional livre |
901 |
|
|
completo. Essencialmente, fazendo uma combinação GNU mais Linux. |
902 |
|
|
|
903 |
|
|
Mas não percebiam que era isso que estavam fazendo. Veja, eles disseram, temos |
904 |
|
|
um kernel -- vamos dar uma olhada e ver que outras partes podemos juntar ao |
905 |
|
|
kernel. Assim, procuraram -- e eis que, de repente -- tudo o que precisavam já |
906 |
|
|
estava disponível. Que sorte, eles disseram. [Risos] Está tudo aí. Podemos |
907 |
|
|
achar tudo o que precisamos. Vamos pegar todas essas partes diferentes e |
908 |
|
|
juntá-las e compor um sistema. Eles não sabiam que a maioria das cosias que |
909 |
|
|
achavam eram partes do sistema GNU. Eles não pensavam que estavam encaixando o |
910 |
|
|
Linux num espaço vazio do sistema GNU. Eles achavam que estavam construindo um |
911 |
|
|
sistema em cima do Linux. E daí chamaram o sistema de Linux. |
912 |
|
|
|
913 |
|
|
PERGUNTA: [Inaudível] |
914 |
|
|
|
915 |
|
|
STALLMAN: Não ouvi -- o quê? |
916 |
|
|
|
917 |
|
|
PERGUNTA: [Inaudível] |
918 |
|
|
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919 |
|
|
STALLMAN: Bem, não é só -- você sabe, é provincial. |
920 |
|
|
|
921 |
|
|
PERGUNTA: Mas foi sorte maior que achar o X e o Mach? |
922 |
|
|
|
923 |
|
|
STALLMAN: Certo. A diferença é que as pessoas que desenvolveram o X e o Mach |
924 |
|
|
não tinham por objetivo fazer um sistema operacional livre completo. Éramos os |
925 |
|
|
únicos com essa idéia. E, foi nosso trabalho tremendo que fez o sistema |
926 |
|
|
existir. Fizemos a maior parte do sistema que qualquer outro projeto. Não é |
927 |
|
|
coincidência que essas pessoas -- elas escreveram partes úteis do sistema. Mas |
928 |
|
|
não fizeram isso porque queriam ver o sistema terminado. Elas tinham outras |
929 |
|
|
razões. |
930 |
|
|
|
931 |
|
|
Por exemplo, as pessoas que desenvolveram o X -- achavam que projetar um |
932 |
|
|
sistema de janelas com suporte a rede seria um bom projeto, e foi. E acabou |
933 |
|
|
nos ajudando a fazer um sistema operacional bom e livre. Mas isso não era o |
934 |
|
|
que esperavam. Eles nem pensavam nisso. Foi acidental. Um benefício acidental. |
935 |
|
|
Agora, eu não estou dizendo que o que eles fizeram foi ruim. Eles fizeram um |
936 |
|
|
grande projeto livre. Uma coisa boa de se fazer. Mas não tinham uma visão além |
937 |
|
|
disso. O Projeto GNU é onde estava essa visão. |
938 |
|
|
|
939 |
|
|
E assim, éramos os únicos cuja -- cada partezinha não era feita por ninguém, |
940 |
|
|
nós sim. Porque sabíamos que não teríamos um sistema completo sem isso. E |
941 |
|
|
até mesmo quando era totalmente entediante e pouco romântico como o tar ou o |
942 |
|
|
mv. [Risos]. Fazíamos. Ou ld, vocês sabem, não há nada muito empolgande no ld |
943 |
|
|
-- mas eu o escrevi. [Risos] E envidei esforços para que ele usasse uma |
944 |
|
|
quantidade mínima de I/O [N.T.: tráfego] no disco para que fosse rápido e |
945 |
|
|
desse conta de programas maiores. Mas, eu gosto fazer um bom trabalho. Eu |
946 |
|
|
gosto de aperfeiçoar várias coisas nos programas enquanto os escrevo. Mas a |
947 |
|
|
razão pela qual o fiz, não foi porque eu tinha idéias brilhantes para um ld |
948 |
|
|
melhor. A razão pela qual o fiz é que precisávamos de um que fosse livre. E |
949 |
|
|
não podíamos esperar que outros o fizessem. Então, tivemos de fazê-lo, ou |
950 |
|
|
encontrar alguém que fizesse. |
951 |
|
|
|
952 |
|
|
Assim, apesar de nesse ponto, milhares de pessoas em projetos terem |
953 |
|
|
contribuído para esse sistema [GNU/Linux], havia um projeto que era a razão |
954 |
|
|
pela qual o sistema existia, e era o Projeto GNU. *É* basicamente o Sistema |
955 |
|
|
GNU, com outras coisas acrescentadas desde então. |
956 |
|
|
|
957 |
|
|
Assim, no entanto, a prática de chamar o sistema de Linux tem sido um grande |
958 |
|
|
golpe no Projeto GNU, porque nós normalmente não recebemos crédito pelo que |
959 |
|
|
temos feito. E penso que Linux, o kernel, é uma parte muito útil do software |
960 |
|
|
livre, e tenho só coisas boas a dizer sobre ele. Mas , bem, na realidade, |
961 |
|
|
podemos achar algumas coisas ruins para falar dele. [Risos] Mas, basicamente, |
962 |
|
|
temos duas coisas a dizer sobre ele. No entanto, a prática de chamar o sistema |
963 |
|
|
GNU de Linux é apenas um engano. Eu pediria que vocês por favor fizessem um |
964 |
|
|
pequeno esforço necessário para chamá-lo de sistema GNU/Linux, e desse modo, |
965 |
|
|
ajudar-nos a dividir o crédito. |
966 |
|
|
|
967 |
|
|
|
968 |
|
|
PERGUNTA: Você precisa de um mascote! Arrume um bicho de pelúcia! |
969 |
|
|
|
970 |
|
|
[Risos] |
971 |
|
|
|
972 |
|
|
STALLMAN: Nós temos. |
973 |
|
|
|
974 |
|
|
QUESTION: Ah, têm? |
975 |
|
|
|
976 |
|
|
STALLMAN: Temos um bicho -- um gnu. [Risos] Mas então. Bem, |
977 |
|
|
sim, quando desenhar um pingüim --desenhe um gnu perto dele. [Risos] |
978 |
|
|
|
979 |
|
|
Mas, vamos deixar as perguntas para o final. Eu tenho mais para discorrer. Por |
980 |
|
|
que estou tão preocupado com isso? Sabe, acho que isso incomoda |
981 |
|
|
vocês, e talvez talvez esteja dando a vocês uma -- talvez inferiorizando sua |
982 |
|
|
opinião sobre mim [Risos] ao levantar essa questão sobre créditos? Porque, |
983 |
|
|
vocês sabem, algumas pessoas, quando faço isso, algumas pessoas acham que é |
984 |
|
|
porque eu quero que meu ego seja alimentado, certo? Naturalmente, eu não estou |
985 |
|
|
dizendo -- chamando -- eu não estou pedindo que vocês o chamem de "Stallmanix" |
986 |
|
|
-- certo? [Risos e aplausos] |
987 |
|
|
|
988 |
|
|
Eu estou pedindo para o que o chamem de GNU, porque quero que o Projeto GNU |
989 |
|
|
tenha crédito. E há uma razão muito específica para isso, a qual é muito mais |
990 |
|
|
importante que qualquer pessoa receber crédito. Vejam, nestes dias, se você |
991 |
|
|
olhar para todos os lados em nossa comunidade, a maior parte das pessoas que |
992 |
|
|
falam e escrevem sobre isso nem sequer mencionam GNU, e elas nem |
993 |
|
|
sequer mencionam os objetivos da liberdade -- nem os ideais políticos e |
994 |
|
|
sociais, tampouco. Pois o lugar de onde eles vêm é do GNU. As idéias associadas |
995 |
|
|
ao Linux -- a filosofia é muito diferente. É basicamente uma filosofia |
996 |
|
|
apolítica de Linus Torvalds. Assim, quando as pessoas acham que o sistema todo |
997 |
|
|
é Linux, elas tendem a pensar: "Ah, tudo deve ter sido iniciado pelo Linus |
998 |
|
|
Torvalds. Devemos observar sua filosofia cuidadosamente". E quando ouvem sobre |
999 |
|
|
a filosofia GNU, eles dizem: "Cara, isso é tão idealista, que deve ser |
1000 |
|
|
terrivelmente impraticável. Ah, eu sou usuário de Linux, não de GNU." [Risos] |
1001 |
|
|
|
1002 |
|
|
Que ironia! Ah, se eles soubessem! Se soubessem que o sistema de que gostam -- |
1003 |
|
|
ou, em alguns casos, adoram ou pelo qual são loucos -- é nossa filosofia |
1004 |
|
|
política e idealista posta em prática. Eles nem precisam concordar conosco. |
1005 |
|
|
Mas pelo menos eles vêem razão para levá-la a sério -- pensar sobre ela |
1006 |
|
|
cuidadosamente -- e dar a ela uma chance. Eles veriam como ela se relaciona |
1007 |
|
|
com suas vidas. Se percebessem: "Estou usando um sistema GNU. Veja a |
1008 |
|
|
filososfia GNU. Esta filosofia é a razão do porquê este sistema que eu gosto |
1009 |
|
|
existe de verdade." Eles pelo menos pensariam sobre ela com uma mente muito |
1010 |
|
|
mais aberta. Não significa que todo mundo concordaria. As pessoas pensam |
1011 |
|
|
coisas diferentes. Tudo bem. As pessoas devem ter suas próprias idéias. Mas eu |
1012 |
|
|
quero que esta filosofia colha os benefícios do crédito pelos resultados que |
1013 |
|
|
ela conseguir. |
1014 |
|
|
|
1015 |
|
|
Se olharmos a toda a volta em nossa comunidade, veremos que, em quase |
1016 |
|
|
todos os lugares, as instituições estão chamando o sistema de Linux. E sabem, |
1017 |
|
|
os repórteres, a maioria, o chamam de Linux. Não deveriam, mas chamam. A |
1018 |
|
|
maioria das empresas dizem -- tal pacote, tal sistema. Ah, e a maioria dos |
1019 |
|
|
repórteres, quando escrevem artigos, eles normalmente não vêem como uma |
1020 |
|
|
questão política, ou social. Eles normalmente vêem a coisa puramente como uma |
1021 |
|
|
questão de negócios ou quanto de sucesso vão ter empresas, o que é realmente |
1022 |
|
|
uma questão muito menor para a sociedade. E se vocês olharem para as empresas |
1023 |
|
|
que empacotam o sistema GNU/Linux para as pessoas usarem, bem, todas elas o |
1024 |
|
|
chamam de Linux e *todas* acrescentam software não livre a ele. |
1025 |
|
|
|
1026 |
|
|
Veja, a GNU GPL diz que se você pega código, e código de um programa coberto |
1027 |
|
|
pela GPL, e acrescenta mais código para fazer dele um programa maior, aquele |
1028 |
|
|
programa todo deve ser lançado sob a GPL. Mas vocês podem pôr outros |
1029 |
|
|
programas separados no mesmo disco (de qualquer tipo, disco rígido, ou CD), e |
1030 |
|
|
eles podem ter outras licenças. Considera-se isso mera agregação. E, |
1031 |
|
|
essencialmente, apenas distribuir dois programas para alguém ao mesmo tempo é |
1032 |
|
|
algo de que não temos o que dizer. Mas, de fato, gostaríamos. Algumas vezes, |
1033 |
|
|
gostaria de que fosse verdadeiro para uma empresa que use programa coberto |
1034 |
|
|
pela GPL em um produto, que o produto todo fosse software livre. Não é -- não |
1035 |
|
|
chaga a esse ponto . É o programa como um todo. Se houver dois programas |
1036 |
|
|
separados que se comunicam entre si a distância de um braço -- como ao enviar |
1037 |
|
|
mensagens um ao outro -- então eles são legalmente separados, em geral. |
1038 |
|
|
Assim, essas empresas, ao acrescentar um software não livre ao sistema, dão |
1039 |
|
|
aos usuários, filosófica e politicamente, uma idéia muito ruim. Eles estão |
1040 |
|
|
dizendo aos usuários: "É normal usar software proprietário. Estamos até |
1041 |
|
|
colocando eles junto como bônus. |
1042 |
|
|
|
1043 |
|
|
Se você olhar as revistas, sobre o uso do sistema GNU/Linux, a maioria deles |
1044 |
|
|
tem um título assim "Linux isso ou aquilo". Eles estão chamando o |
1045 |
|
|
sistema de Linux a maior parte do tempo. E estão cheios de anúncios de |
1046 |
|
|
software proprietários os quais podem rodar sobre o sistema GNU/Linux. Mas |
1047 |
|
|
estes anúncios têm uma mensagem comum. Eles dizem: "software proprietário é |
1048 |
|
|
bom para você. É tão bom que você pode até *pagar* para obter." [Risos] E |
1049 |
|
|
eles chamam isso de "pacotes de valor agregado", o que diz muito sobre seus |
1050 |
|
|
valores. Eles estão dizendo "Dê valor à conveniência prática, não à |
1051 |
|
|
liberdade". Não concordo com esse valores e os chamo de "pacotes subtraídos de |
1052 |
|
|
liberdade". [Risos] Pois se você instalou um sistema operacional livre, você |
1053 |
|
|
está no mundo livre. Você desfruta dos benefícios da liberdade, a qual |
1054 |
|
|
trabalhamos tantos anos para dar a você. Estes pacotes dâo a você a |
1055 |
|
|
oportunidade de ficar amarrado por uma corrente. |
1056 |
|
|
|
1057 |
|
|
E se você vai a feiras de negócio -- sobre o uso do -- dedicada ao uso do |
1058 |
|
|
sistema GNU/LINUX. Elas todos se chamam "Feiras do Linux". E ficam cheias de |
1059 |
|
|
estandes exibindo software proprietário, essencialmente pondo um selo de |
1060 |
|
|
aprovação em software proprietário. Assim, para quase todo o lugar que você |
1061 |
|
|
olhe em nossa comunidade -- as instituições estão endossando o software |
1062 |
|
|
proprietário -- negando totalmente a idéia para a qual o GNU foi |
1063 |
|
|
desenvolvido. E o único lugar em que as pessoas provavelmente se deparam com a |
1064 |
|
|
idéia de liberdade é em conexão com GNU, e em conexão com software livre: o |
1065 |
|
|
termo "software livre". Assim, é por isso que eu peço a vocês: por favor |
1066 |
|
|
chamem o sistema de "GNU/Linux". Por favor, conscientizem as pessoas de onde o |
1067 |
|
|
sistema veio e por quê. |
1068 |
|
|
|
1069 |
|
|
Naturalmente, só de usar o nome, não estarão explicando a história |
1070 |
|
|
toda. Vocês podem digitar quatro caracteres adicionais e escrever "GNU/Linux"; |
1071 |
|
|
vocês podem pronunciar duas sílabas extras. Mas, GNU/Linux tem menos |
1072 |
|
|
sílabas que Windows 2000. [Risos] Mas, vocês não vão estar dizendo muito, mas |
1073 |
|
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preparando-os, para que quando ouvirem sobre o GNU, e do que se trata, eles |
1074 |
|
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vejam como isso tem relação com eles, e suas vidas. E isso, indiretamente, faz |
1075 |
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uma tremenda diferença. Assim, por favor ajudem-nos. |
1076 |
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1077 |
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Vocês vão notar que a Microsoft chamou a GPL de "licença de código aberto". |
1078 |
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Eles não querem que as pessoas pensem em termos de liberdade como ponto |
1079 |
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central. Vocês vão ver que eles convidam as pessoas a pensar de forma |
1080 |
|
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estreira, como consumidores. (E, claro, nem mesmo pensar muito racionalmente |
1081 |
|
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como consumidores, se forem escolher os produtos Microsoft). Mas eles não |
1082 |
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querem que as pessoas pensem como cidadãos ou estadistas. Isso é hostil para |
1083 |
|
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eles. Pelo menos é hostil para seu modelo de negócio atual. |
1084 |
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1085 |
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Agora, como age o software livre? Bem, eu posso falar como o "software livre" |
1086 |
|
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ser relaciona com nossa sociedade. Um tópico secundário que pode ser de |
1087 |
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|
interesse para alguns de vocês é como o software livre se relaciona com os |
1088 |
|
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negócios. Afinal, a maioria das empresas dos países avançados usam software. |
1089 |
|
|
Só uma pequena fração desenvolve software. E software livre é tremendamente |
1090 |
|
|
vantajoso para qualquer empresa que usa software, pois isso significa que você |
1091 |
|
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está no controle. Basicamente, software livre significa que os usuários estão |
1092 |
|
|
no controle do que o programa faz. Tanto individualmente, se precisarem, |
1093 |
|
|
quanto coletivamente, quando precisarem. Quem precisar pode exercer |
1094 |
|
|
influência. Se você não precisar você pode usar o que os outros preferem. Mas |
1095 |
|
|
se precisar, você tem vez. |
1096 |
|
|
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1097 |
|
|
No software proprietário, essencialmente, você não tem vez. Com software |
1098 |
|
|
livre, você pode modificar o que quiser modificar. E não importa que não haja |
1099 |
|
|
programadores na sua empresa; tudo bem. Se você quiser mudar as divisórias de |
1100 |
|
|
sua empresa, você não deve ser capaz de achar um carpinteiro e perguntar, |
1101 |
|
|
quanto você vai cobrar pelo trabalho? E, se você quiser mudar algo no software |
1102 |
|
|
que você usa, sua empresa não precisa ser do ramo de software. É só ir a |
1103 |
|
|
uma empresa de software e dizer: "quanto você quer cobrar para implementar |
1104 |
|
|
essas mudanças? E quando quer que sejam feitas?" E se não fizerem o trabalho, |
1105 |
|
|
você pode pode achar outra pessoa que faça. |
1106 |
|
|
|
1107 |
|
|
Há um mercado livre para suporte. Assim, qualquer empresa que dê importância a |
1108 |
|
|
suporte vai encontrar uma vantagem tremenda no software livre. Com software |
1109 |
|
|
proprietário, o suporte é um monopólio. Porque uma só empresa tem o código, ou |
1110 |
|
|
talvez um pequeno número de empresas que pagaram uma quantidade gigantesca de |
1111 |
|
|
dinheiro para obter o código-fonte, se for um programa de fonte |
1112 |
|
|
compartilhado da Microsoft. Mas, é muito novo. E assim, não há muitas fontes |
1113 |
|
|
de suporte para você. E isso significa que a menos que você seja gigante |
1114 |
|
|
mesmo, eles não vão dar bola para você. Sua empresa não é tão importante para |
1115 |
|
|
que se sintam incomodados se a perderem como cliente, ou o que quer que |
1116 |
|
|
aconteça. Uma vez usando o programa, eles imaginam que você está amarrado ao |
1117 |
|
|
suporte deles, pois migrar para um programa diferente é um trabalho |
1118 |
|
|
gigantesco. Assim você acaba em situações com a de ter que pagar pelo |
1119 |
|
|
privilégio de reportar um bug. [Risos] E depois de pago, eles dizem: "Bem, OK, |
1120 |
|
|
vimos seu registro do bug. Compre o upgrade que sai daqui a alguns meses para |
1121 |
|
|
ver se o consertamos". [Risos] Provedores de suporte de software livre não |
1122 |
|
|
podem se dar bem dessa maneira. Eles têm de agradar os clientes. Claro que não |
1123 |
|
|
dá para obter todo tipo de suporte de graça. Você posta mensagem de seu |
1124 |
|
|
problema na Internet. É bem possível que receba a respota no dia seguinte. Mas |
1125 |
|
|
não é garantido, naturalmente. Se você quiser ter mais garantia, é melhor fazer |
1126 |
|
|
um acordo com uma empresa e pagá-los. E isto é, naturalmente, uma das maneiras |
1127 |
|
|
como funcionam os negócios em software livre. |
1128 |
|
|
|
1129 |
|
|
Outra vantagem do software livre para empresas é a segurança e a privacidade. |
1130 |
|
|
(E isto se aplica a indivíduos também. Mas eu mencionei no contexto das |
1131 |
|
|
empresas). Vejam, quando um programa é proprietário, você nem sequer pode |
1132 |
|
|
saber o que ele realmente faz. Ele pode ter funções, colocadas |
1133 |
|
|
deliberadamente, das quais você não gostaria se soubesse. Por exemplo, |
1134 |
|
|
ele poderia ter uma porta dos fundos, para permitir que o desenvolvedor |
1135 |
|
|
entre em sua máquina. Ele poderia xeretar o que você faz, e enviar a |
1136 |
|
|
informação para ele. Isso não é incomum. Alguns programas da Microsoft faziam |
1137 |
|
|
isso. Mas não é somente a Microsoft. Há outros programas proprietários que |
1138 |
|
|
espreitam os usuários. E, você nem consegue saber se eles fazem isso ou não. E, |
1139 |
|
|
claro, mesmo assumindo que o desenvolvedor seja totalmente honesto, todo |
1140 |
|
|
programador comete erros. Poderia haver bugs que afetam sua segurança, e |
1141 |
|
|
que não é culpa de ninguém. Mas, a questão é: se não for software livre, você |
1142 |
|
|
não vai achá-los, e não poderá consertá-los. |
1143 |
|
|
|
1144 |
|
|
Ninguém tem tempo de ver o código de todos os programas que roda. Vocês não |
1145 |
|
|
vão fazer isso. Mas com o software livre há uma grande comunidade , e há |
1146 |
|
|
pessoas na comunidade que verificam essas coisas. E você tem o benefício da |
1147 |
|
|
verificação deles. Pois, se houver um bug acidental (com certeza há, de tempos |
1148 |
|
|
em tempos, em qualquer programa), eles pode achá-lo e consertá-lo. E as |
1149 |
|
|
pessoas estão muito menos propensas a pôr deliberadamente um cavalo-de-tróia, |
1150 |
|
|
ou uma função de espionagem, se imaginam que podem ser pegos. Os |
1151 |
|
|
desenvolvedores de software proprietário acham que não serão pegos. Eles se |
1152 |
|
|
safam sem serem detectados. Mas o desenvolvedor de software livre têm de |
1153 |
|
|
saber que as pessoas vão ver sua presença. Assim, em nossa comunidade, sabemos |
1154 |
|
|
que não podemos nos dar bem se empurrarmos uma função que os usuários não |
1155 |
|
|
querem goela abaixo. Assim, sabemos que se os usuários não gostarem, ele farão |
1156 |
|
|
uma versão modificada que não tem essa função. E só ai começarão a usar essa |
1157 |
|
|
versão. |
1158 |
|
|
|
1159 |
|
|
De fato, podemos todos pensar bastante; podemos todos imaginar muitos passos |
1160 |
|
|
adiante tal que provavelmente não venhamos a criar tal função. Afinal de |
1161 |
|
|
contas, você está escrevendo um programa livre, você quer que as pessoas |
1162 |
|
|
gostem de sua versão. Você não vai colocar uma coisa que você sabe que muita |
1163 |
|
|
gente vai odiar, e ver uma outra versão modificada ser aceita em vez da sua. |
1164 |
|
|
Assim, percebam que o usuário é rei, no mundo do software livre. No mundo do |
1165 |
|
|
software proprietário, o cliente *não* é rei. Porque você é apenas um cliente, |
1166 |
|
|
você não tem vez no software que você usa. |
1167 |
|
|
|
1168 |
|
|
Neste aspecto, software livre é um novo mecanismo para a democracia operar. |
1169 |
|
|
Professor Lessig, agora em Stanford, observou que código de programação |
1170 |
|
|
funciona como um tipo de lei. Quem se põe a escrever código usado por quase |
1171 |
|
|
todos, para todos os fins e intenções, está escrevendo leis que dirigem a vida |
1172 |
|
|
das pessoas. No software livre, estas leis são escritas de modo democrático. |
1173 |
|
|
Não na forma clássica da democracia; não temos uma grande eleição e dizemos: |
1174 |
|
|
"vamos todos votar para sabermos como deve ser esta função". [Risos] Em vez |
1175 |
|
|
disso dizemos, basicamente, aqueles que quiserem trabalhar na implementação |
1176 |
|
|
deste recurso, estão convidados. E, se você quiser trabalhar na implementação |
1177 |
|
|
da função deste modo, trabalhe. E o resultado acaba aparecendo, sabem? E |
1178 |
|
|
assim, se muitas pessoas o querem assim, assim ele será. Assim, |
1179 |
|
|
portanto, todo mundo contribui para uma decisão social simplesmente dando |
1180 |
|
|
passos na direção que queira ir. |
1181 |
|
|
|
1182 |
|
|
E, você está livre, pessoalmente, para dar tantos passos, quantos queira dar. |
1183 |
|
|
A empresa está livre para dar quantos passos achar útil. E, depois de |
1184 |
|
|
adicionar todas essas coisas, isso diz para que direção vai o software. |
1185 |
|
|
|
1186 |
|
|
E também é muito útil pegar partes de algum programa existente, |
1187 |
|
|
presume-se, normalmente partes grandes, lógico. Para depois escrever uma |
1188 |
|
|
quantidade de linhas de código suas próprias. E fazer um programa que faça |
1189 |
|
|
exatamente o que você precisar, o qual teria custado os dois olhos da cara |
1190 |
|
|
para desenvolver se tivesse que escrevê-lo do zero -- Você não poderia |
1191 |
|
|
canibalizar grandes partes de pacotes de software livre existente. |
1192 |
|
|
|
1193 |
|
|
Outra coisa que resulta do fato de que o usuário é rei, é que tendemos a ser |
1194 |
|
|
muito bons em compatibilidade e padronização. Por quê? Porque os usuários |
1195 |
|
|
gostam disso! Usuários têm a tendência de rejeitar programas com |
1196 |
|
|
incompatibilidades gratuitas. Mas, algumas vezes há certos grupos de usuários |
1197 |
|
|
que na realidade têm necessidade de certos tipos de incompatibilidades. E daí |
1198 |
|
|
eles terão; e tudo bem. Mas, quando os usuários querem seguir um padrão, nós |
1199 |
|
|
desenvolvedores temos de segui-lo. E, sabemos disso. E fazemos assim. Em |
1200 |
|
|
contraste, se você olha para os desenvolvedores de software proprietário, eles |
1201 |
|
|
sempre acham vantajoso *não* seguir padrões deliberadamente. E, não porque |
1202 |
|
|
pensam que estão dando uma vantagem ao usuário, mas sim, porque estão se |
1203 |
|
|
impondo sobre os clientes -- prendendo o usuário. E você vai vê-los fazendo |
1204 |
|
|
mudanças em seus formatos de arquivo de tempos em tempos, apenas para forçar |
1205 |
|
|
as pessoas a obter a nova versão. |
1206 |
|
|
|
1207 |
|
|
Arquivistas estão enfrentando um problema agora, pois arquivos escritos em |
1208 |
|
|
computadores há dez anos muitas vezes não podem ser acessados. Eles foram |
1209 |
|
|
escritos com software proprietário, está essencialmente perdido agora. Se |
1210 |
|
|
fosse escrito com software livre, então poderia ser atualizado e executado. E |
1211 |
|
|
essas coisas não -- esses registros não estariam perdidos, não estariam |
1212 |
|
|
inacessíveis. Eles estavam reclamando sobre isso recentemente na NPR [National |
1213 |
|
|
Public Radio], citando o software livre como solução. E assim, com efeito, ao |
1214 |
|
|
usar programas proprietários para armazenar seus próprios dados, você está |
1215 |
|
|
pondo a corda no pescoço. |
1216 |
|
|
|
1217 |
|
|
Bom, falei como o software livre afeta muitas empresas. Mas, como ele afeta |
1218 |
|
|
estritamente a área particular que é o mercado de software? Bem, a resposta é |
1219 |
|
|
não afeta. A razão é que 90% da indústria de software, (me disseram), é |
1220 |
|
|
desenvolvimento de software sob medida. Software que não se destina a ser |
1221 |
|
|
lançado. Para software sob medida, esta questão, ou a questão ética do livre |
1222 |
|
|
ou proprietário, não aparece. Vejam, a questão é: "Vocês usuários estão livres |
1223 |
|
|
para modificar e redistribuir o software?" Se há apenas um usuário, e o |
1224 |
|
|
usuário é dono dos direitos, não há problema. O usuário *é* livre para fazer |
1225 |
|
|
todas essas coisas. Assim, com efeito, qualquer programa *sob medida* |
1226 |
|
|
desenvolvido por uma empresa para uso interno é software livre, contanto que |
1227 |
|
|
insistam em ter o código fonte, e todos os direitos. |
1228 |
|
|
|
1229 |
|
|
E a questão realmente não faz sentido para software que vai em relógios de |
1230 |
|
|
pulso e fornos de microondas, ou no sistema de ignição do automóvel. Porque |
1231 |
|
|
estes não são lugares para onde você baixa software e instala. Não é um |
1232 |
|
|
computador real, até onde o usuário saiba. E assim, estas questões não vêm à |
1233 |
|
|
tona o bastante para que sejam eticamente importantes. Assim, para a maior |
1234 |
|
|
parte, a indústria de software vai continuar do mesmo jeito que vem fazendo. |
1235 |
|
|
E o interessante é que, como uma grande parte dos empregos estão nessa parte da |
1236 |
|
|
indústria, mesmo que não houvesse possibilidades para as empresas de software |
1237 |
|
|
livre, os desenvolvedores de software livre poderiam todos arranjar empregos |
1238 |
|
|
fixos escrevendo software sob medida. [Risos] Há tantos; a proporção é muito |
1239 |
|
|
grande. |
1240 |
|
|
|
1241 |
|
|
Mas, mesmo assim, há mercado de software livre. Há empresas de software livre. |
1242 |
|
|
E, na coletiva de imprensa que vou dar, pessoas de algumas dessas empresas vão |
1243 |
|
|
estar junto conosco. E, naturalmente, há também empresas que *não* são do |
1244 |
|
|
mercado de software livre, mas desenvolvem partes úteis de software livre |
1245 |
|
|
para lançar. E, o software livre que produzem é substancial. |
1246 |
|
|
|
1247 |
|
|
Agora, como funciona o negócio de software livre? Bem, alguns vendem |
1248 |
|
|
cópias. Vocês sabem, você está livre para copiar, mas eles conseguem mesmo |
1249 |
|
|
assim vender milhares de cópias por mês. E, outros vendem suporte e vários |
1250 |
|
|
tipos de serviços. Eu, pessoalmente, na segunda metade dos anos 80, vendia |
1251 |
|
|
serviços de suporte de software livre. Basicamente eu dizia, por US$200 por |
1252 |
|
|
hora, eu mudo qualquer coisa que você queira no software GNU que escrevi. E, |
1253 |
|
|
claro, era uma taxa salgada, mas se era um programa do qual eu era o autor, as |
1254 |
|
|
pessoas imaginavam que pudesse terminar o trabalho em muito menos horas. |
1255 |
|
|
[Risos] E tirei meu sustento dessa maneira. De fato, ganhava mais que nunca. |
1256 |
|
|
Eu também dava aulas. E continuei assim até 1990, quando ganhei um grande |
1257 |
|
|
prêmio, e não tive mais que fazê-lo. |
1258 |
|
|
|
1259 |
|
|
Mas, 1990 foi quando a primeira empresa de software livre foi criada, a Cygnus |
1260 |
|
|
Support. E o negócio deles era fazer, essencialmente, o mesmo tipo de coisas |
1261 |
|
|
que estava fazendo. Eu certamente poderia ter trabalhado para eles, se |
1262 |
|
|
precisasse fazê-lo. Como não precisava, senti que era bom para o Movimento se |
1263 |
|
|
permanecesse independente do qualquer empresa. Assim, poderia dizer |
1264 |
|
|
coisas boas e ruins sobre várias empresas de software livre e não livre, sem |
1265 |
|
|
conflito de interesses. Senti que poderia servir mais ao Movimento. Mas, se |
1266 |
|
|
tivesse precisado disso para ganhar a vida, claro, teria trabalhado para eles. |
1267 |
|
|
É um negócio ético de se fazer parte. Não haveria razão para me envergonhar de |
1268 |
|
|
trabalhar para eles. E, aquela empresa conseguiu ser rentável em seu primeiro |
1269 |
|
|
ano. Foi formada com muito pouco capital, apenas o dinheiro que seus três |
1270 |
|
|
fundadores tinham. E continuou crescendo a cada ano, e sendo rentável a cada |
1271 |
|
|
ano, até que ficaram gananciosos, e buscaram investidores externos, e então |
1272 |
|
|
confundiram tudo. Foram vários anos de sucesso, antes que ficassem gananciosos. |
1273 |
|
|
|
1274 |
|
|
Assim, isso ilustra uma das coisas mais empolgantes sobre software livre. |
1275 |
|
|
Software livre demonstra que você não precisa levantar capital para |
1276 |
|
|
desenvolver software livre. Quer dizer, é útil; ele *pode* ajudar. Vocês |
1277 |
|
|
sabem, se você levantar capital, você pode contratar pessoas e pedir que |
1278 |
|
|
escrevam um punhado de software. Mas você pode produzir muito com um pequeno |
1279 |
|
|
número de pessoas. E, de fato, a eficiência tremenda do processo de |
1280 |
|
|
desenvolvimento de software livre é uma das razões pelas quais é importante |
1281 |
|
|
que o mundo mude para o software livre. Isso desmente o que a Microsoft diz, |
1282 |
|
|
quando dizem: "GNU GPL é ruim, porque fica mais difícil para eles levantar |
1283 |
|
|
capital para desenvolver software não livre", e pegar nosso software livre e |
1284 |
|
|
pôr nosso código em seus programas que não querem compartilhar conosco. |
1285 |
|
|
Basicamente, não precisamos que levantem capital dessa forma. Faremos o |
1286 |
|
|
trabalho de mesmo modo. *Estamos* fazendo o trabalho. |
1287 |
|
|
|
1288 |
|
|
As pessoas diziam que nunca seríamos capazes de fazer um sistema operacional |
1289 |
|
|
livre completo. Agora fizemos isso e tremendamente mais. E eu diria que |
1290 |
|
|
estamos a uma ordem de grandeza do desenvolvimento toda a necessidade |
1291 |
|
|
mundial de software de uso geral publicado. E isso num mundo em que mais de |
1292 |
|
|
90% dos usuários não usam nosso software ainda! Isto é em um mundo em que... |
1293 |
|
|
apesar de certas áreas de negócio, bem, mais de metade de todos os servidores |
1294 |
|
|
da web no mundo rodam GNU/Linux com servidor web Apache. |
1295 |
|
|
|
1296 |
|
|
PERGUNTA: [Inaudível] ... O que você disse antes do Linux? |
1297 |
|
|
|
1298 |
|
|
STALLMAN: Eu disse GNU/Linux. |
1299 |
|
|
|
1300 |
|
|
QUESTION: Disse? |
1301 |
|
|
|
1302 |
|
|
STALLMAN: Sim, estou falando do kernel, eu chamo de Linux. Vocês sabem, este é |
1303 |
|
|
o seu nome. O kernel foi escrito por Linus Torvalds, e devemos chamá-lo pelo |
1304 |
|
|
nome que ele escolheu, por respeito ao autor. |
1305 |
|
|
|
1306 |
|
|
Pois bem, mas em geral nas empresas, a maioria dos usuários não o estão |
1307 |
|
|
usando. A maioria dos usuários domésticos não o estão usando ainda. Assim, |
1308 |
|
|
quando estiverem, deveremos ter 10 vezes mais voluntários, e 10 vezes mais |
1309 |
|
|
clientes para empresas de software livre que haverá. E assim, isso nos dará |
1310 |
|
|
esta ordem de grandeza. Assim, neste ponto, estou muito confiante de que |
1311 |
|
|
*podemos* fazer o trabalho. |
1312 |
|
|
|
1313 |
|
|
E, é importante, porque a Microsoft nos pede para ficarmos desesperados. Eles |
1314 |
|
|
dizem: |
1315 |
|
|
|
1316 |
|
|
"O único modo de você ter software funcionando; o único modo de você receber |
1317 |
|
|
inovação, é se você nos der poder! Deixe-nos dominar você. Deixe que |
1318 |
|
|
controlemos o que você pode fazer com o software que você está rodando, de |
1319 |
|
|
modo que possamos arrancar muito dinheiro de você e usar só uma parte disso |
1320 |
|
|
para desenvolver software e ficar com o resto como lucro." |
1321 |
|
|
|
1322 |
|
|
Bem, você não deve se sentir tão desesperado. Você não deve se sentir tão |
1323 |
|
|
desesperado ao perder sua liberdade [Ironia]. Isso é muito perigoso. |
1324 |
|
|
|
1325 |
|
|
Outra coisa que a Microsoft (bem, não só a Microsoft) -- as pessoas que não |
1326 |
|
|
dão suporte ao software livre geralmente adotam um sistema de valores para o |
1327 |
|
|
qual a única coisa que importa são os benefícios práticos de curto prazo. |
1328 |
|
|
"Quanto dinheiro vou ganhar este ano? Que trabalho posso fazer hoje?" |
1329 |
|
|
Raciocínio estreito e para o curto prazo. Eles assumem que é ridículo |
1330 |
|
|
imaginar que alguém sequer possa fazer um sacrifício pela causa da liberdade. |
1331 |
|
|
|
1332 |
|
|
No passado, muitas pessoas faziam discursos sobre americanos que fizeram |
1333 |
|
|
sacrifícios pela liberdade de seus compatriotas. Alguns deles fizeram grandes |
1334 |
|
|
sacrifícios. Eles até mesmo sacrificaram suas vidas pelas liberdades que todos |
1335 |
|
|
em nosso país já ouviram, pelo menos. (Pelo menos, em alguns casos; acho que |
1336 |
|
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temos de ignorar a guerra do Vietnã.) |
1337 |
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1338 |
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|
[Nota do editor: o dia anterior foi "Dia da Memória" nos EUA. O Dia da Memória |
1339 |
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é o dia em que os heróis de guerra são lembrados.] |
1340 |
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1341 |
|
|
Mas, infelizmente, para manter nossa liberdade de usar software, não peça |
1342 |
|
|
grandes sacrifícios, pois sacrifícios pequenos, bem pequenos já são |
1343 |
|
|
suficientes. Tal como aprender uma interface de linha de comando se ainda não |
1344 |
|
|
tivermos uma interface gráfica para o programa. Tal como fazer o trabalho |
1345 |
|
|
desta forma, porque ainda não temos um pacote de software livre para fazer de |
1346 |
|
|
outra forma. Tal como pagar a uma empresa para desenvolver um pacote de |
1347 |
|
|
software livre, de modo que possamos tê-lo em alguns anos. Vários sacrifícios |
1348 |
|
|
pequenos que todos podemos fazer. E, no longo prazo, até mesmo *nós* vamos nos |
1349 |
|
|
beneficiar. Vocês sabem, é de fato um investimento mais que um sacrifício! |
1350 |
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Temos de ter uma visão de longo prazo o suficiente para perceber que é bom |
1351 |
|
|
para nós investir em melhorar nossa sociedade, sem contar com os tostões e |
1352 |
|
|
vinténs de quem obtém o benefício desse investimento. |
1353 |
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1354 |
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|
Assim, por hora, termino por aqui. |
1355 |
|
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1356 |
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|
Eu gostaria de mencionar que há uma nova abordagem para o mercado de software |
1357 |
|
|
livre proposto por Tony Stanco, o qual ele chama de "Desenvolvedores Livres". |
1358 |
|
|
E que envolve uma certa estrutura de negócios que espera com o tempo pagar um |
1359 |
|
|
certa parte dos lucros para todos -- para todos os autores de software livre |
1360 |
|
|
que trabalharem para a empresa. E estão trabalhando agora para obter para mim |
1361 |
|
|
alguns contratos de desenvolvimento de software muito grandes no governo da |
1362 |
|
|
Índia. Pois vão usar software livre desse modo -- com tremenda economia de |
1363 |
|
|
custos desse modo. |
1364 |
|
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1365 |
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|
E assim, agora gostaria de saber se há dúvidas. |
1366 |
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|
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1367 |
|
|
PERGUNTA: [Inaudível] |
1368 |
|
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1369 |
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|
STALLMAN: Você poderia falar uma pouco mais alto por favor? Não consigo mesmo |
1370 |
|
|
ouvir você. |
1371 |
|
|
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1372 |
|
|
PERGUNTA: Como uma empresa como a Microsoft poderia incluir um contrato de |
1373 |
|
|
software livre? |
1374 |
|
|
|
1375 |
|
|
STALLMAN: Bem, na realidade, a Microsoft está planejando transformar muito de |
1376 |
|
|
sua atividades em serviços. E, o que estão planejando fazer é algo sujo e |
1377 |
|
|
perigoso, que é amarrar serviços a programas, um com outros, em uma espécie de |
1378 |
|
|
círculo vicioso, sabe? De modo que para usar este serviço, você terá de usar o |
1379 |
|
|
programa da Microsoft, que vai implicar na necessidade de usar este serviço, |
1380 |
|
|
para este programa da Microsoft, assim tudo fica amarrado. Este é o plano |
1381 |
|
|
deles. |
1382 |
|
|
|
1383 |
|
|
Agora, o interessante é que vender estes serviços não levanta questões éticas |
1384 |
|
|
sobre software livre e software proprietário! Pode até ser perfeitamente normal |
1385 |
|
|
para eles fazer existir o mercado para aquelas empresas que vendem serviços |
1386 |
|
|
pela Internet. No entanto, o que a Microsoft está planejando fazer é usá-los |
1387 |
|
|
para prender o usuário ainda mais -- um monopólio ainda maior -- em software e |
1388 |
|
|
serviços. E, isto foi descrito em um artigo, creio, na Business Week, |
1389 |
|
|
recentemente. E, outras pessoas disseram que isso vai transformar a Internet |
1390 |
|
|
em uma Vila Industrial Microsoft. |
1391 |
|
|
|
1392 |
|
|
E isso é relevante, porque, sabem, o tribunal do julgamento do monopólio da |
1393 |
|
|
Microsoft recomendou dividir a empresa, a Microsoft. Mas de certa forma, |
1394 |
|
|
isso não faz sentido; não faria bem nenhum: uma parte operacional, outra de |
1395 |
|
|
aplicações. |
1396 |
|
|
|
1397 |
|
|
Mas, ao ver aquele artigo, agora vejo uma maneira útil e eficiente para |
1398 |
|
|
dividir a Microsoft numa parte de serviços outra de software. E exigir que se |
1399 |
|
|
relacionem uma com a outra à distância de um braço. E que a [divisão] de |
1400 |
|
|
serviços tenha de publicar suas interfaces, de modo qualquer um possa escrever |
1401 |
|
|
um cliente que converse com esses serviços. E, imagino, que eles tenham de |
1402 |
|
|
pagar para acessar o serviço; bem, isso tudo bem. É uma questão totalmente |
1403 |
|
|
diferente. |
1404 |
|
|
|
1405 |
|
|
Se a Microsoft for dividida desse modo [...], "serviços e software", eles não |
1406 |
|
|
poderão usar seu software para esmagar a concorrência com serviços Microsoft. |
1407 |
|
|
E não poderão usar [a divisão de] serviços para esmagar a concorrência com |
1408 |
|
|
software Microsoft. E poderemos fazer software livre, e talvez vocês o usarão |
1409 |
|
|
para conversar com os serviços Microsoft, e não nos importaremos! |
1410 |
|
|
|
1411 |
|
|
Porque, afinal de contas, apesar de a Microsoft ser a empresa de software |
1412 |
|
|
proprietário que tem subjugado a maioria das pessoas, os outros subjugaram |
1413 |
|
|
menos pessoas; não é por falta de tentar [Risos], eles só não conseguiram |
1414 |
|
|
subjugar a mesma quantidade de pessoas. Assim, o problema não é a Microsoft, e |
1415 |
|
|
só a Microsoft. Microsoft é só o maior exemplo do problema que estamos |
1416 |
|
|
tentando resolver, que á o software proprietário tirando a liberdade dos |
1417 |
|
|
usuário de cooperar e formar uma sociedade ética. Assim, não devemos nos focar |
1418 |
|
|
muito na Microsoft. Você sabem, mesmo que eles não me dessem a oportunidade |
1419 |
|
|
desta tribuna, isso não faz deles tão importantes. Eles não são a razão nem o |
1420 |
|
|
fim de tudo. |
1421 |
|
|
|
1422 |
|
|
PERGUNTA: Lá atrás, você estava discutindo as diferenças filosóficas entre |
1423 |
|
|
software de código aberto e software livre. O que você acha da |
1424 |
|
|
tendência das distribuições GNU/Linux à medida que partem para o suporte |
1425 |
|
|
somente para plataformas Intel? E o fato de que parece que cada vez menos |
1426 |
|
|
programadores estão programando corretamente e fazendo software que compile em |
1427 |
|
|
qualquer lugar. E fazendo software que só funciona em sistemas Intel. |
1428 |
|
|
|
1429 |
|
|
STALLMAN: Não vejo problemas éticos aí. Apesar, é verdade, de que alguns |
1430 |
|
|
fabricantes de computador algumas vezes portam o sistema GNU/Linux para ele. |
1431 |
|
|
HP aparentemente fez isso recentemente. E, eles não se dignaram a pagar |
1432 |
|
|
pelo porte do Windows, porque lhes teria custado caro. Mas para ter suporte |
1433 |
|
|
para GNU/Linux foi, penso eu, cinco engenheiros por uns poucos meses. Foi |
1434 |
|
|
facilmente executável. |
1435 |
|
|
|
1436 |
|
|
Agora, naturalmente, eu incentivo as pessoas a usar autoconf, que é um pacote |
1437 |
|
|
GNU que facilita tornar seus programas portáveis. Incentivo a usá-lo. Ou |
1438 |
|
|
quando alguém conserta um bug que não compila naquela versão do sistema, e o |
1439 |
|
|
envia a você, você deve colocá-lo. Mas eu não vejo uma questão ética. |
1440 |
|
|
|
1441 |
|
|
PERGUNTA: Dois comentários. Um é: recentemente, você falou no MIT. Eu li a |
1442 |
|
|
transcrição. E alguns perguntaram sobre patentes, e você disse que "patente é |
1443 |
|
|
uma questão totalmente diferente. Não tenho comentários sobre isso." |
1444 |
|
|
|
1445 |
|
|
STALLMAN: Certo. Eu na realidade tenho muito a dizer sobre patentes, mas leva |
1446 |
|
|
uma hora. [Risos] |
1447 |
|
|
|
1448 |
|
|
PERGUNTA: Queria dizer o seguinte: a mim me parece que há uma questão. Quer |
1449 |
|
|
dizer, há uma razão pela qual as empresas reivindicam patentes e direitos de |
1450 |
|
|
cópia -- tem a ver com propriedade, para tentar entender o conceito. E que é |
1451 |
|
|
usar o poder do Estado para criar um monopólio. E assim, o que é comum nessas |
1452 |
|
|
coisas não é que eles passam por cima dessas questões, mas que a motivação não |
1453 |
|
|
é mesmo uma questão de servir ao público, mas a motivação das empresas de |
1454 |
|
|
fazer um monopólio para seus interesses privados. |
1455 |
|
|
|
1456 |
|
|
STALLMAN: Eu entendo. Mas, bem, vou responder, pois não temos muito tempo. |
1457 |
|
|
Assim quero responder a isso. |
1458 |
|
|
|
1459 |
|
|
Você está certo que isso é o que querem. Mas há outra razão por que querem |
1460 |
|
|
usar o termo "propriedade intelectual". É porque eles não querem que as |
1461 |
|
|
pessoas pensem com cuidado sobre as questões do direito de cópia ou patentes. |
1462 |
|
|
Porque as leis de direito de cópia e as leis de patente são totalmente |
1463 |
|
|
diferentes, e os efeitos dos direitos de cópia de software e de patente de |
1464 |
|
|
software são totalmente diferentes. |
1465 |
|
|
|
1466 |
|
|
As patentes de software são uma restrição aos programadores -- proibindo-os de |
1467 |
|
|
escrever certos tipos de programa. Ao passo que o direito de cópia não faz |
1468 |
|
|
isso. Com direito de cópia, pelo menos, se você escreveu tudo, você tem |
1469 |
|
|
permissão de distribui-lo. Assim, é tremendamente importante separar essas |
1470 |
|
|
questões. |
1471 |
|
|
|
1472 |
|
|
Elas têm pouco em comum, numa intensidade muito baixa. E tudo mais é |
1473 |
|
|
diferente. Assim, por favor, para incentivar o esclarecimento, discutam |
1474 |
|
|
direito de cópia ou discutam patentes. Não discutam "propriedade intelectual". |
1475 |
|
|
E não tenho opinião sobre "propriedade intelectual". Tenho opiniões sobre |
1476 |
|
|
direitos de cópia e patentes e software. |
1477 |
|
|
|
1478 |
|
|
PERGUNTA: Você mencionou no começo que uma linguagem funcional, como receitas, |
1479 |
|
|
são programas de computador. Há um ponto um pouco diferente de outros tipos |
1480 |
|
|
de linguagem criadas a partir daí. Isto está causando um problema no caso do |
1481 |
|
|
DVD. |
1482 |
|
|
|
1483 |
|
|
STALLMAN: As questões são em parte similares, em parte diferentes, para coisa |
1484 |
|
|
que não são funcionais por natureza. Parte da questão se aplica, mas não tudo. |
1485 |
|
|
Infelizmente, isso significa mais uma hora de palestra. Eu não tenho tempo |
1486 |
|
|
para discorrer sobre isso. Mas, eu diria que todas as obras funcionais |
1487 |
|
|
deveriam ser livres do mesmo jeito que software. Por exemplo: livros-texto, |
1488 |
|
|
manuais, dicionários, receitas, assim por diante. |
1489 |
|
|
|
1490 |
|
|
PERGUNTA: Eu estava pensando na música pela rede, há similaridades e |
1491 |
|
|
diferenças totais criadas. |
1492 |
|
|
|
1493 |
|
|
STALLMAN: Correto. eu diria que a liberdade mínima que deveríamos ter para |
1494 |
|
|
*qualquer* tipo de informação publicada, é a liberdade de redistribuí-la não |
1495 |
|
|
comercialmente, inalterada. Para obras funcionais, precisamos da liberdade de |
1496 |
|
|
publicar *comercialmente* a versão modificada, porque isso é tremendamente |
1497 |
|
|
útil para a sociedade. Para trabalhos não funcionais, você sabe, coisas para |
1498 |
|
|
entreter, ou estéticas, ou para afirmar os pontos de vista de uma pessoa, |
1499 |
|
|
talvez não devessem ser modificadas. E, talvez isso seja OK, ter direito de |
1500 |
|
|
cópia cobrindo toda a distribuição *comercial* dele. |
1501 |
|
|
|
1502 |
|
|
Por favor, lembrem-se de que de acordo com a Constituição dos EUA, a |
1503 |
|
|
finalidade do direito de cópia é beneficiar o público. É para modificar o |
1504 |
|
|
comportamento de certas instituições privadas, para que publiquem mais livros. |
1505 |
|
|
E o benefício é que a sociedade discuta questões, aprenda e tenhamos |
1506 |
|
|
literatura. Tenhamos trabalhos científicos. E o propósito é incentivar isso. |
1507 |
|
|
Direitos de cópia não existem por causa dos autores, muito menos por causa dos |
1508 |
|
|
editores. Eles existem por causa dos leitores e daqueles que se beneficiam da |
1509 |
|
|
comunicação da informação que acontece quando as pessoas escrevem e as outras |
1510 |
|
|
lêem. E com o objetivo, eu concordo! |
1511 |
|
|
|
1512 |
|
|
Mas, na era das redes de computadores, o *método* não é mais defensável, |
1513 |
|
|
porque agora exige leis draconianas que invadem a privacidade de todos e |
1514 |
|
|
aterrorizam todo mundo. Você sabe, anos de prisão por compartilhar com os |
1515 |
|
|
outros. Não era assim nos tempos da imprensa impressa. Naquela época, o |
1516 |
|
|
direito de cópia era uma regulamentação industrial. Restringia os editores! |
1517 |
|
|
*Agora*, é uma restrição imposta pelo editores ao público. Assim, o |
1518 |
|
|
relacionamento do poder deu uma volta de 180 graus, mesmo sendo a mesma lei. |
1519 |
|
|
|
1520 |
|
|
PERGUNTA: Assim, você pode ter a mesma coisa -- tal como ao fazer uma |
1521 |
|
|
música a partir de outra. |
1522 |
|
|
|
1523 |
|
|
STALLMAN: Correto. Isso é interessante. |
1524 |
|
|
|
1525 |
|
|
PERGUNTA: E trabalhos novos e exclusivos, você sabe, muito ainda é cooperação. |
1526 |
|
|
|
1527 |
|
|
STALLMAN: É. Eu penso que isso provavelmente exige algum tipo de conceito do uso |
1528 |
|
|
justo. Certamente samplear alguns segundos e usar isso ao fazer uma obra |
1529 |
|
|
musical: obviamente deveria ser uso justo. Mesmo que a idéia padrão do uso |
1530 |
|
|
justo inclua isso, se você pensar sobre isso. Os tribunais vão concordar? Não |
1531 |
|
|
sei ao certo, mas deveriam. Isso *não* seria uma mudança real no sistema do |
1532 |
|
|
modo como existiu. |
1533 |
|
|
|
1534 |
|
|
PERGUNTA: O que você acha de publicar informações *públicas* em formatos |
1535 |
|
|
proprietários? |
1536 |
|
|
|
1537 |
|
|
STALLMAN: Ah, não deveria ser. Quero dizer, o Governo nunca deveria pedir aos |
1538 |
|
|
cidadãos que usassem programas não livres para acessar e se comunicar com o |
1539 |
|
|
Governo desse modo, em todos os sentidos. |
1540 |
|
|
|
1541 |
|
|
PERGUNTA: Tenho sido, o que agora vou dizer, um usuário GNU/Linux... |
1542 |
|
|
|
1543 |
|
|
STALLMAN: Obrigado. [Risos] |
1544 |
|
|
|
1545 |
|
|
PERGUNTA: ... nos últimos quatro anos. E uma coisa que tem sido problemática |
1546 |
|
|
para mim e é algo essencial, eu acho, para todos nós, é navegar na Internet. |
1547 |
|
|
|
1548 |
|
|
STALLMAN: Sim. |
1549 |
|
|
|
1550 |
|
|
QUESTION: Uma das coisa que decididamente tem sido um ponto fraco ao usar o |
1551 |
|
|
sistema GNU/Linux tem sido navergar na Internet, porque a ferramenta principal |
1552 |
|
|
para isso, Netscape... |
1553 |
|
|
|
1554 |
|
|
STALLMAN: ...Não é software livre. |
1555 |
|
|
|
1556 |
|
|
Deixe-me responder isso. Eu quero chegar ao ponto, para falar um pouco mais. |
1557 |
|
|
Portanto, sim. Tem havido uma tendência terrível das pessoas usarem o Netscape |
1558 |
|
|
Navigator em seus sistema GNU/Linux. E, de fato, todos os pacotes comerciais |
1559 |
|
|
vem com ele. Assim é uma situação irônica: trabalhamos tanto para fazer um |
1560 |
|
|
sistema operacional *livre*, e agora, se você vai na loja, você pode encontrar |
1561 |
|
|
as versões lá do GNU/Linux (a maioria delas se chama "Linux"), e não são |
1562 |
|
|
livres. Ah, bem, uma parte deles é. Mas então, há o Netscape Navigator, e |
1563 |
|
|
talvez outros programas proprietários também. Assim é muito difícil realmente |
1564 |
|
|
encontrar um sistema livre, a não ser que você saiba o que está fazendo! Ou, |
1565 |
|
|
obviamente, você pode [simplesmente] não instalar o Netscape Navigator (com |
1566 |
|
|
os sistema comerciais]. |
1567 |
|
|
|
1568 |
|
|
Agora, na verdade, tem havido navegadores livres por muitos anos. Há o |
1569 |
|
|
navegador livre que usava chamado "Lynx". É um navegador livre não gráfico; é |
1570 |
|
|
só texto. É uma vantagem tremenda já que você não vê os anúncios. [Risos] |
1571 |
|
|
[Aplausos] |
1572 |
|
|
|
1573 |
|
|
Mas de qualquer forma, há o projeto gráfico livre chamado "Mozilla", que está |
1574 |
|
|
chegando ao pondo em que se pode usá-lo. Eu o uso de vez em quando. |
1575 |
|
|
|
1576 |
|
|
PERGUNTA: O Konqueror 2.01 tem sido muito bom. |
1577 |
|
|
|
1578 |
|
|
STALLMAN: Ah, OK. Então, este é outro nevegador gráfico gratuito. Assim, |
1579 |
|
|
estamos finalmente resolvendo o problema, penso eu. |
1580 |
|
|
|
1581 |
|
|
PERGUNTA: Você pode me falar sobre aquela divisão ética/filosófica entre |
1582 |
|
|
software livre e código aberto? Você acha que elas são irreconciliáveis?... |
1583 |
|
|
|
1584 |
|
|
[troca de fitas de gravação; o fim da pergunta e o começo da resposta não |
1585 |
|
|
foram gravados] |
1586 |
|
|
|
1587 |
|
|
STALLMAN: .... para uma liberdade, e ética. Ou quer você apenas diga: "bem, |
1588 |
|
|
espero que suas empresas decidam o que é mais lucrativo para deixar-nos fazer |
1589 |
|
|
essas coisas" |
1590 |
|
|
|
1591 |
|
|
Mas, como eu disse, em muitos trabalhos práticos, não importa de fato o qual é |
1592 |
|
|
a política da pessoa. Quando alguém se oferece para ajudar o projeto GNU, |
1593 |
|
|
dizemos: "Você tem de concordar com nossa política". Dizemos isso no pacote |
1594 |
|
|
GNU, você tem chamar o sistema, GNU/Linux, e você tem de chamá-lo de software |
1595 |
|
|
livre. O que você diz quando não fala com o projeto GNU; fica a seu critério. |
1596 |
|
|
|
1597 |
|
|
PERGUNTA: A IBM começou uma campanha para agências do governo para vender |
1598 |
|
|
suas novas máquinas de grande porte usando Linux como ponto de venda, e dizem |
1599 |
|
|
"Linux"! |
1600 |
|
|
|
1601 |
|
|
STALLMAN: Sim, naturalmente, é de fato o sistema GNU/Linux. [Risos] |
1602 |
|
|
|
1603 |
|
|
QUESTION: É isso aí! Bem, fale com os vendedores-chefe. Eles não sabem nada do |
1604 |
|
|
GNU. |
1605 |
|
|
|
1606 |
|
|
STALLMAN: Tenho que falar com quem? |
1607 |
|
|
|
1608 |
|
|
QUESTION: Com o líder dos vendedores. |
1609 |
|
|
|
1610 |
|
|
STALLMAN: Ah sim. O problema é que eles já cuidadosamente decidiram o que |
1611 |
|
|
querem dizer por razões que lhes tragam vantagens. E a questão do que como |
1612 |
|
|
mencioná-lo de forma mais precisa, ou justa ou correta não é a questão |
1613 |
|
|
principal que importa a uma empresa como essa. Agora, algumas empresas |
1614 |
|
|
pequenas, sim, têm um dono E se o dono estiver inclinado a pensar desse |
1615 |
|
|
modo, ele pode tomar essa decisão. Não uma empresa gigante, porém. É uma |
1616 |
|
|
vergonha, vocês sabem. |
1617 |
|
|
|
1618 |
|
|
Há um outra questão mais importante e mais substancial sobre o que a IBM está |
1619 |
|
|
fazendo. Eles estão dizendo que estão investindo bilhões de dólares no "Linux". |
1620 |
|
|
Mas talvez, eu devesse dizer "no" entre aspas, também, porque parte do |
1621 |
|
|
dinheiro é para pagar a pessoas para desenvolver software livre. Isso é uma |
1622 |
|
|
contribuição de fato para nossa comunidade. Mas, outra parte é para pagar |
1623 |
|
|
pessoas para escrever software proprietário, ou portar software proprietário |
1624 |
|
|
para rodar no GNU/Linux, e isso *não* é uma contribuição para nossa |
1625 |
|
|
comunidade. Mas, a IBM está juntando tudo [num pacote só]. Uma parte disse |
1626 |
|
|
poderá ser para publicidade, que, é em parte uma contribuição, mesmo que |
1627 |
|
|
parcialmente errado. Assim, é uma situação complicada. Parte do que estão |
1628 |
|
|
fazendo é um contribuição e parte não é. E parte é de certa forma, mas não |
1629 |
|
|
exatamente. E não dá para juntar tudo isso e pensar:"Nossa! Puxa! um bilhão de |
1630 |
|
|
dólares da IBM." [Risos] Isso é simplificar demais. |
1631 |
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1632 |
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PERGUNTAS: Você pode falar um pouco mais sobre as idéias presentes na licença |
1633 |
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pública geral? |
1634 |
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1635 |
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STALLMAN: Bem, este é o -- desculpe, estou respondendo a pergunta dele agora. |
1636 |
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[Risos] |
1637 |
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1638 |
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|
SCHONBERG: Você quer reservar algum tempo mais para a coletiva de imprensa? Ou |
1639 |
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quer continuar aqui? |
1640 |
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1641 |
|
|
STALLMAN: Quem está aqui para a coletiva de imprensa? Não muita gente da |
1642 |
|
|
imprensa. Ah, três -- OK. Dá para segurar se nós -- seu eu continuar |
1643 |
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|
respondendo as perguntas de todos por mais dez minutos? OK. Bem, vamos |
1644 |
|
|
continuar respondendo as perguntas de todos. |
1645 |
|
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1646 |
|
|
Bem, a idéia presente na GNU GPL? Parte dela é que eu queria proteger a |
1647 |
|
|
liberdade da comunidade contra o fenômeno que eu descrevi sobre o X Windows, |
1648 |
|
|
que aconteceu com outros programas livres também. De fato, quando pensava sobre |
1649 |
|
|
esta questão, o X Windows não tinha sido lançado ainda. Mas tinha visto este |
1650 |
|
|
problema acontecer em outros programas livres. Por exemplo, o TeX. Queria |
1651 |
|
|
garantir que os usuários todos tivessem liberdade. Doutro modo, eu pensava que |
1652 |
|
|
pudesse escrever um programa, e talvez muita gente usasse o programa, mas não |
1653 |
|
|
teriam liberdade. E daí veja que problema?! |
1654 |
|
|
|
1655 |
|
|
Mas, a outra questão em que estava pensando era: eu quero dar à comunidade o |
1656 |
|
|
sentimento de que não somos capacho -- um sentimento de que não éramos presas |
1657 |
|
|
de nenhum parasita que se misturasse com a gente. Se você não usa copyleft, |
1658 |
|
|
você essencialmente está dizendo: [falando baixinho] "Leve meu código. Faça o |
1659 |
|
|
que quiser. E não digo não". Assim, qualquer um pode vir e dizer: [falando bem |
1660 |
|
|
firme] "Ah, eu quero fazer uma versão proprietária disso. Vou pegar isso". E |
1661 |
|
|
então, provavelmente, fazem alguns aperfeiçoamentos. Estas versões |
1662 |
|
|
proprietárias podem ter apelo para os usuários, e substituir as versões |
1663 |
|
|
livres. E daí veja o que você fez! Você fez fez uma doação para um projeto de |
1664 |
|
|
software proprietário! |
1665 |
|
|
|
1666 |
|
|
E quando as pessoas vêem o que está acontecendo -- quando as pessoas vêem: |
1667 |
|
|
"outras pessoas pegam o que faço e nem sequer me devolvem", isso pode ser |
1668 |
|
|
desmoralizante. E, isto não é só especulação. Eu tinha visto isso acontecer. |
1669 |
|
|
Isso foi parte do que aconteceu, fazendo desaparecer a antiga comunidade à |
1670 |
|
|
qual eu pertencia nos anos 70. Algumas pessoas passara a não ser mais |
1671 |
|
|
cooperativas. E achávamos que elas estavam lucrando com isso. Elas certamente |
1672 |
|
|
agiam como se estivessem lucrando. Mas percebemos que elas recebiam |
1673 |
|
|
cooperação, mas não davam contrapartida. E não havia nada que pudéssemos |
1674 |
|
|
fazer. Foi muito desencorajador. Nós, os que não gostávamos dessa tendência, |
1675 |
|
|
até discutimos o assunto e não conseguíamos apresentar uma idéia para |
1676 |
|
|
impedir isso. |
1677 |
|
|
|
1678 |
|
|
Assim, a GPL foi pensada para impedir isso. Ela diz: "Sim, você está convidado |
1679 |
|
|
a se *unir* à comunidade e usar este código. Você pode usá-lo para fazer todo |
1680 |
|
|
o tipo de trabalho. Mas, se você lançar uma versão modificada, você tem de |
1681 |
|
|
lançá-la *para* nossa comunidade, como parte de nossa comunidade -- como parte |
1682 |
|
|
do mundo livre". |
1683 |
|
|
|
1684 |
|
|
Então, de fato, ainda há muitos modos de as pessoas se beneficiarem de nosso |
1685 |
|
|
trabalho e não contribuir. Por exemplo, você não é obrigado a escrever nenhum |
1686 |
|
|
software. Muitas pessoas usam o GNU/Linux, e não escrevem software. Ninguém |
1687 |
|
|
exige que você tenha de fazer algo para nós. Mas se fizer certas coisas, você |
1688 |
|
|
tem de contribuir com ela. Isso significa que nossa comunidade não é capacho. |
1689 |
|
|
E acho que isso ajudou a dar às pessoas a força para sentir: "Sim, não seremos |
1690 |
|
|
simplesmente pisoteados por todo mundo. Seremos capazes de resistir a isso". |
1691 |
|
|
|
1692 |
|
|
PERGUNTA: Sim, minha pergunta era, considerando software livre mas não com |
1693 |
|
|
copyleft. Como todo mundo pode pode pegá-lo e fazê-lo proprietário, não é |
1694 |
|
|
possível pegá-lo, e fazer mundanças e lançar a coisa toda sob GPL? |
1695 |
|
|
|
1696 |
|
|
STALLMAN: Sim, é possível. |
1697 |
|
|
|
1698 |
|
|
PERGUNTA: Então, isso faria todas as cópias daí serem GPL? |
1699 |
|
|
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1700 |
|
|
STALLMAN: Deste ramo em diante. Mas veja por que não fazemos isso. |
1701 |
|
|
|
1702 |
|
|
PERGUNTA: Hmm? |
1703 |
|
|
|
1704 |
|
|
STALLMAN: Veja por que normalmente não fazemos isso. Deixe-me explicar. |
1705 |
|
|
|
1706 |
|
|
QUESTION: OK, sim. |
1707 |
|
|
|
1708 |
|
|
STALLMAN: Poderíamos, se quiséssemos, pegar o X Windows, e fazer uma versão |
1709 |
|
|
coberta pela GPL, e fazer mudanças nele. Mas, mas há um grupo muito maior de |
1710 |
|
|
pessoas trabalhando na melhoria do X Windows e *não* tornando-o GPL. Assim, se |
1711 |
|
|
fizéssemos isso, estaríamos produzindo um fork [bifurcação na linha de |
1712 |
|
|
desenvolvimento]. E não é um tratamento muito legal. E, eles *são* parte de |
1713 |
|
|
nossa comunidade, contribuindo com nossa comunidade. |
1714 |
|
|
|
1715 |
|
|
Segundo, isso seria um tiro pela culatra, porque eles estão fazendo um |
1716 |
|
|
trabalho muito maior no X que nós faríamos. Assim, nossa versão seria inferior |
1717 |
|
|
à deles, e as pessoas não iriam querer usá-lo, o que significa: por que se dar |
1718 |
|
|
ao trabalho? |
1719 |
|
|
|
1720 |
|
|
PERGUNTA: Mmm hmm. |
1721 |
|
|
|
1722 |
|
|
STALLMAN: Assim, quando um pessoa escreve algum melhoramento do X Windows, o |
1723 |
|
|
o que eu digo que essa pessoa deveria fazer é: cooperar com a Equipe de |
1724 |
|
|
Desenvolvimento do X. Envie a eles e deixe que usem desse modo. Porque eles |
1725 |
|
|
*estão* desenvolvendo um parte muito importante do software livre. É bom para |
1726 |
|
|
nós cooperar com eles! |
1727 |
|
|
|
1728 |
|
|
PERGUNTA: Exceto, considerando o X, em particular, há mais ou menos dois anos, |
1729 |
|
|
O Consórcio X que estava bem mergulhado no código aberto "não livre"... |
1730 |
|
|
|
1731 |
|
|
STALLMAN: Bem, na realidade *não era* código aberto. Não era código aberto, |
1732 |
|
|
mesmo. Eles podem ter dito que era. (Não me lembro se disseram isso ou não.) |
1733 |
|
|
Mas não era código aberto. |
1734 |
|
|
|
1735 |
|
|
Era restrito. Você poderia distribuir comercialmente, eu acho. Ou não poderia |
1736 |
|
|
distribuir comercialmente a versão modificada, ou algo do tipo. Havia uma |
1737 |
|
|
restrição considerada inaceitável tanto pelo Movimento de Software Livre |
1738 |
|
|
quanto pelo Movimento de Código Aberto. |
1739 |
|
|
|
1740 |
|
|
E sim, é aberto para um uso que a licença "não copyleft" permite. De |
1741 |
|
|
fato, o Consórcio X; eles têm uma política muito rígida. Eles dizem: "Se seu |
1742 |
|
|
programa tiver copyleft mesmo que seja um pouquinho, não o distribuiremos de |
1743 |
|
|
jeito nenhum. Não vamos colocá-lo em nossa distribuição." Assim, muita gente |
1744 |
|
|
foi pressionada a não usar copyleft. E o resultado foi que todo o software |
1745 |
|
|
dessa gente estava por aí, mais tarde. Quando as mesmas pessoas que tinham |
1746 |
|
|
pressionado o desenvolvedor a ser permissivo demais, o pessoa do X depois |
1747 |
|
|
disse: "Muito bem. Agora vamos colocar restrições", o que não foi muito ético |
1748 |
|
|
da parte deles. |
1749 |
|
|
|
1750 |
|
|
Mas, dada a situação, não iríamos querer gastar os recursos para manter uma |
1751 |
|
|
versão alternativa do X coberta pela GPL. E não faria sentido nenhum fazer |
1752 |
|
|
isso. Há muitas outras coisa que precisamos fazer. Vamos fazê-las então. E |
1753 |
|
|
podemos cooperar com os desenvolvedores do X. |
1754 |
|
|
|
1755 |
|
|
PERGUNTA: Você tem um comentário: o GNU é uma marca registrada? E é possível |
1756 |
|
|
incluir como parte da Licença Geral Pública [GPL] GNU marcas registradas? |
1757 |
|
|
|
1758 |
|
|
STALLMAN: Estamos, na realidade, registrando a marca GNU. Mas isso não teria |
1759 |
|
|
nada a ver com isso. É uma longa história explicar por quê. |
1760 |
|
|
|
1761 |
|
|
PERGUNTA: Você poderia exigir que a marca registrada fosse apresentada em |
1762 |
|
|
programas cobertos pela GPL. |
1763 |
|
|
|
1764 |
|
|
Não, não acho. As licenças cobrem programas individuais. E, quando um dado |
1765 |
|
|
programa é parte do projeto GNU, ninguém está mentido. O nome do sistema como |
1766 |
|
|
um todo, é uma questão diferente. E isto é um detalhe. Não vale a pena |
1767 |
|
|
discutir adiante. |
1768 |
|
|
|
1769 |
|
|
PERGUNTA: Se houvesse um botão, que você, pressionando, forçasse |
1770 |
|
|
todas as empresas a liberar o software deles você o pressionaria? |
1771 |
|
|
|
1772 |
|
|
STALLMAN: Bem, eu o usaria para software publicado. Você sabe, eu acho que as |
1773 |
|
|
pessoas têm o direito de escrever programas privados, e usá-los. E isso inclui |
1774 |
|
|
as empresas. É uma questão de privacidade. E é verdade, pode haver momentos em |
1775 |
|
|
que seja errado fazer isso, exemplo, se for tremendamente útil para a |
1776 |
|
|
humanidade e você está segurando isso da humanidade, o que é um erro, mas esse |
1777 |
|
|
é um tipo de erro diferente. É um tipo diferente de questão, apesar de ser da |
1778 |
|
|
mesma área. |
1779 |
|
|
|
1780 |
|
|
Mas sim, eu acho que todo o software publicado deveria ser software livre. E |
1781 |
|
|
lembrem-se de que, quando o software não é livre, é por causa da intervenção |
1782 |
|
|
do Governo. O Governo está intervindo para fazê-lo não livre. O Governo está |
1783 |
|
|
criando poderes legais especiais para dar aos donos dos programas, assim eles |
1784 |
|
|
podem mandar a polícia nos impedir de usar os programas de certas maneiras. Eu |
1785 |
|
|
certamente gostaria de dar fim a isso. |
1786 |
|
|
|
1787 |
|
|
SCHONBERG: A apresentação de Richard invariavelmente gerou enorme quantidade |
1788 |
|
|
de energia intelectual. Eu sugeriria que parte dela deva ser dirigida para |
1789 |
|
|
usar e possivelmente escrever software livre. |
1790 |
|
|
|
1791 |
|
|
Temos de encerrar o evento, rapidamente. Eu quero dizer que Richard injetou |
1792 |
|
|
numa profissão, conhecida do público em geral pela "nerditude apolítica" |
1793 |
|
|
terminal, um nível de discussão política e moral, penso eu, sem precedentes em |
1794 |
|
|
nossa profissão. E devemos muito a ele por isso. Gostaria de avisar a todos |
1795 |
|
|
que haverá um intervalo. |
1796 |
|
|
|
1797 |
|
|
[Aplausos] |
1798 |
|
|
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1799 |
|
|
STALLMAN: Vocês estão livres para sair quando quiserem, tá? [Risos] Não os |
1800 |
|
|
estou mantendo prisioneiros aqui. |
1801 |
|
|
|
1802 |
|
|
[A platéia sai...] |
1803 |
|
|
|
1804 |
|
|
[Conversas paralelas....] |
1805 |
|
|
|
1806 |
|
|
STALLMAN: Só mais uma coisa. Nosso site é : www.gnu.org |