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1 ineiev 1.1 Transcrição do discurso de Richar M. Stallman, "Software Livre: Liberdade de
2     Cooperação" Universidade de Nova Iorque, em 29 de Maio de 2001.
3    
4     Original em inglês: http://www.gnu.org/philosophy/rms-nyu-2001-transcript.txt
5    
6     Traduzido por Edgard Lemos <edgard@edconsultoria.com.br>
7    
8     Uma outra tradução pode ser encontrada em:
9     http://www.msantunes.com.br/palestra.htm
10    
11    
12     URETSKY: Eu sou Mike Uretsky. Sou da "Escola de Negócios Stern". Também sou
13     um dos co-diretores do Centro de Tecnologia Avançada. E, em nome de todos nós
14     do Departamento de Ciência da Computação, quero dar-lhes as boas-vindas aqui.
15     Quero fazer alguns comentários antes de dar a palavra a Ed, que vai lhes
16     apresentar o palestrante.
17    
18     O papel da Universidade é fomentar o debate e levantar discussões
19     interessantes. E o papel de uma universidade proeminente é ter discussões
20     particularmente interessantes. E esta apresentação em particular, este
21     seminário entra bem dentro desse molde. Eu considero a discussão sobre código
22     aberto particularmente interessante. De certo modo, [Risos]
23    
24     STALLMAN: Meu negócio é "software livre". Código aberto é outro movimento.
25     [Risos] [Aplausos]
26    
27     URETSKY: Quando iniciei nesta área nos anos 60, software era basicamente
28     livre. Então entramos numa fase. Ele era livre, e então os fabricantes [[ou
29     "alguns dos fabricantes"]] de software, precisando expandir seus mercados, o
30     levaram para outras direções. Muito do desenvolvimento que aconteceu com a
31     entrada do PC foi exatamente nessa fase.
32    
33     Há um filósofo francês muito interessante -- Pierre Levy -- que fala sobre
34     essas mudanças, e que fala sobre o movimento para o ciberespaço não só tendo a
35     ver com tecnologia, mas também com restruturação social e política, através da
36     mundança dos relacionamentos para a melhoraria do bem-estar da
37     humanidade. E esperamos que este debate seja um movimento nessa direção; pois
38     este debate atravessa várias disciplinas que são a base da Universidade.
39     Estamos desejosos de discussões verdadeiramente interessantes. Ed?
40    
41     SCHONBERG: Eu sou Ed Schonberg do Departamento de Ciência da Computação do
42     Insituto Courant. Sejam todos bem-vindos a este evento. Apresentadores são
43     normalmente, e particularmente, um aspecto inútil em apresentações públicas,
44     mas, neste caso, realmente, um deles serviu a um propósito útil como
45     demonstrado por Mike. Um apresentador por exemplo, ao fazer
46     comentários imprecisos, pode permitir que ele endireite, corrija e [Risos]
47     esclareça consideravelmente os parâmetros do debate.
48    
49     Portanto, vou apresentar da maneira mais rápida possível alguém que dispensa
50     apresentações. Richard é o exemplo perfeito de alguém que, agindo localmente,
51     começou a pensar globalmente a partir de problemas relativos à não
52     disponibilidade de código fonte para drivers de impressora no AI-Lab muitos
53     anos atrás. Ele desenvolveu uma filosofia coerente que nos forçou a todos a
54     reexaminar nossas idéias de como se produz sofwtare, o que significa
55     propriedade intelectual e o que realmente representa a comunidade de software.
56     Convido, portanto, Richard Stallman. [Aplausos]
57    
58    
59     STALLMAN: Alguém pode me emprestar um relógio? [Risos] Obrigado. Bem, eu
60     gostaria de agradecer à Microsoft por me oferecer esta oportunidade de [Risos]
61     estar neste púlpito. Nas últimas semanas, eu me senti como um escritor cujo
62     livro tivesse sido fortuitamente proibido. [Risos] Exceto que todos os artigos
63     sobre ele davam o nome errado do autor, pois a Microsoft descreve GNU GPL como
64     uma licença de código aberto, e a maior parte da cobertura da imprensa adotou
65     isso. Muitas pessoas, obviamente inocentemente não percebem que nosso trabalho
66     não tem nada a ver com código aberto; de fato, fizemos quase tudo antes de
67     cunharem o termo "código aberto".
68    
69     Somos do Movimento do Software Livre, e vou falar sobre o que é o movimento de
70     software livre, o que significa, o que temos feito e, como este evento é
71     parcialmente patrocinado pela Escola de Negócios, vou falar algumas coisas a
72     mais do que normalmente falo sobre como o software se relaciona com os negócios
73     e algumas outras áreas da vida social.
74    
75     Bem, alguns de vocês talvez não escrevam programas, mas talvez cozinhem. E se
76     cozinham, a não ser que sejam muito bons, provavelmente seguem receitas. E se
77     seguem receitas, provavelmente já tiveram a experiência de obter uma cópia da
78     receita de um amigo. E provavelmente já tiveram a experiência -- a não ser que
79     sejam totalmente neófitos -- de alterar a receita. A receita diz certas coisas,
80     mas você não está obrigado a segui-la exatamente. Você pode excluir alguns
81     ingredientes. Adicionar cogumelos, porque você gosta. Pôr menos sal porque seu
82     médico disse para reduzir o sal -- etc. Você pode fazer alterações ainda
83     maiores de acordo com sua habilidade. E ao modificar uma receita, e cozinhar
84     para amigos e eles gostarem, um deles pode dizer "puxa, dá pra passar a
85     receita?" Então o que você faz? Você poderia escrever essa versão modificada da
86     receita e entregar uma cópia ao seu amigo. Isto é natural de se fazer com
87     receitas de qualquer tipo.
88    
89     Ora, receitas têm muito em comum com programas. Programas têm muito em comum
90     com receitas. Uma série de passos de execução para obter algum resultado que
91     se queira. Assim, é natural agir da mesma forma com programas. Ceder uma cópia
92     a um amigo. Modificá-lo porque a tarefa para a qual foi escrito não é
93     exatamente o que você quer. Até fez uma excelente trabalho para outros, mas
94     você tem uma tarefa diferente. E, depois de modificá-lo, pode ser que seja útil
95     para outras pessoas ainda. Talvez elas tenham uma tarefa a fazer que seja como
96     a sua. Assim, elas pedem, posso conseguir uma cópia? E como você é
97     um cara legal, você vai dar a cópia. É assim que agem as pessoas decentes.
98    
99     Agora imagine como seria se as receitas viessem lacradas dentro de caixas
100     pretas -- sem poder ver os ingredientes que estivesse usando, muito menos
101     modificá-los -- e imagine, se ao copiá-las para um amigo, eles o chamassem
102     de pirata e tentassem colocá-lo na cadeia por anos. Um mundo assim traria
103     tremenda indignação para todos aqueles acostumados a trocar receitas. Mas é
104     exatamente desse jeito que é o mundo do software proprietário. Um mundo no
105     qual a decência comum para com outras pessoas é proibida ou impedida.
106    
107     E porque eu notei isso? Eu notei isso porque tive sorte, nos anos 70, de fazer
108     parte de uma comunidade de programadores que compartilhavam software. Essa
109     comunidade tinha sua origem essencialmente lá no início da computação. Nos
110     anos 70, porém, já estava ficando raro encontrar uma comunidade em que se
111     compartilhava software. E, de fato, era um caso extremo, pois no laboratório
112     em que trabalhava, o sistema operacional inteiro era software desenvolvido
113     pelas pessoas de nossa comunidade, e o compartilhávamos com qualquer
114     pessoa. Qualquer um era convidado a vê-lo e levar uma cópia, e fazer com ele o
115     que quisesse. Não havia nenhum aviso de direito de cópia nesses programas.
116     Cooperação era nosso modo de vida. E nos sentíamos seguros nesse tipo de vida.
117     Não lutávamos por ela. Não tínhamos que lutar por ela. Apenas vivíamos assim.
118     E, até onde eu soubesse, continuaríamos a ver daquela maneira. Assim, havia
119     software livre, mas não havia movimento de software livre.
120    
121     Mas então, nossa comunidade foi destruída por uma série de calamidades que
122     aconteceram. No fim acabou sendo eliminada. No fim, o computador PDP-10 que
123     usávamos para todo nosso trabalho foi descontinuado. E como vocês sabem, nosso
124     sistema -- O Sistema de Compartilhamento de Tempo Incompatível -- fora
125     escrito nos anos 60, portanto fora escrito em assembler. Era assim que se
126     escrevia sistemas operacionais nos anos 60. Obviamente, programas em
127     assembler são feitos para uma arquitetura de hardware em particular; se for
128     descontinuado, todo o trabalho vira pó -- não serve para mais nada. E foi o
129     que aconteceu conosco. 20 anos ou tanto de trabalho da nossa comunidade virou
130     pó.
131    
132     Mas antes que isso acontecesse, eu tive uma experiência que me preparou, me
133     ajudou a saber o que fazer, ajudou a me preparar para saber o que fazer quando
134     isso acontecesse, porque a certa época, a Xerox deu ao laboratório de
135     inteligência artificial em que trabalhava, uma impressora a laser, um presente
136     muito interessante, pois era a primeira vez que alguém fora da Xerox tinha uma
137     impressora a laser. Ela era muito rápida, imprimia uma página por segundo,
138     muito boa em muitos aspectos, mas não era confiável, porque ela era na verdade
139     uma copiadora de alta velocidade para escritórios modificada para impressora.
140     E vocês sabem, as copiadoras engasgam, mas o operador está junto para reparar.
141     A impressora engasgava sem ninguém ver. E ficava assim por longo tempo.
142    
143     Então tivemos uma idéia para lidar com este problema. Modificá-la de modo
144     que quando engasgasse, a máquina que controlava a impressora pudesse avisar
145     nosso computador central, e avisar aos usuários que estivessem aguardando
146     as impressões, ou algo do tipo, por exemplo, de problemas na impressora. Se
147     soubessem que ela tinha engasgado, quer dizer, se você está esperando por
148     uma impressão, e sabe que a impressora está engasgada, você não vai ficar
149     sentado, você vai lá e resolve o problema da impressora.
150    
151     Mas, aí ficamos completamente de mãos atadas, porque o software que controlava
152     a impressora não era livre -- ele tinha vindo com a impressora, e era apenas
153     um binário. Não tínhamos como saber o código fonte -- a Xerox não nos deixava
154     obter o código fonte. Assim, apesar de toda nossa habilidade como
155     programadores -- afinal, tínhamos escrito nosso próprio sistema operacional --
156     estávamos totalmente impedidos de adicionar o novo recurso ao software da
157     impressora.
158    
159     Aí só nos restava sofrer com as demoras -- levava uma ou duas horas para
160     conseguir uma impressão porque a máquina engasgava a maior parte do tempo. E de
161     vez em quando -- a gente esperava uma hora sabendo que a impressora
162     iria engasgar mesmo e na hora de pegar a impressão via que a impressora não
163     tinha imprimido nada porque ninguém tinha ido lá desengasgá-la. Daí a gente a
164     punha em ordem e esperava mais meia hora. Ao voltar via que ela tinha
165     engasgado de novo -- antes de imprimir o seu trabalho. Imprimia três minutos e
166     engasgava trinta. Frustante à beça... Mas o pior era saber que nós podíamos
167     resolver o problema, mas alguém, por seu próprio egoísmo, nos impediu de
168     melhorar o software. Ficamos, então, um tanto ressentidos.
169    
170     Um dia fiquei sabendo que uma pessoa da Universidade Carnegie Mellon tinha uma
171     cópia do software. Fiz uma visita lá um tempo depois e fui a seu escritório e
172     disse, "Olá, sou do MIT, posso copiar o código fonte da impressora?" Ao que
173     ele respondeu "Não, eu prometi não dá-lo a você". [Risos] Fiquei pasmado.
174     Fiquei -- fiquei tão nervoso, não tinha nem idéia de como revidar. Pensei em
175     virar as costas ali mesmo e sair da sala. Talvez batendo a porta. [Risos] Mais
176     tarde pensei sobre isso, pois percebi que não estava diante de um cretino
177     isolado, mas de um fenômeno social que era importante e afetava muita gente.
178    
179     Isto -- para mim -- Tive sorte de apenas sentir o gosto, mas outras pessoas
180     tinham viver o tempo todo assim. Vejam, ele tinha prometido a se recusar a
181     cooperar conosco -- colegas seus do MIT. Ele tinha-nos traído. Mas não
182     só a nós. Acho até que ele traiu vocês. Com certeza, pensei agora, ele traiu
183     vocês. [Risos] E provavelmente ele os traiu também. Ele provavelmente traiu
184     todos deste auditório -- com exceção de uns poucos que não eram ainda nascidos
185     nos anos 80. Pois ele tinha prometido não cooperar com simplesmente toda a
186     população do Planeta Terra. Ele tinha assinado um acordo de confidencialidade.
187    
188     Este foi, então, meu primeiro encontro direto com um acordo de
189     confidencialidade e com isso aprendi uma lição importante -- uma lição
190     importante que a maioria dos programadores nunca aprende. Vejam, este foi meu
191     primeiro encontro com um acordo de confidencialidade e eu fui a vítima. Eu, e
192     todo o meu laboratório, fomos as vítimas. E a lição que aprendi foi que
193     acordos de confidencialidade fazem vítimas. Eles não são inocentes. Eles não
194     são inofensivos. A maioria dos programadores se deparam com um acordo de
195     confidencialidade quando são convidados a assiná-lo. E há sempre aliciamento
196     -- a promessa de receber algo em troca se eles assinarem. Então inventam
197     desculpas. Daí dizem, "bem, o cliente nunca vai conseguir os fontes mesmo,
198     então porque não me unir ao cartel que o explora?" Ou dizem "sempre foi assim.
199     Quem sou eu para ir contra?" Ou também, "se eu não assinar isto, outro vai."
200     Várias desculpas para abafar sua consciência.
201    
202     Mas, quando me convidaram para assinar um acordo de confidencialidade, minha
203     consciência já estava alerta. Lembrei-me de quanta raiva tinha sentido quando
204     alguém prometeu não dar ajuda a mim nem a meu laboratório inteiro para resolver
205     um problema. Eu não podia ceder e fazer exatamente a mesma coisa a outros que
206     nunca me tinham feito mal nenhum. Sabe, se alguém me pedisse para prometer não
207     dar informações úteis a um inimigo odiado, eu teria dito que não daria.
208     Entende? Se alguém me fez mal, talvez mereça. Mas, outros -- eles não tinham
209     me feito mal algum. Por que serem mal tratados? Não se pode tratar mal toda e
210     qualquer pessoa. Senão você se torna um predador da sociedade. Daí falei,
211     muito obrigado por me oferecer seu excelente programa. Mas não posso aceitá-lo
212     de consciência limpa, nas condições que você exige, vou ter de passar sem ele.
213     Muito obrigado. Assim, jamais assinei conscientemente um contrato de
214     confidencialidade para informações técnicas de utilidade geral, como software.
215    
216     Mas há outras informações que levantam questões éticas diferentes. Por
217     exemplo, existem informações pessoais. Se você conversar comigo sobre o que
218     aconteceu entre você e seu namorado, e me pedir para não contar a ninguém --
219     bem, eu posso guardar -- eu posso guardar esse segredo para você, porque não é
220     uma informação técnica de utilidade geral.
221    
222     Pelo menos, não deveria ser de utilidade geral. [Risos] A não ser é claro --
223     e é só uma possibilidade, porém -- que você me revele alguma técnica sexual
224     tão fantástica, [Risos] que me faça sentir no dever moral [Risos] de
225     repassar isso para o resto da humanidade, para que todos possam se beneficiar.
226     Assim, teria de colocar uma condição nessa promessa. Detalhes de
227     quem quer isso, quem está com raiva de quem, e outras coisas assim -- uma
228     novela -- mantenho segredo para você, mas algumas coisas de que a
229     humanidade pudesse se beneficiar tremendamente se soubesse, eu não iria
230     segurar. Vejam, o propósito da ciência e da tecnologia é desenvolver
231     informações úteis para que a humanidade ajude as pessoas a viverem melhor. Se
232     prometemos segurar essa informação -- se mantivermos segredo -- então
233     estaremos traindo a missão de nossa área. E assim, decidi que não devia
234     assinar.
235    
236     Mas, enquanto isso, minha comunidade tinha sumido, e isso era o fundo do
237     posso, daí fiquei numa situação ruim. Vejam, nosso sistema operacional estava
238     obsoleto, porque o PDP-10 estava obsoleto, e assim, não havia meio de
239     continuar trabalhando como desenvolvedor de sistema operacional do mesmo modo
240     como vinha fazendo. Isso dependia de fazer parte da comunidade que usava
241     software comunitário, e melhorá-lo. Isso não era mais uma possibilidade, e
242     isso me pôs num dilema moral. O que deveria fazer? Pois a possibilidade mais
243     óbvia significava ir contra a decisão que tinha tomado. A possibilidade mais
244     óbvia era me adaptar à mudança do mundo. Aceitar que as coisas tinham mudado,
245     abandonar meus princípios e passar a assinar acordos de confidencialidade
246     para sistemas operacionais proprietários, e ainda muito provavelmente escrever
247     software proprietário também. Mas percebi que desse modo eu poderia me
248     divertir escrevendo programas, ganhar dinheiro -- especialmente se fizesse
249     carreira fora do MIT -- mas, no fim, olharia para trás sobre minha carreira e
250     diria "Gastei minha vida construindo muros para dividir as pessoas," e teria
251     vergonha de minha vida.
252    
253     Então procurei outra alternativa, e havia uma que era óbvia. Até podia deixar
254     a área de software, e fazer outra coisa. Eu não tinha nenhuma outra
255     habilidade especial digna de nota, mas estou certo de que poderia me ter me
256     tornado garçon. [Risos] Não em restaurante chique, ele não me contratariam,
257     [Risos] mas talvez em outro lugar. E muitos programadores me dizem "as
258     pessoas que contratam programadores exigem isso, isso e isso -- se não fizer
259     do jeito deles, passo fome." É literalmente como dizem. Bem, garçon não
260     passar fome. [Risos] Eles não correm esse risco. Mas -- e isso é
261     importante, vejam vocês -- como às vezes se pode justificar o fazer algo que
262     prejudica outras pessoas dizendo "se não for desse jeito, algo pior vai
263     acontecer comigo". Se você está a ponto de passar fome, então está desculpado
264     se escrever software proprietário [Risos]. Se alguém estivesse apontando uma
265     arma para você, eu diria que é perdoável. [Risos] Mas, eu achei um modo de
266     sobreviver sem fazer nada anti-ético, para que não houvesse desculpa. Percebi
267     que ser garçon não me realizaria, e desperdiçaria minhas qualidades como
268     desenvolvedor de sistemas operacionais. Teria evitado o mal uso de minhas
269     habilidades. Desenvolver software proprietário seria mal uso de minhas
270     habilidades. Incentivar outras pessoas a viver num mundo de softawre
271     proprietário seria fazer mal uso de minhas habilidades. Então seria melhor
272     jogá-las fora que usá-las mal, mas ainda não estava bom.
273    
274     Assim, por essas razões, decidi procurar outra alternativa. O que um
275     desenvolvedor de sistemas operacionais pode fazer para melhorar de fato a
276     situação, para fazer do mundo um lugar melhor? Percebi que um desenvolvedor de
277     sistemas operacionais era exatamente o que era necessário. O problema, o
278     dilema, existia para mim e para todos porque todos os sistemas operacionais
279     disponíveis para computadores modernos eram proprietários. Os sistemas
280     operacionais livres eram para computadores velhos e obsoletos, certo? Assim
281     para computadores modernos -- se você quisesse adquirir um computador moderno
282     e usá-lo, seria forçado a usar um sistema operacional proprietário. Se um
283     desenvolvedor escrevesse um novo sistema operacional -- e
284     depois dissesse, todo mundo vem aqui e copia, vocês estão convidados -- isso
285     seria uma saída para o dilema, uma outra alternativa. Assim percebi que
286     havia algo que podia fazer para resolver o problema. Eu tinha as habilidades
287     certas para fazê-lo. E foi a coisa mais útil que eu podia imaginar que seria
288     capaz de fazer na minha vida. Era um problema que ninguém mais estava tentando
289     resolver. Todo mundo via a coisa toda ficando pior e ninguém se mexia exceto
290     eu. Daí me senti um "escolhido". "Quem tem de resolver sou eu. Se não for, quem
291     vai?" Então decidi desenvolver um sistema operacional livre -- ou morrer
292     tentando. De velho, naturalmente. [Risos]
293    
294     Naturalmente, eu tinha de decidir que tipo de sistema operacional deveria ser
295     -- havia algumas decisões técnicas de projeto a serem feitas. Decidi fazer um
296     sistema compatível com UNIX por uma série de razões. Primeiro, eu tinha visto
297     um sistema operacional de que eu realmente gostava ficar obsoleto porque ele
298     tinha sido escrito para um tipo específico de computador. Eu não queria que
299     isso acontecesse de novo. Precisávamos ter um sistema portável. Bem, UNIX era
300     um sistema portável. Então se seguisse as linhas de projeto do UNIX, teria uma
301     boa chance de fazer um sistema que fosse portável e operável. E além disso ser
302     compatível com ele nos detalhes. A razão é que os usuários odeiam mudanças
303     incompatíveis. Se tivesse projetado o sistema do jeito que mais gostasse -- o
304     que teria adorado fazer, com certeza -- teria produzido algo incompatível.
305     Bem, os detalhes seriam diferentes. Assim, se escrevesse o sistema -- os
306     usuários teriam-me dito "olha... é bem legal, mas incompatível. Vai dar
307     muito trabalho migrar. Não compensa usar seu sistema em vez do UNIX, assim
308     ficaremos com o UNIX", eles teriam dito.
309    
310     Então, se quisesse criar de fato uma comunidade em que houvesse gente --
311     pessoas usando este sistema livre, e usufruindo dos benefícios da livre
312     cooperação -- eu teria de fazer um sistema que as pessoas usassem, um sistema
313     que eles achassem fácil de usar, que não apresentasse obstáculo, levando-o ao
314     insucesso logo no início. Ao fazê-lo compatível com UNIX, ficaram definidas
315     todas as decisões de projeto imediatas, porque o UNIX é composto de muitas
316     peças, e elas se comunicam por interfaces que são de alguma forma documentadas.
317     Se quiser ser compatível com UNIX, você precisa substituir cada peça, uma por
318     uma, por outra compatível. As decisões de projeto restantes ficam dentro
319     de cada peça. E poderiam ser escritas mais tarde por quem decidisse
320     escrevê-las; elas não precisavam ser feitas todas desde o início.
321    
322     Assim, o que precisávamos fazer para começar o trabalho era encontrar um nome
323     para o sistema. Nós, hackers, sempre achamos um nome engraçado ou maroto para
324     os programas, já que pensar nas pessoas achando graça do nome é metade da
325     diversão de se escrever programas. [Risos] E tínhamos uma tradição de usar
326     siglas recursivas para dizer que o programa escrito era similar a outro
327     existente. Você pode criar uma sigla recursiva que diga -- este programa não
328     é o aquele. Assim, por exemplo, havia muitos editores de texto Tico nos anos 60
329     e 70, ele eram geralmente chamados de "isto não é o Tico". Um hacker chamou o
330     seu de Tint que quer dizer Tint Is Not Tico -- a primeira sigla recursiva. Em
331     1975, desenvolvi o primeiro editor de texto Emacs, e houve muitas imitações do
332     Emacs, e muitos deles eram chamados de isto não é Emacs, mas um era chamado
333     Fine -- Fine Is Not Emacs, e havia o Sine -- Sine Is Not Emacs e IINA, IIna Is
334     Not Emacs e MINCE, Mince Is Not Complete Emacs. [Risos] Era uma imitação
335     "light". E, então, IINA foi completamente reescrito, e a nova versão se chamou
336     ZWII. ZWII Was IINA Initially. [Risos]
337    
338     Então procurei uma sigla recursiva para "Something Is Not UNIX". Tentei todas
339     as 26 letras e descobri que nenhuma delas formava uma palavra. [Risos] Hmm,
340     vamos tentar de outro jeito. Fiz uma contração. Assim, podia ter uma sigla com
341     três letras, Something's Not UNIX. E aí veio a palavra "GNU" -- a palavra
342     "GNU" é a mais engraçada da língua inglesa. [Risos] Foi isso mesmo.
343     Naturalmente, a razão de ser engraçada é dada pelo dicionário, sua pronúncia é
344     "new". Estão vendo? É por isso que as pessoas a usam para fazer vários
345     trocadilhos. Vou contar, este é o nome de um animal que vive na África. A
346     pronúncia africana tem um estalo. [Risos] Talvez ainda tenha. Os colonizadores
347     europeus, quando chegaram lá, não se incomodaram em aprender a pronunciar este
348     estalo. Assim o deixaram de fora, e escreveram o "G" para dizer "existe um som
349     aqui que deveria ser pronunciado". [Risos] Hoje à noite eu parto para a África
350     do Sul, e já pedi a eles. Espero que me encontrem alguém que possa me ensinar
351     a pronunciar esses estalos. [Risos] Assim vou saber como pronunciar GNU
352     corretamente, ao me referir ao animal.
353    
354     Mas, ao se referir ao sistema operacional, a pronúncia correta é G-NU --
355     pronuncie um "G" mudo. Se você falar sobre um tal de sistema operacional
356     "new", as pessoas vão ficar confusas, já que trabalhamos nele há 17 anos,
357     então não é mais novo. [Risos] Mas ainda é, e sempre será GNU -- não importa
358     quantas pessoas o chamem erradamente de Linux. [Risos]
359    
360     Assim, em janeiro de 1984, me demiti do MIT para começar a escrever as peças
361     do GNU. Eles foram muito legais em me deixar usar os equipamentos. E, naquela
362     época, pensei em escrever todas as peças, fazer um sistema GNU completo, para
363     depois dizer "venham e peguem" e aí as pessoas começariam a usá-lo. Mas não
364     foi o que aconteceu. As primeiras peças que escrevi eram boas substitutas, com
365     poucos bugs para alguns UNIX, mas não eram tremendamente atraentes. Ninguém
366     particularmente queria obtê-las nem instalá-las. Daí, em setembro de 1984,
367     comecei a escrever o GNU Emacs -- que foi minha segunda implementação do Emacs
368     -- no início de 1985, já estava funcionando. Podia usá-lo para tudo que
369     editasse, o que foi um grande alívio, porque não tinha nenhuma vontade de usar
370     o VI, o editor do UNIX. [Risos] Assim, até aquele momento, eu editava em
371     outros máquinas, gravava os arquivos pela rede, assim podia testá-los. Mas
372     quando o GNU Emacs estava rodando bem para que eu usasse, também estava --
373     outras pessoas queriam usá-lo também.
374    
375     Assim tive de resolver detalhes de distribuição. Naturalmente, pus uma cópia
376     em um diretório de FTP anônimo, o que era bom para as pessoas conectadas na
377     rede; eles podiam puxar o arquivo tar, mas muitos programadores estavam fora
378     da Internet em 1985. Eles me mandavam emails dizendo "Como consigo uma cópia?"
379     Eu tinha de decidir o que responder para eles. Eu poderia ter dito, quero
380     gastar meu tempo escrevendo mais software GNU, não gravando fitas, assim por
381     favor ache um amigo conectado na Internet e que queira baixá-lo e ponha-o em
382     uma fita para você. E tenho certeza de que as pessoas teriam encontrado
383     amigos, mais cedo ou mais tarde, não é? Eles teriam conseguido as cópias. Mas
384     eu estava desempregado. De fato, estava desempregado desde que saíra do MIT em
385     janeiro de 1984. Estava procurando um meio de ganhar dinheiro pelo meu
386     trabalho no software livre, e assim iniciei um negócio de software livre. Eu
387     anunciava "me manda 150 dólares que eu lhe mando uma fita do Emacs". E os
388     pedidos começaram a pingar. Lá pelo meio do ano eles já estavam gotejando.
389    
390     Eu recebia de 8 a 10 pedidos por mês. E, se necessário, poderia ter vivido só
391     com aquilo, porque sempre vivi uma vida modesta; eu vivo como um estudante,
392     basicamente. E gosto disso, porque isso significa que o dinheiro não dita o
393     que devo fazer. Eu posso fazer aquilo que julgo importante para mim. Isso me
394     libera para fazer o que parece valer a pena. Por isso, façam um esforço real
395     para evitar serem sugados para dentro de todos esses hábitos de vida
396     dispendiosos do americano típico. Pois se fizerem isso, as pessoas com
397     dinheiro vão ditar o que você deve fazer com sua vida. Você não vai conseguir
398     fazer o que é realmente importante para você.
399    
400     Assim, ia tudo bem, mas as pessoas me perguntavam "Como você diz que seu
401     software é livre se custa 150 dólares?" [Risos] Bem, o motivo da pergunta era
402     que eles se confundiam com os múltiplos significados da palavra "free" do
403     inglês. Um dos significados se refere a preço, e o outro se refere a
404     liberdade. Quando falo software livre, estou me referindo a liberdade não a
405     a preço. Assim pensem em imprensa livre, não boca livre. [Risos] Ora, não
406     teria dedicado tantos anos de minha vida para fazer os programadores ganhar
407     menos. Não é meu objetivo. Eu sou programador e não me importo de receber
408     dinheiro. Eu só não vou dedicar minha vida a obtê-lo, mas não me importo em
409     receber. E não sou contra -- e portanto, a ética é mesma para todos -- não sou
410     contra outros programadores receber dinheiro. Não quero que os preços sejam
411     baixos. Não é essa absolutamente a questão. A questão é liberdade. Liberdade
412     para todos que usam software, quer a pessoa seja um programador ou não.
413    
414     Pois agora vou dar a definição de software livre. É melhor descer aos
415     detalhes, entendem? Pois dizer "eu acredito na liberdade" é vago. Há tantos
416     tipos de liberdade em que posso acreditar, e elas são conflitantes entre si,
417     de modo que a questão realmente política é "Quais são as liberdades
418     importantes, as liberdades que devemos garantir que as pessoas tenham?" E
419     agora vou dar minha resposta a essa questão para a área específica do uso de
420     software.
421    
422     Um programa é livre software livre para você, usuário, se você tem as
423     seguintes liberdades: primeiro, liberdade zero é a liberdade de rodar um
424     programa para qualquer propósito, do jeito que quiser. Liberdade um é a
425     liberdade ajudar a si próprio alterando o programa para atender suas
426     necessidades. Liberdade dois é a liberdade de ajudar os outros distribuindo
427     cópias do programa. E a liberdade três é a liberdade de ajudar a edificar sua
428     comunidade publicando versões melhoradas para que outros possam se beneficiar
429     de seu trabalho. Se você tem todas essas liberdades, o programa é livre, para
430     você -- isso é crucial, é por isso que uso essa forma de falar. Vou explicar
431     por que daqui a pouco, ao falar da Licença Pública Geral GNU, mas agora vou
432     explicar o que significa software livre, que é uma questão mais básica.
433    
434     A liberdade zero é muito óbvia. Se a você não é permitido nem rodar o programa
435     do jeito que quiser, é um programa pra lá de restritivo. Mas normalmente, a
436     maioria dos programas lhe dão pelo menos a liberdade zero. A liberdade zero
437     segue, legalmente, como conseqüência da liberdade um, dois e três -- que é
438     como funciona a lei de direitos de cópia. Assim as liberdades que distinguem
439     software livre do software típico são as liberdades um, dois e três, por isso
440     vou falar mais sobre elas porque são mais importantes. A liberdade um é a
441     liberdade de resolver seus problemas através de modificações no sofware que
442     atendam suas necessidades. Isso pode significar consertar bugs. Pode significar
443     acrescentar novos recursos. Pode significar portá-lo para um computador
444     diferente. Pode significar traduzir todas as mensagens de erro para
445     uma língua indígena. Qualquer mudança que queira fazer, você deve ter
446     a liberdade para fazê-lo.
447    
448     Agora, é obvio que programadores profissionais podem fazer uso dessa liberdade
449     com muita eficácia, mas não somente eles. Qualquer um com inteligência
450     razoável pode aprender a programar. Vocês sabem, há tarefas difíceis e tarefas
451     leves, mas muitas pessoas não vão aprender o bastante para fazer o trabalho
452     difícil. Mas muitas pessoas podem aprender o suficiente para fazer tarefas
453     leves, do mesmo modo, como há 50 anos atrás, muitos americanos sabiam reparar
454     carros, o que permitiu aos EUA ter um exército motorizado na Segunda Guerra e
455     vencer. Assim, é muito importante, ter muitas pessoas fuçando. E se você gosta
456     de trabalhar com pessoas, não vai querer aprender tecnologia de modo nenhum --
457     isso provavelmente significa que você tem muitos amigos, e é bom em fazê-los
458     lhe dever favores. [Risos] Alguns deles provavelmente são programadores. Assim
459     você pode pedir a um de seus amigos programadores "Você pode por favor alterar
460     isso para mim? Acrescentar esse recurso?" Assim, muitas pessoas podem ser
461     beneficiar.
462    
463     Agora, se não houver essa liberdade, isso causa prejuízos práticos e materiais
464     para a sociedade. Isso faz de vocês prisioneiros de seu software. Eu expliquei
465     que como era no caso da impressora a laser. Ela trabalhava muito mal para nós e
466     não podíamos consertá-la porque éramos prisioneiros de nosso software. Mas
467     isso também afeta o ânimo das pessoas. Vocês sabem que se usar o computador
468     for uma frustração constante, para as pessoas usam, suas vidas se tornam
469     frustrantes, e se eles usam em seu trabalho, seu trabalho se torna frustrante
470     também; eles vão odiar o trabalho. E vocês sabem, as pessoas se protegem das
471     frustrações decidindo não estar nem aí. Daí você acaba com pessoas cuja
472     atitude é "Bem, apareci para trabalhar hoje. E é só o que tenho de
473     fazer. Não consigo fazer progressos, mas isso não é problema meu, é do
474     chefe." E quando isso acontece é ruim para essas pessoas, é ruim para a
475     sociedade como um todo. Esta é a liberdade um, a liberdade de resolver seus
476     problemas você mesmo.
477    
478     A liberdade dois é a liberdade de ajudar os outros, ao distribuir cópias do
479     programa. Para seres que podem pensar e aprender, compartilhar conhecimento
480     útil é um ato fundamental de amizade. Quando esses seres usam computadores,
481     este ato de amizade toma forma de compartilhamento. Amigos compartilham uns
482     com os outros. E, de fato, este espírito de boa vontade -- o espírito de
483     ajudar seu próximo, voluntariamente -- é o recurso mais importante da
484     sociedade. Ele faz a diferença entre uma sociedade em que se pode conviver e um selva em
485     que um devora o outro. Sua importância tem sido reconhecida pelas religiões
486     mais importantes do mundo por milhares de anos, e elas procuram incentivar
487     explicitamente esta atitude.
488    
489     Quando ia para o jardim-de-infância, os professores tentavam nos ensinar essa
490     atitude -- o espírito da partilha -- obrigando-nos a fazê-lo. Achavam que se o
491     fizéssemos, aprenderíamos. Eles diziam "Se você trouxer um chocolate para a
492     escola, não fique com ele, compartilhe com outras crianças". Ensinando-nos -- a
493     sociedade foi formada para ensinar o espírito de cooperação. E porque ensinar
494     desse modo? Porque as pessoas não são totalmente cooperativas. Não é parte da
495     natureza humana, e há outras partes da natureza humana. Assim, se quiser uma
496     sociedade melhor, você deve trabalhar para incentivar o espírito de
497     cooperação. Bem, nunca vai chagar a 100%. Mas isso é compreensível. As pessoas
498     também se preocupam consigo. Mas,quanto mais conseguirmos, melhor será para
499     todos.
500    
501     Hoje em dia, de acordo com o Governo dos EUA, os professores devem fazer
502     exatamente o contrário. Joãozinho, você trouxe software para a escola. Olha,
503     não mostre pra ninguém. Não, não. Compartilhar é errado. Compartilhar
504     significa que você é pirata. O que eles querem dizer quando falam "pirata"?
505     Eles querem dizer que ajudar os outros é o equivalente moral de um ataque a um
506     navio. [Risos] O que Buda e Jesus diriam sobre isso? Escolham seu líder
507     religioso favorito. Eu não sei -- talvez Manson tivesse dito algo diferente
508     [Risos] Quem sabe o que L. Ron Hubbard diria. Mas, ...
509    
510     PERGUNTA: [Inaudível]
511    
512     STALLMAN: naturalmente, ele morreu. Mas eles não admitem. O que?
513    
514     PERGUNTA: Os outros também, estão mortos. [Risos] [Inaudível] Charles
515     Manson também morreu. [Risos] Eles todos morreram, Jesus morreu, Buda
516     morreu...
517    
518     STALLMAN: É, é verdade. [Risos] Eu acredito, nesse aspecto, que L. Ron Hubbard
519     não é pior que os outros. [Risos] Então -- [Inaudível]
520    
521     PERGUNTA: L. Ron usava software livre -- ele ficou livre de Zanu.
522    
523     [Risos]
524    
525     STALLMAN: Então -- bem esta é de qualquer forma a razão mais importante de por
526     que software deve ser livre. Não podemos deixar que seja poluído o recurso
527     mais importante da sociedade. Com certeza não é um recurso físico como ar
528     puro e água potável. É um recurso psico-social, mas é tão real quanto, e faz
529     uma diferença tremenda em nossas vidas. Vejam, as ações que fazemos
530     influenciam os pensamentos das outras pessoas. Quando saímos por aí dizendo
531     para as pessoas "não compartilhe com os outros" -- se eles nos ouvirem --
532     teremos um efeito na sociedade que não será bom. Essa é a liberdade dois. A
533     liberdade de ajudar os outros.
534    
535     E, a propósito, se você não tiver essa liberdade -- não só prejudica os
536     recursos psico-sociais da sociedade -- mas também provoca desperdício --
537     prejuízos práticos e materiais. Se o programa tem um dono, e o dono arranja um
538     estado de coisas em que cada usuário tem de pagar para poder usá-lo, alguns
539     vão dizer "Tudo bem, fico sem ele". E isso é perda, perda deliberadamente
540     infringida. E o interessante em software, naturalmente, é que menos
541     usuários não significa que você tem de produzir menos. Se poucas pessoas
542     compram carros, você pode fabricar menos carros. Aí você economiza. Há
543     recursos a serem alocados, ou não alocados, ao fabricar carros. Assim você
544     pode dizer que pôr preço num carro é bom. Ele impede que as pessoas
545     desperdicem recursos para fabricar carros que não serão realmente necessários.
546     Mas, se produzir cada carro adicional, não empregar mais recursos,
547     restringir a fabricação de carros não fará nenhum bem. Bem, para objetos
548     físicos, obviamente, como carros, sempre vai se usar recursos para fabricar
549     cada um deles. Cada exemplar adicional.
550    
551     Mas para software isso não vale. Qualquer um pode fazer mais um cópia. E é
552     quase trivial fazê-lo. Isso não gasta recursos, com exceção de muito pouca
553     energia elétrica. Assim não há nada para que se possa economizar; nenhum
554     recurso que precisemos alocar melhor que justifique colocar um desincentivo
555     financeiro no uso do software. Você sempre encontra pessoas pegando -- as
556     conseqüências dos princípios econômicos, baseados nas premissas que não se
557     aplicam a software e tentando transplantar de outras área da vida em que essas
558     premissas podem se aplicar e que as conclusões podem ser válidas. Eles só pegam
559     as conclusões e assumem que sejam válidas para software também -- quando o
560     argumento é baseado em nada no caso do software. As premissas não funcionam
561     nesse caso. É muito importante examinar como você chega a essa conclusão, e
562     de que premissas ela depende, para ver onde ela possa ser válida. Assim,
563     essas é a liberdade dois, a liberdade de ajudar os outros.
564    
565     A liberdade três é a liberdade de contribuir para sua comunidade ao publicar
566     uma versão melhor do software. As pessoas costumam me dizer, se o
567     software for livre, ninguém receberá para trabalhar nele, porque alguém iria
568     querer trabalhar com ele? Bem, naturalmente, elas estão confundindo os dois
569     significados de livre, assim seu raciocínio é baseado num mal-entendido. Mas,
570     de qualquer modo, essa é a teoria delas. Hoje, podemos comparar a teoria
571     delas com fatos empíricos, e descobrir que centenas de pessoas são pagas para
572     escrever software livre e mais de 100.000 estão trabalhando como voluntários.
573     Temos muitas pessoas trabalhando com software livre por vários motivos
574     diferentes.
575    
576     Quando lancei o GNU Emacs -- a primeira peça do sistema GNU que as pessoas
577     realmente queriam usar -- e quando comecei a ter usuários, depois de um tempo,
578     alguém mandou uma mensagem dizendo "Acho que vi um bug no código fonte, e aqui
579     está o conserto". E recebi outra mensagem "Isto é código para adicionar um
580     novo recurso". E mais outro reparo de bug. E mais um novo recurso. E mais
581     outro, e outro e outro -- até que estavam vindo tão rápido que fazer uso de
582     todo esse apoio que estava recebendo se tornou uma grande tarefa. A Microsoft
583     não tem esse problema. [Risos]
584    
585     Por fim, as pessoas notaram este fenômeno. Vejam, nos anos 80, muitos de nós
586     pensavam que software livre talvez não viesse a ser tão bom quando
587     software proprietário, porque não teríamos muito dinheiro para pagar às
588     pessoas. E, naturalmente, pessoas como eu que valorizam a liberdade e a
589     comunidade disseram "É, vamos conseguir usar software livre afinal". Vale a
590     pena fazer um pouco de sacrifício em algumas meras comodidades técnicas para
591     ter liberdade. Mas o que as pessoas começaram a notar, por volta dos anos 90
592     era que nosso software era mesmo melhor. Era mais poderoso, e mais confiável
593     que as alternativas proprietárias.
594    
595     No começo dos anos 90, alguém descobriu um meio de fazer uma medida científica
596     da confiabilidade do software. Ele fez o seguinte. Ele pegou vários grupos
597     de programas comparáveis que faziam as mesmas tarefas -- exatamente as mesmas
598     tarefas -- em sistemas diferentes. Pois havia certos utilitários básicos
599     à là UNIX. E as tarefas que realizavam, sabemos, eram todas, mais ou
600     menos, imitando a mesma coisa, ou seguiam as especificações POSIX, assim elas
601     eram todas iguais em termos das tarefas que cumpriam -- mas eram mantidas por
602     pessoas diferentes, escritas separadamente. O código era diferente. Assim ele
603     dizia, OK, vamos pegar esses programas e rodar com dados aleatórios, e
604     medimos quão freqüentemente eles travam ou dão pau. Assim eles mediram e o
605     conjunto de programas mais confiável foi os programas GNU. Todas as
606     alternativas comerciais proprietários eram menos confiáveis. Então
607     publicamos isso e contamos a todos os desenvolvedores, e alguns anos mais
608     tarde, ele fez a mesma experiência com versões mais novas e conseguiu o mesmo
609     resultado. As versões GNU eram mais confiáveis. Gente -- vocês sabem que há
610     clínicas de tratamento de câncer nas operações 911 [NT.: operações de resgate e
611     polícia] que usam sistema GNU, porque são muito confiáveis, e confiabilidade é
612     muito importante para eles.
613    
614     De qualquer modo, há ainda um grupo de pessoas que focam nesse benefício
615     particular como como justificativa -- como justificativa -- dada para por que
616     ao usuário deveria ser permitido fazer todas essas coisas, e ter toda essa
617     liberdade. Se vocês estão me acompanhado, notaram que-- vocês viram que eu --
618     falando do movimento de software livre -- falo de questões éticas, e em que
619     tipo de sociedade queremos viver; o que contribui para uma boa sociedade --
620     bem como benefícios materiais práticos. Eles são ambos importantes. Isso é o
621     movimento do software livre.
622    
623     O outro grupo de pessoas -- chamados de movimento de "código aberto" -- eles
624     só citam os benefícios práticos. Eles negam que isso seja uma questão de
625     princípios. Eles negam que as pessoas têm direito à liberdade de compartilhar
626     com os outros, de verem o que o programa faz e alterá-lo se não gostar dele.
627     Eles dizem, no entanto, que é útil permitir que as pessoas façam isso. Eles
628     vão às empresas e dizem "Olha, você poderia ganhar mais dinheiro se deixasse
629     as pessoas fazerem isso". Assim, o que você vê é que até certo ponto, eles
630     levam as pessoas a uma direção similar, mas por razões totalmente --
631     razões filosóficas fundamentalmente diferentes. Pois na questão mais profunda
632     de todas, nas questões éticas, os dois movimentos discordam entre si. No
633     movimento de software livre dizemos "Você tem direito a estas liberdades. As
634     pessoas não deveriam impedi-lo de fazer estas coisas". No movimento de
635     "código aberto" eles dizem "Eles pode podem impedi-lo sim, mas
636     tentaremos convencê-los a deixar você fazer essas coisas". Bem, eles
637     contribuíram -- eles convenceram um certo número de empresas a lançar software
638     substancial como software livre em nossa comunidade. E trabalhamos juntos em
639     projetos práticos. Mas, filosoficamente, há um desacordo tremendo.
640    
641     Infelizmente, o movimento de código aberto é um dos que mais tem suporte das
642     empresas, e assim a maioria dos artigos sobre nosso trabalho o descrevem como
643     código aberto, e muitas pessoas inocentemente pensam que somos todos parte do
644     movimento de código aberto. É por isso que estou mencionando esta distinção.
645     Quero que vocês estejam cientes de que o movimento do software livre, que
646     trouxe nossa comunidade à existência e desenvolveu sistemas operacionais
647     livres, ainda está aqui -- e que ainda pregamos esta filosofia ética. Quero que
648     vocês saibam disso, de modo que não confundam as pessoas sem saber.
649    
650     Mas também, para que vocês possam pensar sobre a posição vão tomar. O que
651     prega o movimento que vocês apóiam. Vocês podem concordar com os
652     movimentos de software livre e meus pontos de vista. Vocês podem concordar com
653     o movimento de código aberto. Você pode discordar de ambos. Vocês decidem em
654     que posição ficar quanto a estas questões políticas. Mas se concordarem com o
655     movimento de software livre -- se virem que há alguma idéia aqui tal que as
656     pessoas cujas vidas são controladas e dirigidas por esta decisão mereçam ser
657     ouvidas -- então espero que digam que vocês concordam com o movimento de
658     software livre e uma forma como vocês podem fazer isso é usando o termo
659     software livre e assim ajudar as pessoas a saberem que existimos.
660    
661     Assim, a liberdade três é muito importante tanto prática quanto
662     psico-socialmente. Se você não tem esta liberdade, isso vai causar danos
663     práticos e materiais, porque o desenvolvimento dessa comunidade não vai
664     acontecer e não teremos software poderoso e confiável. Mas também provoca
665     danos psico-sociais que afetam o espírito da cooperação científica -- a idéia
666     de que estamos trabalhando juntos para avançar o conhecimento humano. Como
667     vêem, o progresso da ciência depende crucialmente de pessoas que sejam
668     capazes de trabalhar em conjunto. E hoje em dia porém, você sempre acha um
669     pequeno grupo de cientistas agindo como se estivessem em guerra com outra
670     gangue de cientistas e engenheiros. E se não trocarem informações, eles todos
671     perderão.
672    
673     Assim, estas são as três liberdades que distinguem software livre do software
674     típico. A liberdade um é a liberdade de resolver seus problemas você mesmo --
675     fazendo mudanças para atender suas próprias necessidades. A liberdade dois é a
676     liberdade de ajudar os outros distribuindo cópias. E a liberdade três é a
677     liberdade de ajudar a construir uma comunidade ao fazer mudanças e publicá-las
678     para que as outras pessoas a usem. Se você tem todos estas liberdades, o
679     programa é software livre para você. Agora, porque defino dessa forma em termos
680     de um usuário particular? O software é livre para você, o software é livre
681     para você, o software é livre para você? Sim?
682    
683     PERGUNTA: Você pode explicar um pouco a diferença entre a liberdade dois e a
684     liberdade três? [inaudível]
685    
686     STALLMAN: Bem, elas certamente se relacionam, pois se você não tem liberdade
687     nenhuma para redistribuir, você certamente não tem liberdade para distribuir
688     uma versão modificada, mas elas são atividades diferentes.
689    
690     QUESTION: Ah.
691    
692     STALLMAN: A liberdade dois é, como vocês sabem, ler -- você faz uma cópia
693     exata e passar para seus amigos, para que eles possam usá-lo. Ou talvez você
694     faça cópias exatas e as venda para um monte de gente para que possam usar. A
695     liberdade três é quando você faz aperfeiçoamentos -- ou pelos menos você acha
696     que são aperfeiçoamentos, e algumas outras pessoas podem achar que são também.
697     Assim essa é a diferença. Ah, e a propósito, um ponto crucial. As liberdades
698     um e três dependem de você ter acesso ao código-fonte. Pois modificar uma
699     programa binário é extremamente difícil [Risos] Mesmo mudanças triviais como
700     usar quatro dígitos para a data. [Risos]... se você não tem os fontes. Assim,
701     por razões imperativas e práticas o acesso ao código-fonte é uma pré-condição,
702     um requisito do software livre.
703    
704     Então, por que eu defini em termos de software livre ou não para *você*? A
705     razão é que algumas vezes o mesmo programa pode ser software livre para alguns
706     e pode não ser para outros. Ora, isso pode parecer uma situação paradoxal,
707     deixe-me dar um exemplo para mostrar como isso acontece. Um grande exemplo
708     -- talvez o maior problema de todos seja o do sistema de janelas X que foi
709     desenvolvido no MIT e lançado sob uma licença que fazia dele software livre.
710     Se você conseguisse a versão do MIT com a licença do MIT, você tinha
711     liberdades um, dois e três. Era software livre para você. Mas entre os que
712     obtiveram cópias, estavam vários fabricantes de computador que distribuíam
713     sistemas UNIX e eles fizeram todas as mudanças necessárias no X para rodar em
714     seus sistemas. Você sabe, provavelmente alguns milhares de linhas dentro de
715     centenas de milhares de linhas do X. E, ao compilarem, eles puseram os
716     binários no sistema UNIX deles e distribuíram sob o mesmo acordo de
717     confidencialidade do resto do sistema UNIX. E então, milhões de pessoas
718     obtiveram essas cópias. Eles tinham o sistema de janelas X, mas não tinham
719     essas liberdades. Não era software livre para eles.
720    
721     Assim, o paradoxo era que o X era software livre dependendo de onde você feito
722     a observação. Se observassem num grupo de desenvolvedores, vocês diriam "Eu
723     observo todas as três liberdades aqui. O software é livre." Se fizessem
724     suas observações entre os usuários vocês diriam "Hmm, muitos usuários não têm
725     estas liberdades. Não é software livre". Bem, as pessoas que desenvolviam X não
726     consideravam isso um problema, pois seu objetivo era popularidade -- ego,
727     essencialmente. Eles queriam um grande sucesso profissional. Eles queriam
728     sentir "ah, muitas pessoas estão usando nosso software". E foi assim que
729     aconteceu. Muitas pessoas estavam usando o software deles, mas não tinham
730     liberdade.
731    
732     Bem, no projeto GNU, se a mesma coisa tivesse acontecido como o software GNU,
733     ele teria sido um fracasso, pois nosso objetivo não era sermos populares;
734     nosso objetivo era dar liberdade às pessoas e incentivar a cooperação, permitir
735     que as pessoas cooperassem. Lembre-se, nunca force ninguém a cooperar com
736     qualquer outra pessoa, mas garanta que a todos seja permitido cooperar; todo
737     mundo tem a liberedade de agir assim ou não, se quiser. Se milhões de pessoas
738     estivessem rodando versões não livres do GNU, não teria sido um sucesso de
739     jeito nenhum; e a coisa toda teria se desviado de seus objetivos.
740    
741     Então procurei uma maneira de impedir que isso acontecesse. O método que criei
742     é chamado de "copyleft" [N.T.: uma possível brincadeira com esse nome em
743     português seria "esquerdo de cópia"]. É chamado copyleft porque é como
744     copyright [N.T.: direito de cópia] só que virado de cabeça para baixo. [Risos]
745     Legalmente, copyleft é baseado no direito de cópia. Usamos a lei existente de
746     direito de cópia, mas a usamos para atingir um objetivo muito diferente. Isso
747     é que fazemos. Dizemos "Este programa tem direitos de cópia". E, naturalmente,
748     por default, significa que é proibido copiá-lo, ou distribuí-lo ou
749     modificá-lo. Mas então dizemos, "Você está autorizado a distribuir cópias
750     dele. Você está autorizado a modificá-lo. Você está autorizado a distribuir
751     versões modificadas e estendidas. Mude do modo que quiser."
752    
753     Mas há uma condição. E a condição, naturalmente -- é a razão pela qual nos
754     demos a todo esse trabalho -- para que pudéssemos colocar essa condição. A
755     condição diz -- sempre que distribuir algo que contenha qualquer parte dese
756     programa, o programa todo deve ser distribuído sob estes mesmos termos -- não
757     mais não menos. Assim, você pode mudar o programa e distribuir a versão
758     modificada. Mas se o fizer, as pessoas que o obtiverem de você devem ter a
759     mesma liberdade que você recebeu de nós. E não só para partes dele -- as parte
760     que você copiou do nosso programa -- mas também para as outras partes daquele
761     programa que eles obtiveram de você. O programa como um todo deve ser software
762     livre para eles.
763    
764     As liberdades de modificar e redistribuir este programa se tornam direitos
765     inalienáveis -- um conceito de nossa Declaração de Independência. Direitos que
766     damos garantia de não ser tirados de você. E, naturalmente, a licença
767     específica que incorpora a idéia do copyleft é a Licença Geral Pública GNU
768     [GNU General Public License, ou GNU GPL]. Uma licença controversa -- porque
769     na realidade tem força para dizer não às pessoas que pudessem virar parasitas
770     em nossa comunidade.
771    
772     Há muitas pessoas que não apreciam os ideais da liberdade. E adorariam tomar o
773     trabalho que fizemos e usá-lo para conseguir uma vantagem ao distribuir
774     programas proprietários e tentando as pessoas a desistir de sua liberdade. E o
775     resultado seria -- vocês sabem, se deixarmos as pessoas fazerem isso --
776     estaríamos desenvolvendo esses programas livres, e teríamos de competir
777     constantemente com versões modificadas de nossos próprios programas. Isso
778     não é bom. E muita gente também pensa -- eu quero dar meu tempo
779     voluntariamente para contribuir com a comunidade, mas por que deveria
780     contribuir voluntariamente para aquela empresa -- para melhorar o programa
781     proprietário daquela empresa? Você sabe, algumas pessoas podem nem mesmo achar
782     que isso seja ruim - mas elas querem ser pagas se for para fazer isso. Eu,
783     pessoalmente, não o faria, mesmo. Mas, estes dois grupos de pessoas -- ambos
784     como eu que diriam -- não quero ajudar aquele programa não livre a fincar o pé
785     em nossa comunidade -- e os que dizem, claro, eu trabalharia para eles, mas
786     então me pagem -- ambos têm uma boa razão para usar GNU GPL. Porque isso diz à
787     empresa -- você não pode tomar assim meu trabalho e distribuí-lo sem a
788     liberdade. Ao passo que licenças não copyleft -- com a licença do X Window,
789     permitem isso.
790    
791     Isto, portanto é a grande diferença entre as duas categorias de
792     software livre -- do ponto de vista das licenças. Há programas com copyleft
793     -- de modo que a licença defenda a liberdade do software para todos os
794     usuários. E há programas sem copyleft, para os quais se permite versões não
795     livres. Você pode obter o programa numa versão não livre. E este problema
796     existe até hoje. Ainda há versões não livres do X Windows sendo usadas em
797     nossos sistemas operacionais não livres. Há inclusive hardware -- que não é
798     suportado -- exceto por uma versão não livre do X Windows. E isso é um grande
799     problema em nossa comunidade. Por outro lado, eu não diria que o X Windows é
800     algo ruim -- sabe, eu só diria que os desenvolvedores não fizeram o que
801     de melhor poderia ter sido feito. Mas eles *de fato* lançaram muito software
802     que todos nós poderíamos usar.
803    
804     Vocês sabem, há uma grande diferença entre menos que perfeito, e ruim. Há
805     muitos graus entre bom e ruim. Temos de resistir à tentação de dizer -- se você
806     não conseguir fazer o melhor absoluto possível você não é bom. As pessoas que
807     desenvolveram o X Windows deram uma grande contribuição a nossa comunidade.
808     Mas, há algo melhor que poderiam ter feito. Eles poderiam ter feito copylefts
809     de partes do programa e impedido versões que negam a liberdade de serem
810     distribuídas por outros. Ora, o fato de que a GNU GPL defende sua liberdade --
811     usa a lei de copyright para defender sua liberdade -- é, naturalmente, a razão
812     pela qual a Microsoft a está atacando hoje. Vejam, a Microsoft realmente
813     adoraria poder pegar todos os códigos que escrevemos e pô-los em programas
814     proprietários. Pedir para que alguém fizesse alguns aperfeiçoamentos. Ou talvez
815     só algumas mudanças incompatíveis é tudo o que precisassem. [Risos]
816    
817     Mas, com a influência de marketing da Microsoft, eles não precisam
818     aperfeiçoá-lo para ter uma versão que suplante a nossa. Eles só têm de fazê-la
819     diferente e incompatível. E então, colocá-la no desktop de todo o mundo. Assim,
820     eles não gostam mesmo da GNU GPL. Pois a GNU GPL não os deixa fazê-lo. Não
821     permite adotar e estender [N.T.: embrace and extend]. Ela [a GPL] diz [à
822     Microsoft], se você quiser usar nosso código em seus programas, você pode. Mas,
823     você vai ter de compartilhar e compartilhar da mesma forma. As mudanças que
824     fizer teremos permissão de usar. Assim, é uma cooperação de mão dupla, que é a
825     cooperação real.
826    
827     Muitas empresas -- mesmo grandes empresas como IBM e HP querem usar nosso
828     software nesta base [GPL].A IBM e a HP contribuem com aperfeiçoamentos
829     substanciais ao software GNU. E desenvolvem outros software livres. Mas a
830     Microsoft não quer fazer isso, assim eles passam a idéia de que as empresas
831     não podem lidar com a GPL. Bem, se [o que chamamos de] empresas não incluir
832     IBM, HP e Sun então talvez eles estejam certos. [Risos]
833    
834     Mais sobre isso adiante. Eu preciso terminar a história. Como vêem, começamos
835     em 1984 -- não só para escrever software livre -- mas também para fazer algo
836     muito mais coerente: desenvolver um sistema operacional que fosse inteiramente
837     software livre. Assim, isso significava que tínhamos que escrever parte por
838     parte. E naturalmente, estávamos a procura de meios mais rápidos. O trabalho
839     era tão grande que as pessoas diziam que não conseguiríamos terminar nunca. E,
840     eu achava que havia pelo menos uma chance de terminá-lo, mas obviamente, valia
841     a pena queimar etapas. Assim ficamos procurando -- há algum programa que alguém
842     escreveu que poderíamos conseguir adaptar, para acoplar aqui de modo que não
843     precisássemos escrever do zero? Por exemplo, o sistema X Window -- é verdade
844     que não tinha copyleft, mas era software livre -- assim podíamos usar.
845    
846     Bem, eu queria colocar um sistema de janelas no GNU desde o primeiro dia. Eu
847     escrevi uma série de sistemas de janelas no MIT antes de começar o GNU. E
848     apesar do Unix não ter um sistema de janelas em 1984, eu decidi que o
849     GNU deveria ter. Mas, acabamos não escrevendo o Sistema de Janelas GNU, porque
850     o X apareceu. Daí eu disse, beleza! Um grande trabalho que não temos de fazer.
851     Usaremos o X. Então falei, vamos pegar X e colocá-lo no sistema GNU. Então
852     faremos as outras partes do GNU, você sabe, trabalhar com o X, quando
853     apropriado. E o encontramos outros programas que tinham sido escritos por
854     outras pessoas, tal como o formatador de texto TeX. Alguns códigos de
855     bibliotecas da Berkeley. E naquela época tinha o Berkeley Unix -- mas não era
856     software livre. O código de biblioteca, inicialmente, era de um grupo
857     diferente na Berkeley, que fazia pesquisas sobre ponto flutuante. E assim
858     continuamos -- encaixamos estas peças.
859    
860     Em outrubro de 1985, fundamos a Fundação do Software Livre [N.T.: Free Software
861     Foundation, ou FSF]. Notem que o projeto GNU veio primeiro. A Fundação do
862     Software Livre veio depois. Depois de quase dois anos do anúncio do projeto. E
863     a Fundação de Software Livre é uma entidade isenta de impostos, sem fins
864     lucrativos, que levanta fundos para promover a liberdade de compartilhar e
865     modificar software. E nos anos 80, uma das coisa principais que fizemos com
866     nosso fundo foi contratar pessoas para escrever partes do GNU. E, programas
867     essenciais, tais como o Shell e as bibliotecas C foram escritos dessa forma,
868     bem como outras parte de outros programas. O programa tar, que é absolutamente
869     essencial -- apesar de nenhum pouco empolgante [Risos] foi escrito dessa
870     forma. Eu acredito que o GNU grep foi escrito dessa forma. E assim, fomos
871     chegando perto do objetivo.
872    
873     Em 1991, havia apenas uma parte importante faltando, e era o kernel. Ora,
874     por que tinha deixado o kernel de fora? Provavelmente porque na verdade não
875     importa a ordem em que você faz as coisas. Pelo menos, tecnicamente, não.
876     Você tem que fazê-las todas até chegar ao fim de qualquer jeito. E,
877     parcialmente, porque eu esperava encontrar um kernel já começado em algum
878     lugar. E encontramos. Encontramos o Mach, que tinha sido desenvolvido na
879     Carnegie Mellon. Não era um kernel completo, era a metade de baixo do kernel.
880     Assim, tivemos que escrever a metade de cima, mas tinha de imaginar coisas
881     como o sistema de arquivos, o código da rede, etc. Mas o Mach roda
882     essencialmente como fazem os programas dos usuários, o que devia fazê-los mais
883     fácil de debugar. Você pode debugar com um debugador no nível do código real
884     ao mesmo tempo. E assim, pensava eu, desse modo, poderemos ter isto, as partes
885     mais altas do kernel, terminadas em pouco tempo. Não funcionou dessa maneira.
886     Aqueles processos assíncronos e multifilamentados [multithreaded], enviando
887     mensagens uns aos outros, acabaram-se tornando muito difíceis de debugar. E o
888     sistema baseado no Mach que usamos para alavancar o desenvolvimento tinha um
889     ambiente de debug terrível, não funcionava direito, e vários problemas. Levou
890     anos e anos para conseguir que um kernel GNU funcionasse.
891    
892     Mas, felizmente, nossa comunidade não precisou esperar pelo kernel GNU. Pois
893     em 1991, Linus Torvalds desenvolveu um kernel livre chamado Linux. E ele usou
894     a antiga tecnologia monolítico e aconteceu que ele conseguiu fazê-lo funcionar
895     muito mais rápido que o nosso. Assim talvez esse tenha sido um dos erros que
896     cometi: aquela decisão de projeto. De qualquer forma, a princípio, não
897     sabíamos sobre Linux, pois ele nunca nos contatou para falar sobre ele. Apesar
898     de saber do projeto GNU. Mas ele o anunciou para outras pessoas e para outras
899     partes da Internet. E assim, outras pessoas então, fizeram o trabalho de
900     combinar Linux com o resto do sistema GNU fazendo um sistema operacional livre
901     completo. Essencialmente, fazendo uma combinação GNU mais Linux.
902    
903     Mas não percebiam que era isso que estavam fazendo. Veja, eles disseram, temos
904     um kernel -- vamos dar uma olhada e ver que outras partes podemos juntar ao
905     kernel. Assim, procuraram -- e eis que, de repente -- tudo o que precisavam já
906     estava disponível. Que sorte, eles disseram. [Risos] Está tudo aí. Podemos
907     achar tudo o que precisamos. Vamos pegar todas essas partes diferentes e
908     juntá-las e compor um sistema. Eles não sabiam que a maioria das cosias que
909     achavam eram partes do sistema GNU. Eles não pensavam que estavam encaixando o
910     Linux num espaço vazio do sistema GNU. Eles achavam que estavam construindo um
911     sistema em cima do Linux. E daí chamaram o sistema de Linux.
912    
913     PERGUNTA: [Inaudível]
914    
915     STALLMAN: Não ouvi -- o quê?
916    
917     PERGUNTA: [Inaudível]
918    
919     STALLMAN: Bem, não é só -- você sabe, é provincial.
920    
921     PERGUNTA: Mas foi sorte maior que achar o X e o Mach?
922    
923     STALLMAN: Certo. A diferença é que as pessoas que desenvolveram o X e o Mach
924     não tinham por objetivo fazer um sistema operacional livre completo. Éramos os
925     únicos com essa idéia. E, foi nosso trabalho tremendo que fez o sistema
926     existir. Fizemos a maior parte do sistema que qualquer outro projeto. Não é
927     coincidência que essas pessoas -- elas escreveram partes úteis do sistema. Mas
928     não fizeram isso porque queriam ver o sistema terminado. Elas tinham outras
929     razões.
930    
931     Por exemplo, as pessoas que desenvolveram o X -- achavam que projetar um
932     sistema de janelas com suporte a rede seria um bom projeto, e foi. E acabou
933     nos ajudando a fazer um sistema operacional bom e livre. Mas isso não era o
934     que esperavam. Eles nem pensavam nisso. Foi acidental. Um benefício acidental.
935     Agora, eu não estou dizendo que o que eles fizeram foi ruim. Eles fizeram um
936     grande projeto livre. Uma coisa boa de se fazer. Mas não tinham uma visão além
937     disso. O Projeto GNU é onde estava essa visão.
938    
939     E assim, éramos os únicos cuja -- cada partezinha não era feita por ninguém,
940     nós sim. Porque sabíamos que não teríamos um sistema completo sem isso. E
941     até mesmo quando era totalmente entediante e pouco romântico como o tar ou o
942     mv. [Risos]. Fazíamos. Ou ld, vocês sabem, não há nada muito empolgande no ld
943     -- mas eu o escrevi. [Risos] E envidei esforços para que ele usasse uma
944     quantidade mínima de I/O [N.T.: tráfego] no disco para que fosse rápido e
945     desse conta de programas maiores. Mas, eu gosto fazer um bom trabalho. Eu
946     gosto de aperfeiçoar várias coisas nos programas enquanto os escrevo. Mas a
947     razão pela qual o fiz, não foi porque eu tinha idéias brilhantes para um ld
948     melhor. A razão pela qual o fiz é que precisávamos de um que fosse livre. E
949     não podíamos esperar que outros o fizessem. Então, tivemos de fazê-lo, ou
950     encontrar alguém que fizesse.
951    
952     Assim, apesar de nesse ponto, milhares de pessoas em projetos terem
953     contribuído para esse sistema [GNU/Linux], havia um projeto que era a razão
954     pela qual o sistema existia, e era o Projeto GNU. *É* basicamente o Sistema
955     GNU, com outras coisas acrescentadas desde então.
956    
957     Assim, no entanto, a prática de chamar o sistema de Linux tem sido um grande
958     golpe no Projeto GNU, porque nós normalmente não recebemos crédito pelo que
959     temos feito. E penso que Linux, o kernel, é uma parte muito útil do software
960     livre, e tenho só coisas boas a dizer sobre ele. Mas , bem, na realidade,
961     podemos achar algumas coisas ruins para falar dele. [Risos] Mas, basicamente,
962     temos duas coisas a dizer sobre ele. No entanto, a prática de chamar o sistema
963     GNU de Linux é apenas um engano. Eu pediria que vocês por favor fizessem um
964     pequeno esforço necessário para chamá-lo de sistema GNU/Linux, e desse modo,
965     ajudar-nos a dividir o crédito.
966    
967    
968     PERGUNTA: Você precisa de um mascote! Arrume um bicho de pelúcia!
969    
970     [Risos]
971    
972     STALLMAN: Nós temos.
973    
974     QUESTION: Ah, têm?
975    
976     STALLMAN: Temos um bicho -- um gnu. [Risos] Mas então. Bem,
977     sim, quando desenhar um pingüim --desenhe um gnu perto dele. [Risos]
978    
979     Mas, vamos deixar as perguntas para o final. Eu tenho mais para discorrer. Por
980     que estou tão preocupado com isso? Sabe, acho que isso incomoda
981     vocês, e talvez talvez esteja dando a vocês uma -- talvez inferiorizando sua
982     opinião sobre mim [Risos] ao levantar essa questão sobre créditos? Porque,
983     vocês sabem, algumas pessoas, quando faço isso, algumas pessoas acham que é
984     porque eu quero que meu ego seja alimentado, certo? Naturalmente, eu não estou
985     dizendo -- chamando -- eu não estou pedindo que vocês o chamem de "Stallmanix"
986     -- certo? [Risos e aplausos]
987    
988     Eu estou pedindo para o que o chamem de GNU, porque quero que o Projeto GNU
989     tenha crédito. E há uma razão muito específica para isso, a qual é muito mais
990     importante que qualquer pessoa receber crédito. Vejam, nestes dias, se você
991     olhar para todos os lados em nossa comunidade, a maior parte das pessoas que
992     falam e escrevem sobre isso nem sequer mencionam GNU, e elas nem
993     sequer mencionam os objetivos da liberdade -- nem os ideais políticos e
994     sociais, tampouco. Pois o lugar de onde eles vêm é do GNU. As idéias associadas
995     ao Linux -- a filosofia é muito diferente. É basicamente uma filosofia
996     apolítica de Linus Torvalds. Assim, quando as pessoas acham que o sistema todo
997     é Linux, elas tendem a pensar: "Ah, tudo deve ter sido iniciado pelo Linus
998     Torvalds. Devemos observar sua filosofia cuidadosamente". E quando ouvem sobre
999     a filosofia GNU, eles dizem: "Cara, isso é tão idealista, que deve ser
1000     terrivelmente impraticável. Ah, eu sou usuário de Linux, não de GNU." [Risos]
1001    
1002     Que ironia! Ah, se eles soubessem! Se soubessem que o sistema de que gostam --
1003     ou, em alguns casos, adoram ou pelo qual são loucos -- é nossa filosofia
1004     política e idealista posta em prática. Eles nem precisam concordar conosco.
1005     Mas pelo menos eles vêem razão para levá-la a sério -- pensar sobre ela
1006     cuidadosamente -- e dar a ela uma chance. Eles veriam como ela se relaciona
1007     com suas vidas. Se percebessem: "Estou usando um sistema GNU. Veja a
1008     filososfia GNU. Esta filosofia é a razão do porquê este sistema que eu gosto
1009     existe de verdade." Eles pelo menos pensariam sobre ela com uma mente muito
1010     mais aberta. Não significa que todo mundo concordaria. As pessoas pensam
1011     coisas diferentes. Tudo bem. As pessoas devem ter suas próprias idéias. Mas eu
1012     quero que esta filosofia colha os benefícios do crédito pelos resultados que
1013     ela conseguir.
1014    
1015     Se olharmos a toda a volta em nossa comunidade, veremos que, em quase
1016     todos os lugares, as instituições estão chamando o sistema de Linux. E sabem,
1017     os repórteres, a maioria, o chamam de Linux. Não deveriam, mas chamam. A
1018     maioria das empresas dizem -- tal pacote, tal sistema. Ah, e a maioria dos
1019     repórteres, quando escrevem artigos, eles normalmente não vêem como uma
1020     questão política, ou social. Eles normalmente vêem a coisa puramente como uma
1021     questão de negócios ou quanto de sucesso vão ter empresas, o que é realmente
1022     uma questão muito menor para a sociedade. E se vocês olharem para as empresas
1023     que empacotam o sistema GNU/Linux para as pessoas usarem, bem, todas elas o
1024     chamam de Linux e *todas* acrescentam software não livre a ele.
1025    
1026     Veja, a GNU GPL diz que se você pega código, e código de um programa coberto
1027     pela GPL, e acrescenta mais código para fazer dele um programa maior, aquele
1028     programa todo deve ser lançado sob a GPL. Mas vocês podem pôr outros
1029     programas separados no mesmo disco (de qualquer tipo, disco rígido, ou CD), e
1030     eles podem ter outras licenças. Considera-se isso mera agregação. E,
1031     essencialmente, apenas distribuir dois programas para alguém ao mesmo tempo é
1032     algo de que não temos o que dizer. Mas, de fato, gostaríamos. Algumas vezes,
1033     gostaria de que fosse verdadeiro para uma empresa que use programa coberto
1034     pela GPL em um produto, que o produto todo fosse software livre. Não é -- não
1035     chaga a esse ponto . É o programa como um todo. Se houver dois programas
1036     separados que se comunicam entre si a distância de um braço -- como ao enviar
1037     mensagens um ao outro -- então eles são legalmente separados, em geral.
1038     Assim, essas empresas, ao acrescentar um software não livre ao sistema, dão
1039     aos usuários, filosófica e politicamente, uma idéia muito ruim. Eles estão
1040     dizendo aos usuários: "É normal usar software proprietário. Estamos até
1041     colocando eles junto como bônus.
1042    
1043     Se você olhar as revistas, sobre o uso do sistema GNU/Linux, a maioria deles
1044     tem um título assim "Linux isso ou aquilo". Eles estão chamando o
1045     sistema de Linux a maior parte do tempo. E estão cheios de anúncios de
1046     software proprietários os quais podem rodar sobre o sistema GNU/Linux. Mas
1047     estes anúncios têm uma mensagem comum. Eles dizem: "software proprietário é
1048     bom para você. É tão bom que você pode até *pagar* para obter." [Risos] E
1049     eles chamam isso de "pacotes de valor agregado", o que diz muito sobre seus
1050     valores. Eles estão dizendo "Dê valor à conveniência prática, não à
1051     liberdade". Não concordo com esse valores e os chamo de "pacotes subtraídos de
1052     liberdade". [Risos] Pois se você instalou um sistema operacional livre, você
1053     está no mundo livre. Você desfruta dos benefícios da liberdade, a qual
1054     trabalhamos tantos anos para dar a você. Estes pacotes dâo a você a
1055     oportunidade de ficar amarrado por uma corrente.
1056    
1057     E se você vai a feiras de negócio -- sobre o uso do -- dedicada ao uso do
1058     sistema GNU/LINUX. Elas todos se chamam "Feiras do Linux". E ficam cheias de
1059     estandes exibindo software proprietário, essencialmente pondo um selo de
1060     aprovação em software proprietário. Assim, para quase todo o lugar que você
1061     olhe em nossa comunidade -- as instituições estão endossando o software
1062     proprietário -- negando totalmente a idéia para a qual o GNU foi
1063     desenvolvido. E o único lugar em que as pessoas provavelmente se deparam com a
1064     idéia de liberdade é em conexão com GNU, e em conexão com software livre: o
1065     termo "software livre". Assim, é por isso que eu peço a vocês: por favor
1066     chamem o sistema de "GNU/Linux". Por favor, conscientizem as pessoas de onde o
1067     sistema veio e por quê.
1068    
1069     Naturalmente, só de usar o nome, não estarão explicando a história
1070     toda. Vocês podem digitar quatro caracteres adicionais e escrever "GNU/Linux";
1071     vocês podem pronunciar duas sílabas extras. Mas, GNU/Linux tem menos
1072     sílabas que Windows 2000. [Risos] Mas, vocês não vão estar dizendo muito, mas
1073     preparando-os, para que quando ouvirem sobre o GNU, e do que se trata, eles
1074     vejam como isso tem relação com eles, e suas vidas. E isso, indiretamente, faz
1075     uma tremenda diferença. Assim, por favor ajudem-nos.
1076    
1077     Vocês vão notar que a Microsoft chamou a GPL de "licença de código aberto".
1078     Eles não querem que as pessoas pensem em termos de liberdade como ponto
1079     central. Vocês vão ver que eles convidam as pessoas a pensar de forma
1080     estreira, como consumidores. (E, claro, nem mesmo pensar muito racionalmente
1081     como consumidores, se forem escolher os produtos Microsoft). Mas eles não
1082     querem que as pessoas pensem como cidadãos ou estadistas. Isso é hostil para
1083     eles. Pelo menos é hostil para seu modelo de negócio atual.
1084    
1085     Agora, como age o software livre? Bem, eu posso falar como o "software livre"
1086     ser relaciona com nossa sociedade. Um tópico secundário que pode ser de
1087     interesse para alguns de vocês é como o software livre se relaciona com os
1088     negócios. Afinal, a maioria das empresas dos países avançados usam software.
1089     Só uma pequena fração desenvolve software. E software livre é tremendamente
1090     vantajoso para qualquer empresa que usa software, pois isso significa que você
1091     está no controle. Basicamente, software livre significa que os usuários estão
1092     no controle do que o programa faz. Tanto individualmente, se precisarem,
1093     quanto coletivamente, quando precisarem. Quem precisar pode exercer
1094     influência. Se você não precisar você pode usar o que os outros preferem. Mas
1095     se precisar, você tem vez.
1096    
1097     No software proprietário, essencialmente, você não tem vez. Com software
1098     livre, você pode modificar o que quiser modificar. E não importa que não haja
1099     programadores na sua empresa; tudo bem. Se você quiser mudar as divisórias de
1100     sua empresa, você não deve ser capaz de achar um carpinteiro e perguntar,
1101     quanto você vai cobrar pelo trabalho? E, se você quiser mudar algo no software
1102     que você usa, sua empresa não precisa ser do ramo de software. É só ir a
1103     uma empresa de software e dizer: "quanto você quer cobrar para implementar
1104     essas mudanças? E quando quer que sejam feitas?" E se não fizerem o trabalho,
1105     você pode pode achar outra pessoa que faça.
1106    
1107     Há um mercado livre para suporte. Assim, qualquer empresa que dê importância a
1108     suporte vai encontrar uma vantagem tremenda no software livre. Com software
1109     proprietário, o suporte é um monopólio. Porque uma só empresa tem o código, ou
1110     talvez um pequeno número de empresas que pagaram uma quantidade gigantesca de
1111     dinheiro para obter o código-fonte, se for um programa de fonte
1112     compartilhado da Microsoft. Mas, é muito novo. E assim, não há muitas fontes
1113     de suporte para você. E isso significa que a menos que você seja gigante
1114     mesmo, eles não vão dar bola para você. Sua empresa não é tão importante para
1115     que se sintam incomodados se a perderem como cliente, ou o que quer que
1116     aconteça. Uma vez usando o programa, eles imaginam que você está amarrado ao
1117     suporte deles, pois migrar para um programa diferente é um trabalho
1118     gigantesco. Assim você acaba em situações com a de ter que pagar pelo
1119     privilégio de reportar um bug. [Risos] E depois de pago, eles dizem: "Bem, OK,
1120     vimos seu registro do bug. Compre o upgrade que sai daqui a alguns meses para
1121     ver se o consertamos". [Risos] Provedores de suporte de software livre não
1122     podem se dar bem dessa maneira. Eles têm de agradar os clientes. Claro que não
1123     dá para obter todo tipo de suporte de graça. Você posta mensagem de seu
1124     problema na Internet. É bem possível que receba a respota no dia seguinte. Mas
1125     não é garantido, naturalmente. Se você quiser ter mais garantia, é melhor fazer
1126     um acordo com uma empresa e pagá-los. E isto é, naturalmente, uma das maneiras
1127     como funcionam os negócios em software livre.
1128    
1129     Outra vantagem do software livre para empresas é a segurança e a privacidade.
1130     (E isto se aplica a indivíduos também. Mas eu mencionei no contexto das
1131     empresas). Vejam, quando um programa é proprietário, você nem sequer pode
1132     saber o que ele realmente faz. Ele pode ter funções, colocadas
1133     deliberadamente, das quais você não gostaria se soubesse. Por exemplo,
1134     ele poderia ter uma porta dos fundos, para permitir que o desenvolvedor
1135     entre em sua máquina. Ele poderia xeretar o que você faz, e enviar a
1136     informação para ele. Isso não é incomum. Alguns programas da Microsoft faziam
1137     isso. Mas não é somente a Microsoft. Há outros programas proprietários que
1138     espreitam os usuários. E, você nem consegue saber se eles fazem isso ou não. E,
1139     claro, mesmo assumindo que o desenvolvedor seja totalmente honesto, todo
1140     programador comete erros. Poderia haver bugs que afetam sua segurança, e
1141     que não é culpa de ninguém. Mas, a questão é: se não for software livre, você
1142     não vai achá-los, e não poderá consertá-los.
1143    
1144     Ninguém tem tempo de ver o código de todos os programas que roda. Vocês não
1145     vão fazer isso. Mas com o software livre há uma grande comunidade , e há
1146     pessoas na comunidade que verificam essas coisas. E você tem o benefício da
1147     verificação deles. Pois, se houver um bug acidental (com certeza há, de tempos
1148     em tempos, em qualquer programa), eles pode achá-lo e consertá-lo. E as
1149     pessoas estão muito menos propensas a pôr deliberadamente um cavalo-de-tróia,
1150     ou uma função de espionagem, se imaginam que podem ser pegos. Os
1151     desenvolvedores de software proprietário acham que não serão pegos. Eles se
1152     safam sem serem detectados. Mas o desenvolvedor de software livre têm de
1153     saber que as pessoas vão ver sua presença. Assim, em nossa comunidade, sabemos
1154     que não podemos nos dar bem se empurrarmos uma função que os usuários não
1155     querem goela abaixo. Assim, sabemos que se os usuários não gostarem, ele farão
1156     uma versão modificada que não tem essa função. E só ai começarão a usar essa
1157     versão.
1158    
1159     De fato, podemos todos pensar bastante; podemos todos imaginar muitos passos
1160     adiante tal que provavelmente não venhamos a criar tal função. Afinal de
1161     contas, você está escrevendo um programa livre, você quer que as pessoas
1162     gostem de sua versão. Você não vai colocar uma coisa que você sabe que muita
1163     gente vai odiar, e ver uma outra versão modificada ser aceita em vez da sua.
1164     Assim, percebam que o usuário é rei, no mundo do software livre. No mundo do
1165     software proprietário, o cliente *não* é rei. Porque você é apenas um cliente,
1166     você não tem vez no software que você usa.
1167    
1168     Neste aspecto, software livre é um novo mecanismo para a democracia operar.
1169     Professor Lessig, agora em Stanford, observou que código de programação
1170     funciona como um tipo de lei. Quem se põe a escrever código usado por quase
1171     todos, para todos os fins e intenções, está escrevendo leis que dirigem a vida
1172     das pessoas. No software livre, estas leis são escritas de modo democrático.
1173     Não na forma clássica da democracia; não temos uma grande eleição e dizemos:
1174     "vamos todos votar para sabermos como deve ser esta função". [Risos] Em vez
1175     disso dizemos, basicamente, aqueles que quiserem trabalhar na implementação
1176     deste recurso, estão convidados. E, se você quiser trabalhar na implementação
1177     da função deste modo, trabalhe. E o resultado acaba aparecendo, sabem? E
1178     assim, se muitas pessoas o querem assim, assim ele será. Assim,
1179     portanto, todo mundo contribui para uma decisão social simplesmente dando
1180     passos na direção que queira ir.
1181    
1182     E, você está livre, pessoalmente, para dar tantos passos, quantos queira dar.
1183     A empresa está livre para dar quantos passos achar útil. E, depois de
1184     adicionar todas essas coisas, isso diz para que direção vai o software.
1185    
1186     E também é muito útil pegar partes de algum programa existente,
1187     presume-se, normalmente partes grandes, lógico. Para depois escrever uma
1188     quantidade de linhas de código suas próprias. E fazer um programa que faça
1189     exatamente o que você precisar, o qual teria custado os dois olhos da cara
1190     para desenvolver se tivesse que escrevê-lo do zero -- Você não poderia
1191     canibalizar grandes partes de pacotes de software livre existente.
1192    
1193     Outra coisa que resulta do fato de que o usuário é rei, é que tendemos a ser
1194     muito bons em compatibilidade e padronização. Por quê? Porque os usuários
1195     gostam disso! Usuários têm a tendência de rejeitar programas com
1196     incompatibilidades gratuitas. Mas, algumas vezes há certos grupos de usuários
1197     que na realidade têm necessidade de certos tipos de incompatibilidades. E daí
1198     eles terão; e tudo bem. Mas, quando os usuários querem seguir um padrão, nós
1199     desenvolvedores temos de segui-lo. E, sabemos disso. E fazemos assim. Em
1200     contraste, se você olha para os desenvolvedores de software proprietário, eles
1201     sempre acham vantajoso *não* seguir padrões deliberadamente. E, não porque
1202     pensam que estão dando uma vantagem ao usuário, mas sim, porque estão se
1203     impondo sobre os clientes -- prendendo o usuário. E você vai vê-los fazendo
1204     mudanças em seus formatos de arquivo de tempos em tempos, apenas para forçar
1205     as pessoas a obter a nova versão.
1206    
1207     Arquivistas estão enfrentando um problema agora, pois arquivos escritos em
1208     computadores há dez anos muitas vezes não podem ser acessados. Eles foram
1209     escritos com software proprietário, está essencialmente perdido agora. Se
1210     fosse escrito com software livre, então poderia ser atualizado e executado. E
1211     essas coisas não -- esses registros não estariam perdidos, não estariam
1212     inacessíveis. Eles estavam reclamando sobre isso recentemente na NPR [National
1213     Public Radio], citando o software livre como solução. E assim, com efeito, ao
1214     usar programas proprietários para armazenar seus próprios dados, você está
1215     pondo a corda no pescoço.
1216    
1217     Bom, falei como o software livre afeta muitas empresas. Mas, como ele afeta
1218     estritamente a área particular que é o mercado de software? Bem, a resposta é
1219     não afeta. A razão é que 90% da indústria de software, (me disseram), é
1220     desenvolvimento de software sob medida. Software que não se destina a ser
1221     lançado. Para software sob medida, esta questão, ou a questão ética do livre
1222     ou proprietário, não aparece. Vejam, a questão é: "Vocês usuários estão livres
1223     para modificar e redistribuir o software?" Se há apenas um usuário, e o
1224     usuário é dono dos direitos, não há problema. O usuário *é* livre para fazer
1225     todas essas coisas. Assim, com efeito, qualquer programa *sob medida*
1226     desenvolvido por uma empresa para uso interno é software livre, contanto que
1227     insistam em ter o código fonte, e todos os direitos.
1228    
1229     E a questão realmente não faz sentido para software que vai em relógios de
1230     pulso e fornos de microondas, ou no sistema de ignição do automóvel. Porque
1231     estes não são lugares para onde você baixa software e instala. Não é um
1232     computador real, até onde o usuário saiba. E assim, estas questões não vêm à
1233     tona o bastante para que sejam eticamente importantes. Assim, para a maior
1234     parte, a indústria de software vai continuar do mesmo jeito que vem fazendo.
1235     E o interessante é que, como uma grande parte dos empregos estão nessa parte da
1236     indústria, mesmo que não houvesse possibilidades para as empresas de software
1237     livre, os desenvolvedores de software livre poderiam todos arranjar empregos
1238     fixos escrevendo software sob medida. [Risos] Há tantos; a proporção é muito
1239     grande.
1240    
1241     Mas, mesmo assim, há mercado de software livre. Há empresas de software livre.
1242     E, na coletiva de imprensa que vou dar, pessoas de algumas dessas empresas vão
1243     estar junto conosco. E, naturalmente, há também empresas que *não* são do
1244     mercado de software livre, mas desenvolvem partes úteis de software livre
1245     para lançar. E, o software livre que produzem é substancial.
1246    
1247     Agora, como funciona o negócio de software livre? Bem, alguns vendem
1248     cópias. Vocês sabem, você está livre para copiar, mas eles conseguem mesmo
1249     assim vender milhares de cópias por mês. E, outros vendem suporte e vários
1250     tipos de serviços. Eu, pessoalmente, na segunda metade dos anos 80, vendia
1251     serviços de suporte de software livre. Basicamente eu dizia, por US$200 por
1252     hora, eu mudo qualquer coisa que você queira no software GNU que escrevi. E,
1253     claro, era uma taxa salgada, mas se era um programa do qual eu era o autor, as
1254     pessoas imaginavam que pudesse terminar o trabalho em muito menos horas.
1255     [Risos] E tirei meu sustento dessa maneira. De fato, ganhava mais que nunca.
1256     Eu também dava aulas. E continuei assim até 1990, quando ganhei um grande
1257     prêmio, e não tive mais que fazê-lo.
1258    
1259     Mas, 1990 foi quando a primeira empresa de software livre foi criada, a Cygnus
1260     Support. E o negócio deles era fazer, essencialmente, o mesmo tipo de coisas
1261     que estava fazendo. Eu certamente poderia ter trabalhado para eles, se
1262     precisasse fazê-lo. Como não precisava, senti que era bom para o Movimento se
1263     permanecesse independente do qualquer empresa. Assim, poderia dizer
1264     coisas boas e ruins sobre várias empresas de software livre e não livre, sem
1265     conflito de interesses. Senti que poderia servir mais ao Movimento. Mas, se
1266     tivesse precisado disso para ganhar a vida, claro, teria trabalhado para eles.
1267     É um negócio ético de se fazer parte. Não haveria razão para me envergonhar de
1268     trabalhar para eles. E, aquela empresa conseguiu ser rentável em seu primeiro
1269     ano. Foi formada com muito pouco capital, apenas o dinheiro que seus três
1270     fundadores tinham. E continuou crescendo a cada ano, e sendo rentável a cada
1271     ano, até que ficaram gananciosos, e buscaram investidores externos, e então
1272     confundiram tudo. Foram vários anos de sucesso, antes que ficassem gananciosos.
1273    
1274     Assim, isso ilustra uma das coisas mais empolgantes sobre software livre.
1275     Software livre demonstra que você não precisa levantar capital para
1276     desenvolver software livre. Quer dizer, é útil; ele *pode* ajudar. Vocês
1277     sabem, se você levantar capital, você pode contratar pessoas e pedir que
1278     escrevam um punhado de software. Mas você pode produzir muito com um pequeno
1279     número de pessoas. E, de fato, a eficiência tremenda do processo de
1280     desenvolvimento de software livre é uma das razões pelas quais é importante
1281     que o mundo mude para o software livre. Isso desmente o que a Microsoft diz,
1282     quando dizem: "GNU GPL é ruim, porque fica mais difícil para eles levantar
1283     capital para desenvolver software não livre", e pegar nosso software livre e
1284     pôr nosso código em seus programas que não querem compartilhar conosco.
1285     Basicamente, não precisamos que levantem capital dessa forma. Faremos o
1286     trabalho de mesmo modo. *Estamos* fazendo o trabalho.
1287    
1288     As pessoas diziam que nunca seríamos capazes de fazer um sistema operacional
1289     livre completo. Agora fizemos isso e tremendamente mais. E eu diria que
1290     estamos a uma ordem de grandeza do desenvolvimento toda a necessidade
1291     mundial de software de uso geral publicado. E isso num mundo em que mais de
1292     90% dos usuários não usam nosso software ainda! Isto é em um mundo em que...
1293     apesar de certas áreas de negócio, bem, mais de metade de todos os servidores
1294     da web no mundo rodam GNU/Linux com servidor web Apache.
1295    
1296     PERGUNTA: [Inaudível] ... O que você disse antes do Linux?
1297    
1298     STALLMAN: Eu disse GNU/Linux.
1299    
1300     QUESTION: Disse?
1301    
1302     STALLMAN: Sim, estou falando do kernel, eu chamo de Linux. Vocês sabem, este é
1303     o seu nome. O kernel foi escrito por Linus Torvalds, e devemos chamá-lo pelo
1304     nome que ele escolheu, por respeito ao autor.
1305    
1306     Pois bem, mas em geral nas empresas, a maioria dos usuários não o estão
1307     usando. A maioria dos usuários domésticos não o estão usando ainda. Assim,
1308     quando estiverem, deveremos ter 10 vezes mais voluntários, e 10 vezes mais
1309     clientes para empresas de software livre que haverá. E assim, isso nos dará
1310     esta ordem de grandeza. Assim, neste ponto, estou muito confiante de que
1311     *podemos* fazer o trabalho.
1312    
1313     E, é importante, porque a Microsoft nos pede para ficarmos desesperados. Eles
1314     dizem:
1315    
1316     "O único modo de você ter software funcionando; o único modo de você receber
1317     inovação, é se você nos der poder! Deixe-nos dominar você. Deixe que
1318     controlemos o que você pode fazer com o software que você está rodando, de
1319     modo que possamos arrancar muito dinheiro de você e usar só uma parte disso
1320     para desenvolver software e ficar com o resto como lucro."
1321    
1322     Bem, você não deve se sentir tão desesperado. Você não deve se sentir tão
1323     desesperado ao perder sua liberdade [Ironia]. Isso é muito perigoso.
1324    
1325     Outra coisa que a Microsoft (bem, não só a Microsoft) -- as pessoas que não
1326     dão suporte ao software livre geralmente adotam um sistema de valores para o
1327     qual a única coisa que importa são os benefícios práticos de curto prazo.
1328     "Quanto dinheiro vou ganhar este ano? Que trabalho posso fazer hoje?"
1329     Raciocínio estreito e para o curto prazo. Eles assumem que é ridículo
1330     imaginar que alguém sequer possa fazer um sacrifício pela causa da liberdade.
1331    
1332     No passado, muitas pessoas faziam discursos sobre americanos que fizeram
1333     sacrifícios pela liberdade de seus compatriotas. Alguns deles fizeram grandes
1334     sacrifícios. Eles até mesmo sacrificaram suas vidas pelas liberdades que todos
1335     em nosso país já ouviram, pelo menos. (Pelo menos, em alguns casos; acho que
1336     temos de ignorar a guerra do Vietnã.)
1337    
1338     [Nota do editor: o dia anterior foi "Dia da Memória" nos EUA. O Dia da Memória
1339     é o dia em que os heróis de guerra são lembrados.]
1340    
1341     Mas, infelizmente, para manter nossa liberdade de usar software, não peça
1342     grandes sacrifícios, pois sacrifícios pequenos, bem pequenos já são
1343     suficientes. Tal como aprender uma interface de linha de comando se ainda não
1344     tivermos uma interface gráfica para o programa. Tal como fazer o trabalho
1345     desta forma, porque ainda não temos um pacote de software livre para fazer de
1346     outra forma. Tal como pagar a uma empresa para desenvolver um pacote de
1347     software livre, de modo que possamos tê-lo em alguns anos. Vários sacrifícios
1348     pequenos que todos podemos fazer. E, no longo prazo, até mesmo *nós* vamos nos
1349     beneficiar. Vocês sabem, é de fato um investimento mais que um sacrifício!
1350     Temos de ter uma visão de longo prazo o suficiente para perceber que é bom
1351     para nós investir em melhorar nossa sociedade, sem contar com os tostões e
1352     vinténs de quem obtém o benefício desse investimento.
1353    
1354     Assim, por hora, termino por aqui.
1355    
1356     Eu gostaria de mencionar que há uma nova abordagem para o mercado de software
1357     livre proposto por Tony Stanco, o qual ele chama de "Desenvolvedores Livres".
1358     E que envolve uma certa estrutura de negócios que espera com o tempo pagar um
1359     certa parte dos lucros para todos -- para todos os autores de software livre
1360     que trabalharem para a empresa. E estão trabalhando agora para obter para mim
1361     alguns contratos de desenvolvimento de software muito grandes no governo da
1362     Índia. Pois vão usar software livre desse modo -- com tremenda economia de
1363     custos desse modo.
1364    
1365     E assim, agora gostaria de saber se há dúvidas.
1366    
1367     PERGUNTA: [Inaudível]
1368    
1369     STALLMAN: Você poderia falar uma pouco mais alto por favor? Não consigo mesmo
1370     ouvir você.
1371    
1372     PERGUNTA: Como uma empresa como a Microsoft poderia incluir um contrato de
1373     software livre?
1374    
1375     STALLMAN: Bem, na realidade, a Microsoft está planejando transformar muito de
1376     sua atividades em serviços. E, o que estão planejando fazer é algo sujo e
1377     perigoso, que é amarrar serviços a programas, um com outros, em uma espécie de
1378     círculo vicioso, sabe? De modo que para usar este serviço, você terá de usar o
1379     programa da Microsoft, que vai implicar na necessidade de usar este serviço,
1380     para este programa da Microsoft, assim tudo fica amarrado. Este é o plano
1381     deles.
1382    
1383     Agora, o interessante é que vender estes serviços não levanta questões éticas
1384     sobre software livre e software proprietário! Pode até ser perfeitamente normal
1385     para eles fazer existir o mercado para aquelas empresas que vendem serviços
1386     pela Internet. No entanto, o que a Microsoft está planejando fazer é usá-los
1387     para prender o usuário ainda mais -- um monopólio ainda maior -- em software e
1388     serviços. E, isto foi descrito em um artigo, creio, na Business Week,
1389     recentemente. E, outras pessoas disseram que isso vai transformar a Internet
1390     em uma Vila Industrial Microsoft.
1391    
1392     E isso é relevante, porque, sabem, o tribunal do julgamento do monopólio da
1393     Microsoft recomendou dividir a empresa, a Microsoft. Mas de certa forma,
1394     isso não faz sentido; não faria bem nenhum: uma parte operacional, outra de
1395     aplicações.
1396    
1397     Mas, ao ver aquele artigo, agora vejo uma maneira útil e eficiente para
1398     dividir a Microsoft numa parte de serviços outra de software. E exigir que se
1399     relacionem uma com a outra à distância de um braço. E que a [divisão] de
1400     serviços tenha de publicar suas interfaces, de modo qualquer um possa escrever
1401     um cliente que converse com esses serviços. E, imagino, que eles tenham de
1402     pagar para acessar o serviço; bem, isso tudo bem. É uma questão totalmente
1403     diferente.
1404    
1405     Se a Microsoft for dividida desse modo [...], "serviços e software", eles não
1406     poderão usar seu software para esmagar a concorrência com serviços Microsoft.
1407     E não poderão usar [a divisão de] serviços para esmagar a concorrência com
1408     software Microsoft. E poderemos fazer software livre, e talvez vocês o usarão
1409     para conversar com os serviços Microsoft, e não nos importaremos!
1410    
1411     Porque, afinal de contas, apesar de a Microsoft ser a empresa de software
1412     proprietário que tem subjugado a maioria das pessoas, os outros subjugaram
1413     menos pessoas; não é por falta de tentar [Risos], eles só não conseguiram
1414     subjugar a mesma quantidade de pessoas. Assim, o problema não é a Microsoft, e
1415     só a Microsoft. Microsoft é só o maior exemplo do problema que estamos
1416     tentando resolver, que á o software proprietário tirando a liberdade dos
1417     usuário de cooperar e formar uma sociedade ética. Assim, não devemos nos focar
1418     muito na Microsoft. Você sabem, mesmo que eles não me dessem a oportunidade
1419     desta tribuna, isso não faz deles tão importantes. Eles não são a razão nem o
1420     fim de tudo.
1421    
1422     PERGUNTA: Lá atrás, você estava discutindo as diferenças filosóficas entre
1423     software de código aberto e software livre. O que você acha da
1424     tendência das distribuições GNU/Linux à medida que partem para o suporte
1425     somente para plataformas Intel? E o fato de que parece que cada vez menos
1426     programadores estão programando corretamente e fazendo software que compile em
1427     qualquer lugar. E fazendo software que só funciona em sistemas Intel.
1428    
1429     STALLMAN: Não vejo problemas éticos aí. Apesar, é verdade, de que alguns
1430     fabricantes de computador algumas vezes portam o sistema GNU/Linux para ele.
1431     HP aparentemente fez isso recentemente. E, eles não se dignaram a pagar
1432     pelo porte do Windows, porque lhes teria custado caro. Mas para ter suporte
1433     para GNU/Linux foi, penso eu, cinco engenheiros por uns poucos meses. Foi
1434     facilmente executável.
1435    
1436     Agora, naturalmente, eu incentivo as pessoas a usar autoconf, que é um pacote
1437     GNU que facilita tornar seus programas portáveis. Incentivo a usá-lo. Ou
1438     quando alguém conserta um bug que não compila naquela versão do sistema, e o
1439     envia a você, você deve colocá-lo. Mas eu não vejo uma questão ética.
1440    
1441     PERGUNTA: Dois comentários. Um é: recentemente, você falou no MIT. Eu li a
1442     transcrição. E alguns perguntaram sobre patentes, e você disse que "patente é
1443     uma questão totalmente diferente. Não tenho comentários sobre isso."
1444    
1445     STALLMAN: Certo. Eu na realidade tenho muito a dizer sobre patentes, mas leva
1446     uma hora. [Risos]
1447    
1448     PERGUNTA: Queria dizer o seguinte: a mim me parece que há uma questão. Quer
1449     dizer, há uma razão pela qual as empresas reivindicam patentes e direitos de
1450     cópia -- tem a ver com propriedade, para tentar entender o conceito. E que é
1451     usar o poder do Estado para criar um monopólio. E assim, o que é comum nessas
1452     coisas não é que eles passam por cima dessas questões, mas que a motivação não
1453     é mesmo uma questão de servir ao público, mas a motivação das empresas de
1454     fazer um monopólio para seus interesses privados.
1455    
1456     STALLMAN: Eu entendo. Mas, bem, vou responder, pois não temos muito tempo.
1457     Assim quero responder a isso.
1458    
1459     Você está certo que isso é o que querem. Mas há outra razão por que querem
1460     usar o termo "propriedade intelectual". É porque eles não querem que as
1461     pessoas pensem com cuidado sobre as questões do direito de cópia ou patentes.
1462     Porque as leis de direito de cópia e as leis de patente são totalmente
1463     diferentes, e os efeitos dos direitos de cópia de software e de patente de
1464     software são totalmente diferentes.
1465    
1466     As patentes de software são uma restrição aos programadores -- proibindo-os de
1467     escrever certos tipos de programa. Ao passo que o direito de cópia não faz
1468     isso. Com direito de cópia, pelo menos, se você escreveu tudo, você tem
1469     permissão de distribui-lo. Assim, é tremendamente importante separar essas
1470     questões.
1471    
1472     Elas têm pouco em comum, numa intensidade muito baixa. E tudo mais é
1473     diferente. Assim, por favor, para incentivar o esclarecimento, discutam
1474     direito de cópia ou discutam patentes. Não discutam "propriedade intelectual".
1475     E não tenho opinião sobre "propriedade intelectual". Tenho opiniões sobre
1476     direitos de cópia e patentes e software.
1477    
1478     PERGUNTA: Você mencionou no começo que uma linguagem funcional, como receitas,
1479     são programas de computador. Há um ponto um pouco diferente de outros tipos
1480     de linguagem criadas a partir daí. Isto está causando um problema no caso do
1481     DVD.
1482    
1483     STALLMAN: As questões são em parte similares, em parte diferentes, para coisa
1484     que não são funcionais por natureza. Parte da questão se aplica, mas não tudo.
1485     Infelizmente, isso significa mais uma hora de palestra. Eu não tenho tempo
1486     para discorrer sobre isso. Mas, eu diria que todas as obras funcionais
1487     deveriam ser livres do mesmo jeito que software. Por exemplo: livros-texto,
1488     manuais, dicionários, receitas, assim por diante.
1489    
1490     PERGUNTA: Eu estava pensando na música pela rede, há similaridades e
1491     diferenças totais criadas.
1492    
1493     STALLMAN: Correto. eu diria que a liberdade mínima que deveríamos ter para
1494     *qualquer* tipo de informação publicada, é a liberdade de redistribuí-la não
1495     comercialmente, inalterada. Para obras funcionais, precisamos da liberdade de
1496     publicar *comercialmente* a versão modificada, porque isso é tremendamente
1497     útil para a sociedade. Para trabalhos não funcionais, você sabe, coisas para
1498     entreter, ou estéticas, ou para afirmar os pontos de vista de uma pessoa,
1499     talvez não devessem ser modificadas. E, talvez isso seja OK, ter direito de
1500     cópia cobrindo toda a distribuição *comercial* dele.
1501    
1502     Por favor, lembrem-se de que de acordo com a Constituição dos EUA, a
1503     finalidade do direito de cópia é beneficiar o público. É para modificar o
1504     comportamento de certas instituições privadas, para que publiquem mais livros.
1505     E o benefício é que a sociedade discuta questões, aprenda e tenhamos
1506     literatura. Tenhamos trabalhos científicos. E o propósito é incentivar isso.
1507     Direitos de cópia não existem por causa dos autores, muito menos por causa dos
1508     editores. Eles existem por causa dos leitores e daqueles que se beneficiam da
1509     comunicação da informação que acontece quando as pessoas escrevem e as outras
1510     lêem. E com o objetivo, eu concordo!
1511    
1512     Mas, na era das redes de computadores, o *método* não é mais defensável,
1513     porque agora exige leis draconianas que invadem a privacidade de todos e
1514     aterrorizam todo mundo. Você sabe, anos de prisão por compartilhar com os
1515     outros. Não era assim nos tempos da imprensa impressa. Naquela época, o
1516     direito de cópia era uma regulamentação industrial. Restringia os editores!
1517     *Agora*, é uma restrição imposta pelo editores ao público. Assim, o
1518     relacionamento do poder deu uma volta de 180 graus, mesmo sendo a mesma lei.
1519    
1520     PERGUNTA: Assim, você pode ter a mesma coisa -- tal como ao fazer uma
1521     música a partir de outra.
1522    
1523     STALLMAN: Correto. Isso é interessante.
1524    
1525     PERGUNTA: E trabalhos novos e exclusivos, você sabe, muito ainda é cooperação.
1526    
1527     STALLMAN: É. Eu penso que isso provavelmente exige algum tipo de conceito do uso
1528     justo. Certamente samplear alguns segundos e usar isso ao fazer uma obra
1529     musical: obviamente deveria ser uso justo. Mesmo que a idéia padrão do uso
1530     justo inclua isso, se você pensar sobre isso. Os tribunais vão concordar? Não
1531     sei ao certo, mas deveriam. Isso *não* seria uma mudança real no sistema do
1532     modo como existiu.
1533    
1534     PERGUNTA: O que você acha de publicar informações *públicas* em formatos
1535     proprietários?
1536    
1537     STALLMAN: Ah, não deveria ser. Quero dizer, o Governo nunca deveria pedir aos
1538     cidadãos que usassem programas não livres para acessar e se comunicar com o
1539     Governo desse modo, em todos os sentidos.
1540    
1541     PERGUNTA: Tenho sido, o que agora vou dizer, um usuário GNU/Linux...
1542    
1543     STALLMAN: Obrigado. [Risos]
1544    
1545     PERGUNTA: ... nos últimos quatro anos. E uma coisa que tem sido problemática
1546     para mim e é algo essencial, eu acho, para todos nós, é navegar na Internet.
1547    
1548     STALLMAN: Sim.
1549    
1550     QUESTION: Uma das coisa que decididamente tem sido um ponto fraco ao usar o
1551     sistema GNU/Linux tem sido navergar na Internet, porque a ferramenta principal
1552     para isso, Netscape...
1553    
1554     STALLMAN: ...Não é software livre.
1555    
1556     Deixe-me responder isso. Eu quero chegar ao ponto, para falar um pouco mais.
1557     Portanto, sim. Tem havido uma tendência terrível das pessoas usarem o Netscape
1558     Navigator em seus sistema GNU/Linux. E, de fato, todos os pacotes comerciais
1559     vem com ele. Assim é uma situação irônica: trabalhamos tanto para fazer um
1560     sistema operacional *livre*, e agora, se você vai na loja, você pode encontrar
1561     as versões lá do GNU/Linux (a maioria delas se chama "Linux"), e não são
1562     livres. Ah, bem, uma parte deles é. Mas então, há o Netscape Navigator, e
1563     talvez outros programas proprietários também. Assim é muito difícil realmente
1564     encontrar um sistema livre, a não ser que você saiba o que está fazendo! Ou,
1565     obviamente, você pode [simplesmente] não instalar o Netscape Navigator (com
1566     os sistema comerciais].
1567    
1568     Agora, na verdade, tem havido navegadores livres por muitos anos. Há o
1569     navegador livre que usava chamado "Lynx". É um navegador livre não gráfico; é
1570     só texto. É uma vantagem tremenda já que você não vê os anúncios. [Risos]
1571     [Aplausos]
1572    
1573     Mas de qualquer forma, há o projeto gráfico livre chamado "Mozilla", que está
1574     chegando ao pondo em que se pode usá-lo. Eu o uso de vez em quando.
1575    
1576     PERGUNTA: O Konqueror 2.01 tem sido muito bom.
1577    
1578     STALLMAN: Ah, OK. Então, este é outro nevegador gráfico gratuito. Assim,
1579     estamos finalmente resolvendo o problema, penso eu.
1580    
1581     PERGUNTA: Você pode me falar sobre aquela divisão ética/filosófica entre
1582     software livre e código aberto? Você acha que elas são irreconciliáveis?...
1583    
1584     [troca de fitas de gravação; o fim da pergunta e o começo da resposta não
1585     foram gravados]
1586    
1587     STALLMAN: .... para uma liberdade, e ética. Ou quer você apenas diga: "bem,
1588     espero que suas empresas decidam o que é mais lucrativo para deixar-nos fazer
1589     essas coisas"
1590    
1591     Mas, como eu disse, em muitos trabalhos práticos, não importa de fato o qual é
1592     a política da pessoa. Quando alguém se oferece para ajudar o projeto GNU,
1593     dizemos: "Você tem de concordar com nossa política". Dizemos isso no pacote
1594     GNU, você tem chamar o sistema, GNU/Linux, e você tem de chamá-lo de software
1595     livre. O que você diz quando não fala com o projeto GNU; fica a seu critério.
1596    
1597     PERGUNTA: A IBM começou uma campanha para agências do governo para vender
1598     suas novas máquinas de grande porte usando Linux como ponto de venda, e dizem
1599     "Linux"!
1600    
1601     STALLMAN: Sim, naturalmente, é de fato o sistema GNU/Linux. [Risos]
1602    
1603     QUESTION: É isso aí! Bem, fale com os vendedores-chefe. Eles não sabem nada do
1604     GNU.
1605    
1606     STALLMAN: Tenho que falar com quem?
1607    
1608     QUESTION: Com o líder dos vendedores.
1609    
1610     STALLMAN: Ah sim. O problema é que eles já cuidadosamente decidiram o que
1611     querem dizer por razões que lhes tragam vantagens. E a questão do que como
1612     mencioná-lo de forma mais precisa, ou justa ou correta não é a questão
1613     principal que importa a uma empresa como essa. Agora, algumas empresas
1614     pequenas, sim, têm um dono E se o dono estiver inclinado a pensar desse
1615     modo, ele pode tomar essa decisão. Não uma empresa gigante, porém. É uma
1616     vergonha, vocês sabem.
1617    
1618     Há um outra questão mais importante e mais substancial sobre o que a IBM está
1619     fazendo. Eles estão dizendo que estão investindo bilhões de dólares no "Linux".
1620     Mas talvez, eu devesse dizer "no" entre aspas, também, porque parte do
1621     dinheiro é para pagar a pessoas para desenvolver software livre. Isso é uma
1622     contribuição de fato para nossa comunidade. Mas, outra parte é para pagar
1623     pessoas para escrever software proprietário, ou portar software proprietário
1624     para rodar no GNU/Linux, e isso *não* é uma contribuição para nossa
1625     comunidade. Mas, a IBM está juntando tudo [num pacote só]. Uma parte disse
1626     poderá ser para publicidade, que, é em parte uma contribuição, mesmo que
1627     parcialmente errado. Assim, é uma situação complicada. Parte do que estão
1628     fazendo é um contribuição e parte não é. E parte é de certa forma, mas não
1629     exatamente. E não dá para juntar tudo isso e pensar:"Nossa! Puxa! um bilhão de
1630     dólares da IBM." [Risos] Isso é simplificar demais.
1631    
1632     PERGUNTAS: Você pode falar um pouco mais sobre as idéias presentes na licença
1633     pública geral?
1634    
1635     STALLMAN: Bem, este é o -- desculpe, estou respondendo a pergunta dele agora.
1636     [Risos]
1637    
1638     SCHONBERG: Você quer reservar algum tempo mais para a coletiva de imprensa? Ou
1639     quer continuar aqui?
1640    
1641     STALLMAN: Quem está aqui para a coletiva de imprensa? Não muita gente da
1642     imprensa. Ah, três -- OK. Dá para segurar se nós -- seu eu continuar
1643     respondendo as perguntas de todos por mais dez minutos? OK. Bem, vamos
1644     continuar respondendo as perguntas de todos.
1645    
1646     Bem, a idéia presente na GNU GPL? Parte dela é que eu queria proteger a
1647     liberdade da comunidade contra o fenômeno que eu descrevi sobre o X Windows,
1648     que aconteceu com outros programas livres também. De fato, quando pensava sobre
1649     esta questão, o X Windows não tinha sido lançado ainda. Mas tinha visto este
1650     problema acontecer em outros programas livres. Por exemplo, o TeX. Queria
1651     garantir que os usuários todos tivessem liberdade. Doutro modo, eu pensava que
1652     pudesse escrever um programa, e talvez muita gente usasse o programa, mas não
1653     teriam liberdade. E daí veja que problema?!
1654    
1655     Mas, a outra questão em que estava pensando era: eu quero dar à comunidade o
1656     sentimento de que não somos capacho -- um sentimento de que não éramos presas
1657     de nenhum parasita que se misturasse com a gente. Se você não usa copyleft,
1658     você essencialmente está dizendo: [falando baixinho] "Leve meu código. Faça o
1659     que quiser. E não digo não". Assim, qualquer um pode vir e dizer: [falando bem
1660     firme] "Ah, eu quero fazer uma versão proprietária disso. Vou pegar isso". E
1661     então, provavelmente, fazem alguns aperfeiçoamentos. Estas versões
1662     proprietárias podem ter apelo para os usuários, e substituir as versões
1663     livres. E daí veja o que você fez! Você fez fez uma doação para um projeto de
1664     software proprietário!
1665    
1666     E quando as pessoas vêem o que está acontecendo -- quando as pessoas vêem:
1667     "outras pessoas pegam o que faço e nem sequer me devolvem", isso pode ser
1668     desmoralizante. E, isto não é só especulação. Eu tinha visto isso acontecer.
1669     Isso foi parte do que aconteceu, fazendo desaparecer a antiga comunidade à
1670     qual eu pertencia nos anos 70. Algumas pessoas passara a não ser mais
1671     cooperativas. E achávamos que elas estavam lucrando com isso. Elas certamente
1672     agiam como se estivessem lucrando. Mas percebemos que elas recebiam
1673     cooperação, mas não davam contrapartida. E não havia nada que pudéssemos
1674     fazer. Foi muito desencorajador. Nós, os que não gostávamos dessa tendência,
1675     até discutimos o assunto e não conseguíamos apresentar uma idéia para
1676     impedir isso.
1677    
1678     Assim, a GPL foi pensada para impedir isso. Ela diz: "Sim, você está convidado
1679     a se *unir* à comunidade e usar este código. Você pode usá-lo para fazer todo
1680     o tipo de trabalho. Mas, se você lançar uma versão modificada, você tem de
1681     lançá-la *para* nossa comunidade, como parte de nossa comunidade -- como parte
1682     do mundo livre".
1683    
1684     Então, de fato, ainda há muitos modos de as pessoas se beneficiarem de nosso
1685     trabalho e não contribuir. Por exemplo, você não é obrigado a escrever nenhum
1686     software. Muitas pessoas usam o GNU/Linux, e não escrevem software. Ninguém
1687     exige que você tenha de fazer algo para nós. Mas se fizer certas coisas, você
1688     tem de contribuir com ela. Isso significa que nossa comunidade não é capacho.
1689     E acho que isso ajudou a dar às pessoas a força para sentir: "Sim, não seremos
1690     simplesmente pisoteados por todo mundo. Seremos capazes de resistir a isso".
1691    
1692     PERGUNTA: Sim, minha pergunta era, considerando software livre mas não com
1693     copyleft. Como todo mundo pode pode pegá-lo e fazê-lo proprietário, não é
1694     possível pegá-lo, e fazer mundanças e lançar a coisa toda sob GPL?
1695    
1696     STALLMAN: Sim, é possível.
1697    
1698     PERGUNTA: Então, isso faria todas as cópias daí serem GPL?
1699    
1700     STALLMAN: Deste ramo em diante. Mas veja por que não fazemos isso.
1701    
1702     PERGUNTA: Hmm?
1703    
1704     STALLMAN: Veja por que normalmente não fazemos isso. Deixe-me explicar.
1705    
1706     QUESTION: OK, sim.
1707    
1708     STALLMAN: Poderíamos, se quiséssemos, pegar o X Windows, e fazer uma versão
1709     coberta pela GPL, e fazer mudanças nele. Mas, mas há um grupo muito maior de
1710     pessoas trabalhando na melhoria do X Windows e *não* tornando-o GPL. Assim, se
1711     fizéssemos isso, estaríamos produzindo um fork [bifurcação na linha de
1712     desenvolvimento]. E não é um tratamento muito legal. E, eles *são* parte de
1713     nossa comunidade, contribuindo com nossa comunidade.
1714    
1715     Segundo, isso seria um tiro pela culatra, porque eles estão fazendo um
1716     trabalho muito maior no X que nós faríamos. Assim, nossa versão seria inferior
1717     à deles, e as pessoas não iriam querer usá-lo, o que significa: por que se dar
1718     ao trabalho?
1719    
1720     PERGUNTA: Mmm hmm.
1721    
1722     STALLMAN: Assim, quando um pessoa escreve algum melhoramento do X Windows, o
1723     o que eu digo que essa pessoa deveria fazer é: cooperar com a Equipe de
1724     Desenvolvimento do X. Envie a eles e deixe que usem desse modo. Porque eles
1725     *estão* desenvolvendo um parte muito importante do software livre. É bom para
1726     nós cooperar com eles!
1727    
1728     PERGUNTA: Exceto, considerando o X, em particular, há mais ou menos dois anos,
1729     O Consórcio X que estava bem mergulhado no código aberto "não livre"...
1730    
1731     STALLMAN: Bem, na realidade *não era* código aberto. Não era código aberto,
1732     mesmo. Eles podem ter dito que era. (Não me lembro se disseram isso ou não.)
1733     Mas não era código aberto.
1734    
1735     Era restrito. Você poderia distribuir comercialmente, eu acho. Ou não poderia
1736     distribuir comercialmente a versão modificada, ou algo do tipo. Havia uma
1737     restrição considerada inaceitável tanto pelo Movimento de Software Livre
1738     quanto pelo Movimento de Código Aberto.
1739    
1740     E sim, é aberto para um uso que a licença "não copyleft" permite. De
1741     fato, o Consórcio X; eles têm uma política muito rígida. Eles dizem: "Se seu
1742     programa tiver copyleft mesmo que seja um pouquinho, não o distribuiremos de
1743     jeito nenhum. Não vamos colocá-lo em nossa distribuição." Assim, muita gente
1744     foi pressionada a não usar copyleft. E o resultado foi que todo o software
1745     dessa gente estava por aí, mais tarde. Quando as mesmas pessoas que tinham
1746     pressionado o desenvolvedor a ser permissivo demais, o pessoa do X depois
1747     disse: "Muito bem. Agora vamos colocar restrições", o que não foi muito ético
1748     da parte deles.
1749    
1750     Mas, dada a situação, não iríamos querer gastar os recursos para manter uma
1751     versão alternativa do X coberta pela GPL. E não faria sentido nenhum fazer
1752     isso. Há muitas outras coisa que precisamos fazer. Vamos fazê-las então. E
1753     podemos cooperar com os desenvolvedores do X.
1754    
1755     PERGUNTA: Você tem um comentário: o GNU é uma marca registrada? E é possível
1756     incluir como parte da Licença Geral Pública [GPL] GNU marcas registradas?
1757    
1758     STALLMAN: Estamos, na realidade, registrando a marca GNU. Mas isso não teria
1759     nada a ver com isso. É uma longa história explicar por quê.
1760    
1761     PERGUNTA: Você poderia exigir que a marca registrada fosse apresentada em
1762     programas cobertos pela GPL.
1763    
1764     Não, não acho. As licenças cobrem programas individuais. E, quando um dado
1765     programa é parte do projeto GNU, ninguém está mentido. O nome do sistema como
1766     um todo, é uma questão diferente. E isto é um detalhe. Não vale a pena
1767     discutir adiante.
1768    
1769     PERGUNTA: Se houvesse um botão, que você, pressionando, forçasse
1770     todas as empresas a liberar o software deles você o pressionaria?
1771    
1772     STALLMAN: Bem, eu o usaria para software publicado. Você sabe, eu acho que as
1773     pessoas têm o direito de escrever programas privados, e usá-los. E isso inclui
1774     as empresas. É uma questão de privacidade. E é verdade, pode haver momentos em
1775     que seja errado fazer isso, exemplo, se for tremendamente útil para a
1776     humanidade e você está segurando isso da humanidade, o que é um erro, mas esse
1777     é um tipo de erro diferente. É um tipo diferente de questão, apesar de ser da
1778     mesma área.
1779    
1780     Mas sim, eu acho que todo o software publicado deveria ser software livre. E
1781     lembrem-se de que, quando o software não é livre, é por causa da intervenção
1782     do Governo. O Governo está intervindo para fazê-lo não livre. O Governo está
1783     criando poderes legais especiais para dar aos donos dos programas, assim eles
1784     podem mandar a polícia nos impedir de usar os programas de certas maneiras. Eu
1785     certamente gostaria de dar fim a isso.
1786    
1787     SCHONBERG: A apresentação de Richard invariavelmente gerou enorme quantidade
1788     de energia intelectual. Eu sugeriria que parte dela deva ser dirigida para
1789     usar e possivelmente escrever software livre.
1790    
1791     Temos de encerrar o evento, rapidamente. Eu quero dizer que Richard injetou
1792     numa profissão, conhecida do público em geral pela "nerditude apolítica"
1793     terminal, um nível de discussão política e moral, penso eu, sem precedentes em
1794     nossa profissão. E devemos muito a ele por isso. Gostaria de avisar a todos
1795     que haverá um intervalo.
1796    
1797     [Aplausos]
1798    
1799     STALLMAN: Vocês estão livres para sair quando quiserem, tá? [Risos] Não os
1800     estou mantendo prisioneiros aqui.
1801    
1802     [A platéia sai...]
1803    
1804     [Conversas paralelas....]
1805    
1806     STALLMAN: Só mais uma coisa. Nosso site é : www.gnu.org

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