Eu tive um pesadelo.
Sonhei (afinal os pesadelos também são sonhos, só que terríveis) que uma garoa fina começou a cair no Morumbi, antes do jogo começar. Naqueles detalhes sórdidos e cruéis que não sei como meu inconsciente consegue criar, o placar eletrônico anunciou que Paulo César de Oliveira seria o árbitro da partida. Um pouco depois disso, criando o enredo perfeito de suspense, o mesmo placar eletrônico anunciou o nome de Willian José entre os titulares do São Paulo. Isso somado aos nomes “Piris” e “Paulo Miranda” resultaram em um calafrio percorrendo a minha alma, mas eu sou corajoso (pelo menos nos pesadelos eu sempre sou corajoso) e pensei “esse jogo é nosso, pode jogar qualquer um que não vai ter erro, hoje é nosso”.
O inconsciente tenta nos dar pistas de que estamos sonhando, só que na hora a gente não percebe. Acha estranho, mas não desconfia de que seja tudo invenção da nossa própria cabeça. Nesse pesadelo de hoje, a pista foi a cor do uniforme do Santos – azul? Agora, acordado (já me belisquei pra ter certeza), eu vejo como fui bobo em não perceber logo o ardil criado pela minha mente e despertar de uma vez. Mas na hora não percebi, e só continuei sonhando. Até então ainda era sonho. Um sonho esquisito, mas só um sonho. Paulo César de Oliveira autorizou o início de jogo e a bola rolou. Daí o sonho virou pesadelo. Antes que os times pudessem se estudar, Paulo Miranda dá um carrinho dento da área e o árbitro marca pênalti. Mais uma tentativa do inconsciente para me fazer acordar – afinal, apenas em pesadelos um zagueiro titular do São Paulo Futebol Clube pode cometer um pênalti infantil daqueles logo aos 3 minutos de uma decisão. Se fosse sonho Dênis ia pegar, mas era pesadelo mesmo e Neymar marcou.
Como num filme de terror macabro, a esperança foi sendo alimentada, com volume de jogo, bola na trave, ameaça, postura ofensiva. Quando parecia que ia, Paulo Miranda falhou novamente, ficando travado na frente de Neymar, que dominou, invadiu a área como quis e ampliou o placar. O mesmo Neymar que depois quase quebrou a coluna de Piris, dando 5 dribles seguidos até ser parado com falta. Outra pista – afinal, um lateral direito titular do São Paulo Futebol Clube não pode ser driblado 5 vezes seguidas, nem por Neymar, nem por Garrincha, nem por Pelé. Eu queria acordar logo, mas ainda tinha o segundo tempo. Eu ainda precisava ser torturado pela má pontaria de Willian José. Minha esperança ainda precisava ser alimentada pelo gol, pelo volume de jogo, pela perspectiva do empate, para logo depois desmoronar completamente com um frango de Dênis após chute do onipresente Neymar. Eu queria que acabasse logo (a gente sempre quer que os pesadelos acabem logo), mas ainda precisava ver Fernandinho perdendo gol cara a cara, ainda precisava ver Cícero ser expulso após fazer falta em... Neymar. Ainda precisava ouvir, sem força ou vontade alguma de reação, a torcida do Santos gritar “eliminado”, pelo terceiro ano consecutivo.
Finalmente eu acordei, porque uma hora a gente sempre acorda. E a vida continuou, porque ela sempre continua. E já voltei a sonhar de novo, porque a gente sempre volta a sonhar. Porque a gente só vive enquanto sonha. E o sonho agora é vencer a Ponte Preta, é vencer a Copa do Brasil, é ver Luís Fabiano em campo e ser decisivo quando o São Paulo mais precisar dele, é ver Lucas chamar a responsabilidade do jogo.
O sonho é ver o São Paulo jogar.
Mas quando e enquanto os nomes “Paulo Miranda”, “Piris” e “Willian José” aparecerem no placar eletrônico, sempre ficarei na dúvida se é sonho ou pesadelo.
Filosofia de bar, literatura barata, poesias e poemas (seja lá qual for a diferença), um pouco de futebol, cinema, música, jogos, religião, política, a vida e demais coisas sem importância.
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30 de abril de 2012
18 de março de 2012
Tuas vitórias me dão força pra viver
Hoje eu vi um desses jogos. Aliás, hoje eu vivi um desses jogos. Ver, a gente vê na TV, no estádio a gente vive. Pode parecer igual à primeira vista, mas é completamente diferente, é outra coisa, é outro esporte, outra emoção.
Alguns podem dizer que “não valia nada”. É uma atitude comum a todas as torcidas (do meu time inclusive) - menosprezar as vitórias alheias. “Era só um joguinho de classificação no paulistinha, não muda nada”. Uma afirmação verdadeira, mas equivocada. Pois está para nascer o dia em que São Paulo e Santos vão pisar no gramado do Morumbi ou da Vila e jogar um jogo que não valerá nada. São seis libertadores e cinco mundiais entrando em campo. É o maior e mais lendário time de todos os tempos contra o clube mais jovem e mais vencedor do Brasil. É muita coisa, muita rivalidade, muita tradição. Tenha certeza de que nunca um jogo desses será disputado “não valendo nada”.
O histórico é desfavorável ao São Paulo, nos últimos anos o Tricolor tem apanhado feio do Peixe. Alguns jogos memoráveis saíram nesse período – pelas semifinais do Paulista 2010, o Santos, então jogando um futebol de encher os olhos, com Robinho, Neymar, André, Marquinhos, Wesley, Arouca e companhia, veio ao Morumbi e jogou o primeiro tempo como quis, abriu 2 x 0 e viu um jogador do São Paulo ser expulso. Voltou para o segundo tempo e quase fez o terceiro. O São Paulo parecia entregue, mas buscou o empate improvável e heroico, com Hernanes e Dagoberto. Quando o resultado parecia decretado, Durval subiu mais que todo mundo e fez o 3 x 2 que dava ainda mais vantagem ao time da Vila (que acabou vencendo a segunda partida por 3 x 0). No campeonato brasileiro do mesmo ano, o Santos veio de novo ao Morumbi e logo de cara abriu o placar. Parecia que seria mais uma decepção para a torcida tricolor, mas em 20 minutos, Dagoberto virou o jogo para 3 x 1. Logo depois do terceiro gol São Paulino, o Santos fez o seu segundo, como quem diz – “não está nada decidido”. E não estava mesmo. No segundo tempo, o São Paulo, de novo com um a menos, se fechou na defesa, mas acabou cedendo o empate. 3 x 3. O Santos pressionava, buscando a virada, mas quem marcou foi o São Paulo, no final, com Jean, após rebote do goleiro na cabeçada de Ricardo Oliveira. Três pontos que não serviram para nada no final do campeonato, mas uma tarde de vitória inesquecível que valeu muito para quem acompanhou o jogo e desceu a rampa do Morumbi cantando o hino igual criança.
Hoje o Santos não possui mais um futebol de encher tanto os olhos, como na época de Robinho. Mas é o atual campeão da América, o atual campeão paulista e o favorito em tudo o que disputa nesse primeiro semestre. O time que tem dois jogadores completamente fora do comum, que decidem jogos cruciais em um toque, em um drible. O Santos tem Ganso. E o Santos tem Neymar. O São Paulo ainda é um time em formação, que passou por uma grande reformulação e melhorou, mas que ainda precisa melhorar muito.
Mas é o São Paulo quem manda no jogo, como tem que ser quando joga no Morumbi, seja contra quem for. O Tricolor abre o placar com Casemiro, logo no início. E continua indo pra cima, tocando a bola, marcando duro, criando chances. Foram pelo menos quatro chances claras para ampliar o placar no primeiro tempo. Mas a bola não entrou e o placar de 1 x 0 persistiu.
Na volta do segundo tempo, o Santos busca o empate após cobrança de escanteio. Como o São Paulo pode tomar tantos gols de bola aérea? Não sei, só sei que toma. Para piorar a situação, Rodrigo Caio é expulso. Aliás, foi a expulsão mais cantada do futebol mundial em todos os tempos (tá, talvez eu esteja exagerando, mas que foi cantada, isso foi). As 30 mil pessoas que estavam no estádio sabiam que ele seria expulso se continuasse em campo, marcando o Neymar no mano a mano. Todo mundo viu, menos o Leão. Jogo empatado e o Santos indo pra cima, com sua maior estrela, com a sua maior alegria, o menino gênio, o Pelézinho - Neymar. Só que não era dia dele. Quem foi ver Neymar, viu Lucas. Hoje o garoto fez o que falta para que ele seja craque – chamou a responsabilidade do jogo. Pediu e brigou pela bola, deu ombrada, botinada e arrancada. Tabelou com Luís Fabiano que invadiu a área e foi derrubado pelo goleiro. Na cobrança, ele próprio, o dono da camisa nove, o Fabuloso, o Fabigol, o filho querido que voltou pra casa. E ele faz o que nasceu pra fazer - a rede balançar, a arquibancada tremer e a torcida gritar – LUÍS FABIANOOOOOOO.
Só que o Santos é o time do amor. E o Santos tem Neymar. Mesmo em um dia ruim, ele é melhor que quase todos os outros. Casemiro ainda facilita a vida do craque, perdendo uma bola na defesa. Neymar invade a área, dribla o goleiro e empata a partida novamente.
Tensão, resultado aberto. O São Paulo está visivelmente cansado, todos correram demais para suprir a falta de um jogador. O Santos toca a bola, inverte o jogo, coloca o São Paulo na roda, esperando o momento certo de dar o bote. O Santos confia em sua estrela e sua torcida canta, empurrando o time pra cima. Afinal, o Santos é o melhor time do Brasil, o Santos é o time da virada.
Mas o São Paulo é o time da fé.
E às vezes, tudo o que a gente precisa é um pouco de fé. Lucas numa tarde inspirada também ajuda bastante. O garoto parte pra cima, deixando seis jogadores santistas pra trás (talvez tenha exagerado um pouco aqui também, mas quem se importa?), invade a área e cruza para Cortez. O nosso jogador mais regular, o melhor lateral esquerdo em atuação no Brasil, o segundo melhor em campo, com o gol aberto, chuta de direita e a bola vai na trave. Caprichosamente, volta nos pés de Lucas. O gol tinha que ser dele, o destino queria isso. E ele não decepcionou, tocou rasteiro e fez a rede balançar, a arquibancada tremer de novo e um monte de gente tirar a camisa pra rodar no alto enquanto cantava o hino. Essas bobagens de torcedor.
Daí até o apito final eu não vi quase mais nada, porque estava entretido demais rodando a camisa e cantando o hino.
Saboreando o gosto doce de vencer uma grande partida numa tarde de Domingo.
o que sinto vem da alma,
do fundo do coração.
Ô Tricolor eu te dou a minha vida,
Tuas vitórias me dão força pra viver,
Ô Tricolor já selei o meu destino,
Vou estar sempre contigo,
A vida inteira até morrer.
E é por isso que eu estou aqui,
como eu te amo Tricolor do Morumbi.."
12 de fevereiro de 2012
Até quando?
Depois da final do Paulista de 91, quando venceu o Corinthians com 3 gols de Raí (e um pênalti perdido por Wilson Mano), o São Paulo emplacou uma série de vitórias contra o rival. Me lembro que o placar de 3 x 0 se repetiu pelo menos mais duas vezes nessa época. Era uma festa. Em 92 ou 93, não vou me lembrar exatamente o ano, ouvi uma dessas partidas pelo rádio. O Corinthians começou melhor, pressionou, colocou o São Paulo na roda (bom, pelo menos o narrador descreveu assim) e conseguiu um pênalti, antes dos 20 do primeiro tempo (eu acho). Daí na cobrança, Zetti defendeu (na verdade não sei se o chute foi pra fora, não lembro nem se era o Zetti o goleiro, mas na minha memória está gravado que o Zetti defendeu o pênalti e isso me basta). Enquanto eu comemorava como uma criança (afinal eu era uma criança) dentro do Chevette da minha mãe, o comentarista do rádio disse a seguinte frase (essa foi assim mesmo, tenho certeza) – “São Paulo x Corinthians é igual filme de mocinho contra bandido... o bandido vai lá, prende o mocinho, conta todo o plano e perde a chance de acabar logo com a história. Daí o mocinho se solta e acaba vencendo... e lá vem São Paulo...”. E o São Paulo foi para o ataque e fez um, fez dois, fez três. Bom, não sei se fez três, mas ganhou, isso eu tenho certeza. O Corinthians parecia enfrentar uma maldição quando jogava contra o Tricolor.
E eu vibrava dentro do Chevettão.
Com a doce ilusão que aquilo ia durar para sempre, que o São Paulo nunca mais perderia para o Corinthians, que eles iriam cair para a segunda divisão, falir, penhorar a Fazendinha e fechar as portas do clube. Mas o futebol é inexorável. E cíclico. “Eles” acabaram caindo para a segunda divisão, mas (infelizmente) não faliram e não fecharam as portas da Fazendinha. E hoje quem encara um tipo de maldição somos nós. Jogadores chave que se machucam, são convocados ou suspensos antes do clássico. Apatia, desatenção e erros infantis da nossa defesa, arbitragens que adoram mostrar cartões para os nossos jogadores enquanto demonstram uma resistência enorme em amarelar o outro lado. Jorge Henrique jogando igual Lionel Messi e Danilo igual Zidane. Na gíria do futebol, contra nós – “tudo dá certo pros caras”. No único jogo nos últimos 4 anos em que parecia que tudo daria certo pra gente, ainda quase deu errado. Rogério faz o 100º gol, um deles é expulso, a goleada estava desenhada. Se é o inverso tenho certeza que aquele jogo acabava 4 x 0. No mínimo. Daí tomamos um gol besta e o Dagoberto é expulso. Quase deu tudo errado, mas no final deu tudo certo.
E foi só.
Hoje a maldição se fez valer novamente. Pior do que isso, vimos que apesar de alguns pontos questionáveis no decorrer da partida, apesar da zica do nosso principal reforço da temporada chutar um pênalti pra cima, a diferença técnica, emocional e principalmente de entrosamento entre os times ainda é grande. Muito grande. O Corinthians controlou toda a partida, sobrou em campo e indiscutivelmente mereceu vencer. Isso que me deixa mais puto, não conseguir jogar de igual pra igual contra os caras - apelar pra chutão toda hora, ver Lucas isolado e se escondendo do jogo, bate cabeça na defesa, nenhum jogador com personalidade para chamar o jogo e tentar resolver. Ver jogador batendo no outro sem bola na frente do juiz e pior, já que era pra apelar e tomar vermelho, deveria ter rachado aquele baixinho folgado no meio.
Essa última parte foi escrita com o “modo torcedor” ligado no máximo. Acho que todo mundo percebeu, né? Enfim, voltando à crônica. Hoje além de tudo, meu filho chorou pela primeira vez por causa do São Paulo. E tenho certeza que ainda vai chorar e rir muitas vezes. Porque o futebol é cíclico.
E eu já não vejo a hora desse ciclo maldito acabar.
E eu vibrava dentro do Chevettão.
Com a doce ilusão que aquilo ia durar para sempre, que o São Paulo nunca mais perderia para o Corinthians, que eles iriam cair para a segunda divisão, falir, penhorar a Fazendinha e fechar as portas do clube. Mas o futebol é inexorável. E cíclico. “Eles” acabaram caindo para a segunda divisão, mas (infelizmente) não faliram e não fecharam as portas da Fazendinha. E hoje quem encara um tipo de maldição somos nós. Jogadores chave que se machucam, são convocados ou suspensos antes do clássico. Apatia, desatenção e erros infantis da nossa defesa, arbitragens que adoram mostrar cartões para os nossos jogadores enquanto demonstram uma resistência enorme em amarelar o outro lado. Jorge Henrique jogando igual Lionel Messi e Danilo igual Zidane. Na gíria do futebol, contra nós – “tudo dá certo pros caras”. No único jogo nos últimos 4 anos em que parecia que tudo daria certo pra gente, ainda quase deu errado. Rogério faz o 100º gol, um deles é expulso, a goleada estava desenhada. Se é o inverso tenho certeza que aquele jogo acabava 4 x 0. No mínimo. Daí tomamos um gol besta e o Dagoberto é expulso. Quase deu tudo errado, mas no final deu tudo certo.
E foi só.
Hoje a maldição se fez valer novamente. Pior do que isso, vimos que apesar de alguns pontos questionáveis no decorrer da partida, apesar da zica do nosso principal reforço da temporada chutar um pênalti pra cima, a diferença técnica, emocional e principalmente de entrosamento entre os times ainda é grande. Muito grande. O Corinthians controlou toda a partida, sobrou em campo e indiscutivelmente mereceu vencer. Isso que me deixa mais puto, não conseguir jogar de igual pra igual contra os caras - apelar pra chutão toda hora, ver Lucas isolado e se escondendo do jogo, bate cabeça na defesa, nenhum jogador com personalidade para chamar o jogo e tentar resolver. Ver jogador batendo no outro sem bola na frente do juiz e pior, já que era pra apelar e tomar vermelho, deveria ter rachado aquele baixinho folgado no meio.
Essa última parte foi escrita com o “modo torcedor” ligado no máximo. Acho que todo mundo percebeu, né? Enfim, voltando à crônica. Hoje além de tudo, meu filho chorou pela primeira vez por causa do São Paulo. E tenho certeza que ainda vai chorar e rir muitas vezes. Porque o futebol é cíclico.
E eu já não vejo a hora desse ciclo maldito acabar.
23 de janeiro de 2012
Novos Velhos Amigos
Ir ao Morumbi assistir o primeiro jogo da temporada é como voltar para casa e rever velhos amigos.
Novos velhos amigos. Algumas caras novas, outras já conhecidas, mas a camisa é a mesma e isso é tudo o que importa, é tudo o que fica. O uniforme branco, com as duas faixas, uma vermelha outra preta, e o escudo. O escudo mais vencedor do Brasil na camisa que impõe respeito onde quer que seja vista. No Morumbi não é só respeito, no Morumbi ela coloca medo, terror. A camisa que me encantou desde a primeira vez que vi o esquadrão tricolor entrar em campo quando era pequeno, há sei lá quantos anos. Não importa, só o que importa é a camisa branca, a grama verde, a garoa cinza que cai no Morumbi e todas as lembranças e sonhos que isso traz à memória.
E ontem era Domingo e eu fui lá no Morumbi, ver o primeiro jogo da temporada. A primeira impressão foi boa, muito boa. Mas no futebol, a impressão que fica não é a primeira e sim a última. Uma excelente campanha pode ser completamente esquecida e destruída por um jogo ruim, por um gol inesperado, por uma bola que não entra. Um time pode ser o melhor do mundo em uma semana e pipoqueiro na outra, ou passar de "time sem vergonha" a "pintou o campeão" em um único jogo. O futebol é assim, injusto e belo como a vida.
Mas agora ainda estou com a primeira impressão, porque até quarta-feira ela ainda é a última e como já disse, ela foi boa. Também, após uma temporada lastimável, onde a apatia e falta de comprometimento de muitos jogadores nos renderam vergonhosas eliminações, não teria muito como piorar. Mas o time surpreendeu, de maneira positiva. Não pela goleada, mas pela vontade demonstrada, pela postura. Se em lembranças recentes nossos jogadores fugiam das divididas e andavam em campo perdendo um jogo decisivo, agora vimos um time que dá carrinho aos 45 do segundo tempo com 4 x 0 a favor. Vimos um time que continua indo pra cima e se impondo, com 1 x 0, 2 x 0, 3 x 0, 4 x 0. Vimos jogadores focados, disputando cada bola, cada dividida. Vimos um time tentando jogar com a bola no chão, controlando o jogo, como um time grande deve fazer. Como o São Paulo deve fazer. Sempre. Vimos um Lucas infernal, um Luís Fabiano com fome de gol, um Cortês com técnica e vontade, um Wellington guerreiro, um Rodolpho sério e comprometido. Vimos um TIME. Parece o básico, parece ridículo dizer isso, mas fazia tempo que eu não via o São Paulo jogar como um time. Era só chutão, jogadas individuais, cabeças baixas.
Continuaremos com o mesmo empenho? Foi só fogo de palha? Como o time vai se comportar na adversidade - terá forças para reverter o placar? Como serão os clássicos - vamos atropelar ou pipocar?
O espírito mudou, isso foi bem nítido. Mas é cedo para se dizer qualquer coisa, é cedo para avaliar. O futebol não é uma ciência exata e se fosse não teria a mesma graça. E também não gosto muito de me deixar levar pelo sentimento gerado por uma partida isolada, afinal - "quanto menos afirmações um homem fizer, menos tolo ele vai parecer depois". Mas como também não gosto de ficar em cima do muro, vou dar a minha opinião/palpite, com muita cautela é claro - "PINTOU O CAMPEÃO PORRA!!!!".
AVANTE MEU TRICOLOR!
Novos velhos amigos. Algumas caras novas, outras já conhecidas, mas a camisa é a mesma e isso é tudo o que importa, é tudo o que fica. O uniforme branco, com as duas faixas, uma vermelha outra preta, e o escudo. O escudo mais vencedor do Brasil na camisa que impõe respeito onde quer que seja vista. No Morumbi não é só respeito, no Morumbi ela coloca medo, terror. A camisa que me encantou desde a primeira vez que vi o esquadrão tricolor entrar em campo quando era pequeno, há sei lá quantos anos. Não importa, só o que importa é a camisa branca, a grama verde, a garoa cinza que cai no Morumbi e todas as lembranças e sonhos que isso traz à memória.
E ontem era Domingo e eu fui lá no Morumbi, ver o primeiro jogo da temporada. A primeira impressão foi boa, muito boa. Mas no futebol, a impressão que fica não é a primeira e sim a última. Uma excelente campanha pode ser completamente esquecida e destruída por um jogo ruim, por um gol inesperado, por uma bola que não entra. Um time pode ser o melhor do mundo em uma semana e pipoqueiro na outra, ou passar de "time sem vergonha" a "pintou o campeão" em um único jogo. O futebol é assim, injusto e belo como a vida.
Mas agora ainda estou com a primeira impressão, porque até quarta-feira ela ainda é a última e como já disse, ela foi boa. Também, após uma temporada lastimável, onde a apatia e falta de comprometimento de muitos jogadores nos renderam vergonhosas eliminações, não teria muito como piorar. Mas o time surpreendeu, de maneira positiva. Não pela goleada, mas pela vontade demonstrada, pela postura. Se em lembranças recentes nossos jogadores fugiam das divididas e andavam em campo perdendo um jogo decisivo, agora vimos um time que dá carrinho aos 45 do segundo tempo com 4 x 0 a favor. Vimos um time que continua indo pra cima e se impondo, com 1 x 0, 2 x 0, 3 x 0, 4 x 0. Vimos jogadores focados, disputando cada bola, cada dividida. Vimos um time tentando jogar com a bola no chão, controlando o jogo, como um time grande deve fazer. Como o São Paulo deve fazer. Sempre. Vimos um Lucas infernal, um Luís Fabiano com fome de gol, um Cortês com técnica e vontade, um Wellington guerreiro, um Rodolpho sério e comprometido. Vimos um TIME. Parece o básico, parece ridículo dizer isso, mas fazia tempo que eu não via o São Paulo jogar como um time. Era só chutão, jogadas individuais, cabeças baixas.
Continuaremos com o mesmo empenho? Foi só fogo de palha? Como o time vai se comportar na adversidade - terá forças para reverter o placar? Como serão os clássicos - vamos atropelar ou pipocar?
O espírito mudou, isso foi bem nítido. Mas é cedo para se dizer qualquer coisa, é cedo para avaliar. O futebol não é uma ciência exata e se fosse não teria a mesma graça. E também não gosto muito de me deixar levar pelo sentimento gerado por uma partida isolada, afinal - "quanto menos afirmações um homem fizer, menos tolo ele vai parecer depois". Mas como também não gosto de ficar em cima do muro, vou dar a minha opinião/palpite, com muita cautela é claro - "PINTOU O CAMPEÃO PORRA!!!!".
AVANTE MEU TRICOLOR!
18 de dezembro de 2011
Gol do Barcelona...
Hoje eu acordei cedo, para ver um jogo de futebol. Não qualquer jogo, era a final do mundial entre aquele que há dois anos é o melhor time do Brasil e aquele que há 3 anos é o melhor time do mundo.
Sim, já faz algum tempo que o Santos se destaca como a melhor equipe brasileira. Quando tinha Robinho, André, Wesley, Arouca, Marquinhos, Ganso e Neymar em grande fase, o Santos jogava o fino da bola, ganhava de qualquer adversário no Brasil e ganhava fácil, ganhava bem, indo pra cima, tocando a bola no chão, driblando, dando show. Algumas peças saíram, Robinho levou sua genialidade para o Milan, mas o principal jogador ficou - Neymar. O garoto gênio joga demais, flutua em campo, dribla, toca, finaliza, decide jogos e campeonatos. Com elencos fortes, com a estrela de sua jóia rara brilhando cada vez mais e com a camisa mais tradicional do futebol brasileiro, a camisa que um dia foi vestida por Pelé no maior time de todos os tempos, o Santos foi ganhando tudo e encantando. Ganhou o Paulista, a Copa do Brasil, ganhou a América e foi ao Japão tentar ganhar o mundo.
Do outro lado, o Barcelona. O time que as crianças gostam de jogar no videogame, o time que todos dizem ser o melhor, o time que ganha tudo há 3 anos, que massacra seus adversários com no mínimo 70% de posse de bola em todo jogo. O time onde joga Lionel Messi. E onde jogam Xavi, Iniesta, Daniel Alves, David Villa, Puyol. O time que todos se perguntam depois de ver jogar - "quem pode parar esses caras?". Bom, o Santos pode, pensava eu. Jogo é jogo, futebol se decide em campo, não no papel. No futebol, ninguém morre na véspera. Pelo menos não o Santos Futebol Clube, tricampeão da Libertadores, bicampeão Mundial. Não o Santos de tantas glórias e tanta tradição.
E foi esse jogo que acordei cedo para assistir. E já tinha o título da minha crônica na cabeça - "O jogo do século". Totalmente clichê, mas era o que eu estava esperando ver. Um jogo épico, mágico. Imaginava ver Neymar entortando a coluna de Piqué e Messi deixando Durval sentado no chão. Esperava ver passes precisos de Iniesta e lançamentos geniais de Paulo Henrique Ganso. Esperava ver a raça de Puyol e Edu Dracena. Esperava ver gols de Borges e de Xavi, muitos gols, em uma grande disputa.
Mas com 5 minutos de jogo, percebi que não veria esse jogo. Sequer veria uma partida de futebol. Porque o Barcelona engana o mundo há algum tempo, jogando outro esporte. Afinal, como um time pode acertar tantos passes? Como 11 jogadores podem jogar com tanta aplicação tática? Como podem correr tanto, preenchendo todos os espaços do campo e sufocar o adversário na defesa o tempo todo? Como podem fazer gols com tamanha naturalidade? Como um time de futebol pode jogar assim?
Depois do primeiro, um golaço de Messi, tive esperança que o Santos reagiria. Pensei que no meu texto falaria que os espanhóis acharam que estava ganho, mas se esqueceram que o Santos é o time da virada, que o Santos é o time do amor.
Mas não. Depois do primeiro veio o segundo e depois o terceiro. E o jogo já estava definido antes disso. Depois veio o quarto, poderia ter vindo o quinto, sexto... Neymar não jogou, o Santos não jogou. O Barcelona não deixou jogar. O Barcelona fez o que sabe fazer de melhor - deu show, encantou, mostrou que é possível jogar no ataque, sem depender de bola parada, mostrou como se joga bola. Aliás, nos lembrou como é que se joga bola. Quando nós esquecemos disso? Quando foi que nós brasileiros, renegamos nossa vocação agressiva e nos tornamos covardes retranqueiros?
E a pergunta que continua sem resposta, talvez simplesmente por não ter resposta - "quem pode parar esses caras?".
Eu achei que o Santos poderia.
Mas eu estava completamente enganado.
Sim, já faz algum tempo que o Santos se destaca como a melhor equipe brasileira. Quando tinha Robinho, André, Wesley, Arouca, Marquinhos, Ganso e Neymar em grande fase, o Santos jogava o fino da bola, ganhava de qualquer adversário no Brasil e ganhava fácil, ganhava bem, indo pra cima, tocando a bola no chão, driblando, dando show. Algumas peças saíram, Robinho levou sua genialidade para o Milan, mas o principal jogador ficou - Neymar. O garoto gênio joga demais, flutua em campo, dribla, toca, finaliza, decide jogos e campeonatos. Com elencos fortes, com a estrela de sua jóia rara brilhando cada vez mais e com a camisa mais tradicional do futebol brasileiro, a camisa que um dia foi vestida por Pelé no maior time de todos os tempos, o Santos foi ganhando tudo e encantando. Ganhou o Paulista, a Copa do Brasil, ganhou a América e foi ao Japão tentar ganhar o mundo.
Do outro lado, o Barcelona. O time que as crianças gostam de jogar no videogame, o time que todos dizem ser o melhor, o time que ganha tudo há 3 anos, que massacra seus adversários com no mínimo 70% de posse de bola em todo jogo. O time onde joga Lionel Messi. E onde jogam Xavi, Iniesta, Daniel Alves, David Villa, Puyol. O time que todos se perguntam depois de ver jogar - "quem pode parar esses caras?". Bom, o Santos pode, pensava eu. Jogo é jogo, futebol se decide em campo, não no papel. No futebol, ninguém morre na véspera. Pelo menos não o Santos Futebol Clube, tricampeão da Libertadores, bicampeão Mundial. Não o Santos de tantas glórias e tanta tradição.
E foi esse jogo que acordei cedo para assistir. E já tinha o título da minha crônica na cabeça - "O jogo do século". Totalmente clichê, mas era o que eu estava esperando ver. Um jogo épico, mágico. Imaginava ver Neymar entortando a coluna de Piqué e Messi deixando Durval sentado no chão. Esperava ver passes precisos de Iniesta e lançamentos geniais de Paulo Henrique Ganso. Esperava ver a raça de Puyol e Edu Dracena. Esperava ver gols de Borges e de Xavi, muitos gols, em uma grande disputa.
Mas com 5 minutos de jogo, percebi que não veria esse jogo. Sequer veria uma partida de futebol. Porque o Barcelona engana o mundo há algum tempo, jogando outro esporte. Afinal, como um time pode acertar tantos passes? Como 11 jogadores podem jogar com tanta aplicação tática? Como podem correr tanto, preenchendo todos os espaços do campo e sufocar o adversário na defesa o tempo todo? Como podem fazer gols com tamanha naturalidade? Como um time de futebol pode jogar assim?
Depois do primeiro, um golaço de Messi, tive esperança que o Santos reagiria. Pensei que no meu texto falaria que os espanhóis acharam que estava ganho, mas se esqueceram que o Santos é o time da virada, que o Santos é o time do amor.
Mas não. Depois do primeiro veio o segundo e depois o terceiro. E o jogo já estava definido antes disso. Depois veio o quarto, poderia ter vindo o quinto, sexto... Neymar não jogou, o Santos não jogou. O Barcelona não deixou jogar. O Barcelona fez o que sabe fazer de melhor - deu show, encantou, mostrou que é possível jogar no ataque, sem depender de bola parada, mostrou como se joga bola. Aliás, nos lembrou como é que se joga bola. Quando nós esquecemos disso? Quando foi que nós brasileiros, renegamos nossa vocação agressiva e nos tornamos covardes retranqueiros?
E a pergunta que continua sem resposta, talvez simplesmente por não ter resposta - "quem pode parar esses caras?".
Eu achei que o Santos poderia.
Mas eu estava completamente enganado.
4 de dezembro de 2011
O Campeão do Povo
Algumas pessoas não conseguem entender a paixão gerada pelo esporte. Algumas dessas pessoas dizem - "futebol não dá camisa pra ninguém". Sim, futebol não dá camisa pra ninguém, não põe comida na mesa, o time não paga as nossas contas no fim do mês. Mas não é só de camisa, arroz e feijão que se vive. De camisa, arroz e feijão se sobrevive. Viver a gente vive de paixão, de amor, de sonho, de sofrimento, de felicidade. E hoje ela, a felicidade, está estampada no rosto do povo. Hoje os fogos estão iluminando a noite fria, as buzinas tocam sem parar. Hoje não é Natal, nem Ano Novo. Não, a festa é muito maior.
Hoje o Corinthians foi campeão.
Poderia ter acabado na semana passada. O título antecipado coroaria a campanha espetacular. Poderia ter sido mais fácil, poderia ter sido sem sofrimento. Mas aí não teria sido Corinthians. O gol do Vasco contra o Fluminense no último minuto, adiou a festa, mas também a deixou melhor, muito melhor. Como foi repetido à exaustão durante a semana - "quis o destino que a decisão ficasse para o Dérbi". E não poderia haver desfecho mais apropriado para um campeonato como esse. O último jogo é o da consagração, o jogo que costuma ser lembrado e reprisado no futuro - nada melhor que seja contra o arqui-rival. Mas não é só essa partida que fica na memória. Esse foi apenas o último jogo de uma campanha épica que sagrou o time do povo campeão brasileiro.
O começo do campeonato foi arrebatador, quase perfeito, depois um período de instabilidade, com a liderança e a cabeça de Tite sendo ameaçada a cada rodada. Sofrimento, superação e uma arrancada final avassaladora. Essa é a história resumida. A história completa foi construída com jogos memoráveis - a goleada humilhante sobre o São Paulo, a virada contra o Vasco, as duas viradas contra o Atlético Mineiro, a vitória suada contra o Inter no Pacaembu, o empate heróico contra esse mesmo Inter no Beira-Rio. A grande virada contra o Flamengo no jogo que diziam ser a final antecipada, o empate contra o Vasco em São Januário no jogo que também diziam ser a final antecipada, a tensa vitória sobre o Atlético Paranaense quando o azar beijou a trave por duas vezes, a virada sobre o Avaí, as vitórias contra Ceará e Figueirense fora de casa nas últimas rodadas, o empate contra o Palmeiras - a expectativa acumulada durante a semana, a tensão da bola no travessão, a alegria do olé de Jorge Henrique, a briga, o grito de "é campeão".
O título é justo, merecido, o Corinthians é o melhor time do Brasil o Corinthians joga bem, joga bonito? O título é justo e merecido. Não importa se jogou bem ou mal, bonito ou feio. Ao Corinthians não é proibido jogar mal, dar de bico, se fechar na defesa, contar com a raça, o coração e o grito da torcida. Ao Corinthians só é proibido uma coisa - desistir. E em 101 anos de história isso ainda não aconteceu e a menos que muita coisa mude no mundo, tenho certeza que jamais acontecerá. Não importa se o Corinthians é ou não o melhor time. O Corinthians não precisa ser o melhor, assim como o povo que ele personifica, o Corinthians só precisa se superar, só precisa seguir em frente e reagir quando todos acham que ele está derrotado, quando todos o subestimam. E não houve time com maior poder de reação e superação nesse campeonato.
Amanhã o povo terá que acordar cedo e ir trabalhar como em toda Segunda-feira, afinal, futebol não dá camisa pra ninguém. Mas amanhã especialmente, o povo fará isso um pouco mais feliz, porque hoje o campeonato acabou e o vencedor foi aquele que do Brasil é o clube mais brasileiro, o time do povo.
O Corinthians.
Hoje o Corinthians foi campeão.
Poderia ter acabado na semana passada. O título antecipado coroaria a campanha espetacular. Poderia ter sido mais fácil, poderia ter sido sem sofrimento. Mas aí não teria sido Corinthians. O gol do Vasco contra o Fluminense no último minuto, adiou a festa, mas também a deixou melhor, muito melhor. Como foi repetido à exaustão durante a semana - "quis o destino que a decisão ficasse para o Dérbi". E não poderia haver desfecho mais apropriado para um campeonato como esse. O último jogo é o da consagração, o jogo que costuma ser lembrado e reprisado no futuro - nada melhor que seja contra o arqui-rival. Mas não é só essa partida que fica na memória. Esse foi apenas o último jogo de uma campanha épica que sagrou o time do povo campeão brasileiro.
O começo do campeonato foi arrebatador, quase perfeito, depois um período de instabilidade, com a liderança e a cabeça de Tite sendo ameaçada a cada rodada. Sofrimento, superação e uma arrancada final avassaladora. Essa é a história resumida. A história completa foi construída com jogos memoráveis - a goleada humilhante sobre o São Paulo, a virada contra o Vasco, as duas viradas contra o Atlético Mineiro, a vitória suada contra o Inter no Pacaembu, o empate heróico contra esse mesmo Inter no Beira-Rio. A grande virada contra o Flamengo no jogo que diziam ser a final antecipada, o empate contra o Vasco em São Januário no jogo que também diziam ser a final antecipada, a tensa vitória sobre o Atlético Paranaense quando o azar beijou a trave por duas vezes, a virada sobre o Avaí, as vitórias contra Ceará e Figueirense fora de casa nas últimas rodadas, o empate contra o Palmeiras - a expectativa acumulada durante a semana, a tensão da bola no travessão, a alegria do olé de Jorge Henrique, a briga, o grito de "é campeão".
O título é justo, merecido, o Corinthians é o melhor time do Brasil o Corinthians joga bem, joga bonito? O título é justo e merecido. Não importa se jogou bem ou mal, bonito ou feio. Ao Corinthians não é proibido jogar mal, dar de bico, se fechar na defesa, contar com a raça, o coração e o grito da torcida. Ao Corinthians só é proibido uma coisa - desistir. E em 101 anos de história isso ainda não aconteceu e a menos que muita coisa mude no mundo, tenho certeza que jamais acontecerá. Não importa se o Corinthians é ou não o melhor time. O Corinthians não precisa ser o melhor, assim como o povo que ele personifica, o Corinthians só precisa se superar, só precisa seguir em frente e reagir quando todos acham que ele está derrotado, quando todos o subestimam. E não houve time com maior poder de reação e superação nesse campeonato.
Amanhã o povo terá que acordar cedo e ir trabalhar como em toda Segunda-feira, afinal, futebol não dá camisa pra ninguém. Mas amanhã especialmente, o povo fará isso um pouco mais feliz, porque hoje o campeonato acabou e o vencedor foi aquele que do Brasil é o clube mais brasileiro, o time do povo.
O Corinthians.
9 de novembro de 2011
Chuta que é macumba
Dizem que se macumba ganhasse jogo, o campeonato da Bahia terminava empatado. Também dizem que sorte é o encontro da competência com a oportunidade.
Bom, eu não acredito em macumba, mas eu acompanho futebol há 25 anos e a observação me levou a acreditar um pouco no fator sorte. O camisa 10 (algum torcedor do São Paulo ainda se lembra o que é isso?) chuta da intermediária, a bola explode no travessão, volta para o meio da área e o zagueiro tira de qualquer jeito. 2 milímetros para baixo e a bola teria resvalado no travessão e estufado a rede. Alguns centímetros de campo para trás que o chute fosse dado e o efeito seria o mesmo - gol. Podemos dizer que faltou competência no chute? Acho que não. O mesmo camisa 10 finaliza do mesmo lugar, mas dessa vez é um chute torto e relativamente fraco, só que no meio do caminho o zagueiro adversário resolve cortar e acaba desviando a bola do goleiro. Um gol improvável em um chute executado sem muita qualidade. O que é isso? Competência do atacante que arriscou? Incompetência do zagueiro que falhou? Bom, eu chamo de sorte e azar.
A discussão é longa e as teorias são variadas. Os defensores dos campeonatos de pontos corridos (grupo em que eu já estive) dizem que nesse formato o fator sorte é minimizado. Um time pode ter sorte ou azar em algumas partidas, mas ao longo da competição a competência prevalecerá e o melhor, o mais constante, será o campeão. Após alguns anos de observação eu tenho algumas dúvidas quanto a isso. Quantas decisões já não ficaram para a última rodada, para uma única partida, sujeita a erros de arbitragem, falhas, chutes de rara felicidade, mala preta, mala branca, e toda miríade de eventos que podem mudar o rumo de um jogo?
Mas esse é outro assunto.
Toda essa conversa sobre sorte e azar foi para dizer o seguinte - o São Paulo está zicado.
Falta competência? Falta comando? Falta comprometimento de boa parte do elenco? Falta uma postura com mais foco no futebol por parte dos dirigentes? Falta um camisa 10? Falta um Lugano para comer a grama, intimidar os adversário e inspirar e cobrar os companheiros a comer grama também? Falta treinar a defesa para cortar bolas aéreas? Falta alguém para segurar a bola e esfriar o jogo quando o time está ganhando?
Sem dúvida.
Mas também está faltando sorte e isso conta muito no futebol.
No último Sábado o São Paulo abriu 3 x 1 contra o Bahia. Dominava o jogo e teve a chance de fazer 4. Daí tomou um gol, a torcida adversária cresceu, tomou o empate e a torcida sufucou, tomou a virada e os baianos terão uma virada épica (e merecida) para se lembrar e contar aos netos. Sobrou competência ao tricolor de aço, faltou ao tricolor paulista, isso não se discute. Mas esse tipo de virada não acontece todo dia e aconteceu conosco. No primeiro turno, quase ocorreu algo parecido contra o Coritiba. Eu também considero obra do acaso quando o time adversário está num momento de rara felicidade. O que o Jobson tinha feito no campeonato de 2009? Bom, contra o São Paulo ele fez dois golaços que nos custaria a liderança que por sorte não nos foi tirada naquela rodada. O que fez o Goiás no campeonato de 2009? Contra o São Paulo fez uma partida onde tudo deu certo e todas as finalizações balançaram a nossa rede.
No jogo em que Adilson caiu esse ano, o São Paulo jogava melhor, dominava. Rogério cobrou uma falta que passou perto da trave um pouco antes de tomar o gol. Se é numa época de vacas gordas aquela bola entra. Os chutes do Jobson iriam para fora e os do Washington para dentro em 2009. Por mais que você tente, treine e seja competente (não, o Washington não era), se a sorte não estiver ao lado, não adianta. Se a sorte não estivesse do nosso lado em 93, nunca a bola teria batido no calcanhar de Muller e entrado no gol do Milan - talvez fizessemos o gol de outra forma, ou venceríamos nos pênaltis, mas talvez o Milan teria virado se não fosse aquele gol. Se a sorte não estivesse do nosso lado em 86, nunca aquela bola acabaria nos pés de Careca dentro da área do Guarani no último minuto da prorrogação - e nessa situação sim, não haveria mais o que fazer nem o que acontecer.
Os exemplos são muitos, tanto de sorte quanto de azar. Esse ano, fizemos certo e deu tudo errado, trouxemos Luís Fabiano de volta e o time acabou desandando, contratamos o meia (uma grande incógnita é verdade) e o cara fica 10 minutos em campo e se machuca, tem que operar e ficar 8 meses parado. Tomamos viradas épicas como a do último Sábado, gols bestas por falhas grotescas e outros por mais azar do que qualquer outra coisa. O 2º gol do Flamengo no Morumbi e o gol da eliminação na Sul-Americana (bola bate na trave, volta, bate na cabeça do Rogério e entra) são os maiores exemplos do que eu quero dizer.
Temos 15 pontos pela frente, mas a vaga na libertadores me parece um sonho distante agora. Tudo muda de um fim de semana para o outro, mas como disse o poeta - sem sorte não se toma nem um picolé. E esse time, além de pouco competente, está zicado.
Deve ser macumba de corintiano.
Bom, eu não acredito em macumba, mas eu acompanho futebol há 25 anos e a observação me levou a acreditar um pouco no fator sorte. O camisa 10 (algum torcedor do São Paulo ainda se lembra o que é isso?) chuta da intermediária, a bola explode no travessão, volta para o meio da área e o zagueiro tira de qualquer jeito. 2 milímetros para baixo e a bola teria resvalado no travessão e estufado a rede. Alguns centímetros de campo para trás que o chute fosse dado e o efeito seria o mesmo - gol. Podemos dizer que faltou competência no chute? Acho que não. O mesmo camisa 10 finaliza do mesmo lugar, mas dessa vez é um chute torto e relativamente fraco, só que no meio do caminho o zagueiro adversário resolve cortar e acaba desviando a bola do goleiro. Um gol improvável em um chute executado sem muita qualidade. O que é isso? Competência do atacante que arriscou? Incompetência do zagueiro que falhou? Bom, eu chamo de sorte e azar.
A discussão é longa e as teorias são variadas. Os defensores dos campeonatos de pontos corridos (grupo em que eu já estive) dizem que nesse formato o fator sorte é minimizado. Um time pode ter sorte ou azar em algumas partidas, mas ao longo da competição a competência prevalecerá e o melhor, o mais constante, será o campeão. Após alguns anos de observação eu tenho algumas dúvidas quanto a isso. Quantas decisões já não ficaram para a última rodada, para uma única partida, sujeita a erros de arbitragem, falhas, chutes de rara felicidade, mala preta, mala branca, e toda miríade de eventos que podem mudar o rumo de um jogo?
Mas esse é outro assunto.
Toda essa conversa sobre sorte e azar foi para dizer o seguinte - o São Paulo está zicado.
Falta competência? Falta comando? Falta comprometimento de boa parte do elenco? Falta uma postura com mais foco no futebol por parte dos dirigentes? Falta um camisa 10? Falta um Lugano para comer a grama, intimidar os adversário e inspirar e cobrar os companheiros a comer grama também? Falta treinar a defesa para cortar bolas aéreas? Falta alguém para segurar a bola e esfriar o jogo quando o time está ganhando?
Sem dúvida.
Mas também está faltando sorte e isso conta muito no futebol.
No último Sábado o São Paulo abriu 3 x 1 contra o Bahia. Dominava o jogo e teve a chance de fazer 4. Daí tomou um gol, a torcida adversária cresceu, tomou o empate e a torcida sufucou, tomou a virada e os baianos terão uma virada épica (e merecida) para se lembrar e contar aos netos. Sobrou competência ao tricolor de aço, faltou ao tricolor paulista, isso não se discute. Mas esse tipo de virada não acontece todo dia e aconteceu conosco. No primeiro turno, quase ocorreu algo parecido contra o Coritiba. Eu também considero obra do acaso quando o time adversário está num momento de rara felicidade. O que o Jobson tinha feito no campeonato de 2009? Bom, contra o São Paulo ele fez dois golaços que nos custaria a liderança que por sorte não nos foi tirada naquela rodada. O que fez o Goiás no campeonato de 2009? Contra o São Paulo fez uma partida onde tudo deu certo e todas as finalizações balançaram a nossa rede.
No jogo em que Adilson caiu esse ano, o São Paulo jogava melhor, dominava. Rogério cobrou uma falta que passou perto da trave um pouco antes de tomar o gol. Se é numa época de vacas gordas aquela bola entra. Os chutes do Jobson iriam para fora e os do Washington para dentro em 2009. Por mais que você tente, treine e seja competente (não, o Washington não era), se a sorte não estiver ao lado, não adianta. Se a sorte não estivesse do nosso lado em 93, nunca a bola teria batido no calcanhar de Muller e entrado no gol do Milan - talvez fizessemos o gol de outra forma, ou venceríamos nos pênaltis, mas talvez o Milan teria virado se não fosse aquele gol. Se a sorte não estivesse do nosso lado em 86, nunca aquela bola acabaria nos pés de Careca dentro da área do Guarani no último minuto da prorrogação - e nessa situação sim, não haveria mais o que fazer nem o que acontecer.
Os exemplos são muitos, tanto de sorte quanto de azar. Esse ano, fizemos certo e deu tudo errado, trouxemos Luís Fabiano de volta e o time acabou desandando, contratamos o meia (uma grande incógnita é verdade) e o cara fica 10 minutos em campo e se machuca, tem que operar e ficar 8 meses parado. Tomamos viradas épicas como a do último Sábado, gols bestas por falhas grotescas e outros por mais azar do que qualquer outra coisa. O 2º gol do Flamengo no Morumbi e o gol da eliminação na Sul-Americana (bola bate na trave, volta, bate na cabeça do Rogério e entra) são os maiores exemplos do que eu quero dizer.
Temos 15 pontos pela frente, mas a vaga na libertadores me parece um sonho distante agora. Tudo muda de um fim de semana para o outro, mas como disse o poeta - sem sorte não se toma nem um picolé. E esse time, além de pouco competente, está zicado.
Deve ser macumba de corintiano.
Festa Portuguesa
O futebol é engraçado. Às vezes ele estraga nosso dia, por mais que tentemos negar, por menos que queiramos nos importar - "nunca mais torço por esse time enquanto esses mercenários estiverem vestindo essa camisa!" é uma frase recorrente após uma derrota humilhante. A indignação dura um, dois dias, dura um jogo.
O futebol é engraçado. Às vezes ele salva o nosso humor, nos dá aquela alegria boba e inesperada com gosto de infância, de inocência. Na semana seguinte a derrota amarga, no próximo Sábado, no próximo Domingo, no próximo jogo, estamos lá novamente, torcendo pelos mercenários, gritando seus nomes e pensando "agora ninguém segura!" após uma vitória.
O futebol pode ser cruel, injusto. Já vi grandes times perdendo por detalhes, por uma partida ruim, uma bola que bateu na trave e entrou de um lado e bateu na trave e saiu do outro. Já vi grandes jogos sendo completamente estragados porque o cara soprando o apito decidiu aparecer mais que os jogadores.
O futebol é o esporte mais apaixonante que existe, não conheço quase nenhum outro, mas tenho certeza do que estou dizendo. A paixão pelo jogo independe da divisão, do campeonato, da fase, do time, da torcida. Na hora em que a rede balança, todos os corações batem na mesma sintonia, todos voltamos a ser criança por pelo menos um instante. E esses são aqueles momentos pelos quais se vale a pena viver.
O futebol pode ser cruel, injusto, mas também pode ser bonito.
Hoje o Canindé estava bonito, lotado. Corações apaixonados cantavam em sintonia "Lusa ê ô, Lusa ê ô, Lusa ê ôôôôôôôôôôôô" e presenciar isso foi bonito como contemplar a lua que iluminava o céu dessa noite mágica. Era o jogo do título e a Portuguesa com sua quase impecável campanha merecia isso. A torcida merecia isso.
Do outro lado estavam os leões de Recife, o Sport, um time aguerrido e incrivelmente veloz. E o primeiro gol deles saiu rápido, bem na hora que eu estava entrando no estádio, ouvi a torcida da lusa calada e os jogadores de branco se abraçando - percebi que algo não estava bem. Eu nem cheguei a ver o gol. E nem vou ver replay, nem VT. Não quero estragar as minhas memórias dessa noite vendo os lances pela televisão.
Com o tempo eu vou me esquecer da maioria das jogadas, talvez me esqueça da falta no travessão e do chute raspando que trariam o empate ainda no primeiro tempo. Talvez me esqueça dos rápidos e perigosos contra-ataques que o Sport puxava. Talvez me esqueça ou supervalorize de maneira romântica a garra que a Portuguesa voltou para o segundo tempo, pressionando no mesmo embalo da torcida que não parava de cantar.
Talvez esqueça até detalhes do golaço de empate, no belo chute de Marco Antônio, talvez esqueça detalhes do drible sensacional de Luís Ricardo antes de cruzar para a área e a rede estufar no gol da virada. Talvez esqueça o gol de empate do Sport. Sim, talvez eu esqueça alguns detalhes, me confunda e exagere outros.
Mas eu tenho certeza que nunca vou me esquecer os sentimentos que vivi nessa noite, assistindo de perto essa partida onde dois times mostraram como uma briga entre leões deve ser. Nunca vou me esquecer a alegria de pular como criança na arquibancada, comemorando um gol, comemorando um título.
Nunca vou me esquecer do dia em que eu fui no Canindé lotado e vi a Portuguesa ser campeã. Eu vi a alegria genuína no rosto das pessoas à minha volta e não há como não se contagiar com isso. E quando isso acontece, você tem certeza que é um daqueles momentos pelos quais se vale a pena viver. Você tem certeza que mesmo não conhecendo muito outros esportes, o futebol é o melhor e mais apaixonante de todos eles.
Parabéns Lusa! E muito obrigado.
"We are the champions, my friends!"
O futebol é engraçado. Às vezes ele salva o nosso humor, nos dá aquela alegria boba e inesperada com gosto de infância, de inocência. Na semana seguinte a derrota amarga, no próximo Sábado, no próximo Domingo, no próximo jogo, estamos lá novamente, torcendo pelos mercenários, gritando seus nomes e pensando "agora ninguém segura!" após uma vitória.
O futebol pode ser cruel, injusto. Já vi grandes times perdendo por detalhes, por uma partida ruim, uma bola que bateu na trave e entrou de um lado e bateu na trave e saiu do outro. Já vi grandes jogos sendo completamente estragados porque o cara soprando o apito decidiu aparecer mais que os jogadores.
O futebol é o esporte mais apaixonante que existe, não conheço quase nenhum outro, mas tenho certeza do que estou dizendo. A paixão pelo jogo independe da divisão, do campeonato, da fase, do time, da torcida. Na hora em que a rede balança, todos os corações batem na mesma sintonia, todos voltamos a ser criança por pelo menos um instante. E esses são aqueles momentos pelos quais se vale a pena viver.
O futebol pode ser cruel, injusto, mas também pode ser bonito.
Hoje o Canindé estava bonito, lotado. Corações apaixonados cantavam em sintonia "Lusa ê ô, Lusa ê ô, Lusa ê ôôôôôôôôôôôô" e presenciar isso foi bonito como contemplar a lua que iluminava o céu dessa noite mágica. Era o jogo do título e a Portuguesa com sua quase impecável campanha merecia isso. A torcida merecia isso.
Do outro lado estavam os leões de Recife, o Sport, um time aguerrido e incrivelmente veloz. E o primeiro gol deles saiu rápido, bem na hora que eu estava entrando no estádio, ouvi a torcida da lusa calada e os jogadores de branco se abraçando - percebi que algo não estava bem. Eu nem cheguei a ver o gol. E nem vou ver replay, nem VT. Não quero estragar as minhas memórias dessa noite vendo os lances pela televisão.
Com o tempo eu vou me esquecer da maioria das jogadas, talvez me esqueça da falta no travessão e do chute raspando que trariam o empate ainda no primeiro tempo. Talvez me esqueça dos rápidos e perigosos contra-ataques que o Sport puxava. Talvez me esqueça ou supervalorize de maneira romântica a garra que a Portuguesa voltou para o segundo tempo, pressionando no mesmo embalo da torcida que não parava de cantar.
Talvez esqueça até detalhes do golaço de empate, no belo chute de Marco Antônio, talvez esqueça detalhes do drible sensacional de Luís Ricardo antes de cruzar para a área e a rede estufar no gol da virada. Talvez esqueça o gol de empate do Sport. Sim, talvez eu esqueça alguns detalhes, me confunda e exagere outros.
Mas eu tenho certeza que nunca vou me esquecer os sentimentos que vivi nessa noite, assistindo de perto essa partida onde dois times mostraram como uma briga entre leões deve ser. Nunca vou me esquecer a alegria de pular como criança na arquibancada, comemorando um gol, comemorando um título.
Nunca vou me esquecer do dia em que eu fui no Canindé lotado e vi a Portuguesa ser campeã. Eu vi a alegria genuína no rosto das pessoas à minha volta e não há como não se contagiar com isso. E quando isso acontece, você tem certeza que é um daqueles momentos pelos quais se vale a pena viver. Você tem certeza que mesmo não conhecendo muito outros esportes, o futebol é o melhor e mais apaixonante de todos eles.
Parabéns Lusa! E muito obrigado.
"We are the champions, my friends!"
6 de novembro de 2011
Já encheu o saco - Taça das bolinhas
Em 1971 teve início a história do campeonato brasileiro de futebol, organizado pela então CBD, nos moldes que conhecemos hoje, tendo como grande campeão o Clube Atlético Mineiro. A taça da competição seria de posse transitória, passando de campeão para campeão, ano após ano, até que algum clube conseguisse consquistá-la por 3 vezes seguidas ou por 5 vezes no total. Entrariam nessa conta os torneios organizados pela CBD/CBF.
Em 1987 a CBF jogou a toalha e assumiu que não teria condições de organizar o campeonato brasileiro de futebol (condição que na prática se mantém veladamente até hoje). Os times, liderados pelo São Paulo Futebol Clube, organizaram uma liga, que ficou conhecida como Copa União. Contando com os 12 gigantes e alguns poucos coadjuvantes o campeonato foi um sucesso e teve como legítimo campeão o Clube de Regatas do Flamengo. Era o tetracampeonato nacional do mengão. Porém, paralelo à Copa União, um outro campeonato foi disputado, envolvendo os demais times, inclusive o Guarani, vice-campeão do ano anterior. Esse torneio, que teve o Sport Clube do Recife como campeão, acabou sendo considerado oficial pela CBF. Para unificar os campeonatos, foi proposto que os campeões se enfrentassem, para unificar o título.
O Flamengo, apoiado pelos outros grandes que disputaram a Copa União, se negou a jogar. A CBF então reconheceu o Sport e o resto do mundo o Flamengo como campeão nacional de 87.
E a vida continuou.
Veio 92 e mais um título nacional para o Flamengo, o quinto de sua história, o quarto reconhecido pela CBF.
E a vida continuou de novo, ela sempre faz isso.
Veio 2006 e o São Paulo consegue seu 4º título brasileiro. 2007 e o tricolor é pentacampeão, reconhecido pela CBF. 2008 vem o hexa, três campeonatos seguidos. O São Paulo exigiu a posse definitiva da taça, a famigerada Taça das Bolinhas e o Flamengo não gostou, alegando ter sido o primeiro pentacampeão em 92.
E aí começou uma das maiores palhaçadas do futebol brasileiro nos últimos tempos.
Tivessem os dirigentes dos grandes clubes seguido o exemplo da Copa União e continuado a organizar os campeonatos sem a mão opressora da CBF, nada disso teria acontecido. Mas a mesquinharia e covardia fala mais alto para esses senhores.
O São Paulo alega ser o primeiro pentacampeão reconhecido pela CBF (justamente a CBF que tanto nos prejudica e a quem o clube tanto combate), o que é verdade. O Flamengo alega ser o primeiro pentacampeão nacional depois de 71, o que também é verdade, os grandes, liderados pelo próprio São Paulo, reconheceram isso em 87.
A Taça virou arma política. O presidente da CBF acena com ela e os dirigentes fazem o ridículo papel de um cão querendo abocanhar o osso. É patético. A taça veio para o Morumbi, mas a cada semana surgem decretos com a intenção de tirá-la de lá.
São Paulo e Flamengo, dois gigantes mundiais, dois times que dentro de campo são capazes de protagonizar jogos memoráveis que mexem com 50 milhões de corações, agora estão numa disputa nojenta de bastidores, criando uma rixa desnecessária por um simples pedaço de lata. Sim, é isso que as taças são, todas elas. O que importa são os títulos, as emoções vividas pelos torcedores e as lembranças. Isso ninguém pode nos tirar, não há taça que substitua. O que mais me impressiona são torcedores, dos dois lados, defendendo apaixonadamente a posse da taça, um acusando o outro de ladrão, outro acusando o um de mentiroso. Estamos numa época conturbada, levando o esporte a sério demais, criando inimizades demais. Parece que sempre precisamos provar ser os melhores e muitas vezes fazemos isso rebaixando os outros, difamando. Quanto maior for o Flamengo, maior será o São Paulo. E vice-versa. A importância desses clubes não aumentará nem diminuirá com a posse ou falta dessa taça.
Essa poderia ser a grande oportunidade para se dar um grande golpe na CBF e um grande exemplo de espírito esportivo, replicando a taça, deixando uma na Gávea, outra no Morumbi e a original em algum museu. Bastaria um pouco de boa vontade e coragem dos dirigentes. Mas a mesquinharia e covardia fala mais alto para esses senhores e senhoras.
Sinceramente, fico triste e envergonhado ao acompanhar meu time do coração envolvido em tal disputa.
E essa taça das bolinhas já encheu o saco.
Em 1987 a CBF jogou a toalha e assumiu que não teria condições de organizar o campeonato brasileiro de futebol (condição que na prática se mantém veladamente até hoje). Os times, liderados pelo São Paulo Futebol Clube, organizaram uma liga, que ficou conhecida como Copa União. Contando com os 12 gigantes e alguns poucos coadjuvantes o campeonato foi um sucesso e teve como legítimo campeão o Clube de Regatas do Flamengo. Era o tetracampeonato nacional do mengão. Porém, paralelo à Copa União, um outro campeonato foi disputado, envolvendo os demais times, inclusive o Guarani, vice-campeão do ano anterior. Esse torneio, que teve o Sport Clube do Recife como campeão, acabou sendo considerado oficial pela CBF. Para unificar os campeonatos, foi proposto que os campeões se enfrentassem, para unificar o título.
O Flamengo, apoiado pelos outros grandes que disputaram a Copa União, se negou a jogar. A CBF então reconheceu o Sport e o resto do mundo o Flamengo como campeão nacional de 87.
E a vida continuou.
Veio 92 e mais um título nacional para o Flamengo, o quinto de sua história, o quarto reconhecido pela CBF.
E a vida continuou de novo, ela sempre faz isso.
Veio 2006 e o São Paulo consegue seu 4º título brasileiro. 2007 e o tricolor é pentacampeão, reconhecido pela CBF. 2008 vem o hexa, três campeonatos seguidos. O São Paulo exigiu a posse definitiva da taça, a famigerada Taça das Bolinhas e o Flamengo não gostou, alegando ter sido o primeiro pentacampeão em 92.
E aí começou uma das maiores palhaçadas do futebol brasileiro nos últimos tempos.
Tivessem os dirigentes dos grandes clubes seguido o exemplo da Copa União e continuado a organizar os campeonatos sem a mão opressora da CBF, nada disso teria acontecido. Mas a mesquinharia e covardia fala mais alto para esses senhores.
O São Paulo alega ser o primeiro pentacampeão reconhecido pela CBF (justamente a CBF que tanto nos prejudica e a quem o clube tanto combate), o que é verdade. O Flamengo alega ser o primeiro pentacampeão nacional depois de 71, o que também é verdade, os grandes, liderados pelo próprio São Paulo, reconheceram isso em 87.
A Taça virou arma política. O presidente da CBF acena com ela e os dirigentes fazem o ridículo papel de um cão querendo abocanhar o osso. É patético. A taça veio para o Morumbi, mas a cada semana surgem decretos com a intenção de tirá-la de lá.
São Paulo e Flamengo, dois gigantes mundiais, dois times que dentro de campo são capazes de protagonizar jogos memoráveis que mexem com 50 milhões de corações, agora estão numa disputa nojenta de bastidores, criando uma rixa desnecessária por um simples pedaço de lata. Sim, é isso que as taças são, todas elas. O que importa são os títulos, as emoções vividas pelos torcedores e as lembranças. Isso ninguém pode nos tirar, não há taça que substitua. O que mais me impressiona são torcedores, dos dois lados, defendendo apaixonadamente a posse da taça, um acusando o outro de ladrão, outro acusando o um de mentiroso. Estamos numa época conturbada, levando o esporte a sério demais, criando inimizades demais. Parece que sempre precisamos provar ser os melhores e muitas vezes fazemos isso rebaixando os outros, difamando. Quanto maior for o Flamengo, maior será o São Paulo. E vice-versa. A importância desses clubes não aumentará nem diminuirá com a posse ou falta dessa taça.
Essa poderia ser a grande oportunidade para se dar um grande golpe na CBF e um grande exemplo de espírito esportivo, replicando a taça, deixando uma na Gávea, outra no Morumbi e a original em algum museu. Bastaria um pouco de boa vontade e coragem dos dirigentes. Mas a mesquinharia e covardia fala mais alto para esses senhores e senhoras.
Sinceramente, fico triste e envergonhado ao acompanhar meu time do coração envolvido em tal disputa.
E essa taça das bolinhas já encheu o saco.
31 de outubro de 2011
Imortal e histórico
No final da década de 90 o Grêmio revelou ao mundo um jogador de enorme talento e habilidade. Esse jogador tinha os dentes grandes, sorriso alegre, era conhecido por "Ronaldinho Gaúcho" e vê-lo com a bola nos pés era quase como ver as histórias dos ídolos do passado materializadas em campo. Seria ele o novo Pelé, o novo Garrincha? Talvez em seu auge tenha sido o atleta contemporâneo que mais se aproximou dessas lendas. Como acontecia com todos os nossos craques na época (e acontece ainda hoje em escala só um pouco menor), Ronaldinho sofreu assédio europeu e não resistiu por muito tempo. Acabou forçando sua saída, dando as costas ao clube que lhe deu condições de aparecer para o mundo.
Mas essas saídas forçadas acabam caindo no esquecimento por boa parte da torcida. Acabamos por nos lembrar mais dos dribles, dos gols, da magia... e principalmente da falta que isso nos faz. No começo desse ano, Ronaldinho anunciou que voltaria ao Brasil, e o Grêmio anunciou que traria de volta seu filho pródigo. E novamente Ronaldinho apunhalou o tricolor pelas costas. Após a negociação mais teatral da história do futebol, com 3 clubes fazendo um leilão aberto pelo jogador para deleite da mídia, Ronaldinho assinou contrato com o Flamengo e iniciou uma espetacular campanha com a camisa rubro-negra.
O jogo contra os cariocas era aguardado com ansiedade pela torcida gremista. No primeiro turno, no Rio de Janeiro, vitória do Mengão, 2 x 0, com gol de Ronaldinho. Pior não poderia ser para os tricolores.
No returno, os times vivem momentos distintos na tabela - o Flamengo brigando pelo título e o Grêmio apenas sonhando com uma vaga na libertadores. Mas alguns jogos valem mais do que qualquer aspiração na tabela, do que qualquer campeonato ou vaga. Alguns jogos são universos completos em si mesmos. E hoje vimos um desses jogos, daqueles que a gente vai lembrar e contar para os netos.
A torcida compareceu em peso, disposta a mostrar todo o "carinho" por seu antigo ídolo. O Olímpico era um caldeirão e poucos times no mundo tem camisa para suportar essa pressão, para não tremer diante da torcida apaixonada que canta em azul, preto e branco.
O Flamengo é um desses poucos times.
A camisa rubro-negra impõe respeito onde quer que vá. A torcida magnética não precisa se deslocar para seguir o time, ela já está lá. Há flamenguistas em grande número em todos os lugares e o Flamengo não sente a pressão de jogar fora de casa da mesma maneira que os outros times sentem. O jogo começa e logo no início, o vilão do dia, Ronaldinho, manda uma bola no travessão. O Grêmio responde e obriga Felipe a trabalhar, mas o Flamengo joga melhor, troca passes e envolve o Grêmio. E o domínio se transforma em gol. Em gols. Deivid aos 23 e o excelente Thiago Neves aos 35.
O dia da vingança se encaminhava para um dia de desilusão. O Flamengo parecia ter matado o jogo e ia conseguindo um resultado espetacular na busca pelo hepta. Mas estávamos no Olímpico, ainda era o primeiro tempo, e sobretudo, entre todos os times do mundo, existe apenas um que é imortal - o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense.
André Lima desconta no final do primeiro tempo e mostra aos cariocas que nada está decidido.
Logo no recomeço do segundo tempo, o mesmo André Lima dá um lindo drible entre as pernas de Airton e bate no canto para empatar. O caldeirão volta a ferver e agora o Flamengo sente a pressão. A virada demora, mas ela vem, em belo gol de Douglas aos 34. O jogo já ganha ares de lenda e aos 39, Miralles faz um golaço para fechar o caixão rubro-negro, um golaço para mostrar quem manda no Olímpico, para fazer Ronaldinho calar seu sorriso, um golaço para selar com chave de ouro uma partida histórica, um golaço para fazer a torcida tricolor se orgulhar, explodir de alegria e cantar.
Cantar o Rio Grande com amor.
Mas essas saídas forçadas acabam caindo no esquecimento por boa parte da torcida. Acabamos por nos lembrar mais dos dribles, dos gols, da magia... e principalmente da falta que isso nos faz. No começo desse ano, Ronaldinho anunciou que voltaria ao Brasil, e o Grêmio anunciou que traria de volta seu filho pródigo. E novamente Ronaldinho apunhalou o tricolor pelas costas. Após a negociação mais teatral da história do futebol, com 3 clubes fazendo um leilão aberto pelo jogador para deleite da mídia, Ronaldinho assinou contrato com o Flamengo e iniciou uma espetacular campanha com a camisa rubro-negra.
O jogo contra os cariocas era aguardado com ansiedade pela torcida gremista. No primeiro turno, no Rio de Janeiro, vitória do Mengão, 2 x 0, com gol de Ronaldinho. Pior não poderia ser para os tricolores.
No returno, os times vivem momentos distintos na tabela - o Flamengo brigando pelo título e o Grêmio apenas sonhando com uma vaga na libertadores. Mas alguns jogos valem mais do que qualquer aspiração na tabela, do que qualquer campeonato ou vaga. Alguns jogos são universos completos em si mesmos. E hoje vimos um desses jogos, daqueles que a gente vai lembrar e contar para os netos.
A torcida compareceu em peso, disposta a mostrar todo o "carinho" por seu antigo ídolo. O Olímpico era um caldeirão e poucos times no mundo tem camisa para suportar essa pressão, para não tremer diante da torcida apaixonada que canta em azul, preto e branco.
O Flamengo é um desses poucos times.
A camisa rubro-negra impõe respeito onde quer que vá. A torcida magnética não precisa se deslocar para seguir o time, ela já está lá. Há flamenguistas em grande número em todos os lugares e o Flamengo não sente a pressão de jogar fora de casa da mesma maneira que os outros times sentem. O jogo começa e logo no início, o vilão do dia, Ronaldinho, manda uma bola no travessão. O Grêmio responde e obriga Felipe a trabalhar, mas o Flamengo joga melhor, troca passes e envolve o Grêmio. E o domínio se transforma em gol. Em gols. Deivid aos 23 e o excelente Thiago Neves aos 35.
O dia da vingança se encaminhava para um dia de desilusão. O Flamengo parecia ter matado o jogo e ia conseguindo um resultado espetacular na busca pelo hepta. Mas estávamos no Olímpico, ainda era o primeiro tempo, e sobretudo, entre todos os times do mundo, existe apenas um que é imortal - o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense.
André Lima desconta no final do primeiro tempo e mostra aos cariocas que nada está decidido.
Logo no recomeço do segundo tempo, o mesmo André Lima dá um lindo drible entre as pernas de Airton e bate no canto para empatar. O caldeirão volta a ferver e agora o Flamengo sente a pressão. A virada demora, mas ela vem, em belo gol de Douglas aos 34. O jogo já ganha ares de lenda e aos 39, Miralles faz um golaço para fechar o caixão rubro-negro, um golaço para mostrar quem manda no Olímpico, para fazer Ronaldinho calar seu sorriso, um golaço para selar com chave de ouro uma partida histórica, um golaço para fazer a torcida tricolor se orgulhar, explodir de alegria e cantar.
Cantar o Rio Grande com amor.
23 de outubro de 2011
Rivalidade no Beira-Rio
Em 1976, o Corinthians amargava o maior jejum de títulos da história e nas semifinais do campeonato brasileiro sua apaixonada torcida, que cresceu na adversidade, protagonizou um feito que para sempre será lembrado e dificilmente sequer será igualado - a invasão do Maracanã. 70 mil corintianos sairam de São Paulo e dividiram o Maracanã com a torcida do Fluminense, que na época tinha a equipe chamada de "Máquina tricolor". Os 70 mil torcedores do time do povo viram o Timão vencer nos pênaltis e avançar às finais, contra o então atual campeão do torneio - o Internacional de Porto Alegre. No Beira-rio, não houve invasão, nem festa alvinegra. A festa foi colorada e o Inter sagrou-se bicampeão.
Em 2005, o Campeonato mais discutido e discutível de todos os tempos. E onde há polêmica, para o bem e para o mal, o Corinthians quase sempre é protagonista. Após denúncias de arbitragens compradas, jogos foram cancelados e disputados novamente. Nesses jogos o Corinthians obteve vitórias importantes e conquistou pontos que lhe colocaram à frente da tabela. O Inter, que desde a inigualável conquista invicta do campeonato de 1979 amargava uma grande fila nos brasileiros, foi o maior prejudicado. No confronto direto, no Pacaembu, pênalti claro e decisivo para o Inter, mas o juiz não dá e ainda expulsa o jogador por simulação. O Corinthians sagra-se tetracampeão e o Inter fica com um espinho entalado na garganta. A rivalidade entre os dois times acirrou-se quase como uma rivalidade regional.
Desde então, os jogos entre os dois, que nunca foram fáceis, se tornaram mais duros, pegados, violentos, disputados. Na final da Copa do Brasil de 2009 os dois se encontraram e o Corinthians levou a melhor novamente vencendo em casa e empatando no Beira-Rio. Essa final ficou marcada pelo dossiê exibido pelo presidente do Inter, com os erros de arbitragem a favor da equipe paulista. Muitos creditam a essa atitude a perda do título pelos colorados. O presidente do Inter provocou o Corinthians antes da hora, mexeu com os brios de uma nação - e isso não foi uma atitude muito inteligente.
Hoje, mais um capítulo da história. Mais um jogo disputado, onde o Corinthians entra em campo com a frase "se ganhar é campeão" na cabeça. O Inter que continua na fila do brasileiro, mas hoje é o Campeão de tudo, entra em campo para ganhar posições na tabela, conquistar uma vaga na libertadores e quem sabe sonhar com o título. Mais do que isso, o Inter entra em campo para mostrar que no Beira-Rio não há espaço para ninguém, ali o Inter manda, ali não tem invasão, ali ninguém vai passear. E o Inter entra em campo para vencer o time mais odiado e amado do futebol brasileiro, o Inter entra em campo para vencer o Corinthians.
Jogo duro como não poderia deixar de ser. Alessandro abusa da violência no final do primeiro tempo e é corretamente expulso. O Timão volta acuado e o Inter pressiona. Pressiona e pressiona, até que consegue seu gol. O Beira-Rio explode em alegria, o caldeirão é vermelho, o Inter é o sentimento que não pode acabar.
O Corinthians está com um a menos, perdendo o jogo e vendo o adversário dominar a partida, perto de ampliar a vantagem. O jogo se encaminha para o final, o Vasco vai vencendo e se distanciando na ponta, a situação é desesperadora, a causa é quase perdida. Mas isso nunca foi problema, não para o time do povo. Seus jogadores correm por 11, por 12, por 13 se precisar. Assim como sua fiel torcida, que canta o jogo todo, o Corinthians cresce na adversidade. Você não pode provocar o Corinthians, muito menos subestimar o Corinthians. Numa falta, mesmo que de longa distância, mesmo que o jogo esteja acabando e o domínio seja seu, você não pode colocar só dois jogadores na barreira. Muriel cometeu esse pecado e foi devidamente castigado.
No final do jogo o Timão busca o heroico empate. E se houvesse mais 5 minutos de jogo o Corinthians virava o jogo. A fiel torcida mais uma vez faz a festa no Beira-Rio. O futebol é engraçado. Mesmo perdendo a ponta da tabela, os corintianos terminam o Domingo com gosto de vitória - um gol no final sempre deixa esse gosto. Os colorados com o sentimento amargo de um empate que poderia ser evitado.
No próximo final de semana, os dois gigantes voltam à campo.
E novas histórias serão contadas.
16 de outubro de 2011
Jonas
Era um belo dia ensolarado e o navio estava pronto para zarpar. Os marinheiros faziam os últimos preparativos para seguir viagem, quando um tripulante de última hora chegou, pagou ao capitão pela passagem e foi até o porão "descansar". Seu nome era Jonas.
No mar, o sol desapareceu, nuvens negras cobriram o céu e uma violenta tempestade começou a desabar, ameaçando virar o barco a qualquer momento. Todos faziam tudo certo, os nós, as amarras, cobriam os furos no casco, seguravam o leme, jogavam água para fora da embarcação. Mas enquanto Jonas estivesse ali, a tempestade não daria trégua e mais cedo ou mais tarde, o navio certamente afundaria. Os marinheiros atiraram Jonas na água e a tormenta foi embora.
Adilson Batista trabalhou bem no Cruzeiro. Venceu o estadual, fez boas campanhas nos campeonatos brasileiros e libertadores, mas no jogo da vida, em que tinha tudo na mão para dar o tricampeonato da américa à equipe celeste, Adilson fracassou. Perdeu no Mineirão lotado, de virada.
Em 2010, Adilson assumiu o Corinthians, que estava bem no campeonato brasileiro até então. Foi trabalhador, honesto, talvez prejudicado por fatores extra-campo, mas o fato é que depois que Adilson chegou, o barco começou a afundar no Parque São Jorge.
Depois Adilson foi para o Santos e depois de 11 jogos, mesmo com apenas 1 derrota, Adilson foi demitido. Talvez pela proximidade do porto, os santistas possuam mais conhecimento sobre embarcações e resolveram mandá-lo embora antes que seu próprio navio começasse a afundar.
Adilson já não era visto com bons olhos nos grandes times e acabou indo para um aspirante a grande, o Atlético Paranaense. Mais um trabalho medíocre, mais um barco furado.
O São Paulo, precisando de um técnico após a demissão de Carpegiani, resolveu apostar em Adilson. Bastaria esparar duas semanas para Dorival cair no Galo, mas o São Paulo deu um voto de confiança à Adilson Batista. Logo no primeiro jogo, já vimos qual seria a nossa sina no campeonato. Empate em casa contra o Atlético. Não, não o Mineiro. O Goianiense. Falhas na defesa, dificuldade em romper retrancas. E o barco tricolor começou a afundar.
Hoje, uma derrota vergonhosa para o mesmo Atlético do primeiro empate. Pela primeira vez no campeonato o tricolor paulista sai da zona de classificação para a Libertadores, meta mínima para um clube gigante como o São Paulo. Hoje, vimos TODOS os nossos adversários diretos pelo título vencerem suas partidas. Hoje, dissemos adeus à disputa do primeiro lugar. O São Paulo é o time da fé, não podemos nos esquecer disso nunca, mas já temos 5 outros gigantes à nossa frente, e outro colado em nossos calcanhares (treinado pelo Dorival, aquele que deixamos de contratar por não esperar duas semanas).
Ganhar e perder (e empatar, como ocorre na maioria das vezes com esse treinador) faz parte do jogo, mas o que acontece com os times de Adilson Batista é inexplicável.
Se o São Paulo tem alguma aspiração de participar da libertadores em 2012 e não promover mais um vexame na temporada, sendo eliminado precocemente na Copa Sulamericana, precisa jogar o Jonas no mar o quanto antes.
Eu não acredito em bruxas.
Nem no Adilson Batista.
No mar, o sol desapareceu, nuvens negras cobriram o céu e uma violenta tempestade começou a desabar, ameaçando virar o barco a qualquer momento. Todos faziam tudo certo, os nós, as amarras, cobriam os furos no casco, seguravam o leme, jogavam água para fora da embarcação. Mas enquanto Jonas estivesse ali, a tempestade não daria trégua e mais cedo ou mais tarde, o navio certamente afundaria. Os marinheiros atiraram Jonas na água e a tormenta foi embora.
Adilson Batista trabalhou bem no Cruzeiro. Venceu o estadual, fez boas campanhas nos campeonatos brasileiros e libertadores, mas no jogo da vida, em que tinha tudo na mão para dar o tricampeonato da américa à equipe celeste, Adilson fracassou. Perdeu no Mineirão lotado, de virada.
Em 2010, Adilson assumiu o Corinthians, que estava bem no campeonato brasileiro até então. Foi trabalhador, honesto, talvez prejudicado por fatores extra-campo, mas o fato é que depois que Adilson chegou, o barco começou a afundar no Parque São Jorge.
Depois Adilson foi para o Santos e depois de 11 jogos, mesmo com apenas 1 derrota, Adilson foi demitido. Talvez pela proximidade do porto, os santistas possuam mais conhecimento sobre embarcações e resolveram mandá-lo embora antes que seu próprio navio começasse a afundar.
Adilson já não era visto com bons olhos nos grandes times e acabou indo para um aspirante a grande, o Atlético Paranaense. Mais um trabalho medíocre, mais um barco furado.
O São Paulo, precisando de um técnico após a demissão de Carpegiani, resolveu apostar em Adilson. Bastaria esparar duas semanas para Dorival cair no Galo, mas o São Paulo deu um voto de confiança à Adilson Batista. Logo no primeiro jogo, já vimos qual seria a nossa sina no campeonato. Empate em casa contra o Atlético. Não, não o Mineiro. O Goianiense. Falhas na defesa, dificuldade em romper retrancas. E o barco tricolor começou a afundar.
Hoje, uma derrota vergonhosa para o mesmo Atlético do primeiro empate. Pela primeira vez no campeonato o tricolor paulista sai da zona de classificação para a Libertadores, meta mínima para um clube gigante como o São Paulo. Hoje, vimos TODOS os nossos adversários diretos pelo título vencerem suas partidas. Hoje, dissemos adeus à disputa do primeiro lugar. O São Paulo é o time da fé, não podemos nos esquecer disso nunca, mas já temos 5 outros gigantes à nossa frente, e outro colado em nossos calcanhares (treinado pelo Dorival, aquele que deixamos de contratar por não esperar duas semanas).
Ganhar e perder (e empatar, como ocorre na maioria das vezes com esse treinador) faz parte do jogo, mas o que acontece com os times de Adilson Batista é inexplicável.
Se o São Paulo tem alguma aspiração de participar da libertadores em 2012 e não promover mais um vexame na temporada, sendo eliminado precocemente na Copa Sulamericana, precisa jogar o Jonas no mar o quanto antes.
Eu não acredito em bruxas.
Nem no Adilson Batista.
13 de outubro de 2011
Brilha a estrela solitária
"O Corinthians não tem estádio". Essa é uma das primeiras coisas que os torcedores rivais aprendem a dizer. Sim, o Corinthians ainda não tem estádio, mas o Corinthians hoje tem uma casa - o estádio público da cidade de São Paulo, Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembú, o estádio do povo, é hoje a casa do time do povo. E não é fácil enfrentar o Corinthians lá, principalmente em jogo valendo a ponta da tabela. Hoje essa árdua tarefa coube ao Botafogo.
O Fogão vem de um empate inesperado, em casa, contra o Bahia. Empate esse que lhe custou dois pontos importantes na disputa acirrada pelo título. O Timão vem de uma vitória arrasadora nesse mesmo Pacaembú, por 3 x 0 contra o Atlético Goianiense, vitória com a qual retomou a ponta da tabela.
O Corinthians é o líder do campeonato, o Corinthians joga em casa, apoiado pela sua apaixonada torcida, o Corinthians é o favorito. No Pacaembú o Corinthians é sempre o favorito. O caldeirão ferve, a torcida adversária se cala, as pernas dos jogadores adversários tremem, a arbitragem é pressionada, todos se intimidam.
Todos, menos o Botafogo.
O Corinthians é um adversário forte, mas o Botafogo não pode perder pra ninguém.
E após o apito inicial, quem manda no jogo é o Glorioso. Com toque de bola rápido e envolvente, saindo em velocidade, o Botafogo marca logo de cara, mas o bandeirinha falha e anula o gol. Alguns minutos depois, novo gol, gol de el Loco Abreu. Esse vale, Botafogo 1 x 0.
O Corinthians sente o golpe, vai pra cima sem muita organização e vê um adversário extremamete perigoso nos contra-ataques. Para ser campeão, um time precisa competência, regularidade, elenco, etc. Mas também precisa de um pouco de sorte de vez em quando. E o Botafogo teve essa sorte, aquela que favorece os destemidos, aquela sorte de campeão. Maicosuel chuta, a bola desvia e encobre Julio César. Botafogo 2 x 0. A fiel torcida não acredita no que vê diante de seus olhos, ninguém acredita.
O primeiro tempo acaba sob olhares perplexos.
Recomeça o segundo tempo. O Corinthians volta na adversidade, precisando correr muito e buscar uma fagulha de esperança em um jogo praticamente perdido. O Corinthians volta prcisando fazer milagre. Quando está nessa situação, como uma fera acuada, o Corinthians se torna um adversário terrível. E o Timão volta pressionando, desde o primeiro minuto. Os jogadores se desdobram, correm como loucos, empurrados pelo bando de loucos na arquibancada. O Corinthians pode ganhar, pode perder, mas nunca desistir. E ele não desiste. O Corinthians pressiona e o Fogão já não consegue sair em seus velozes contra-ataques.
O jogo se torna um massacre, o gol corintiano, o gol que inflamaria a partida parece questão de tempo. Mas aí o goleiro reserva do Botafogo, Renan, começou a se tornar o nome da partida. Principalmente depois dos 15 minutos, quando Cortês foi expulso e a pressão aumentou ainda mais. Foi um bombardeio. Chutes, cabeçadas, bola na trave, show de defesas e bloqueios. Mais de uma vez o Botafogo contou com a sorte para não tomar o gol. Aquela sorte de campeão.
Do 1º ao último minuto do segundo tempo o Corinthians correu e tentou, empurrado pela torcida que justamente reconheceu o esforço de seus atletas e os aplaudiu no final, mesmo com a derrota. Pelo segundo tempo, o Corinthians merecia um resultado melhor. Mas hoje eles estavam enfrentando o time que é heróico em cada jogo.
Estavam enfrentando o Glorioso.
E o Glorioso não pode perder, perder pra ninguém.O Fogão vem de um empate inesperado, em casa, contra o Bahia. Empate esse que lhe custou dois pontos importantes na disputa acirrada pelo título. O Timão vem de uma vitória arrasadora nesse mesmo Pacaembú, por 3 x 0 contra o Atlético Goianiense, vitória com a qual retomou a ponta da tabela.
O Corinthians é o líder do campeonato, o Corinthians joga em casa, apoiado pela sua apaixonada torcida, o Corinthians é o favorito. No Pacaembú o Corinthians é sempre o favorito. O caldeirão ferve, a torcida adversária se cala, as pernas dos jogadores adversários tremem, a arbitragem é pressionada, todos se intimidam.
Todos, menos o Botafogo.
O Corinthians é um adversário forte, mas o Botafogo não pode perder pra ninguém.
E após o apito inicial, quem manda no jogo é o Glorioso. Com toque de bola rápido e envolvente, saindo em velocidade, o Botafogo marca logo de cara, mas o bandeirinha falha e anula o gol. Alguns minutos depois, novo gol, gol de el Loco Abreu. Esse vale, Botafogo 1 x 0.
O Corinthians sente o golpe, vai pra cima sem muita organização e vê um adversário extremamete perigoso nos contra-ataques. Para ser campeão, um time precisa competência, regularidade, elenco, etc. Mas também precisa de um pouco de sorte de vez em quando. E o Botafogo teve essa sorte, aquela que favorece os destemidos, aquela sorte de campeão. Maicosuel chuta, a bola desvia e encobre Julio César. Botafogo 2 x 0. A fiel torcida não acredita no que vê diante de seus olhos, ninguém acredita.
O primeiro tempo acaba sob olhares perplexos.
Recomeça o segundo tempo. O Corinthians volta na adversidade, precisando correr muito e buscar uma fagulha de esperança em um jogo praticamente perdido. O Corinthians volta prcisando fazer milagre. Quando está nessa situação, como uma fera acuada, o Corinthians se torna um adversário terrível. E o Timão volta pressionando, desde o primeiro minuto. Os jogadores se desdobram, correm como loucos, empurrados pelo bando de loucos na arquibancada. O Corinthians pode ganhar, pode perder, mas nunca desistir. E ele não desiste. O Corinthians pressiona e o Fogão já não consegue sair em seus velozes contra-ataques.
O jogo se torna um massacre, o gol corintiano, o gol que inflamaria a partida parece questão de tempo. Mas aí o goleiro reserva do Botafogo, Renan, começou a se tornar o nome da partida. Principalmente depois dos 15 minutos, quando Cortês foi expulso e a pressão aumentou ainda mais. Foi um bombardeio. Chutes, cabeçadas, bola na trave, show de defesas e bloqueios. Mais de uma vez o Botafogo contou com a sorte para não tomar o gol. Aquela sorte de campeão.
Do 1º ao último minuto do segundo tempo o Corinthians correu e tentou, empurrado pela torcida que justamente reconheceu o esforço de seus atletas e os aplaudiu no final, mesmo com a derrota. Pelo segundo tempo, o Corinthians merecia um resultado melhor. Mas hoje eles estavam enfrentando o time que é heróico em cada jogo.
Estavam enfrentando o Glorioso.
9 de outubro de 2011
Fla-Flu espetacular
Clássicos existem muitos, mas nenhum tão bonito quanto Flamengo x Fluminense.
Mesmo fora de seu lugar de direito, o Maracanã, repleto de gente, bandeiras e emoção, o Fla-FLu encanta, nos remete à outras épocas, quando o futebol era mais romântico e a vida parecia ser um pouco mais bela.
No Engenhão, o campo está maltratado e as arquibancadas não estão cheias como deveriam, mas os times entram em campo, ambos vivendo momentos ascendentes na competição. O Fluminense, depois de um primeiro turno medíocre, voltou fazendo o que sabe fazer de melhor - reagir e deixar todos impressionados. Melhor campanha do segundo turno, com uma vitória hoje assumiria a terceira posição. O Flamengo, após um inacreditável começo de ano e de campeonato, viveu um apagão depois de perder a sua invencibilidade. 10 partidas sem vitória que lhe tiraram do pelotão de frente. Mas vem de duas vitórias seguidas, a última contra o São Paulo, em pleno Morumbi em dia de festa para a volta de Luís Fabiano.
Os dois times estão com moral, mas desfalcados de seus craques. O Flu, sem o seu matador, Fred. O Fla, sem a genialidade de Ronaldinho.
O começo do jogo fica aquém das expectativas. Um chute de Rafael Moura aqui, uma arrancada de Léo Moura ali, chute de Deivid, Marquinho... nada que mereça muito destaque. A bola é maltratada como a grama do Engenhão. O juíz apita e o primeiro tempo acaba sem deixar saudades.
Em outros esportes, dificilmente a qualidade da partida muda radicalmente de um tempo para o outro. Mas estamos falando de futebol, aqui tudo é possível, por isso nossa paixão por ele é tão grande e se renova a cada jogo.
O Fluminense volta melhor, pressionando desde o primeiro minuto. O time de guerreiros vai para cima desde o primeiro minuto e sufoca o Flamengo no campo de defesa. A pressão dá resultado aos 14 minutos, quando Rafael Sobis abre o placar de cabeça. A reação do tricolor no campeonato tem uma explicação simples - guerreiros não recuam. O Flu continua pressionando e sufocando, o segundo gol parece questão de tempo e quase vem novamente em cabeçada de Sobis, aos 20. Outra característica apaixonante do futebol é que as coisas mudam de uma hora para outra. Principalmente quando o Flamengo está em campo. Aos 23, Thiago Neves empata, na raça. Aos 25 Bottinelli chuta de longe e o goleiro espalma. Era um aquecimento para o que estaria por vir. Agora é o Flamengo que pressiona, o Flamengo que sufoca, embalado pela magnética que vibra e festeja na arquibancada. Só dá Flamengo. Mas é o Fluminense que marca. Aos 33, Lanzini aproveita cruzamento de Souza e coloca o tricolor de novo na frente.
O jogo se encaminha para o final. A vitória do Flu parece bem encaminhada, mas o futebol é imprevisível. Principalmente quando o Flamengo está em campo. Aos 41, falta de longe e Bottinelli faz cobrança magistral, lembrando o ídolo Petkovic - a bola bate no travessão, nas costas do goleiro e entra. 2 x 2.
Agora sim, tudo parecia definido, o empate parecia ser o resultado definitivo e justo para a partida. Mas nenhum resultado pode ser considerado definitivo enquanto a mística camisa rubro-negra puder ser vista em campo.
Aos 44, Bottinelli de novo, acerta um chute espetacular no canto e o Flamengo obtém uma virada digna das tradições do Fla-Flu e dos tempos quando o futebol era romântico e a vida mais bela.
O Fluminense perde o jogo e o título já seria tarefa impossível para outro time. Só que para o time de guerreiros não há tarefa impossível.
O Flamengo consegue mais uma vitória e já é o quarto. Estão deixando chegar.
E quando fazem isso com o Flamengo, todos sabem o que acontece.
Mesmo fora de seu lugar de direito, o Maracanã, repleto de gente, bandeiras e emoção, o Fla-FLu encanta, nos remete à outras épocas, quando o futebol era mais romântico e a vida parecia ser um pouco mais bela.
No Engenhão, o campo está maltratado e as arquibancadas não estão cheias como deveriam, mas os times entram em campo, ambos vivendo momentos ascendentes na competição. O Fluminense, depois de um primeiro turno medíocre, voltou fazendo o que sabe fazer de melhor - reagir e deixar todos impressionados. Melhor campanha do segundo turno, com uma vitória hoje assumiria a terceira posição. O Flamengo, após um inacreditável começo de ano e de campeonato, viveu um apagão depois de perder a sua invencibilidade. 10 partidas sem vitória que lhe tiraram do pelotão de frente. Mas vem de duas vitórias seguidas, a última contra o São Paulo, em pleno Morumbi em dia de festa para a volta de Luís Fabiano.
Os dois times estão com moral, mas desfalcados de seus craques. O Flu, sem o seu matador, Fred. O Fla, sem a genialidade de Ronaldinho.
O começo do jogo fica aquém das expectativas. Um chute de Rafael Moura aqui, uma arrancada de Léo Moura ali, chute de Deivid, Marquinho... nada que mereça muito destaque. A bola é maltratada como a grama do Engenhão. O juíz apita e o primeiro tempo acaba sem deixar saudades.
Em outros esportes, dificilmente a qualidade da partida muda radicalmente de um tempo para o outro. Mas estamos falando de futebol, aqui tudo é possível, por isso nossa paixão por ele é tão grande e se renova a cada jogo.
O Fluminense volta melhor, pressionando desde o primeiro minuto. O time de guerreiros vai para cima desde o primeiro minuto e sufoca o Flamengo no campo de defesa. A pressão dá resultado aos 14 minutos, quando Rafael Sobis abre o placar de cabeça. A reação do tricolor no campeonato tem uma explicação simples - guerreiros não recuam. O Flu continua pressionando e sufocando, o segundo gol parece questão de tempo e quase vem novamente em cabeçada de Sobis, aos 20. Outra característica apaixonante do futebol é que as coisas mudam de uma hora para outra. Principalmente quando o Flamengo está em campo. Aos 23, Thiago Neves empata, na raça. Aos 25 Bottinelli chuta de longe e o goleiro espalma. Era um aquecimento para o que estaria por vir. Agora é o Flamengo que pressiona, o Flamengo que sufoca, embalado pela magnética que vibra e festeja na arquibancada. Só dá Flamengo. Mas é o Fluminense que marca. Aos 33, Lanzini aproveita cruzamento de Souza e coloca o tricolor de novo na frente.
O jogo se encaminha para o final. A vitória do Flu parece bem encaminhada, mas o futebol é imprevisível. Principalmente quando o Flamengo está em campo. Aos 41, falta de longe e Bottinelli faz cobrança magistral, lembrando o ídolo Petkovic - a bola bate no travessão, nas costas do goleiro e entra. 2 x 2.
Agora sim, tudo parecia definido, o empate parecia ser o resultado definitivo e justo para a partida. Mas nenhum resultado pode ser considerado definitivo enquanto a mística camisa rubro-negra puder ser vista em campo.
Aos 44, Bottinelli de novo, acerta um chute espetacular no canto e o Flamengo obtém uma virada digna das tradições do Fla-Flu e dos tempos quando o futebol era romântico e a vida mais bela.
O Fluminense perde o jogo e o título já seria tarefa impossível para outro time. Só que para o time de guerreiros não há tarefa impossível.
O Flamengo consegue mais uma vitória e já é o quarto. Estão deixando chegar.
E quando fazem isso com o Flamengo, todos sabem o que acontece.
Santos encerra o tabu
O Santos, quando joga completo, é o melhor time do Brasil. É o melhor time da América. E em Dezembro descobriremos se também é o melhor time do mundo. Hoje todos apontam o Barcelona como favorito e realmente os espanhóis jogam o fino da bola. Mas futebol se resolve em campo e isso é história que ainda está por ser escrita.
Jogando completo e jogando na vila, o Santos tem se mostrado praticamente imbatível há alguns anos. Exceto quando tinha o Palmeiras como adversário. A exemplo do que acontecia na época de Pelé, o alvi-verde mais vitorioso do Brasil era o único a desafiar a hegemonia santista nos confrontos diretos.
E hoje o Santos jogava na Vila, mas não jogava completo. Já há algumas rodadas sem o talento de Paulo Henrique Ganso, hoje o Santos também estava sem sua jóia mais preciosa, o Santos estava sem Neymar. E quando isso acontece, o Santos volta a ser "apenas" um excelente time, com a camisa mais tradicional do futebol brasileiro. Com Neymar, o Santos é mágico.
O Palmeiras, também muito desfalcado, entra disposto a manter o tabu contra a equipe da baixada, já são dois anos sem derrota contra o rival. Mais do que isso, o maior campeão do último século quer conquistar pontos para se reaproximar do lugar que é seu por direito, a parte de cima da tabela. O Santos já está com a cabeça no Barcelona e joga apenas para honrar suas tradições e sua torcida.
Com um elenco limitado, o Palmeiras se mostra um time aguerrido, ao estilo de seu competente e trabalhador técnico. Mas só isso não basta, o jogo é fraco e se arrasta. Perigo apenas em lances esporádicos, bolas paradas, cobranças do sempre perigoso Marcos Assunção.
Muito pouco para as camisas que estão agora no gramado.
Volta o segundo tempo e o Santos se mostra mais disposto a vencer. O Palmeiras abdica do ataque. O Santos vai se virando sem o menino-gênio da camisa 11 e sufoca o Palmeiras. De tanto insistir, aos 30 o veterano Léo cruza na cabeça do artilheiro do campeonato e ele não perdoa. Borges marca seu impressionante vigésimo gol na competição.
O Palmeiras tenta a reação. Dizem que todo bom time começa por um bom goleiro. E Rafael se mostra um grande goleiro ao fazer milagre no chute de Fernandão, evitando o empate alvi-verde.
O jogo se arrasta sem muita emoção até o apito final.
O Santos presenteia sua torcida com a vitória e a quebra do tabu, mas o título agora é missão quase impossível. O Palmeiras estaciona no meio da tabela e agora até classificação para a libertadores começa a ganhar ares de sonho.
Jogando completo e jogando na vila, o Santos tem se mostrado praticamente imbatível há alguns anos. Exceto quando tinha o Palmeiras como adversário. A exemplo do que acontecia na época de Pelé, o alvi-verde mais vitorioso do Brasil era o único a desafiar a hegemonia santista nos confrontos diretos.
E hoje o Santos jogava na Vila, mas não jogava completo. Já há algumas rodadas sem o talento de Paulo Henrique Ganso, hoje o Santos também estava sem sua jóia mais preciosa, o Santos estava sem Neymar. E quando isso acontece, o Santos volta a ser "apenas" um excelente time, com a camisa mais tradicional do futebol brasileiro. Com Neymar, o Santos é mágico.
O Palmeiras, também muito desfalcado, entra disposto a manter o tabu contra a equipe da baixada, já são dois anos sem derrota contra o rival. Mais do que isso, o maior campeão do último século quer conquistar pontos para se reaproximar do lugar que é seu por direito, a parte de cima da tabela. O Santos já está com a cabeça no Barcelona e joga apenas para honrar suas tradições e sua torcida.
Com um elenco limitado, o Palmeiras se mostra um time aguerrido, ao estilo de seu competente e trabalhador técnico. Mas só isso não basta, o jogo é fraco e se arrasta. Perigo apenas em lances esporádicos, bolas paradas, cobranças do sempre perigoso Marcos Assunção.
Muito pouco para as camisas que estão agora no gramado.
Volta o segundo tempo e o Santos se mostra mais disposto a vencer. O Palmeiras abdica do ataque. O Santos vai se virando sem o menino-gênio da camisa 11 e sufoca o Palmeiras. De tanto insistir, aos 30 o veterano Léo cruza na cabeça do artilheiro do campeonato e ele não perdoa. Borges marca seu impressionante vigésimo gol na competição.
O Palmeiras tenta a reação. Dizem que todo bom time começa por um bom goleiro. E Rafael se mostra um grande goleiro ao fazer milagre no chute de Fernandão, evitando o empate alvi-verde.
O jogo se arrasta sem muita emoção até o apito final.
O Santos presenteia sua torcida com a vitória e a quebra do tabu, mas o título agora é missão quase impossível. O Palmeiras estaciona no meio da tabela e agora até classificação para a libertadores começa a ganhar ares de sonho.
6 de outubro de 2011
Ótimo jogo, péssimo resultado
O jogo é contra o Cruzeiro, em Minas, mas não no Mineirão.
O mítico estádio está em reformas para a copa e o time (e também o povo) mineiro está pagando o preço, flertando com a zona de rebaixamento em total desacordo com sua condição de gigante do futebol mundial.
Porém, não importa o momento, a camisa celeste impõe respeito, principalmente em seus domínios.
O São Paulo joga suas últimas fichas, não pode mais errar - a ponta da tabela está ficando distante e o fim do campeonato já pode ser visto ao longe.
A Arena do Jacaré recebe um público aquém do que o clássico merece, mas o futebol apresentado se revelaria digno de todas as tradições envolvendo os clubes que entraram no gramado.
Após bom início do São Paulo o Cruzeiro abre o placar. Boa jogada (e dizer isso é quase redundante com o nome que vem a seguir) de Montillo, gol de Keirrison.
O São paulo sente o gol, mas aos 30 Cícero faz boa jogada e se joga na área. O Juíz marca pênalti equivocadamente. Ansioso pelo primeiro gol em seu retorno, Luís Fabiano bate. E bate mal, fraco. Fabio faz a defesa. Deus é justo? Dessa vez foi pelo menos. No final do primeiro tempo, linda jogada, toque de cobertura de Dagoberto, mas o zagueiro salva.
Recomeça o segundo tempo e o São Paulo vai ao ataque, nada mais resta a fazer. O Cruzeiro aceita a pressão, só dá São Paulo. O empate já se faz por merecer. E Deus foi justo mais uma vez. Após boa tabela com Luís Fabiano, Cícero manda para a rede.
O São Paulo continua pressionando, tem controle total do jogo e Dagoberto, contando com velocidade, sorte e técnica apurada faz um lindo gol de cobertura após arrancada quase do meio campo. Parecia que o terceiro gol era só questão de tempo, mas as bolas na área têm sido um grande problema para a defesa tricolor nessa temporada. Qualquer cobrador mediano já assusta e leva perigo. Imagine o argentino Montillo. Aos 27 ele cobra falta e o Cruzeiro empata com Charles.
Dagoberto faz lindo cruzamento e Juan coloca o São Paulo na frente, 4 minutos depois.
O Cruzeiro não desiste, começa a finalmente mandar no jogo e pressiona. Corações celestes e tricolores batem forte. Aos 37, os celestes batem com mais alegria, porque após cobrança de escanteio (precisa dizer quem bateu?) o Cruzeiro empata novamente com Anselmo.
O jogo fica totalmente aberto e a tensão é total até o último apito aos 47 e meio.
Ótimo jogo, mas péssimo resultado para as duas equipes. O São Paulo pode ver o Vasco abrir 6 pontos no Domingo e sofre ameaça de sair da zona de classificação para a Libertadores e o Cruzeiro continua próximo à zona de rebaixamento, correndo o risco (embora remoto) de deixar o seleto grupo dos grandes que nunca cairam.
O mítico estádio está em reformas para a copa e o time (e também o povo) mineiro está pagando o preço, flertando com a zona de rebaixamento em total desacordo com sua condição de gigante do futebol mundial.
Porém, não importa o momento, a camisa celeste impõe respeito, principalmente em seus domínios.
O São Paulo joga suas últimas fichas, não pode mais errar - a ponta da tabela está ficando distante e o fim do campeonato já pode ser visto ao longe.
A Arena do Jacaré recebe um público aquém do que o clássico merece, mas o futebol apresentado se revelaria digno de todas as tradições envolvendo os clubes que entraram no gramado.
Após bom início do São Paulo o Cruzeiro abre o placar. Boa jogada (e dizer isso é quase redundante com o nome que vem a seguir) de Montillo, gol de Keirrison.
O São paulo sente o gol, mas aos 30 Cícero faz boa jogada e se joga na área. O Juíz marca pênalti equivocadamente. Ansioso pelo primeiro gol em seu retorno, Luís Fabiano bate. E bate mal, fraco. Fabio faz a defesa. Deus é justo? Dessa vez foi pelo menos. No final do primeiro tempo, linda jogada, toque de cobertura de Dagoberto, mas o zagueiro salva.
Recomeça o segundo tempo e o São Paulo vai ao ataque, nada mais resta a fazer. O Cruzeiro aceita a pressão, só dá São Paulo. O empate já se faz por merecer. E Deus foi justo mais uma vez. Após boa tabela com Luís Fabiano, Cícero manda para a rede.
O São Paulo continua pressionando, tem controle total do jogo e Dagoberto, contando com velocidade, sorte e técnica apurada faz um lindo gol de cobertura após arrancada quase do meio campo. Parecia que o terceiro gol era só questão de tempo, mas as bolas na área têm sido um grande problema para a defesa tricolor nessa temporada. Qualquer cobrador mediano já assusta e leva perigo. Imagine o argentino Montillo. Aos 27 ele cobra falta e o Cruzeiro empata com Charles.
Dagoberto faz lindo cruzamento e Juan coloca o São Paulo na frente, 4 minutos depois.
O Cruzeiro não desiste, começa a finalmente mandar no jogo e pressiona. Corações celestes e tricolores batem forte. Aos 37, os celestes batem com mais alegria, porque após cobrança de escanteio (precisa dizer quem bateu?) o Cruzeiro empata novamente com Anselmo.
O jogo fica totalmente aberto e a tensão é total até o último apito aos 47 e meio.
Ótimo jogo, mas péssimo resultado para as duas equipes. O São Paulo pode ver o Vasco abrir 6 pontos no Domingo e sofre ameaça de sair da zona de classificação para a Libertadores e o Cruzeiro continua próximo à zona de rebaixamento, correndo o risco (embora remoto) de deixar o seleto grupo dos grandes que nunca cairam.
2 de outubro de 2011
51 anos de emoção
Futebol é no estádio.
Aquilo que passa na TV é outra coisa. É até parecido, mas não é futebol. Não o futebol em sua essência, não a experiência completa.
Se você nunca foi ao estádio, se você nunca sentiu o cheiro de pernil, cachorro-quente e churrasco, nem viu as bandeiras tremulando na porta dele, se você nunca andou junto com a multidão no meio da rua, disputando espaço com os carros, se você nunca foi embora num ônibus lotado, entoando canções de vitória depois de um grande jogo, nunca ficou amontoado com um monte de gente esperando um portão abrir, e correu de um policial logo depois disso, se você nunca viu alguém roendo unhas na arquibancada, nem ficou na ponta dos pés para tentar ver alguma coisa da geral, se sua voz nunca se fez uma com milhares de outras vozes desconhecidas, se você nunca gritou o nome do seu time até não ter mais forças, se seu mundo nunca desabou em tristeza nem explodiu em alegria quando viu a rede balançar ali de perto, então posso afirmar - você nunca viu realmente uma partida de futebol.
A tela fria inibe a emoção, os comentaristas e narradores deturpam a realidade. A alma do jogo só pode ser sentida no estádio.
Estádio, alma...
Você pode juntar um monte de tijolos com cimento, colocar um telhado entrar ali e chamar de "casa" logo no primeiro dia. Sim, será sua casa, mas ali ainda você não se sentirá em casa. Para que você se sinta em casa em algum lugar (mesmo que na sua própria casa!), é preciso que esse lugar tenha alma. E isso não acontece de um dia para o outro.
Sua casa só começa a ter alma conforme você vai tendo experiências nela. As experiências geram lembranças e é disso que a alma é feita. Lembranças. No final isso é tudo o que nos restará. Você olha para um canto e lembra que um dia seu filho caiu e bateu a cabeça ali. Olha para outro e se lembra do dia em que surpreendeu sua esposa com flores e um beijo apaixonado. Você dá risada, ouve música, almoça e janta com sua família ou sozinho, brinca com seu filho e seu cachorro, briga e faz amor com sua esposa. E só então você poderá entrar naqueles tijolos grudados com cimento e realmente se sentir em casa.
Com o estádio não é diferente. E amigo... alma não falta ao Morumbi.
Hoje o gigante completou 51 anos. Ele já estava lá quando meu pai era menino, já estava lá quando eu nasci. Ali eu já vivi todas as miríades de emoção que o futebol pode proporcionar, da desilusão profunda à esperança avassaladora, da raiva extrema à completa euforia, e antes de eu nascer essas mesmas emoções já haviam acontecido no coração de milhares de outras pessoas. E ele adquiriu alma. E se tornou nossa casa.
Casa... hoje o filho pródigo voltou para casa.
Preparamos a festa, fizemos tudo certo, jogamos bem, mas o futebol é inexorável. Do outro lado estava o Flamengo e sua mística camisa, o Flamengo que ganha forças quando sai da condição de favorito. Fomos derrotados, mas o jogo de hoje merece ser lembrado, a atuação de Rogério Ceni hoje merece ser eternizada com canções. E a de Ronaldinho Gaúcho também.
Não foi da maneira que esperávamos, mas esse é mais um jogo que dá alma ao nosso estádio, mais um jogo que fará parte das nossas lembranças. Outros jogos virão, outras duras derrotas nos serão impostas e outras vitórias épicas ocorrerão. Lembranças. Isso é tudo o que importa no final.
Perdendo ou ganhando, não há melhor lugar que o Morumbi para se passar a tarde de Domingo.
Afinal, não há melhor lugar que a nossa casa.
Texto também publicado no Blog do São Paulo (Zanquetta): www.blogdozanquetta.com
Aquilo que passa na TV é outra coisa. É até parecido, mas não é futebol. Não o futebol em sua essência, não a experiência completa.
Se você nunca foi ao estádio, se você nunca sentiu o cheiro de pernil, cachorro-quente e churrasco, nem viu as bandeiras tremulando na porta dele, se você nunca andou junto com a multidão no meio da rua, disputando espaço com os carros, se você nunca foi embora num ônibus lotado, entoando canções de vitória depois de um grande jogo, nunca ficou amontoado com um monte de gente esperando um portão abrir, e correu de um policial logo depois disso, se você nunca viu alguém roendo unhas na arquibancada, nem ficou na ponta dos pés para tentar ver alguma coisa da geral, se sua voz nunca se fez uma com milhares de outras vozes desconhecidas, se você nunca gritou o nome do seu time até não ter mais forças, se seu mundo nunca desabou em tristeza nem explodiu em alegria quando viu a rede balançar ali de perto, então posso afirmar - você nunca viu realmente uma partida de futebol.
A tela fria inibe a emoção, os comentaristas e narradores deturpam a realidade. A alma do jogo só pode ser sentida no estádio.
Estádio, alma...
Você pode juntar um monte de tijolos com cimento, colocar um telhado entrar ali e chamar de "casa" logo no primeiro dia. Sim, será sua casa, mas ali ainda você não se sentirá em casa. Para que você se sinta em casa em algum lugar (mesmo que na sua própria casa!), é preciso que esse lugar tenha alma. E isso não acontece de um dia para o outro.
Sua casa só começa a ter alma conforme você vai tendo experiências nela. As experiências geram lembranças e é disso que a alma é feita. Lembranças. No final isso é tudo o que nos restará. Você olha para um canto e lembra que um dia seu filho caiu e bateu a cabeça ali. Olha para outro e se lembra do dia em que surpreendeu sua esposa com flores e um beijo apaixonado. Você dá risada, ouve música, almoça e janta com sua família ou sozinho, brinca com seu filho e seu cachorro, briga e faz amor com sua esposa. E só então você poderá entrar naqueles tijolos grudados com cimento e realmente se sentir em casa.
Com o estádio não é diferente. E amigo... alma não falta ao Morumbi.
Hoje o gigante completou 51 anos. Ele já estava lá quando meu pai era menino, já estava lá quando eu nasci. Ali eu já vivi todas as miríades de emoção que o futebol pode proporcionar, da desilusão profunda à esperança avassaladora, da raiva extrema à completa euforia, e antes de eu nascer essas mesmas emoções já haviam acontecido no coração de milhares de outras pessoas. E ele adquiriu alma. E se tornou nossa casa.
Casa... hoje o filho pródigo voltou para casa.
Preparamos a festa, fizemos tudo certo, jogamos bem, mas o futebol é inexorável. Do outro lado estava o Flamengo e sua mística camisa, o Flamengo que ganha forças quando sai da condição de favorito. Fomos derrotados, mas o jogo de hoje merece ser lembrado, a atuação de Rogério Ceni hoje merece ser eternizada com canções. E a de Ronaldinho Gaúcho também.
Não foi da maneira que esperávamos, mas esse é mais um jogo que dá alma ao nosso estádio, mais um jogo que fará parte das nossas lembranças. Outros jogos virão, outras duras derrotas nos serão impostas e outras vitórias épicas ocorrerão. Lembranças. Isso é tudo o que importa no final.
Perdendo ou ganhando, não há melhor lugar que o Morumbi para se passar a tarde de Domingo.
Afinal, não há melhor lugar que a nossa casa.
Texto também publicado no Blog do São Paulo (Zanquetta): www.blogdozanquetta.com
O Fluminense e o impossível
O estádio não é grande, mas os times são. Gigantes.
A grama é maltratada, o campo pequeno. Mas em qualquer lugar do mundo onde Fluminense e Santos estiverem jogando, haverá futebol. Às vezes mais que isso.
Hoje teve mais que isso.
O Santos tem a camisa mais tradicional do Brasil. Nenhum time personificou tão bem ao longo da história a alma do verdadeiro futebol, a alegria de se jogar bola. O Santos ataca, o Santos pressiona, o Santos troca passes e vai para cima. Vai pra cima de Fluminense, de Olaria, de Barcelona. O Santos vai pra cima de quem for, na Vila, no Maracanã, em Volta Redonda.
Não importa onde, não importa contra quem - o Santos vai pra cima.
O Santos tem Neymar, e hoje em dia isso é quase como ter Pelé. Neymar é pura poesia no gramado, a bola gruda em seu pé e ele faz o que quer com ela. E ele quer fazer gol. E ele faz. Aos 32, no cantinho, Santos 1 x 0.
Resultado mais que justo após meia hora de massacre.
Quem pode parar Neymar em dia inspirado? Quem pode parar o Santos?
Apenas um time de guerreiros poderia conseguir tal façanha.
Não há feito impossível para um time de guerreiros.
Não há feito impossível para o Fluminense.
Fred deixa Marquinho na cara do gol pela segunda vez. Pela primeira a rede santista balança. O Fluminense empata e o pequeno estádio vira um caldeirão.
No segundo tempo, o Santos volta para jogar bola. O Fluminense volta para batalhar na guerra. Rafael Sobis dispara um míssil no ângulo e o Fluminense vira. O jogo parece decidido, mas um guerreiro age de forma desleal e saí do campo de batalha.
Era a fagulha que o Santos precisava para voltar a brilhar. Renteria empata nos minutos finais e o resultado parece estar decretado. E estaria, se do outro lado não estivesse o tricolor das laranjeiras.
O jogo vai aos 50 e o Fluminense com um homem a menos tem a última chance do jogo numa cobrança de escanteio. O tricolor tem uma chance improvável para obter uma vitória heróica, quase impossível.
E isso basta ao Fluminense - a palavra "impossível" ser pronunciada.
Nem Fred, nem Neymar, nem Rafael Sobis, nem Borges. Quem brilha no instante derradeiro é Márcio Rosário, de cabeça, no canto.
Fluminense 3 a 2.
A festa é tricolor.
E o impossível também.
A grama é maltratada, o campo pequeno. Mas em qualquer lugar do mundo onde Fluminense e Santos estiverem jogando, haverá futebol. Às vezes mais que isso.
Hoje teve mais que isso.
O Santos tem a camisa mais tradicional do Brasil. Nenhum time personificou tão bem ao longo da história a alma do verdadeiro futebol, a alegria de se jogar bola. O Santos ataca, o Santos pressiona, o Santos troca passes e vai para cima. Vai pra cima de Fluminense, de Olaria, de Barcelona. O Santos vai pra cima de quem for, na Vila, no Maracanã, em Volta Redonda.
Não importa onde, não importa contra quem - o Santos vai pra cima.
O Santos tem Neymar, e hoje em dia isso é quase como ter Pelé. Neymar é pura poesia no gramado, a bola gruda em seu pé e ele faz o que quer com ela. E ele quer fazer gol. E ele faz. Aos 32, no cantinho, Santos 1 x 0.
Resultado mais que justo após meia hora de massacre.
Quem pode parar Neymar em dia inspirado? Quem pode parar o Santos?
Apenas um time de guerreiros poderia conseguir tal façanha.
Não há feito impossível para um time de guerreiros.
Não há feito impossível para o Fluminense.
Fred deixa Marquinho na cara do gol pela segunda vez. Pela primeira a rede santista balança. O Fluminense empata e o pequeno estádio vira um caldeirão.
No segundo tempo, o Santos volta para jogar bola. O Fluminense volta para batalhar na guerra. Rafael Sobis dispara um míssil no ângulo e o Fluminense vira. O jogo parece decidido, mas um guerreiro age de forma desleal e saí do campo de batalha.
Era a fagulha que o Santos precisava para voltar a brilhar. Renteria empata nos minutos finais e o resultado parece estar decretado. E estaria, se do outro lado não estivesse o tricolor das laranjeiras.
O jogo vai aos 50 e o Fluminense com um homem a menos tem a última chance do jogo numa cobrança de escanteio. O tricolor tem uma chance improvável para obter uma vitória heróica, quase impossível.
E isso basta ao Fluminense - a palavra "impossível" ser pronunciada.
Nem Fred, nem Neymar, nem Rafael Sobis, nem Borges. Quem brilha no instante derradeiro é Márcio Rosário, de cabeça, no canto.
Fluminense 3 a 2.
A festa é tricolor.
E o impossível também.
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