piso os olhos na madrugada insone. uma mais. não há um som na noite.
nem o piar de uma ave nocturna. nada a não ser eu. eu e Deus a rir da minha ilusão de ser importante o suficiente para que me olhe ou me chame.
nada. eu rosto-tronco de árvore. dia a dia mais áspero ao olhar alheio. a esquecer o esgar de sorrir. a apagar a palavra do vocabulário. quase.
nada nesta noite. como em tantas. falso - há um monte de livros à espera que os leia. ali. na minha frente.
terei perdido os encantados olhos de ler ao perder o encanto de viver?
deve ter sido.
estou a escrever porquê? para quê? para quem?
por puro desfastio. por tique ou vício. não para dizer nada. já não sei de nada por dizer. talvez por isso não leia. deve ser. tudo foi dito de uma forma ou outra.
era preciso inventar uma outra língua. feita de palavras só de esperança e beleza.
não sei como se faz. desisto e vou dormir.
quem sabe pensando em ti até o sono vir eu ressuscito?