PATRIMÓNIOS | 25 SETEMBRO 2020
TODOS OS ANOS EM SETEMBRO

A Associação do Património de Torres Vedras
participa, há uns bons anos, nas Jornadas Europeias do Património que se
realizam sempre em Setembro. Este ano decorrerão nos dias 25, 26 e 27. Cabe à
Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) coordenar as iniciativas que se
organizam por todo o país. O tema deste ano é “Património e Educação”. A página
web da DGPC explica: “Pretende-se com este tema sensibilizar para
o papel do património na educação e para o papel da educação no património,
para a riqueza e para a complexidade desta relação – na literatura, nas artes,
nos monumentos, na dança, no teatro, na paisagem, nos jogos, nos museus, na
fotografia, nos sítios arqueológicos ou na música, entre muitos outros”.
Infelizmente, as condições restritivas impostas
pela pandemia da Covid–19 condicionaram a nossa participação nas Jornadas deste
ano. Bem gostaríamos de organizar um acontecimento público como em anos
anteriores – caminhada temática, ou visita guiada, ou colóquio / conferência ou
o que quer que a criatividade e as circunstâncias permitissem. Não foi possível
e por isso não constamos da lista nacional de iniciativas. Mas estamos
presentes. Esta página PATRIMÓNIOS, que vimos publicando todos os meses no
Badaladas, é, afinal, a forma de participação mais adequada ao tema “Património
e Educação”. Quando aqui abordamos o nosso Património local, fazemo-lo com
intuitos educativos, na perspectiva da Educação para todas as idades.
Inspirando-nos no Latim de origem, a palavra “educar” aponta para um movimento
(educere) para fora. É isso que o
nosso Património nos pede: olhar para além de nós e entender o valor dos
vestígios do passado.
Vem a propósito contar o que se passou há uns anos
numa paróquia do nosso concelho. As pessoas encarregadas da limpeza do cartório
paroquial depararam-se com uns livros antigos, cheios de pó, quase ilegíveis, a
cheirar a mofo. Juntaram-nos ao lixo das varreduras e, no fim do dia, fizeram
uma fogueira no pátio. Salvaram-se alguns que pareciam mais conservados. Alguém
avisado deu conta disto e perguntou às diligentes encarregadas da limpeza o que
tinha acontecido. “Eram papéis velhos, sem préstimo” – foi a resposta inocente.
Afinal, o que tinha desaparecido irremediavelmente
eram registos cartoriais de enorme valor documental: baptizados, óbitos, actas
de confrarias, livros de visitações, despesas de obras, etc. Livros seculares
que uma leitura paleográfica competente desvendaria, trazendo até nós pedaços
de vidas passadas e informações preciosas sobre a História Local. Assim
desapareceram parcelas únicas da memória social que nos ajudariam a entender
melhor o presente em que vivemos.
Este não foi caso único. Por esse país fora,
quantos aconteceram! Felizmente há pessoas esclarecidas que entendem o valor
patrimonial da documentação antiga e os exemplos de salvaguarda talvez
compensem as perdas. Zeladores cuidadosos guardam carinhosamente a documentação
histórica ou encaminham-na para os arquivos nacionais. Nas mãos de
investigadores preparados, esses velhos papéis falam com eloquência do passado
das comunidades humanas.
Um dos lemas da Associação para a Defesa e
Divulgação do Património Cultural de Torres Vedras é este: “Conhecer para
melhor preservar”. Nada do que é o nosso Património nos pode ser estranho ou
inútil, tem sempre algo a dar-nos, por insignificante que pareça. Aquelas
pessoas não agiram por mal mas por ignorância. Ajudá-las a conhecer é um dos
objectivos destas Jornadas Europeias do Património.
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PATRIMÓNIO: ENCONTRO
DO PASSADO COM O FUTURO
Há quem menospreze as preocupações com a preservação do Património
Cultural com o argumento de que o passado está morto e devemos dar primazia ao
presente e ao futuro. Leia-se o que, a este propósito nos diz Guilherme
d’Oliveira Martins numa obra que recomendamos vivamente, Património, herança e memória – a cultura como criação (Ed.
Gradiva, Lisboa, 2009, p. 14):
«Tradição significa transmissão, dádiva, entrega, gratuitidade.
Modernidade representa o que em cada momento acrescentamos à herança recebida,
como factor de liberdade e de emancipação, de autonomia e de criação. A
novidade resulta sempre desse diálogo entre o que recebemos e o que criamos. E
a cultura situa-se nesse ponto de encontro e de saída – não em confronto com a
natureza, mas complementarmente a ela. As casas, os lugares, as regiões, os
povos, as nações, têm um espírito, sempre feito de diferenças e de
interdependência.
Temos, por isso, de entender o “espírito dos lugares” e de transformar
essa compreensão num modo de nos enriquecermos culturalmente a partir do
diálogo entre o que recebemos dos nossos antepassados, correspondente ao
Património material e imaterial, e o que criamos de novo, a contemporaneidade –
que nos insere na História, onde tudo se transforma».
A memória do
passado é um alicerce do futuro (Igreja da Graça, foto Moedas Duarte)
JORNADAS EUROPEIAS DO
PATRIMÓNIO
«As Jornadas Europeias do Património são uma iniciativa anual do
Conselho da Europa e da União Europeia que envolve mais de 50 países, no âmbito
da sensibilização dos povos europeus para a importância da salvaguarda do
Património. Neste sentido, cada País elabora anualmente um programa de
actividades a nível nacional, a realizar em Setembro, acessível ao público
gratuitamente.
A ideia base da iniciativa é promover o acesso aos monumentos e
sítios, convidando à participação activa na descoberta de uma herança cultural
comum, implicando o envolvimento dos cidadãos europeus com o património
cultural. Os objectivos principais são reforçar os sentimentos de identidade
cultural, de memória colectiva e de afirmação de um património comum cuja
riqueza reside na sua diversidade. As Jornadas Europeias do Património
representam, por isso, uma celebração da solidariedade internacional, do
diálogo e da diversidade culturais, constituindo momentos de reapropriação dos
vestígios culturais do passado».
(http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/recursos/projectos-de-divulgacao/jep-jornadas-europeias-do-patrimonio/)
Direcção da Associação para a Defesa e Divulgação
do Património Cultural de Torres Vedras