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quinta-feira, março 18, 2010

Dois poemas de Rosa Jurandir Braz

*

A Poesia vai além dos Cavalos

A poesia vai além dos Cavalos.
Como o oxigênio para os pulmões,
ela está para tudo o que existe.

A Poesia é mais forte
que o ímpeto dos Cavalos
que se sucedem no Fim
- os Cavalos apocalípticos
e seus fantásticos cavaleiros –
se bem que eles cavalgam
na ordem pré-traçada,
e suas cores dramáticas
são notável sinergia.
(As feras, as alimárias
obedecem prontamente,
até mesmo os Cavalos fantásticos,
e estes mais que os outros;
só o homem delonga
no pascer de si mesmo.)

A Poesia subsiste
- vai além dos Cavalos! –
explorada ou preterida,
deturpada ou arremetida
para gáudio dos justos,
para o escárnio dos cínicos.

Os Cavalos se empinam
e têm cores sinistras
quando soa-lhes a Hora;
e o mundo estremece
ao início da marcha,
mas depois se habitua
e acomoda ao destino.

Surge o Branco, O Cavalo
e o Homem do arco
com a coroa que vence.

Vem depois o Vermelho
com o seu “paladino”,
cuja espada faminta
tira a paz toda à Terra.

Logo avista-se o Preto
e o seu cavaleiro,
é o que pesa o minguante.

Se sucede o Amarelo
montaria da Morte
e o seu séquito é o Hades.

E mais tarde é o silêncio,
e as visões são bem altas.

A Poesia subsiste
- que ela é verbo e essência –
e com a outra Virtude
(porque a Fé e a Esperança
serão ambas extintas),
braços dados, se exaltam
musicando “Aleluia”
superior à de Haendel.
O Amor e a Poesia!
Que dueto afinado!
E penetram o Eterno.

Recomeça a inocência
Sem menção aos Cavalos.



Onde Acharei um Portento?

Onde acharei um Portento
que desprenda à Clara Fonte
toda a Canção desta alma?

Muitos dizem. Muito dizem.
Os olhos finos se afligem
não e nunca satisfeitos.

Cecília partiu em Noite.
Drumond em Noite enoitece.
Árvores altas madrugam
quase em vão; quem se convence?!

Há os pássaros no ramo.
Tagarelam tanto e nada
tão-nunca dizem da Água.

Onde acharei um Portento
que aflore, enfim, das raízes
a Canção Total à Fonte?

Que cante a Água que adoça
os olhos da triste fronte?!


Do livro Frutos para o meu Amado (CPAD, 1999).

quinta-feira, novembro 09, 2006

3 Poemas de Rosa Jurandir Braz

Sarça Ardente

“Em Jesus Cristo, temos ousadia e acessocom confiança pela nossa fé nele.” Efésios 3.12

Tira as alparcas dos pés
quando entrares na Presença.
Os calçados aqui aceitos
são os do Evangelho da Paz
somente.

Descalça também as luvas
na tua chegada, sempre.
As mãos que aqui levantes
sejam mãos bem consagradas,
mãos santas.

Extirpa os olhos, se maus,
quando vieres, Hoje.
Os olhos admissíveis
são os do corpo luminoso,
os puros.

Pede a brasa para os lábios
quando ao sopé deste Monte.
A boca que aqui se expresse
será a realmente brunida
com o Fogo.

Desata o teu coração
quando no Santo dos Santos.
A alma que aqui se atreva
Será tão-só, a abluída
com o Sangue!




Redenção

É a luz descendo,
Deslizando suave,
Pousando num ventre,
Aninhando-se doce.

É a luz em dois olhos
Límpidos e mansos
A clarear a Noite,
Sono de milênios.

É a luz sobre as águas,
Ouro sobre azul,
Sinfonia dos Passos,
Deslumbrando os homens.

É a luz se esvaindo.
Um caudal de dores
Abalando o Cosmo
Embebendo o mundo.

É a luz incidindo
Coração da rocha,
Confrangendo-se ao toque
Transmudando-se líquido.

É a luz retomando
Sua antiga glória,
E levando à Essência
Uma prova: as feridas...




Noite Sublime, Noite de Mistérios

“...Vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou
seu filho, nascido de mulher...”
Gálatas 4.4

Engalanam-se os anjos e descem
buquê de flores celestes,
formando no ar uma coroa de luz;
vêm rivalizar com os astros
fulgor e magnificência
que horizontais
e verticais
no céu descrevem uma cruz.

Depois, dão-se as mãos:
um anjo, uma estrela,
aos milhares de mil
e cantam em responso
a antiga ciranda
doce alegria infantil
que Deus ensinou a Jó.

Então, passam às profecias
as do profeta Isaías
que só as ovelhas ouvem:
“ ...um menino nos nasceu,
um Filho se nos deu... ”

Na amplidão da campina
que o céu inunda de luz
pastores de joelhos trêmulos
atendem à voz da estrela
e até esquecem as ovelhas.

Címbalos e harpas divinos
clarins, órgãos e violinos
se ouvem na imensidão.
Cada átomo segreda,
mistérios correm em rios:
é o cumprimento da Lei,
é o nascimento da Graça,
é a redenção dos gentios.

A plenitude dos tempos
na noite eflúvia chegou
no feno da estrebaria,
na friagem dos telhados,
na glória dos céus a flux,
na alegria de José,
no êxtase de Maria,
no doce olhar de Jesus.
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