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terça-feira, novembro 02, 2010

Dois poemas de Paulo Cruz


SACRAMENTO AMIZADE
ao casal amigo Elpídio e Cristina

O Deus que habita em nós em pão e vinho,
também agora habita em amizade.
Em meio aos livros, música, nos filmes,
no crer comum, na força dos conflitos,
na união em prol do pensamento.

Na mesa posta, aposta-se na vida,
na razão sã, na ordem da existência,
tal como desejaram os Antigos.
No estudo, a oração do entendimento,
e na ação do amor (um dom sem preço),
a mística da paz inspira a todos
que aspiram na amizade um bem supremo.

Na comunhão de nobres elementos
― a arte, a fé no Cristo, o intelecto ―
que juntos dão à vida plenitude,
o estar entre os amigos jamais cansa;
da brisa matutina à noite adentro,
tal graça tem um nome: esperança.




COM VOCÊ, SEM VOCÊ
à minha esposa Abigail

Sem você, noite triste
Com você, bem querer
Sem você, vida existe
Com você, mais viver

Sem você, grão delírio
Com você, mente sã
Sem você, vão martírio
Com você, fim do afã

Sem você, gela a alma
Com você, corpo ardente
Sem você, não há calma
Com você, paz prudente

Sem você, rubra aurora
Com você, céu luzente
Sem você, o riso chora
Com você, está contente

Sem você, preto-e-branco
Com você, colorido
Sem você, saltimbanco
Com você, comedido

Sem você, Afrodite
Com você, Psiquê
Sem você, sem limite
Com você, sem você.



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sábado, janeiro 16, 2010

Um poema de Paulo Cruz - Haiti

*


HAITI

Não há em ti beleza,
há em ti escuridão e morte,
tremor de terra,
terror e medo.

Há em ti a impotência,
há em ti o espólio,
na instigante ganância
dos negociantes de gentes.

Há em ti a intriga,
o racismo
do raciocínio inferior
do homem branco.

Há em ti o clamor
pela paz,
pelo dissipar da discórdia
entre irmãos.

Há em ti mãos ensangüentadas,
na guerra
e no mistério demonizado
de teus ritos.

Há em ti a sensação
de desespero
e o grito lancinante
diante de tanta humilhação.

Em ti há
inversão de valores;
e os que te devem
te devoram deveras.

Há em ti, Haiti
o que há em mim,
e em teus escombros
escondo a vergonha

de nunca ter chorado por ti.


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domingo, janeiro 03, 2010

Dois poemas de Paulo Cruz

*


MINHA PRECE

Ao que parece, minha prece
não foi ouvida.
Não digo que não tenho crido,
são meus sentidos que, frustrados,
não têm dado chance a estados
mais receptivos.

Sei, é necessário sarar minha mente,
pois enquanto meus olhos marejados
não minarem essas lágrimas,
de maneira alguma serei são.
Permanecerei filho dessa loucura
que me arrasta,
escravo dessa incredulidade doente...
e propenso a escapes.

Porém, não me culpem os constantes,
sou assim mesmo, movediço.

Sou aquele caniço
movido pelo vento;
cuja face aguerrida
pelo dorso curvado,
toca a Água da Vida.



UM NEO-ATEU VISITA O SERTÃO
 

Seu cangaceiro
porque tanto desatino?
Não há Deus, não há destino,
nem há céu onde morar.

A vida é isso,
muita dor, muito conflito,
mas condenação, repito,
é viver a esperar

alguém que venha
lá do Alto respondendo,
meus problemas resolvendo,
sem que eu saiba onde está;

onde se esconde
esse ser tão desligado,
que não vê o resultado
do que resolveu criar.

Por isso eu digo,
Somos sós, é só matéria,
viemos das bactérias,
a ciência vai provar;

com Charles Darwin,
pai da nobre teoria
(era tudo que eu queria!):
de que a vida vem do mar.

E evoluindo
toda terra, toda espécie,
tudo nasce, tudo cresce,
não sei onde vai parar!

Diria Sartre,
eu o li e te garanto,
é o homem, sem encanto,
condenado a vagar.

E sem comando
ou escolhe a aventura,
sem abonação futura,
ou melhor é se matar.

À minha vista,
li num livro marxista
que a vida é uma conquista
do trabalho a prosperar.

Onde o povo
tem dinheiro sem limite,
todo mundo (acredite!);
pobres? Em nenhum lugar!

Ou pelo menos
tem comida, moradia,
tudo isso é garantia
do governo singular.

Em tais leituras
(mais moderna impossível),
que engenhosidade incrível,
nisto eu quero acreditar.

Não nesse livro,
que escrito há tanto tempo,
por um povo desatento
que não sabe seu lugar.

Espalha o ódio
não a paz, como professa,
seus desvios não confessa,
só sabe dissimular.

E concluindo:
seu estômago roncando
e este sol te estrangulando
não há como resolver.

Me dê teus dados
que voltando ao mundo ativo,
mando-lhe um donativo,
é só o que posso fazer.

E respondendo,
o sofrido cangaceiro,
com pensamento ligeiro
mesmo a fome a o atacar:

Seu dotozinho,
me desculpe, sou sincero,
sua solidão não quero
e lhe digo, quer ouvir?

Aqui no seco,
onde não há segurança,
só se vive de esperança,
tenho um Deus a quem pedir.

Se eu me enfronhasse
Nessa tua maluquice
“Não há Deus!” — Foi o que disse?
Como iria resistir?

De um escritório
é tão fácil palavrório,
mesmo esse tão simplório
pra grã-fino discutir.

Mas no cangaço
esse assunto dá cansaço
e aqui não há espaço,
eu não posso desistir.

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terça-feira, outubro 07, 2008

Dois poemas de Paulo Cruz


ALVÍSSARA

Vede, em ruínas está a cidade,
O canto já não ecoa mais.
Vede, é tudo choro e lamento,
A harpa, em galhos secos jaz.
O vento de desobediência
Trouxe consigo o terror,
O gosto amargo da doce ilusão
Tirou do poeta o amor e a canção;
Quem trará novo alento a Sião?

Mas vede, é dos montes que vem a Paz,
Alvissareira é a notícia que traz
Os pés do arauto, do irmão.
Vede, é vitória já reina teu Deus,
Em corais alardeia Sião
Às nações a tua salvação.



ESPERANÇA NO LEITO


Naquele lugar onde o dia é sempre noite,
adentro, sento e sinto o sonho que já perto
adestra. Deito, em torno, um cabedal modesto
me faz lembrar os momentos cabais de minha
tensa existência debaixo do sol, que hoje,
após anos sem alarde, arde em meu dorso;
anos em que minha vida era tarde tênue,
onde todos os meus sonhos eram fantásticos
e cheios daquela vitalidade pura
que alimentava a alma em toda noite escura.
Hoje, essa cura não chega e a noite dura
muito mais que a eternidade, é fogo que arde.

Porém, em contrição meu coração aguarda
o Mestre, folga de esperança em meio à dor,
do meu peito ferido a paz não baixa a guarda
e resiste, perdendo a vida por ganhá-la
e assim ganhando-a por perdê-la, eternamente.

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