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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

(Filme) Cloud Atlas

Para começar, me recuso a chamar “Cloud Atlas” de “A Viagem”. Não só acho que perde muito o sentido como limita o filme a um estereótipo cheio de trocadilhos bobos que ouvi durante as duas semanas em que fiquei curiosa pelo filme. Ontem tive a chance de passar três horas dentro de um cinema e aproveitar cada segundo de uma história cheia de ação, romance, reflexões profundas e muita emoção.

Cloud Atlas é baseado no livro de mesmo nome, do autor David Mitchell. O filme levou dois anos para ser produzido e, dirigido por Tom Tykwer, Andy Wachowski e Lana Wachowski, o filme encontrou dificuldades desde o início, quando não houve qualquer incentivo ou financiamento pelas grandes produtoras do cinema. E as dificuldades não param, pois – surpresa -, vi que Cloud Atlas vêm sendo um dos filmes mais criticados pelos especialistas de plantão. Não havia um só site em que eu entrava, fosse inglês ou português, em que encontrava críticas pesadas a história. E eu, que rumo contra o comodismo de uma crítica onde os argumentos se baseiam meramente em depreciar uma obra e atacar o intelecto de quem a lê ou assiste, vou abrir uma exceção e morder minha própria língua, muito embora admita que isso não seja nem de longe o correto. Porque, de fato, ou Cloud Atlas foi visto por críticos que não estão preparados para passarem três horas dentro de um cinema, ou os mesmo estão perdendo a capacidade de enxergar um filme que não ultrapasse o limite do superficial.

É verdade, Cloud Atlas é um filme complexo e nem todo mundo pode gostar. É preciso assistir com atenção e, ainda assim, você sai do cinema pensando se o ideal não seria ver novamente. Ao contrário do que o trailer pode nos mostrar de primeira viagem, o foco do filme não é falar apenas sobre reencarnação, embora eu não duvide que cada um possa ter sua própria visão da mensagem do filme. Se você procurar outra resenha, por exemplo, eu tenho certeza que haverá outra visão. Para mim, não dá para dizer que Cloud Atlas trata apenas de um ponto, mas um conjunto de reflexões sobre suas ações, sociedade, livre arbítrio e religião.

“- Você é apenas uma gota no oceano.”

“- O que é o oceano senão uma infinidade de gotas?”

O filme conta seis histórias diferentes, em épocas também diferentes. O advogado que abriga um escravo fugitivo em seu quarto, o compositor homossexual que vai trabalhar ao lado de um dos mais importantes nomes da música, a jornalista que se vê envolvida em uma investigação nuclear, um editor de livros que precisa escapar de um asilo (e aqui já abro meu parênteses para salientar que é um dos momentos mais descontraídos do filme), o clone do futuro que se apaixona e se envolve em uma rebelião, e, por fim, o que o filme chama de “pós queda” (um período que me lembrou a pré história), onde um homem tenta lutar contra uma espécie de demônio interior enquanto tenta manter sua família viva.

É interessante que todos os atores interpretam mais de um personagem, desde 1849 até 2321. Cada uma das histórias pode ser apreciada separadamente sem qualquer confusão, mas ao se interligarem, é preciso prestar atenção para entender como o corajoso editor que tenta escapar do asilo, em 2012, poderia mudar a percepção de um clone e impulsionar Sonmi 451 a mudar o sistema do mundo em que ela vive, em 2144, na Neo Soul. O filme sugere, portanto, a Teoria do Caos.

Segundo a cultura popular, a teoria apresentada, o bater de asas de uma simples borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas e, assim, talvez provocar um tufão do outro lado do mundo.”

Fonte: wikipedia

 

Uma ação sua, por mínima que possa ser, pode mudar a visão do outro. Esse outro, impulsionado pelo seu pequeno ato, pode mudar a visão de muitos. E algo que começou pequeno, toma proporções gigantes. Mais além, as ações do passado com certeza mudam uma geração inteira. Uma frase simples que Sonmi 451 viu em poucos segundos de um filme, por exemplo, desencadeou uma série de efeitos que lhe fizeram lutar contra um sistema e acreditar nessa luta, ainda que fosse claro que houvesse grandes chances de falha. Como repetiu-se diversas vezes durante a história – independente da crença de cada um aqui -, “Nossas vidas não são nossas próprias vidas, do útero ao tumulo estamos condicionados a outros , passado e presente , e através de  cada crime ou a todo ato de bondade determinamos nosso futuro”. No final, o modo como todas as histórias se conectam é suave, sem aquele “oh” de surpresa, mas com certeza um “oh” de fascinação pelo modo como tudo termina.

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Esse é apenas um dos diversos assuntos retratados em Cloud Atlas. Quanto aos cenários, efeitos especiais e caracterização, só tenho elogios, por mais que a crítica diga ao contrário. Principalmente por saber que se trata de um filme independente, imagino a dificuldade que não tenha sido criar tantos efeitos maravilhosos. Houve ousadia e riqueza de detalhes que quase não dá para absorver tudo. Confesso, no começo pensei que não gostaria desse tipo de narrativa cheias de ida e voltas, mudando de história a todo momento, sem um tempo exato. No final, adorei e apreciei cada uma delas.

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Os atores foram magníficos, mas Bem Whishaw, pra mim, trouxe uma das mais brilhantes atuações ao interpretar um compositor homossexual obcecado em criar sua música. Aliás, achei no mínimo curioso que as pessoas na sala não tenham se incomodado com a cena de sexo explícito entre um dos casais da história, mas claramente ficaram surpresas quando o casal homossexual apareceu em uma cama, com “nudez lateral” (existe esse termo? :P). No final, qualquer pré-conceito foi deixado de lado diante da emoção que Bem Whishaw conseguiu nos passar. Ouvi duas ou três pessoas ao meu redor literalmente fungando em uma das cenas mais tristes do filme.

Quanto ao livro, não posso dizer nada sobre comparações, pois ainda não o li. Porém, sei que Cloud Atlas não é aquele filme para relaxar num final de semana. É um filme reflexivo que não entrega seu total sentido desenhado, de mão beijada, mas que obriga a quem estiver assistindo a horas de filosofia sobre o karma, ações, pensamentos e – o que não poderia faltar em cada história -, o amor. Um filme mais do que recomendado.

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