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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O Canto Segundo São João Batista de La Salle


O canto é uma diversão que não somente é permitida, mas e muito honesta e que pode contribuir muito para recriar o espírito de maneira agradável e inocente ao mesmo tempo.
Contudo, a boa educação bem como a religião querem que um cristão não se entregue a cantar toda sorte de canções e que tome cuidado especialmente para não cantar canções desonestas, nem alguma cujo texto fosse livre demais ou ambíguo. Numa palavra, é muito inconveniente para um cristão cantar melodias que levam à impiedade ou em que se exalta o excesso na comida ou cujas expressões e cujos termos dão a idéia de prestar homenagem e que revelam que se encontra prazer nos excessos do vinho; pois além de ser muito sem graça usar tais palavras, elas poderiam contribuir muito a levar a tais ações ruins, mesmo que atualmente não se as esteja fazendo, visto que as canções muito mais facilmente inspiram ao espírito o que elas contêm, do que as palavras em si.
São Paulo nos indica precisamente em dois textos diferentes de suas cartas 1, que os cristãos devem cantar Salmos, hinos e cânticos espirituais, e devem cantá-los do fundo de seus corações e com afeição, porque contêm os louvores de Deus. Com efeito, estes são os cantos que se deveriam ouvir nas casas dos cristãos em que o vício e tudo o que leva a ele não é menos contrário à boa educação do que contra as regras do Evangelho e em que não se deve ouvir qualquer canção que não seja de louvor a Deus e que não leve à prática do bem e ao exercício da virtude.
Esta também era a prática dos antigos Patriarcas que só compunham cânticos quer para louvar a Deus quer para agradecer algum benefício recebido dele.
Davi, que compôs um grande número deles, os compôs em louvor a Deus. A Igreja que se os apropriou, os canta todos os dias e os coloca na boca dos cristãos nos dias em que se reúnem solenemente para prestar seus deveres a Deus, parece convidar a todos a cantá-los
também e repeti-los em particular e aos pais e às mães a ensiná-los a seus filhos.
Como estes santos cânticos foram traduzidos para o vernáculo e receberam uma melodia, qualquer pessoa tem facilidade para os poder cantar, bem como para os ouvir e se encher o espírito e o coração com santas aspirações de que estão repletos. Louvar e bendizer muitas vezes a Deus de coração também deveria ser uma grande satisfação e uma verdadeira diversão para os cristãos.

O que a cortesia pede dos cantores ou tocadores de instrumentos é que nunca demonstrem e nunca dêem sinais e nunca falem disso para conquistar a estima por esse meio; mas se vier ao conhecimento do público e se em certas ocasiões uma pessoa a quem se deve respeito ou deferência, pedir se que toque ou cante uma canção, quer para mostrar o que se sabe, quer para divertir as pessoas reunidas, pode-se gentilmente pedir escusas de o fazer e, em geral, convém fazê-lo; mas, se essa pessoa insiste e insta, seria não conhecer o mundo hesitar em cantar ou em tocar o instrumento que se pede tocar. Pois, se acontecesse que não se cantasse perfeitamente bem ou não se fosse hábil em tocar o instrumento, as pessoas presentes depois teriam motivo de dizer que não valeu a pena fazer-se de rogado; em vez disso, aquiescer de maneira delicada e sem muita demora, deixa a salvo de todas as censuras ou pelo menos não oferece ocasião para elas.
Quando alguém se vê obrigado assim a cantar num grupo, deve evitar o tossir e cuspir e louvar a si mesmo: por exemplo dizer:
"Esta é uma parte muito bonita, e este outro também mais bonito ainda, cuidado com esta descida, etc". Isto manifesta demais a vaidade e a estima própria, e é sinal de que se procura aumentálas.
Não é cortês fazer certos gestos que mostram prazer pessoal; o mesmo se deve fazer também quando alguém toca um instrumento.
Quando se é assim convidado a cantar ou a tocar algum instrumento, não se deve fazer nem um nem outro por longo tempo, porque se deve evitar o tornar-se enfadonho; antes se deve acabar mais cedo para não dar a ninguém motivo de dizer ou de pensar que já basta.
Seria uma falta de educação dizê-lo, caso a pessoa que canta merece alguma consideração; também é grave falta interromper uma pessoa que está cantando.
Deve-se também tomar muito cuidado de nunca cantar só e entre os dentes. Isto é muito descortês em qualquer ocasião que seja. Não o é menos contrafazer uma pessoa que se ouviu cantar, quer porque canta pelo nariz, quer ela tenha inflexões de voz ou maneiras que são inconvenientes e desagradáveis; isto é jeito de palhaço e farsante de teatro. Também assenta muito mal ter maneiras de cantar que são grosseiras, afetadas ou estranhas.
O modo de cantar bem e agradavelmente é fazê-lo de maneira absolutamente natural.

1 Ef 5, 19; Cl 3, 16

São João Batistas De la Salle
Livro: As Regras de Cortesia e de Civilidade Cristã
Capitulo V, das Diversões
Artigo IV, Do Canto.
Páginas 127-130.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Eliot - Medievo, Cultura e Civilização

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T. S. Eliot

 

 

"(...) O ápice da civilização foi alcançado na Idade Média, quando a sociedade, a religião e as artes expressavam um conjunto comum de critérios e valores. Isso não quer dizer que as condições de vida eram melhores então - um item cuja importância deveria ser minimizada - mas que a síntese cultural da Idade Média simboliza um ideal de comunidade européia. Toda a história posterior representa uma degenerescência desse ideal. O cristianismo se decompõe em nações, a Igreja em heresias e seitas, o conhecimento em especializações, e o fim do processo é que o escritor está pesarosamente observando em seu próprio tempo “a desintegração da cristandade, a deterioração de uma crença comum e de uma cultura comum”." (FRYE apud ASCHER)

 

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"À nossa herança cristã devemos muitas coisas além da fé  religiosa. Por meio dela seguimos a evolução de nossas artes, por meio dela temos nossa concepção da Lei romana que tanto fez para moldar o Mundo ocidental, por meio dela temos nossos conceitos de moralidade pública e privada. E por meio dela temos nossos padrões comuns de literatura, nas literaturas da Grécia e de Roma. O mundo ocidental tem sua unidade nessa herança, no Cristianismo e nas antigas civilizações da Grécia, de Roma e de Israel, a partir das quais, devido a dois mil anos de Cristianismo, determinamos a nossa descendência. Não desejo elaborar esse ponto. O que eu quero dizer é que esta unidade nos elementos comuns da cultura, em muitas centúrias, é o verdadeiro vínculo entre nós. Nenhuma organização política e econômica, por mais boa vontade que ela exija, pode suprir o que essa unidade cultural dá. Se dissiparmos ou jogarmos fora nosso patrimônio comum de cultura, então toda a organização e planejamento das mentes mais engenhosas não nos ajudará, ou nos colocará mais juntos."

 

Dados da obra: 

 

Livro: Notas para uma Definição de Cultura                  Autor: T. S. Eliot
Páginas: 13 e 152
O conservadorismo de Eliot - Páginas 9-16
Apêndice: A Unidade da Cultura Européia - Páginas 137-153
Direitos em língua portuguesa reservados à Editora PERSPECTIVA S.A
1° edição (de 1988) - 2° reimpressão - 2008