As árvores já têm copas de lava
de tão violentadas as águas do rio
exibem fissuras nos dedos
os ursos polares têm calor em pouco gelo
ao sol.
O que antes foram cedros e figueiras e abetos
não são hoje cardos?
E não pode a água fluir límpida
da boca do ventre?
Cessarem os sacrifícios de canários em minas de carvão?
Não basta o sangue de um só para lavar as suas entranhas?
Tirar o cinto que garroteia as nuvens
e retêm os mananciais na esponja e a luz
a rega precoce e tardia que fala e beija a terra
e alimenta com a profecia os chacais e as avestruzes
as bestas selvagens do ermo?
Vamos, filhos do Rei, que não é a hora de a rocha
emanar a lava, mas de estancar o vómito aos vulcões!
Manifestai a vossa glória de príncipes!
É a hora de plantar os lírios e colher o vetusto jardim
de deixar que os ossos enterrados sejam as raízes
da árvore da vida.
De rasgar no deserto a via por onde passarão os exércitos!
De fazer brotar o rio das ânsias de parto do pesadelo!
(27/05/08 Após ver o filme An inconvenient truth e correr a ler Paulo, Carta aos Romanos 8:19 “Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus.”)