terça-feira, 24 de novembro de 2020

Testamento

Quando eu morrer eu quero que cremem o meu corpo e joguem as minhas cinzas no Mar...
Quero me dividir em mil partículas acinzentas e me juntar à areia, ao sal e às águas azuis e assimétricas.
Quero ser parte da espuma das ondas e quebrar nos rochedos mais distantes.
Quando eu morrer quero me unir à natureza como nunca fiz antes. Reluzir o brilho das estrelas quando a noite chegar e navegar sem rumo pelos sete mares...
Quero entregar a minha alma aos anjos, e voar em seus braços por céus de brigadeiro.
Quando eu morrer eu quero que você não acredite jamais que o meu amor morrerá comigo, pois o deixo como o meu maior tesouro...
Apenas porque eu vou te amar por toda a eternidade.
E o seu doce nome vai estar sempre ecoando na minha alma, como um cântico sagrado, o mantra que me eleva , as 5 únicas letras que, para mim, definem a palavra “amor”.

Vilma.

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Ensaio sobre a cegueira

Acordei naquela quinta-feira como se fora outra qualquer.
Recém-saído dos meus pesadelos habituais, sentia-me zonzo como sempre.
Mas, ao abrir meus olhos míopes, tive uma pouco surpreendente revelação. Eu estava finalmente cego.
A princípio, imaginei tratar-se da continuidade de algum sonho infeliz daqueles que me assaltam às hordas.
Esfreguei meus olhos, pisquei repetidas vezes, virei-me para a janela na esperança de ver alguma luz, mas nada.
Me convenci titubeando que estava acordando no meio da madrugada e que havia apenas perdido o sono.
O insistente ruído da obra ao lado de casa que recomeça pontualmente às 7 da manhã convenceu-me do contrário em poucos minutos.
Ainda sob meu amado cobertor cinza, me preocupei seriamente com meus filhos e com a minha mãe. Como eles lidariam com isso? “Sempre fui um cara independente, de gênio forte, ranzinza e sempre odiei qualquer tipo de auxílio que eu precise ou peça”.
A seguir preocupei-me comigo.
Levantei-me da cama tateando em busca da parede próxima a porta para finalmente ir ao banheiro lavar o rosto e escovar os dentes.
Então me preocupei em como ouvir Robert Glasper, Meshell Ndegeocello, S.Carey, Joey Alexander, Erykah Badu entre tantos outros em meu pc, desenhar, criar e continuar a ser o artista exótico que sou.
Lembrei-me de Stevie Wonder, de “The secret life of plants” e voltei a dormir até acordar em uma sexta feira surpreendentemente iluminada.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Dourado

Não gosto de cachorros, gatos ou peixinhos dourados.
Não gosto de nada que dependa de mim para viver.
Gosto de mulheres...
Elas me parecem independentes.
Não gosto de suas fragilidades.
Elas me parecem mentirosas e odeio mentiras que não sejam as criadas por mim com minha caríssima ração.
Gosto de gente que é capaz de viver a um ou dois degraus acima de mim.
Só assim elas entendem os motivos que me fazem não gostar de um animal dependente de tudo.
Como eu ou os pequenos e frágeis peixes dourados...

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Sempre

Uma saudade que nunca termina o que é?
Mesmo ciente das suas impossibilidades, dos nossos erros e das suas distâncias e seus muros.
Nunca cessa por quê?
Vou te amar pra sempre até que alguém me ame pra sempre.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Espasmos

Preciso do meu poder de síntese, da minha sensibilidade apurada, de toda a minha compreensão, preciso da minha inteligência, da minha experiência e cultura para entender quando e por que parei de sentir.
Preciso saber os motivos pelos quais, mesmo morto, continuo sonhando com aqueles dias noite após noite durante todos esses anos.
Como se aquilo ainda existisse, como se eu ainda estivesse vivo.
São espasmos luminosos como pequenos choques elétricos que fazem meu corpo tremer enquanto durmo. E acordo sobressaltado, procurando nas esquinas sombrias do meu quarto uma presença que, por alguns segundos, me iluminou.
O que resta de mim são lembranças, e mesmo elas estão se esvaindo.


sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Azul

Vou te contar um segredo...
E que esse segredo fique guardado apenas entre nós dois.

Quando estou submerso, cercado apenas por minúsculas bolhas de ar que insistem em buscar a superfície, e nada me aflige, nem frio ou calor, nem desejos ou dores, nem teto ou chão, flutuando ao sabor de ondas sonoras que vibram ao menor movimento de meus dedos nadando entre prateados cardumes de letras, prendo minha respiração e por alguns instantes, mesmo que em um claro lampejo insano, perco-me na imensidão azul da possibilidade de mais uma vez mergulhar em você.