12 de março de 2006

L'amant

Estava organizando meus poucos livros numa estante improvisada quando vi esse livro que comprei num sebo há muito tempo atrás. Comecei a ler e consequentemente lembrei do filme. Que filme, diga-se de passagem. Essas cenas foram as mais marcantes. Apesar de que, tem uma cena que eu amei mas não está no livro. Aquela cena que eles viajam no carro, cada um no seu canto, mas de repente as mãos se tocam. Nada de palavras, nem de olhares, apenas o toque das mãos já diz tudo, todo amor e desejo que paira no ar. Belíssimo!
"(...) O homem elegante desceu da limusine, fuma um cigarro inglês. Olha para a moça com chapéu masculino e sapatos dourados. Aproxima-se dela lentamente. Percebe-se que está intimidado. Não sorri logo no começo. Oferece um cigarro. Sua mão treme. Há a diferença de raça, ele não é branco, precisa sobrepujar esse fato, por isso treme. Ela diz que não fuma, agradece. Não diz mais nada, não diz que a deixe em paz. Então o medo diminui. Então ele diz que parece estar sonhando. Ela não responde. Não vale a pena responder, o que poderia responder? Ela espera(...)"

Essa cena é inesquecível como tantas outras cenas do filme "O Amante", adaptação do livro de Marguerite Duras. Essa cena descrita no livro também é linda:

"(...) Um cubículo ao sul da cidade. O ambiente era moderno, e parecia mobiliado às pressas, com móveis modern style. Ele disse: não escolhi os móveis. Está escuro, ela não lhe pede que abra as venezianas. Ela não consegue definir muito bem seu sentimento, não sente ódio, nem repugnância, então talvez se trate de desejo. Não sabe de nada. Consentiu em ir ao apartamento quando ele pediu, na noite anterior. Está onde precisa estar. Deslocada. Sente um pouco de medo. Na verdade, poderia dizer que tudo deverá corresponder não só ao que espera, mas também exatamente o que deve acontecer. Está muito atenta ao exterior do ambiente, à luz, ao ruído da cidade que envolve o quarto. Ele está trêmulo. Olha para ela como se esperasse ouvi-la dizer alguma coisa, mas a moça não fala. Então ele também fica imóvel, não a despe, diz que a ama como louco, em voz muito baixa. Depois, fica calado. Ela não responde. Poderia dizer que não o ama. Não diz nada. Subitamente compreende, num momento, que ele não a conhece, que não a conhecerá jamais, que ele não é capaz de conhecer tanta perversidade(...)"

Um comentário:

Márcia disse...

Lidiane disse...

Preciso ver, URGENTE, alguma coisa que abale minhas estruturas.Ou sentir algo assim.

7:10 PM