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terça-feira, 8 de setembro de 2020

Sobre os dois irmãos de Famalicão.







O Vasco Barreto, que é brilhante-fulgurante mas doido, achou por bem dizer umas coisas só à altura da grandeza de carácter que todos lhe reconhecem. Somos amigos há muitos anos, mas nesta excedeste-te, Vasco, poças. E, como amigos de muitos anos, fomos falando deste caso dos dois alunos de Vila Nova de Famalicão que correm o risco de recuar dois anos num percurso escolar brilhante. Ninguém deseja que isso aconteça. E estou em crer que toda a gente, ou pelo menos quase toda, a que assinou este manifesto, não deseja que os dois alunos de Famalicão percam dois anos da sua carreira académica. Ninguém o deseja, nós também não. E, por isso, o Vasco e eu (não, não foi «eu e o Vasco», foi «o Vasco e eu»), decidimos escrever um texto que saiu hoje no Público, edição online e na versão papel. Há quem se mova por grandes princípios, abstracções lindíssimas, ideologias de um sentido ou de outro. A nós preocupa-nos mais o concreto e básico, as pessoas de carne e osso. Talvez seja mais comezinho e mais terra a terra, porventura mais poucochinho, mas não é despiciendo nem de somenos, julgamos nós. Quanto a si, julgue o que quiser – mas conceda apenas que eu e o Vasco, ou o Vasco e eu, escrevemos este texto de coração aberto e em plena boa-fé, total e absoluta.








segunda-feira, 10 de junho de 2013

O eugenismo em imagens.


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O concurso «Better Baby», na sua edição de 1908


Otmar von Verschuer observando gémeos


 

Todos nos lembramos do arrepiante ensaio de Stephen Jay Gould sobre o caso Carrie Buck. E daquilo que, no Supremo Tribunal dos Estados Unidos, disse um dos maiores juristas americanos de todos os tempos, Oliver Wendell Holmes: «Já bastam três gerações de imbecis» (cito de memória). Asim se permitiu a esterilização forçada de uma mulher.

O Vasco, com a sua enorme generosidade, mandou-me a notícia de um fantástico arquivo de imagens, o Cold Spring Harbor Eugenics Image Archive. Há lá de tudo, desde os retratos das monstruosidades de circo até ao concurso «Better Babies». E, claro, o trabalho de Otmar von Verschuer sobre gémeos. Houve um português, Ayres de Azevedo, que estudou no Kaiser Wilhelm Institut, de Versucher. José Pedro Castanheira investigou o caso a fundo, tendo publicado Um Cientista Português no Coração da Alemanha Nazi.

Entre nós, que recepção tiveram as doutrinas eugénicas? Tiago Pires Marques já levantou uma ponta do véu sobre este tema. Mas ainda há muito, mesmo muito, para estudar. Um campo em aberto.
 
 
António Araújo
 
 


sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Homeopatetas.







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Com o fim da II Grande Guerra e o abandono das bases militares montadas em ilhas do Pacífico, os nativos construíram simulacros de aparelhos de rádio e torres de controlo de tráfego aéreo, passando a imitar o comportamento dos militares, na esperança de que esses rituais trouxessem de volta os aviões e a riqueza material a que se tinham entretanto habituado.

Tal como estas tribos pré-industrializadas, também o nosso parlamento parece ter confundido a essência com o acessório, ao aprovar uma proposta de lei para regulamentar a homeopatia, mas não o fez com a convicção das gentes do Pacífico, tratou-se apenas da derradeira instrumentalização conseguida por um lobby competente. Não há evidência que sustente a homeopatia. Nem lógica: o típico medicamento homeopático é preparado segundo diluições seriadas tão extensas que qualquer eventual princípio activo está ausente na diluição final. Sem conseguirem curar pessoas, é notável o estatuto que os homeopatas têm conquistado pela aposta no acessório: os mais de 200 anos da prática como sinal de garantia, um conceito de “medicina personalizada” que dificulta o seu escrutínio pelos testes da medicina convencional, e institutos, revistas da especialidade e licenças para os seus praticantes. A OMS, que os homeopatas gostam de citar de forma parcial, alertou para os perigos do uso da homeopatia no tratamento da SIDA, da tuberculose, da malária, da gripe e da diarreia infantil. Por outras palavras, diz-nos que não devemos brincar aos homeopatas com as doenças sérias. Mas o nosso parlamento desprezou a validação empírica das práticas médicas e incentivou o recurso a fantasias. Ninguém ficou muito incomodado, porque enquanto a medicina convencional não encontrar a cura para todos os males haverá sempre um filão de expectativas a explorar. Não se percebe é por que motivo, por intermédio do Estado, precisamos todos de ser cúmplices involuntários de uma vigarice.


Vasco M. Barreto