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quarta-feira, fevereiro 19, 2025

Nem sempre temos noção "do que é sofrer"...


Ainda não me tinha acontecido uma coisa parecida, nas ruas, uma senhora chamar-me e pedir-me o braço.

Voltei atrás, sem perceber muito bem o que ela queria. 

A senhora só queria chegar a casa e devia estar com alguma dificuldade, embora morasse apenas a setenta, oitenta metros daquela esquina. 

Dei-lhe o braço de uma forma desajeitada, ela disse-me para deixar o braço normal e depois agarrou a manga do meu casaco e seguimos na direcção da sua casa. Para me descansar e perceber que não morava no fim da avenida, disse que ficava ao lado dos "Pinto's (barbearia)".

E depois nunca mais parou de falar. Fiquei a saber que estava cega de uma vista e da outra tinha um glaucoma e outro problema qualquer, ou seja devia ver pouco mais que sombras... Também me falou de um tratamento inovador, que usava o seu próprio sangue. Fiz-lhe poucas perguntas, uma delas foi se vivia sozinha. Disse-me que vivia com uma senhora de 93 anos. Quase que me silenciou...

E depois chegámos à sua porta. Tinha um carrinho de compras, tentei ajudá-la, foi quando percebi que estava carregado. Ela disse-me que não era preciso, acrescentando que o carro era a sua "bengala".

Deixei-a e fiquei a pensar que nos queixamos de mais, e que nem sempre temos noção "do que é sofrer"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, fevereiro 17, 2025

Estar perto e longe da minha vista...


Às vezes acontecem-nos coisas quase surrealistas, daquelas fáceis de explicar e difíceis de entender.

Estávamos à distância da largura da rua, demasiado movimentada, para se passar para o outro lado, sem esperar pela mudança do sinal.

Ligaste-me a dizer que precisavas de falar comigo e enquanto íamos conversando vi que uma mesa do café tinha ficado vaga e coloquei as minhas coisas numa das cadeiras, a marcar lugar. Quando olhei para fora, já não estavas. Ainda estávamos a falar como os maluquinhos que andam por aí, quando peguei nas minhas coisas e vim até à rua e não havia qualquer sinal de ti.

Não podias estar longe. Devias ter contornado a esquina mais próxima e ficaste longe da vista. Entretanto um de nós desligara o telemóvel (devo ter sido eu, que com a minha surdez natural, ouvia  mais os ruídos urbanos que a tua voz...).

Atravessei a rua mas acabei por seguir na direcção contrária, ou seja, em vez de me aproximar, estava a afastar-me de ti. Foi quando o telemóvel voltou a tocar. Disseste que estavas sentada na esplanada rente à igreja, à minha espera.

Foi quando percebi o que tinha acontecido. E sim, tinhas razão, era um lugar mais sossegado para se conversar. Além de haver sempre mesas à espera de pessoas, os clientes habituais era gente que bem sequer conhecíamos de vista...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, fevereiro 06, 2025

Uma boa conversa sobre a falta de "planícies" nas cidades...


Estava quase a entrar no quintal, quando vi um homem sentado no degrau do portão, a fumar um cigarro.

Normalmente encontrava uma ou outra mulher ali sentada, a descansar, a meio da subida, demasiado íngreme e longa, com o saco das compras ao lado. Desviava-me para entrar, dizendo-lhes para continuarem sentadas a descansar, quando se preparavam para seguir viagem.

O fumador fez-me lembrar um tio emprestado, que também esteve ali sentado a fumar um cigarro "às escondidas" (a mulher e o médico diziam que lhe fazia mal, só que como lhe sabia bem, nunca deixou o vício...), a quem fiz companhia. 

Estivemos por ali a conversar, há uns bons vinte anos. O tempo é aquela coisa que todos sabemos...

Ele era uma pessoa divertida e entre outras coisas, depois da passagem de algumas pessoas de idade, por nós, disse-me que todos aqueles que tivessem mais de sessenta anos deviam ser proibidos de passar por aquela rua, a pé, tanto a descer como a subir. E acrescentou, que com o passar dos anos, descer tornava-se mais penoso que subir, por causa dos joelhos. E quem tenha jogado à bola, como ele, ainda pior...

Mas o melhor estava ainda para vir, quando ele quis quase sustentar a tese sobre "proibição" de uma forma alegre: «Esta descida é tão vertiginosa, que ainda aparece aqui alguém com dores nos joelhos que cai na tentação de, em vez de descer a rua, normalmente, começa a rebolar até lá baixo.»

Soltámos ambos uma gargalhada, que fez com as mulheres da casa viessem à janela e ele tivesse de apagar o cigarro à pressa, sem escapar de ouvir boas da esposa, enquanto me piscava o olho, quase a querer dizer-me: "deixa-as falar, ninguém me tira o prazer de uma boa cigarrada"...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, fevereiro 02, 2025

As coisas que não se explicam...


Evito passar pela nossa rua.

Até porque quando olho para a janela da sala, que abríamos de par em par e onde dizíamos bom dia, boa tarde e boa noite à cidade, fico a pensar que ando a imaginar coisas.

Apeteceu-me telefonar-te e perguntar se ainda tocas viola e cantas as canções dos "comunas", mesmo que todos soubéssemos que o Zeca fosse o seu próprio "comité central" e o Adriano continuasse a ser o gigante, que era amigo do tio Zé, ambos de outras esquerdas. 

Foi quando me lembrei que não tenho o teu número actualizado. 

Pois foi, passou tanto tempo. 

O engraçado da coisa, é que as coisas pioram quando viro costas. O prédio que agora é cor de rosa volta à nossa cor. Sim, os nossos amigos de então sabiam que vivíamos no terceiro andar direito, da "casa amarela"...

Claro que não olho para trás. Não preciso de confirmar, que o nosso prédio é amarelo.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, janeiro 12, 2025

A liberdade nunca foi fazermos e dizermos o que nos dá na "real gana" (um)


Acho que os grandes problemas da sociedade actual são a forma como se entende a liberdade, seja em casa, na escola ou na rua.

E devo dizer, desde já, que nesse aspecto as redes sociais não têm grande coisa a ver com o assunto.

Houve mudanças enormes nos últimos cinquenta anos no nosso país, mas nem todas foram bem definidas, reguladas e aceites pelo comum dos mortais. 

A necessidade de mudança foi tal, que levantou logo outras questões (ainda durante o PREC...), que foram agravadas pela falta de cultura democrática, normal, para quem tinha vivido quase meio século em ditadura. Além do poder repressivo, abusava-se do "respeitinho", imposto pela generalidade das autoridades e das instituições.

Infelizmente, tanto no seio da família, como na escola ou na vida em comunidade, nunca se conseguiu encontrar o caminho certo para a tal liberdade, que se alimenta tanto de direitos como de deveres. Foi bom abolirmos o "respeitinho", mas foi muito mau deixarmos de respeitar o outro, como alguém igual a nós, nos tais direitos e deveres, que quando cumpridos, são a grande marca das sociedades mais bem sucedidas, social e economicamente.

Facilitou-se demasiado o caminho e chegámos a um tempo em que tudo parece "estar em crise". Mas é uma crise que parece interminável e dura há praticamente duas décadas e se tem agudizado (aí sim, com o apoio das redes sociais, onde tudo parece ser permitido...)...

Mas eu continuo a pensar que tudo começa e acaba no uso que damos à boa da Liberdade.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)



sexta-feira, novembro 08, 2024

A única estatística que tenho é o meu olhar, mas...


Embora não tenha nenhum dado estatístico sobre qual é o animal doméstico mais popular na actualidade em Almada, noto um grande crescimento de cães. E isso acontece desde a pandemia.

Antes, o que se via mais em Almada, eram gatos. Muitos deles "vadios", mas como tinham sempre várias distribuidoras de comida e de água, pelas ruas da Cidade, sobreviviam sem grandes dificuldades.

Depois veio a pandemia e quase que se deu ouvidos à sabedoria popular (sempre ela...), e quem "tinha medo", acabou mesmo por comprar um cão, nem que fosse para ter uma desculpa para andar na rua, nesses tempos de quase reclusão...

Alguns deles devem-se ter afeiçoado aos animais, outros habituaram-se a estes passeios, como momentos de evasão familiar, outros mais estranhos, perceberam que os cães nunca refilam com os donos, nem quando levam um ou outro pontapé...

A única coisa de que tenho a certeza, é que nunca vi tanto cão a passear na cidade, atrelado a seres humanos...

Também sei que antes da pandemia, havia mais humanidade pelas ruas. Claro que se há alguém que não tem nenhuma culpa disso, são os cães e os gatos...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


domingo, outubro 27, 2024

O medo no uso das palavras...


Cada vez se fala mais em surdina nas ruas, especialmente quando se utilizam as "palavras proibidas", de uma lista cada vez mais longa, numa sociedade cheia de tiques repressivos e de falsos pudores.

Onde parece que tudo é possível, é nas redes sociais. Se excluirmos o "censor oficial", continua a valer tudo, até tirar olhos.

Continuo a pensar que, podemos e devemos falar de racismo, fascismo, xenofobismo ou machismo, em qualquer lado, porque eles estão presentes no nosso dia a dia. 

É tão negativo entrarmos em negação como generalizarmos o uso e a prática destas palavras. Só nos torna uma sociedade ainda mais fechada e desigual.

Não devemos ter medo de usar as palavras, todas...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, setembro 04, 2024

Uma cidade suja gerida por governantes cheios de nódoas e (no mínimo) incompetentes...


Um dos problemas mais graves da gestão autárquica em Almada é à falta de limpeza e higiene das ruas.

Além desta coligação contra natura (PS/ PSD) nunca ter resolvido o problema, apesar das promessas eleitorais - logo no primeiro mandado - conseguiu piorar tudo nas ruas e fazer com que a gestão anterior da CDU, se tornasse um bom exemplo (a todos os níveis).

O lixo não se limita aos contentores, ocupa o espaço público que os rodeia. Fica assim dias seguidos, sem que exista qualquer recolha. E o mais grave, é que não se sente a preocupação de resolver o problema com a população (que também está cada vez menos sensibilizada e acha que pode deitar tudo para a rua...). Este "deixa andar", além de ser grave em termos de saúde pública, é preocupante também ao nível da responsabilidade (que não existe...) política. Teoricamente, o pelouro é da responsabilidade do PSD, mas todo o executivo é responsável pelo que se passa nas ruas de Almada.

E nem vale a pena falar da vegetação que cresce por todo lado, meses seguidos, ou dos buracos nos passeios e nas estradas, que são companhia diária dos Almadenses, em praticamente todas as artérias do Concelho.

Tenho alguma curiosidade em saber o que é que esta gente pensa da sua acção governativa (e nem vou falar da cultura e do associativismo, áreas que me são queridas, onde nunca houve tanta falta de apoio ou de iniciativa...). Provavelmente estão preparados para cumprir mais um mandato e deixar tudo ainda pior, do que está, na actualidade...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, junho 20, 2024

Os cheiros e outras coisas parvas que fazem parte das conversas


Há dias que falamos sobre coisas parvas. Sei que isso acontece porque este mundo que nos rodeia, também está cada vez mais parvo...

Não vou ao exagero de dizer que está tudo mal nessa coisa que dizem ser a mais inteligente que habita neste planeta quase redondo. Mas o normal é encontrarmos mais caras sisudas que caras sorridentes nas ruas e nos transportes públicos.

Não sei quem foi que começou a falar de "cheiros", mas acho que foi a senhora que disse que teve de fingir que estava com alergia logo de manhã e tapar o nariz, e logo às oito e alguns minutos da manhã, porque um dos companheiros de viagem não devia gastar dinheiro em desodorizantes e também devia evitar tomar banho para poupar água...

Claro que depois a Capital quase que veio abaixo, porque Lisboa há muito que não cheira bem. E diziam eles, que era por causa de quem vinha de fora, não de férias mas em trabalho...

Estavam certos. Se em muitas casas vivem mais de uma dezena de pessoas, deve ser complicado ter condições para dormir, quanto mais para um banhito... E nem vale a pena falar de quem vive em tendas.

Vá lá que só se falou do cheiro do sovaco, não se falou do cheiro dos lugares mais recatados, que fazem as vezes de urinol público...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, maio 28, 2024

Coisas que se dizem, coisas que ouvimos...


Às vezes penso que, mesmo ligeiramente duro de ouvido, sou capaz de ouvir uma ou outra coisa engraçada, aparentemente com potencial para entrar em qualquer história.

Foi o que aconteceu hoje de manhã, quando ouvi um rapaz mais novo que eu (mas já com mais de quarenta), dizer uma daquelas coisas, que parecem retiradas dos livros, a um jovem, que podia muito bem ser seu filho.

Não percebi o contexto da frase, embora isso não tivesse qualquer importância para o caso. A única coisa que pensei, foi que não fazia muito sentido, pelo menos para mim.

Mesmo assim não a esqueci: "Crescemos até aos vinte anos, e a partir daí, começamos a morrer..."

Eu pelo menos cresci até mais tarde, aos quarenta ainda estava a "crescer"... Em relação ao "morrer", há quem ainda vá mais longe e diga, que começamos a morrer assim que nascemos...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, maio 22, 2024

Essa coisa que parece boa, de se fingir "que não se passa nada"...


Nunca senti tanto as mudanças de tempo no corpo como agora.

Sei que é sinal de velhice e de perda de qualidades físicas. Mas também sei que é sinal destes tempos estranhos, em que somos brindados com as quatro estações num só dia, porque continua a ser mais fácil e agradável (por enquanto...) fingir que está tudo bem.

Ontem, numa viagem relativamente curta, de apenas 100 quilómetros de carro, fez muito sol, choveu, fez frio, voltou a fazer sol e depois as nuvens ganharam o céu, por um bom bocado, até darem de novo espaço ao sol.

A parte que me é mais desagradável são as enxaquecas. Antes só aconteciam quando arrefecia muito e a minha sinusite dizia presente. Mas aconteciam apenas uma meia-dúzia de vezes por ano...

Mas o que queria dizer, é que me incomoda bastante que as alterações climáticas continuem a ser tratadas como um "fair diver", quase como uma diversão de estudantes rebeldes que pintam montras, cortam estradas, etc.

Basta olhar para o lixo que floresce ao lado dos contentores, diariamente, próximo da minha casa, para perceber estes humanos que me rodeiam. É colocado duas vezes no sítio errado. Fora dos ecopontos e fora dos contentores do lixo geral. 

Não ando a ver quem faz isto, mas calculo que seja gente de todas as gerações, ou seja, há demasiadas pessoas a fingir "que não se passa nada", mesmo que de um momento para o outro, o vento se faça ouvir, irado, e ameace levar tudo à frente...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


terça-feira, março 19, 2024

(Não querer perder o prazer de olhar...)


Há já algum tempo que noto que muitas pessoas olham para mim de lado e desconfiadas. Nada que me preocupe. É a chamada "fruta do tempo", embora seja cada vez menos sazonal.

Isso acontece porque continuo a olhar quase tudo de frente, mantendo vivo este vício de observar o mundo. Não sei o que é andar "adormecido e teleguiado" por um smarphone pelas ruas (o que tenho, passa a maior parte do tempo suspenso, na caixa de onde veio da loja... e está longe de ser encarado como um "companheiro").

Se continuar assim, conservador, corro o risco de viver quase "num outro mundo". Por enquanto, não é coisa que me preocupe. Se forem só os "olhares de lado", e as "desconfianças", são coisas com as quais convivo bem.

Acho que esta minha resistência, prende-se sobretudo com uma coisa: não quero perder o prazer de olhar. 

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


terça-feira, março 05, 2024

Os maneirismos femininos e as brincadeiras de rua...


Estava à espera que encontrassem uma encomenda que fora deixada por um amigo, na companhia de duas mulheres, cada uma delas na sua secretária, a fazer pela vida. Uma delas chamou-me mais a atenção pelos seus maneirismos, tão femininos.

Foi quando pensei que, enquanto tinha andado a jogar à bola, a correr e a saltar na rua, ela devia estar em casa fechada, agarrada às suas bonecas e a fazer caretas ao espelho, enquanto ensaiava os primeiros truques de maquilhagem. E claro, a imitar os maneirismos de outras mulheres, fossem elas da família ou personagens de qualquer filme.

Em apenas cinco minutos descobri algumas das diferenças que se foram criando, desde a infância, e que fazem de nós, homens e mulheres, seres completamente diferenciados em muitos aspectos...

Claro que não me arrependi nada de andar mais entretido com os jogos de rua e parvoíces de rapazes, que a aprender coisas que me poderiam ter transformado num "menino de qualquer coro"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, fevereiro 10, 2024

«Estamos a ficar novamente parecidos com a fita de Fellini (aliás, Scola), "Feios, Porcos e Maus"»


Quando o Carlos disse: «Estamos a ficar novamente parecidos com a fita de Fellini, "Feios, Porcos e Maus"», pensei que se estava a referir aos últimos episódios do nosso país, das contestações dos polícias e agricultores, dos casos de justiça na Madeira e no Porto, ou ainda da campanha eleitoral.

Mas não. Estava a referir-se mesmo ao nosso aspecto e à forma como vivíamos, com a miséria a ser cada vez mais visível nas ruas da Capital, com o aumento dos sem abrigo. Curiosamente, ou não, gente de todas as idades: jovens toxicodependentes; pessoas de meia-idade sem emprego; e claro, velhos abandonados e esquecidos pelas famílias...

Com a curiosidade de também se encontrarem gentes de outros países misturadas com os nativos, que além de enfrentarem os mesmos problemas, vêem estes agravados pela dificuldade de comunicação e pela sua situação de ilegalidade...

Infelizmente o Carlos está certo (não na fita, pois o filme citado é de Ettore Scola - obrigado José). 

Mas os governantes, como é hábito, fingem que o problema é pequeno e está controlado (e fora da campanha)... 

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


sexta-feira, fevereiro 09, 2024

Olá liberdade! Bom dia!


O normal é que as gentes que trabalham em lugares, onde estão a servir os outros, quando tiram a respectiva "farda", sejam outras pessoas, muitas vezes quase irreconhecíveis.

Foi o que disse ao meu amigo que estranhou ver na rua, aquela miúda doce e simpática, que trabalha no nosso restaurante preferido, com um penteado estrambólico, percings, baton preto e roupas do mesmo tom.

Ela até lhe disse olá, pelo que ele não devia estranhar, nem um pouco, que aquela menina, tivesse uma identidade própria, distante daquela que conhecemos, mais pública, imposta pelas regras da sociedade e do próprio patrão...

(Fotografia de Luís Eme - Tejo)


quarta-feira, novembro 08, 2023

«É muito difícil trabalhar na cultura sem amigos»


O Rui gosta de dizer que muitos de nós andamos deprimidos, mesmo sem sabermos. 

A Alice vai mais longe e diz que já nascemos "meio-deprimidos".

Todo o ambiente à nossa volta pode levar a estas coisas, que nos deixam "quase maluquinhos", porque se não nos "levarem ao colo" para qualquer lugar, os obstáculos que temos de enfrentar pela vida fora são sempre a dobrar.

Quando o Vitor disse que «É muito difícil trabalhar na cultura sem amigos», a Alice acrescentou que era muito complicado trabalhar em qualquer lugar, sem amigos. E foi ainda mais longe quando explicou que o normal em qualquer concurso para um emprego, é não entrarem os melhores, mas sim os mais protegidos. Até se criaram novas alíneas, para que as entrevistas, por exemplo, tenham um peso maior que as outras provas, para que seja mais difícil contestar os resultados finais.

Estávamos todos de acordo. 

Não sei qual é a realidade dos outros países. Sei que esta é a nossa...

(Fotografia de Luís Eme - Tavira)


terça-feira, outubro 17, 2023

«Obrigado pelo civismo»


Não gosto nada da ideia de viver num país do respeito, aliás respeitinho, como aconteceu com o salazarismo e marcelismo. Mas também não tenho qualquer vontade de ser, mais um, num país que parece fazer gosto em manter bem viva a "ignorância atrevida", dando cada vez menos hipóteses ao ensino do civismo, tanto nas escolas como nos organismos públicos (sim o civismo ensina-se, através de palavras e de exemplos...).

O último exemplo estranho que tive aconteceu na segunda-feira, em frente do edifício da Segurança Social de Cacilhas, que fica numa avenida larga (e com um passeio também largo...). As pessoas em vez de formarem uma fila lateral, ocupavam todo o passeio, obrigando a quem circulava por aquele espaço a pedir licença para passar ou a ter de se deslocar para a estrada...

Quando passei pedi licença ao mesmo tempo que disse que deviam deixar um espaço para as pessoas passarem. Disse isto com a maior calma do mundo e sem qualquer sinal de irritação.

Assim que dei um passo em frente, houve alguém que soltou um "ooohhhhhh", que rapidamente se transformou em coro. Um homem mais atrevido virou-se para os outros e disse que eu devia pensar que "era o Presidente da República".

Com a mesma calma com que pedira para passar, agradeci aquele momento com um simples: «Obrigado pelo civismo.» 

O homem que me achou com cara de "Presidente da República", talvez com alguma surdez, quase que gritou «o quê?» E eu repeti, agora um pouco mais alto, parado no passeio, «obrigado pelo civismo.»

De um momento para o outro, baixaram todos os olhos e fizeram de conta que nada daquilo se passara e que eu não estava ali parado no passeio. 

Continuei a minha marcha, sem saber o que pensar daquela reacção colectiva, a um simples pedido, que achei fazer todo o sentido, dito sem qualquer arrogância.

Sei que isto é uma coisa muito pequenina, num mundo em que as pessoas se matam umas às outras, muitas vezes sem saberem muito bem porquê... Mas até as guerras, normalmente, começam por coisas pequeninas e sem qualquer sentido...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, outubro 01, 2023

O País das "portas abertas"...


Portugal deve ser um dos países onde se entra com mais facilidade, pelo menos por terra e mar. É provável que nos aeroportos exista um maior controle, de entradas e saídas.

Isso explica o porquê, de cada vez me cruzar mais com estrangeiros, tanto nas ruas de Almada como nas de Lisboa (sem terem ar de turista). A maior parte são oriundos do Brasil e das Índias (sobretudo paquistaneses e nepaleses).

Não sabia é que havia tantos imigrantes a viverem nas ruas. Já tinha visto uma reportagem sobre uma grande quantidade de asiáticos toxicodependentes, que viviam nas ruas da Capital, mas não fazia ideia que este problema social tinha atravessado o rio.

Na noite de sexta-feira passei pela Praça Gil Vicente (na fronteira entre Cacilhas e Almada) e cruzei-me com três grupos de jovens (entre os 20 e os 30 anos, que ocupavam espaços diferentes. Passei próximo de um deles e reparei que além de terem nas mãos várias garrafas de álcool, sentia-se que fumavam "ervas aromáticas". E pelo ar descontraído, e até desmazelado, percebi que deveriam estar a contar passar a noite por ali.

Isto acontece porque normalmente não são incomodados por ninguém. Os moradores, desde que eles não sejam barulhentos nem provoquem danos nas suas casas e viaturas, não irão telefonar para a polícia. Polícia essa que se sente, naturalmente, mais confortável no interior da esquadra que nas ruas...

A caminho de casa, fiquei a pensar que ninguém deve fazer ideia da quantidade de imigrantes que existem no nosso país. Pensarão num número próximo do meio milhão e este será no mínimo o triplo...

Mas talvez eles estejam certos. E o melhor é mesmo não sabermos o verdadeiro número de imigrantes. 

A única coisa que sei é que pelo menos nas ruas de Almada, eles já parecem ser em maior número que os almadenses...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


domingo, setembro 17, 2023

Um amor com pouca perdição no Porto...


Todos nós sabemos que há estátuas mais bonitas que outras, e que os lugares escolhidos para as colocarem, nem sempre são os melhores (pelo menos para nós). 

Também devíamos saber que, normalmente elas não vão parar às praças e aos jardins, apenas pelo capricho de alguém. Há quase sempre uma razão para que tal aconteça e também uma aprovação maioritária pelos executivos camarários.

Eu por exemplo nunca achei muita piada à proliferação de estátuas de "ferro ferrugento" de José Aurélio no Concelho de Almada, de significado demasiado artístico, mas nunca me passou pela cabeça fazer qualquer tipo de petição contra a obra ou o autor.

É por isso que estranho a posição dos "polícias do gosto" da Capital do Norte, em relação à estátua "Amor de Perdição".

E espero que seja apenas a "nudez da musa" a fazer confusão a estas mentes, no mínimo estranhas, e não a tentação, quase diabólica, de fazerem o papel de censores a esta homenagem, prestada a um dos nossos grandes escritores...

(Fotografia de Luís Eme - Porto)


quarta-feira, agosto 30, 2023

«A vizinhança é como os melões, não se vê por fora o que está lá dentro.»


Felizmente nunca tive nenhum vizinho excessivamente problemático no meu prédio, ao contrário de outros amigos, como o Chico, que até já traficantes teve de aturar, mesmo na fracção à sua frente. Tocavam vezes sem conta à sua campainha, por engano. E normalmente ainda eram ordinários, por ele não lhes abrir a porta da rua.

Foi por isso que me limitei a ouvir as lamentações de quem estava com vontade de mudar de casa, por ter cada vez menos paciência para aturar gente "porca e mal educada", quase porta sim, porta sim. O Rui há muito que percebeu que é ele que está a mais no seu prédio, mas se o orçamento não dava para mudanças há meia dúzia de anos, as coisas pioraram muito nos últimos tempos...

Senti-me um felizardo no meu prédio, onde ninguém deita lenços sujos para o chão e por lá ficam, até à limpeza das escadas. E só um ou outro é que não tem cuidado com a porta da rua e da própria casa, talvez por gostar do "eco" que sobe as escadas mais depressa que qualquer um de nós. Também não há cenas de violência doméstica, com ameaças e gritos, daqueles que quase que abanam a estrutura de cimento do edifício...

Limitei-me a sorrir quando o Chico disse que «a vizinhança é como os melões, não se vê por fora o que está lá dentro.»

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)