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quinta-feira, junho 05, 2025

A aposta na continuidade (parece que a cultura ainda tem cara de "papão"...)


O título que escolhi, "a aposta na continuidade", poderia servir para resumir as escolhas do primeiro-ministro para o novo governo. Mas não. O que quero falar é da Cultura, que agora se junta ao Desporto e à Juventude.

Devo começar por dizer que não tenho nada a dizer, em abono ou desabono, da ministra Margarida Balseiro Lopes.

Mas voltar a desvalorizar a cultura - como tem sido hábito dos sociais democratas -, ora acabando com o ministério, ou tentando banalizar a sua importância na sociedade, é o que é... (Bom bom são os duetos com Tony Carreira, que até mereciam uma cassete para se vender nas feiras...).

O facto da maior parte dos agentes culturais terem a fama (e o proveito) de ser de esquerda, terá a sua influência, como tem tido nas últimas décadas. É mais uma forma de tentar condicionar o mundo das artes e letras, mesmo que isso tenha uma influência negativa na sociedade, cada vez mais ignorante e limitada.

Mas o mais curioso, é juntar o desporto à cultura (a juventude casa com tudo...), tal como aconteceu durante muitos anos no Município de Almada e que eu nunca percebi as vantagens desta "união de facto".

Nota: a última medida de Dalila Rodrigues como ministra da Cultura, diz muito do seu carácter, ao despedir a programadora cultural do CCB, Aida Tavares, minutos antes de se despedir da pasta...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


segunda-feira, maio 19, 2025

Manias de grandeza no meio da pobreza...


Pode parecer estranho a pessoas normais, haver emigrantes que se acham "de primeira", ao ponto de serem tão - ou mais racistas - que os brancos de cabelo curto, que fingem ser "arianos", em relação a outros povos, que chegam ao nosso país vindos do Oriente.

Como cada vez vejo menos televisão. Não vi a senhora brasileira que falou ontem à noite para as câmaras, durante os festejos da "vitória" do Chega. Mas hoje li o que escreveu Vicente Nunes no "Público" que, entre outras coisas, explica o quanto a ignorância é atrevida:

«Mulher, negra e imigrante. A brasileira que fez questão de ir às comemorações do Chega, partido de extrema-direita que elegeu 58 deputados para a Assembleia da República, é o retrato claro de parcela dos imigrantes que estão em Portugal e defendem, equivocadamente, políticas restritivas para quem vêm de fora com o intuito de construir uma nova vida no país.
Em um tom acima do normal, olhando para as câmaras das tevês, ela ressalta que é trabalhadora, que paga seus impostos, como se os demais imigrantes fossem vagabundos e só estivessem em território luso para se aproveitarem de benesses governamentais, como prega o líder do partido radical, André Ventura.»

Pois é, parece que cada vez há mais gente que adora "dar tiros nos pés" e "lamber as botas" a quem os insulta e explora...

(Fotografia de Luís Eme - Sobreda)


domingo, maio 11, 2025

As greves pouco inteligentes da CP


Mesmo sendo de esquerda, no historial dos movimentos grevistas portuguesas, sempre me fez confusão a forma como eram (e são...) organizadas as paralizações, por parte dos sindicatos ferroviários.

São sempre greves que prejudicam praticamente só os utentes deste transporte, e deve ser por isso que muitas das reivindicações não são atendidas pelas administrações (desta vez até foram aproveitadas pelos "populistas" da AD, para lhes apontarem o dedo e prometer "mudanças"...).

Praticamente desde Abril, que não se vê uma única medida defendida pelos sindicatos que procure corresponder aos anseios das populações, melhorando a sua oferta, ao ponto dos sindicalistas se preocuparem cada vez menos em cumprir os serviços mínimos (como se viu nos últimos dias).

É por isso que se perguntarmos a alguém que utilize diariamente as linhas de Sintra, Azambuja ou de Cascais, se concorda com estas greves, recebemos quase sempre um não bem redondo e coisas bem piores que "eles não querem trabalhar e não respeitam quem trabalha".

Apesar das críticas que se ouvem aqui e ali ao Pedro Nuno, o único sinal de esperança que se sentiu, naquele que continuo a considerar "o melhor transporte do mundo", foi quando ele teve a tutela da ferrovia como ministro...

No regresso do Norte da "aventura de quatro dias" por Trás-os-Montes e o Minho, os meus companheiros deixaram-me em Santarém, para apanhar o regional para o Oriente. O comboio vinha lotado e cheio de jovens, com ar de estudantes universitários. Ou seja, apesar deste transporte continuar a ser tão maltratado (o "inter-cidades" que devia ter passado meia-hora antes do regional em Santarém, só nos passou quase a meio da viagem, obrigando-nos à ficar à sua espera em Setil...), continua a ter clientes...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, maio 08, 2025

Quase toda a vida dentro de uma mala...


Há pessoas que nos habituamos a cumprimentar, diariamente, apenas porque nos cruzamos quase todos os dias nos nossos bairros. Não sabemos nada delas, nem temos grande curiosidade em saber mais coisas...

Era o que acontecia com o homem que costumava estar à janela a fumar, com quem compartilhava o vulgar bom dia e boa tarde, sem qualquer sinal de fardo.

Um dia vi os bombeiros à volta da casa... E claro, na mercearia do bairro vim a saber que o senhor era um "acumulador" e que fora levado para um lugar qualquer, enquanto despejavam e limpavam a sua habitação. Depois fizeram obras e hoje tem novos inquilinos...

Meses depois vi-o, na paragem do metro, cumprimentámo-nos, como de costume, apenas com um boa tarde. Estava mais magro e vestia de negro. Fiquei a pensar que podia ter trocado duas ou três palavras com ele, mas. Pois, há sempre um mas...

Há uns tempos comecei a ver um homem, que anda sempre com boné e barba crescida, com bengala e uma mala de viagem, sentado em bancos públicos ou nos da estação do metro da Gil Vicente, onde pernoitava. Não o achei familiar (está ainda mais magro e a barba crescida também o transfigura...).

Foi a minha companheira que me disse quem era o senhor. A princípio não acreditei, mas uma amiga comum, que trabalha numa pastelaria, oferece-lhe diariamente o pequeno-almoço. Hoje olhei-o com mais atenção, e sim, é ele...

As nossas vidas estão longe de serem lineares. Por isto ou por aquilo, há quem escolha "não ter família", apagando todos os laços que existem. É possível que não ande assim tão longe da realidade deste homem, que agora, guarda quase toda a vida dentro de uma mala, que nunca larga...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


sexta-feira, abril 25, 2025

Lembrei-me do meu Pai, por um pequeno pormenor...


Como de costume acordei cedo.

Pensei em várias coisas, não muito alegres, que não são para escrever hoje.

Lembrei-me do meu querido Pai. Por um pequeno pormenor.

Nunca me falou da prisão do pai, no começo da Guerra Civil de Espanha. Eu também nunca lhe fiz qualquer pergunta sobre esse tempos difíceis, que se agudizaram com a Segunda Guerra Mundial. 

Ele tinha dois, três anos, quando o meu avô foi preso. Tinha cinco, quando começou a Guerra provocada por Hitler.

Do que me falou bastantes vezes, foi da fome que passou, na infância passada na Beira Baixa...

Parece que não é uma história de Abril, mas acaba por ser, porque Abril é também memória. 

E é essa memória que nos faz lutar contra um passado, que parece longínquo, onde reinava a repressão e a exploração, onde se tentava roubar a dignidade às pessoas...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


terça-feira, abril 01, 2025

Parece no mínimo estranho, mas não é...


Somos um país onde as famílias cada vez são mais pequenas. Sim, há cada vez mais casais sem filhos ou com apenas um rebento. E muitos deles, preferem ter um cão a um filho... 

É por isso que parece "incompreensível", ouvirmos notícias sobre a falta de vagas nas creches da rede pública ou sobre fecho de várias urgências de obstetrícia aos fins de semana.

Parece...

Se não fossemos um país que tem tratado tão mal os jovens portugueses, que por não estarem para ter uma vida cheia de obstáculos, emigram para países que lhes oferecem melhores condições de vida.

E isso explica a falta de educadoras de infância e de médicos especialistas no SNS, tal como a de professores e de tantos outros profissionais...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


terça-feira, março 18, 2025

Ela olhava para aquele descampado, quando me disse: «Eu morei aqui...»


Ela olhava para aquele descampado, quando me disse: «Eu morei aqui...»

Além de umas hortas, não havia mais nada por ali. A encosta era um espectáculo, virada para o Tejo. Apeteceu-me dizer uma piada, parecida com a que a presidente da Câmara de Almada, tinha dito, em relação às vistas do Bairro do "Picapau Amarelo". 

Ainda bem que não disse... A poesia da coisa, estava mesmo apenas na paisagem...

Há situações que nunca iremos perceber, se não passarmos por episódios iguais ou parecidos, como não termos um lugar onde viver. Quando as nuvens aparecem no céu, sentimos que temos de construir qualquer coisa, para não vivermos ao relento, quando a temperatura começa a baixar. Quanto mais não seja, para proteger os nossos filhos...

Ela continuou a falar: «Tinha sete anos, era uma miúda chata porque não percebia a razão de não podermos viver numa casa igual às das outras pessoas. Aliás, ainda hoje não percebo.»

Não precisei de perguntar nada, ela antecipava-se:

«Felizmente as coisas melhoraram e depois do Verão mudámos de bairro e fomos viver para uma casa, grande, com os meus tios, que também viviam aqui, onde havia espaço para todos. Éramos 10 pessoas, mas não era nada mau, havia dois quartos para os adultos e um para os rapazes e outro para as raparigas.»

Até me falou do "buraco"...

«Imagina não teres casa de banho, nem nada que se parecesse, a não ser o "buraco" colectivo e passares a ter duas?»

Consegui imaginar...

(Fotografia de Luís Eme - Monte de Caparica)


sexta-feira, março 07, 2025

Todos diferentes e todos iguais...


Eu penso que sei qual é a melhor maneira de tratar as pessoas com qualquer deficiência, e até me parece algo simples. Sim, é tratá-las da mesma maneira que todas as outras, sem nunca esquecer as suas naturais limitações.

Mas nem sempre é fácil. Até porque a parte física que nos torna diferentes, muitas vezes é a "arma de arremesso" que está mais à mão, para nos tentarem atingir e diminuir como pessoas. Ainda há pouco tempo, assistimos a uma situação dessas no Parlamento. Curiosamente, protagonizada por duas mulheres, que nestas coisas, até costumam ser mais comedidas que as "bestas" masculinas, pelo menos aquelas que ainda acham que "um homem não chora".

Nunca me esqueço de um senhor que conheci na adolescência, que tinha uma corcunda ligeira, que gostava pouco de burburinhos e dizia - especialmente aos cobardes -, que já era marreco nas costas, pelo que preferia que quem o quisesse chamar daquela forma, o dissesse pela frente. O curioso é que esta sua posição resultava. Ninguém usava a sua aparente diferença, para o reduzir ao que quer que seja.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, março 06, 2025

Talvez elas se sintam mais úteis ao mundo...


Estava a passar e fingi que não vi, quatro miúdos, aliás duas miúdas e dois miúdos, a fumarem erva e com uma vontade enorme de provocar quem passava, no quase carreiro que percorro todos os dias, a poucos metros da minha casa.

Não deviam ter muito mais de catorze anos. Ou então tinham ficado pequeninos. 

Passam por ali centenas pessoas, diariamente, mesmo assim eles fazem questão de "marcar aquele território" como seu, a fumar coisas aromáticas e a falar alto, e não num lugar mais recatado (existem vários a poucas dezenas de metros...). 

Sem que tivesse muito a ver com o assunto, lembrei-me de duas amigas, professoras, que continuam a dar aulas no Monte de Caparica, nas escolas que acolhem a juventude que habita no famoso Bairro do "Picapau-Amarelo". 

Dão aulas há bastantes anos, podiam ter mudado de escola, mas nunca o fizeram. Nunca lhes perguntei porquê.

Talvez gostem de ser desafiadas diariamente, pelos rapazes e raparigas, a quem a vida (e a sociedade...) obriga a terem comportamentos diferentes, mesmo que tenham os mesmos sonhos dos "meninos" e meninas", com menos rua e mais atenção dos pais... 

Quando estiver com elas, vou perguntar-lhes, mesmo que pense saber "bocados" das suas respostas...

Sim, talvez no Monte algumas coisas façam mais sentido, talvez elas se sintam mais úteis ao mundo...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


segunda-feira, fevereiro 10, 2025

Esta coisa de "não conseguir respeitar quem não me respeita"...


Embora possam não ser muito "católicos", há vários princípios paternos que sigo, quase sem me aperceber. Percebo, pela minha experiência de vida, que não consigo ser de outra maneira...

Talvez seja mais uma dessas coisas que nascem e ficam para sempre connosco, e das quais até me me orgulho. 

Uma das coisas que tentei passar aos meus filhos, foi um traço definidor do pai, muito simples e não menos importante, que nos foi transmitido através de palavras e actos ao longo da sua vida, de que: "ninguém é mais nem menos que nós".

Pensei nisso hoje, depois de ser atendido de uma forma estúpida, e perceber, que o facto de não me calar, iria fazer com que "pagasse com juros este meu atrevimento". E de facto assim, aconteceu, o que poderia ser resolvido em 10 minutos demorou 60... E apenas para me mostrarem "quem é que mandava ali".

Fui salvo por uma Beatriz, que embora fosse uma pessoa normal, tinha quase ar de "anjo", no meio de todos aqueles "belzebus", apostados em dificultar a vida dos outros...

Já escrevi mais que uma vez sobre todos estes "dificultadores", que adoram tornar o fácil difícil, e que parecem estar sempre em maioria nos lugares de atendimento público (não comprei nenhum pneu, a fotografia é apenas irónica, como outras que publico aqui). São quase uma "praga"...

Claro que, também sei que já não vou mudar, depois dos sessenta. Até por ser mais forte do que eu, esta coisa de "não conseguir respeitar quem não me respeita"...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, janeiro 31, 2025

Andar por Lisboa a ver o Mundo Passar...


Mesmo quem anda por todo o lado em Lisboa, como eu, sabe que também pode ficar ligeiramente "infectado", pelas notícias e pelas vozes dos "moedinhas" deste país.

Pensei nisso, hoje, ao descer a Almirante Reis. Continuo a ter o vício de andar a pé e a ver o mundo passar por mim, mesmo que as pernas já não sejam o que eram. 

Sentado no interior do cacilheiro, enquanto olhava o Tejo, pensei que olhei para as pessoas com quem me cruzei, com mais atenção. As vozes, as cores, as roupas faziam a diferença, mas isso acontece há pelo menos meia-dúzia de anos. E sim, vê-se cada vez menos portugueses nas ruas.

Mas não faltam explicações para o facto. A principal é a existência de cada vez menos portugueses a morar nesta zona de Lisboa. E isso acontece graças ao aumento obsceno das rendas. 

Sim, a ganância dos senhorios é a principal razão deste "abandono", e não o "medo" pela gente que veio das Índias que, pelo menos aparentemente, é quase sempre excessivamente simpática (especialmente os comerciantes). 

Sei que se não se levantasse tanta poeira do lado mais afastado da direita, ou se o alcaide de Lisboa não quisesse ser também "xerife", tudo seria mais normal. Sobretudo os comentários que se fazem sobre as ruas da cidade grande, normalmente feitos por quem nunca passa por estas ruas e avenidas...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sexta-feira, dezembro 20, 2024

Um Natal com cada vez mais dificuldades em esconder as "misérias humanas"...


Não sei se lhe chame uma coisa curiosa, até porque pode ser mais comum do que aquilo que eu possa imaginar.

À medida que os anos vão passando,  tenho cada vez menos paciência para o Natal.

Sei que em parte isso deve-se a este mundo que nos rodeia, ter cada vez menos ares natalícios (as luzes e as montras não contam...). Gaza, Beirute, Damasco ou Kiev, são os maiores exemplos...

Por outro lado, como tenho os filhos já adultos (ainda não há netos...), perdeu-se um pouco o encanto e a sua alegria contagiante (mesmo que passageira...) em receber presentes...

Tenho vários defeitos, mas a hipocrisia, o cinismo e a inveja, não estão no "pacote" (e ainda bem, são das coisas mais miseráveis e vulgares dos seres humanos...). E esta época traz todas essas coisas - em "tamanho xl" - para as casas, para as ruas, para as igrejas e sobretudo para as lojas.

E se há coisa que nós vamos perdendo com os anos, é a paciência para fazermos fretes.

Claro que isto não tem nada a ver, por exemplo, com a reunião natalícias das famílias. Numa época em que este núcleo especial tem sido tão desvalorizado, é bom que as pessoas que se encontrem, nem que seja, na tal "uma vez por ano"...

É com gosto que janto a 24 com a minha sogra, passo ceia com os meus cunhados e mais família (onde até costuma aparecer o "pai natal"...). Ou almoço a 25 com a minha mãe e o meu irmão...

Mas não consigo suportar este regresso ao passado, ao tempo dos "coitadinhos", com os ricos a voltarem a "escolher" o seu pobrezinho, para a sua ceia (voltou-se a isto, com mais visibilidade, porque os ricos estão mais ricos e os pobres mais pobres...) ou a ver o presidente da república a servir refeições aos sem abrigo (ele bem podia fazer com que o natal para esta gente não fosse apenas um dia. Até lhe dou a ideia de, quando sair do cargo, fomentar estes encontros, mensalmente...).

Nota: Este texto começou por ser publicado no "Casario", depois passou para as "Viagens" e agora fica aqui no "Largo"...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)


segunda-feira, dezembro 16, 2024

Egoísmos, oportunismos e fingimentos...


O maior problema dos políticos é a sua capacidade de "fingimento", de fazerem de conta que está tudo bem, ao mesmo tempo que vão passando ao lado dos problemas, sem se preocuparem com as "bolas de neve", que deixam crescer, aqui e ali.

É desta forma que coisas aparentemente simples, que poderiam ter respostas quase imediatas, se tornam com o tempo, autênticos flagelos sociais...

Quando olhamos e escutamos as notícias sobre a gente (quase sempre de pele mais escura...) que ocupa lugares abandonados e os transforma em "bairros", e que depois de terem andado a escapar à lei, quando são confrontados com as ilegalidades, querem que o Estado lhes resolva o problema, a primeira coisa que pensamos é na mentalidade destas pessoas, que querem ter um "estatuto especial" de cidadãos. Acham que têm de ser os poderes, locais e nacionais, a arranjarem-lhes uma casa, quanto a maior parte de nós, teve de comprar ou alugar a casa onde vive...

Ninguém escapa a este "egoísmo" humano, até por muitas vezes sermos confrontados com situações de mero oportunismo, de gente que já tem casa e vai para estes locais, apenas para que lhes "ofereçam uma outra casa"...

Continuo a pensar que se as autoridades actuassem de imediato (em vez de assobiarem para o ar...), colocando fim a estas "ocupações", mal as pessoas se começam a instalar nestes espaços abandonados, degradados e perigosos, se evitavam muitos destes problemas, que crescem quase como cogumelos.

Claro que o problema central continua a não ser este. Nem é apenas a falta de casas. É sim, um outro "oportunismo" de todos aqueles que têm casas para alugar ou vender, e que o tentam fazer pelo maior valor possível...

Eu sei que é a "lei da oferta e da procura" a funcionar, mas...

(Fotografia de Luís Eme - Ginjal)


quinta-feira, dezembro 12, 2024

Direitos adquiridos com prazos de validade...


Não tenho grande opinião sobre a Síria, por desconhecer a história do país e do seu povo. A única coisa que sei é que era dominada por um ditador, que deixa atrás de si um rasto de sangue e muitos mortos, uns conhecidos e outros noticiados como "desaparecidos"...

Foi por isso que me limitei a escutar a história de vida de uma mulher que viveu por lá e que não pensa em voltar. Além de gostar de ser europeia, tem um marido e um novo país, ambos portugueses.

Quando regressava a casa pensei em algumas coisas que escutei e percebi que o que aconteceu no Afeganistão, persegue muitas destas mulheres, que de um momento para o outro podem deixar de ser pessoas e passarem a ser "objectos" telecomandados pelos homens...

Tinha nas mãos um livro que desconhecia, de José Gomes Ferreira, "O Sabor das Trevas". Um romance escrito com a fina ironia do poeta, que nos dava o retrato do portagalito dos anos sessenta, que se debatia com uma coisa que hoje até nos pode fazer rir: o uso de calças por parte das mulheres.

As mulheres conseguiram fintar a questão estética (mesmo as mulheres com mais de noventa quilos que andam pelas ruas de calças de licra e se tornam "mostrengas" aos nossos olhos, não abdicam da liberdade de usarem o que lhes apetece...) em favor do conforto. E ainda bem.

É por isso que transcrevo um curto parágrafo do livro: «Pois eu não me ralo - explodia a gorducha com aquele ênfase vingativo das mulheres feias - Os homens que se encham de paciência e não olhem para mim. Não lhes faltam miúdas giras por essas ruas. Mas lá frio nas pernas é que eu não apanho.»

Quando somos educados num mundo quase normal, custa-nos mais perceber as Alyssas ou o Mohamedes...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quarta-feira, novembro 27, 2024

A importância do atendimento público...


Há uma tendência estúpida para olhar para os locais de atendimento público, com alguma ligeireza, e até condescendência, principalmente os ligados ao Estado.

É a explicação que encontro para a colocação nestes lugares de pessoas com algum tipo de deficiência, física ou mental. Quando os problemas são motores, não existe qualquer problema, agora quando as pessoas têm dificuldade em expressar-se ou em responder com ligeireza e acerto, às perguntas que lhes são feitas, é um erro.

Sei que toda a gente tem direito ao trabalho, mas também sei que devem ser protegidas, em relação aos problemas que têm, sejam eles de dificuldade de expressão, de raciocínio ou até de sociabilidade.

O caso real com que me debati, passou-se numa autarquia. A pessoa em causa, foi incapaz de me responder ao que pretendia. Enrolava a conversa e não conseguiu responder com objectividade a nenhuma das questões que lhe coloquei. E quando acabei por lhe perguntar quem é que me poderia ajudar, com aquele assunto, disse-me para enviar um e-mail para o presidente da Câmara. Ainda lhe disse que o presidente devia ter coisas mais importantes para fazer, que receber e responder aos meus e-mails (o que estava em causa era apenas uma actividade cultural...).

E depois agradeci a atenção e virei costas. 

Claro que fiquei a pensar no assunto...

(Fotografia de Luís Eme - Almada)


quinta-feira, novembro 21, 2024

Quando a esperteza (pouco saloia) consegue virar a justiça de pernas para o ar


Hoje foi dia de "São Sócrates", por passarem dez anos da prisão do antigo primeiro-ministro, transmitida em directo do aeroporto de Lisboa, pela televisão, alíás, pelo canal, que com o tempo se tornaria quase um órgão "oficial", do ministério público.

Hoje também foi dia dos juízes culparem a "defesa" de José Sócrates, por esta utilizar todos os expedientes, para atrasar, descredibilizar e "virar de pernas para o ar", a "Operação Marquês".

Mesmo quem acha que ele cometeu vários crimes durante a sua função governativa (é o meu caso...), sabe que tudo isto nasceu torto, alimentando a hipótese de dificilmente se endireitar, com o avançar do tempo... 

Pensamos que a prisão em directo foi o "primeiro tiro no pé" do ministério público, muito graças à acção de um "juiz justiceiro" (Carlos Alexandre, que ainda devia ter sonhos de ser um "super-herói", ao jeito da Marvel...), que apesar de fingir que se escondia das câmaras de televisão, sempre gostou de ser notícia.

Qualquer pessoa sabe que o "segredo" continua a ser a alma de qualquer negócio. E isso ainda se revela mais importante quando se trata de assuntos ligados ao crime e à justiça. E a grande probabilidade de todo aquele espalhafato, feito em redor da "primeira vez que se prendeu um primeiro-ministro",  com o tempo de revelar pernicioso para a própria justiça, tornou-se mesmo realidade.

E hoje assistimos à publicação de um artigo de jornal (no "Diário de Notícias"), escrito pelo próprio José Sócrates, em que este aproveita todos os deslizes do Ministério Público, para se declarar, mais uma vez, inocente e vítima da justiça.

Em relação ao "apontar do dedo" que a justiça faz à defesa de Sócrates, esta só fez o que lhe deixaram fazer (com  a tal esperteza, pouco saloia)...

Quem falou com sabedoria, foi a Ministra da Justiça. Era bom que todos os agentes da nossa justiça a ouvissem, e percebessem, de uma vez por todas, que são eles os principais responsáveis pelos atrasos nos processos e pela morosidade dos julgamentos.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


domingo, novembro 17, 2024

"Vinde a mim, pobrezinhos do mundo..."


Os dias disto e daquilo, sobrepõem-se cada vez mais. Hoje era  dia mundial de pelo menos três coisas diferentes. Apenas vou falar de uma delas, por esta continuar a ser um dos nossos maiores flagelos sociais: a pobreza.

Depois dos tristes anos da "troika" (com o nosso Governo a ir ainda mais longe que essa gente...), o fosso entre ricos e pobres, em vez de diminuir, foi aumentando. Haverá várias explicações para isso acontecer, mas hoje nem me quero focar muito no "capitalismo selvagem" ou nas "más políticas sociais" de um partido, que de socialista só tem o nome, muito menos do seu sucedâneo, que nunca escondeu ao que vem.

Quero falar sim de toda uma indústria que tem florescido em volta dos "pobrezinhos" (sem meter no mesmo saco as associações de voluntários que tentam mesmo ajudar as pessoas...), que gosta de "coitadinhos" e se esforça para roubar a dignidade ao ser humano. 

Indústria que tem a seu lado uma igreja quase moribunda, que também sempre fez a sua "luta" em redor dos "pobrezinhos", e claro, as grandes famílias do poder, que sempre gostaram de distribuir esmolas. Com algumas "esposas do regime" a voltarem a ter a sua "corte de pobrezinhos" a quem dão "pão e agasalhos", e claro, a fazerem o respectivo sorteio, para terem um "pobrezinho" na mesa de Natal...

É por estas pequenas grandes coisas, que se percebe que crescemos muito pouco, como seres humanos. Tenho cada vez mais vergonha de viver numa sociedade que se alimenta e alimenta este "mundo dos coitadinhos", que prefere dar esmolas em vez do pagamento justo pelo trabalho.

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


quinta-feira, novembro 14, 2024

Quando se "mostra (quase) tudo", fica sempre pouca coisa para esconder...


Basta andar na rua, para ver que um dos usos do smartphone é o "auto-retrato", é normal vermos as miúdas passarem o tempo a olharem-se ao "espelho", através das câmaras deste pequeno rectângulo, que tem sido ainda mais revolucionário, que a televisão quando apareceu, no final dos anos cinquenta.

Provavelmente, depois, enviam os seus "retratos" por esse mundo fora...

Foi esta imagem que me fez pensar, neste tempo em que se "mostra tudo", mas que também dá espaço para todo o género de "ficções". Sim, oferece a possibilidade de se jogar vezes demais às escondidas, mentir (aliás fugir da realidade, talvez seja mais certo...), é mais normal que nos tempos da minha adolescência.

Claro que é um tempo de riscos, destapa-se de um lado e tapa-se de outro. Claro que ao "tapar", há sempre algo que fica à vista, que fica de fora...

São os riscos da exposição excessiva, algo que antes só acontecia com as figuras públicas quer gostavam de ser capa das revistas "cor de rosa". Agora está a banalizar-se. 

E tudo indica que todas estas "ficções" irão piorar, com as inúmeras possibilidades oferecidas pela "inteligência artificial"...

(Fotografia de Luís Eme - Alcochete)


domingo, outubro 27, 2024

O medo no uso das palavras...


Cada vez se fala mais em surdina nas ruas, especialmente quando se utilizam as "palavras proibidas", de uma lista cada vez mais longa, numa sociedade cheia de tiques repressivos e de falsos pudores.

Onde parece que tudo é possível, é nas redes sociais. Se excluirmos o "censor oficial", continua a valer tudo, até tirar olhos.

Continuo a pensar que, podemos e devemos falar de racismo, fascismo, xenofobismo ou machismo, em qualquer lado, porque eles estão presentes no nosso dia a dia. 

É tão negativo entrarmos em negação como generalizarmos o uso e a prática destas palavras. Só nos torna uma sociedade ainda mais fechada e desigual.

Não devemos ter medo de usar as palavras, todas...

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)


sábado, outubro 26, 2024

Mandar alguém para a sua terra, não é uma piada: é racismo!


Era bom que aproveitássemos os momentos críticos, vividos em sociedade, para reflectirmos sobre o nosso comportamento, sem mentirmos a nós próprios ou continuar a fingir que não vimos o que está a dois palmos da nossa testa e do nosso olhar.

Um bom exercício era metermos na cabeça, de uma vez por todas, que mandar alguém para a sua terra, apenas por que nos incomodou, por isto ou aquilo, nunca foi uma piada, mesmo que se esconda quase sempre na lista de piadas de mau gosto: é racismo!

Ao fazermos isto, não precisamos de "apagar" o passado ou o presente, de fingirmos que ele nunca existiu, apenas porque nos incomoda. Muito menos deixar de usar a palavra "preto", mesmo o mundo que nos rodeia nunca tenha sido a "preto e branco" (nem mesmo nos primórdios do cinema, havia sempre uma vasta camada de cinzentos...).

Até porque normalmente as pessoas que "mandamos" para a sua terra, são pessoas que trabalham (não o fazemos com vagabundos ou membros de "gangues"...), que executam tarefas que nós não gostamos, nem queremos fazer...

E depois existe ainda o lado "oficial da coisa". Aos olhos da nossa Constituição, somos todos iguais, nos direitos e deveres, sem que exista qualquer alínea que diferencie os amarelos dos azuis ou os verdes dos vermelhos...

(Fotografia de Luís Eme - Caldas da Rainha)