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quarta-feira, maio 29, 2024

A vida não cabe "debaixo do tapete"...


Ouvia o Mário e pensava no meu Pai.

Ele também era assim. Não se esquecia nem escondia as dificuldades - e até a fome que passou - durante os anos da Guerra Civil de Espanha e da Segunda Guerra Mundial, na pequena aldeia onde nasceu na Beira Baixa.

Não falava disso com orgulho, mas achava que era importante para nós, filhos, sabermos que a vida não era apenas aquela que vivíamos, sem privações. Até porque continuava a existir muita gente espalhada pelo mundo, que passava mal...

Quem não gostava nada de ouvir as histórias de infância do pai eram os seus irmãos. Ele por ser mais velho, passou mais dificuldades que todos os outros, mas a vida nas beiras não foi fácil para nenhum deles. Mas o que o Pai queria lembrar, eles queriam esquecer...

O Pai não era daquele mundo "de faz de conta", não era capaz de enfeitar a miséria, muito menos de dizer que "havia quase tudo", onde "faltava quase tudo".

Sinto-me feliz de ser do "clube" do Pai e do Mário.

(Fotografia de Luís Eme - Serra da Estrela)


domingo, maio 19, 2024

Uma viagem pelo interior (ir, vir e olhar...)


Na sexta-feira eu e o meu filho fomos (e viemos) à Beira Baixa, numa viagem quase relâmpago, pelas nossas estradas nacionais. 

Não tínhamos decidido se voltávamos no dia seguinte ou no próprio dia, porque levávamos mobiliário, que precisava de ser montado (claro que podia ser montado num outro dia qualquer... e foi isso mesmo que  acabámos por decidir).

Chegámos, abrimos as janelas todas, para que a casa fechada arejasse. Arrumámos as coisas, fizémos uma limpeza ligeira e enquanto comíamos qualquer coisa, trocámos algumas palavras e, sim, nada nos prendia ali, iriamos voltar para a estrada...

Durante a nossa pequena estadia  na aldeia cruzámo-nos com apenas duas pessoas nas ruas. Uma senhora saiu de casa apenas porque eu devo ter feito mais barulho do que devia ao colocar coisas no ecoponto.

Este é o retrato da maior parte das terras do interior. Pequenas localidades, quase abandonadas, que só ganham vida no Verão com o regresso dos emigrantes (de dentro e de fora...), que vêm à "festa" e ficam mais alguns dias, para dar alguma ocupação às casas que ficam fechadas o ano inteiro...

Não sei se existe alguma solução, para a maior parte delas. As mais bonitas e típicas vão tendo o turismo... que embora seja uma ilusão, pois finge apenas que lhes devolve a vida, transforma-as apenas em "museus" para "inglês (francês, espanhol ou português) ver... 

Mas a maioria nem isso têm. Irão caindo no esquecimento, que é a marca do nosso País, há largas dezenas de anos, que apenas parece saber viver perto do mar...

(Fotografia da Beira Baixa)


sábado, agosto 27, 2022

As "Músicas" de Fundo da Cidade e as dos Campos...


A esta hora já devo estar na nossa pequena aldeia da Beira Baixa. Provavelmente voltei a ficar sentado no quintal, preso ao céu estrelado (acredito que devem conseguir furar as nuvens deste final de Agosto, que parece um político, promete chuva, mas não passa disso de uma promessa...), que enche o céu assim que cai a noite.

É tempo de "festa". Sei que a música vai espantar a "bicharada" (o fogo deve ter sido suspenso... Espero que sim, para mim, é daquelas coisas que não fazem falta nenhuma. Prefiro acordar com o cantarolar dos galos...).

Sei que quando a "música" partir, a passarada e os grilos voltarão, para substituir - com vantagem - os ruídos que ainda permanecem "gravados" na minha cabeça: as portas a bater do prédio, o cão do vizinho do lado D, que gosta de ladrar nas escadas e as duas vizinhas dos andares da frente, que ainda mantêm o hábito de gritar nas ruas, para outras vizinhas que passam...

(Fotografia de Luís Eme - Beira Baixa)


sexta-feira, agosto 12, 2022

É Apenas Meia-Verdade, a "Legalenga" de que Todos os anos se Repetem os Mesmos Erros nos Incêndios


Olho para este incêndio da Serra da Estrela, que andou, a saltar de montanha em montanha, de concelho em concelho, com espanto e também alguma incredulidade. 

Por conhecer alguma da área ardida, fico com a sensação que se poderia ter feito mais, muito mais, para se estancar aquela que viria a ser uma verdadeira tragédia no nosso património natural.

Embora perceba o "deixa arder", quando não estão em risco vidas humanas e habitações, penso que ainda se tem de melhorar bastante a forma como se luta contra os incêndios. Compreendo perfeitamente que os bombeiros tenham deixado de cometer actos quase suicidas, quando se deslocavam para locais, onde não estavam devidamente protegidos (perderam-se vidas e viaturas de forma estúpida...), mas não se pode perder a oportunidade de combater os incêndios, em áreas onde é possível lutar de igual para igual para com ele. Digo isto porque a Serra da Estrela está longe de ser apenas arvoredo. Houve áreas de vegetação (rica para a pastagem de animais e que lhes irão fazer bastante falta...), onde se poderia ter feito muito mais do que se fez. 

Também penso que devem continuar a existir problemas ao nível do comando (basta estar atento ao que se vai dizendo...) quando estão mais de mil homens no terreno, com gente a mais a mandar, e algumas vezes "mal". Era bom que os diferendos entre a Protecção Civil e o Comando dos Bombeiros, fossem sanados, de uma vez por todas, e que se falasse e lutasse a uma só voz.

É por isso que eu digo, que é meia-verdade, a "legalenga" de que todos os anos se repetem os mesmos erros, pelo menos no combate aos incêndios. 

Onde se continua a falhar de forma incompreensível, é na prevenção. 

As autarquias locais e as suas populações continuam a não cuidar do que é seu e de todos (passei por bermas da estrada em Julho e Agosto com vegetação acima da minha cintura...). Já deviam ter percebido a incúria de uns pode ser a desgraça de todos...

(Fotografia de Luís Eme - Vila Velha de Rodão)


domingo, julho 31, 2022

Uma Semana "num Outro Mundo"...


Foram apenas seis dias, mas foram bem aproveitados para recuperarmos energias, numa pequena aldeia da Beira Baixa, onde as vozes humanas são secundadas pelos sons de quem está em maioria pelos campos fora.

Se as noites têm outro encanto com o céu estrelado e a "orquestra" de grilos, bem ensaiada... as manhãs não são diferentes com o chilrear dos pássaros que rodeiam a casa desde cedo. 

Nem mesmo o cantar madrugador e "anárquico" dos galos da vizinhança, que começam a dizer que já é de manhã ainda antes das sete e que se prolonga até depois das nove, é incomodativo...

(Fotografia de Luís Eme - Beira Baixa)


segunda-feira, julho 25, 2022

Pequenas Férias...


Hoje é dia de partir para o interior, para umas pequenas férias, para descansar e recuperar energias.

Para combater o "vazio" no Largo, dia sim dia não, publico qualquer coisa (agendado). 

Ou seja, também vou de férias da blogosfera.

(Fotografia de Luís Eme - Beira Baixa)


quarta-feira, setembro 01, 2021

Um Olhar pelo Interior (esquecido e abandonado)


Fui passar o último fim de semana à Beira Baixa, e mesmo em Agosto (há sempre gente que vive lá fora e cá dentro, que aproveita o período de férias para visitar os familiares, dando alguma vida às aldeias...), é impossível passar ao lado do abandono e do esquecimento a que está votado o interior.

É por isso que continuo a perguntar: como é que um país tão pequeno, se foi tornando tão desequilibrado, década após década?

Haverá várias respostas, quase todas ligadas aos políticos que nos têm governado, tanto à direita como à esquerda. Em quase meio século de democracia, privilegiaram sempre a Capital e o Litoral, fazendo de conta que o resto do país não existia...

Os projectos para ontem e hoje levaram sempre a melhor sobre os projectos para amanhã. Os nossos governantes nunca procuraram desenvolver o país como um todo, os interesses particulares sobrepuseram-se quase sempre aos colectivos. 

E quando existem investimentos no interior, são também quase sempre de curto prazo. O objectivo dos investidores é "sugar" tudo o que lhes for possível (inclusive às Autarquias, que lhes oferecem vários incentivos e benesses, sem conseguirem que que estes contribuam para o desenvolvimento local), no mais curto espaço de tempo.

É por isso que nos vários passeios que tenho feito por esta região, além das muitas casas abandonadas, em ruínas, também encontro algumas unidades, industriais e agrícolas, relativamente recentes (já do tempo da União Europeia e dos respectivos fundos...), fechadas e a degradarem-se, dia após dia...

(Fotografia de Luís Eme - Beira Baixa)


segunda-feira, agosto 31, 2020

Que Bem que se Está no Campo...


Se quisermos que os relógios tenham horas com mais minutos, a única alternativa é passarmos uns dias numa aldeia do interior, mas daquelas que não fazem parte dos circuitos publicitários televisivos, que vende de uma forma quase forçada, a ideia do "faça turismo cá dentro".

De repente é possível ler (muito...), conversar sobre tudo e mais alguma coisa (até da "irmã Lúcia" ou de "extraterrestres"...), dentro da noite, ilustrada com um céu cheio de estrelas... e até receber a visita diária nocturna de uma raposa, que nunca se aproxima demasiado, porque deve conhecer algumas das manhas dos humanos. 

E claro, para combater os quase quarenta graus, nada melhor que aproveitar a água da barragem, com a possibilidade de  ficar por ali até ao pôr do Sol, que até consegue pintar os corpos de um tom quase dourado.

Mas tudo o que é bom tem os dias contados... e sem darmos por isso, os tais "dias longos" chegam ao fim... e regressamos à "civilização".

(Fotografia de Luís Eme - Barragem de Idanha-a-Nova)

quinta-feira, junho 11, 2020

«Já vi que aqui não "mascarados"»


Entrei num café numa aldeia remota na Beira Baixa, de máscara, juntamente com a minha companheira.

Num ambiente de grande serenidade, com meia-dúzia de clientes habituais, vimos que estava toda a gente sem máscara.

Apanhado de surpresa com toda aquela descontracção, tirei a máscara e disse, quase sem pensar: "Já vi que aqui não há "mascarados".»

De manhã também fiz algo que não devia fazer. Uma tia quando me viu aproximou-se para me dar dois beijinhos, que eu retribuí. Foi tudo tão espontâneo, que só minutos depois é que percebi que fui contra as regras destes tempos estranhos.

Apesar de poder parecer um contra-senso, fiquei feliz por ver que nos lugares onde não se registam casos de "covid 19", as pessoas tentam viver de uma forma normal.

(Fotografia de Luís Eme - Beira-Baixa)

domingo, abril 12, 2020

Um Olhar Pascal


A Páscoa é diferente do Natal, não é tanto da família, mas é muito de reencontros e de viagens...

Se os espanhóis adoram vir até ao nosso lado (de Norte a Sul, era costume encontrarem-se em todo o lado, o que lhes dava direito a algumas "piadas" nossas...), nós também gostamos de ir aqui e ali.

Claro que falo muito por mim, por esta quadra ser sempre aproveitada para fazer "mini-férias" no interior, para fazer coisas diferentes...

Estou convencido que no próximo ano as coisas já terão voltado à normalidade. Ouviremos a "língua apressada" (e ruidosa) dos "nuestros hermanos", por tudo o que é sitio, e poderemos voltar a alguns lugares que nos fazem felizes...

(Fotografia de Luís Eme - Idanha-a-Velha)

sexta-feira, abril 10, 2020

Passagem Obrigatória...


A passagem por Idanha-a-Velha, faz sempre parte do nosso roteiro pascal...

(Fotografia de Luís Eme - Idanha-a-Velha)

quinta-feira, abril 09, 2020

Uma Páscoa sem Andorinhas, Oliveiras e Procissão...


Há praticamente duas décadas que íamos passar a Páscoa à Beira Baixa. Tornou-se mais que uma tradição...

Se a razão "maior" era abrir a casa de família, que por lá está fechada o ano inteiro, as "menores" não lhe ficavam atrás. Sim, acordar com o chilrear das imensas aves de pequeno porte, que animavam os campos, com destaque para as andorinhas que todos os anos faziam ninho na varanda do primeiro andar; espreitar à janela e ficar encantado, porque a única coisa que se vêem são campos floridos cheios de oliveiras, que se perdem no horizonte; ou entrar dentro da noite com um céu completamente estrelado, são coisas inesquecíveis para quem vive na cidade...

E depois, na sexta-feira santa, ainda tínhamos a "procissão cantada", que costumávamos apanhar a meio caminho, onde era possível ver a "Verónica", a subir um banco e a estender o pano com o rosto de Cristo, num grito quase cantado. Procissão que dava a volta pela Aldeia e era digna de se ver...

Este ano a nossa Páscoa, será diferente, assim como a de milhões de pessoas, por esse mundo fora...

(Fotografia de Luís Eme - Alcafozes)

segunda-feira, agosto 26, 2019

Hoje é o dia da Procissão...


Há missa, foguetes no ar, gente quase em fila, à frente, ao lado e atrás dos santos e das bandeiras.

E claro, alguns aviões no ar, não fosse a Senhora do Loreto, a padroeira da aviação...

(Luís Eme - Alcafozes)

segunda-feira, abril 22, 2019

Uma Páscoa Curta...


Desta vez os dias passados na Beira souberam mesmo a pouco...

Como de costume andamos por aqui e ali.

Coisa quase rara foi encontrar o ponto mais alto de Portugal Continental com Sol (e ainda com gelo...).

(Fotografia de Luís Eme - Serra da Estrela)

sábado, abril 20, 2019

"Que bem que se está no campo"...


Ainda não foi desta, que o "clube dos terceiros" (esse grupo enorme, que receberam a companhia dos "petrolinos modernos"...) conseguiram desviar-me da Beira-Baixa, lugar de descanso (mesmo por apenas três dias...) e de evasão...

E a Cidade cada vez é mais cansativa. O lugar comum "que bem que se está no campo", faz cada vez mais sentido...

(Fotografia de Luís Eme - Idanha-a-Velha)

domingo, outubro 28, 2018

(Memórias & Invenções Sobre a Beira Baixa)


Deixo hoje mais algumas transcrições do conto que escrevi, para a antologia, "Contos do Portugal Profundo", onde as memórias abraçam a imaginação... E onde se descobrem pequenas coisas deste nosso Portugal, quase esquecido...

«[...] Quando olhou para o Olival, que quase se perdia de vista, recordou-se que o pai guardava sempre uma semana de férias no mês de Outubro para voltar à Beira. Antes da chegada do Inverno vinha ajudar os tios na apanha da azeitona. Nunca falaram sobre isso, nem sobre tantas outras coisas… Poderia gostar de sentir o tempo a arrefecer perto da Serra, como acontecia na sua meninice, ou então, de continuar preso à tradição familiar do fabrico do azeite. Provavelmente eram as duas coisas…
Tinha saudades dele. Dos seus silêncios, do seu sorriso suave e sobretudo da força que transmitia, apenas com o olhar. Nunca falara disso com ninguém, nem mesmo com o irmão, muito menos com a mãe.[...]»

«[...] Sentia que a pequena localidade tinha regredido muito, tal como acontecera com tantas terras do interior, nas últimas décadas. A taberna, que agora era apenas café, tinha perdido o atractivo de ter a seu lado a mercearia, onde se podia comprar um pouco de tudo, como ainda acontece nos bairros… O facto de antes ter dois mil habitantes e agora ter menos de quinhentos não pode explicar tudo. Até porque o meu milhar de pessoas que mantêm viva a aldeia, além de estar mais envelhecido e limitado de movimentos, continua a ter de comer todos os dias… [...]»

«[...] Quando voltou para dentro aproveitou para se espreguiçar, ao mesmo tempo que olhava à sua volta. A cozinha tinha apenas a mobilia indispensável, assim como a sala e os quartos. Gostava daquela ausência de inutilidades que vamos juntando ao longo da vida. Era bom a casa não ser de ninguém em especial, pertencer sobretudo a quem chegava, que trazia os seus livros, os seus discos e as suas roupas, que depois levava de volta… [...]»

«[...] As fotografias e os nomes foram lhe recordando pequenos episódios, quase sempre positivos. Percebeu que estavam por ali várias pessoas que tinham acabado os seus dias nas cidades, mas por tradição, ou por outra coisa qualquer, quiseram que os seus corpos desaparecessem no mesmo lugar onde tinham nascido, rente aos campos da Beira.
Havia tios e primos que nunca conhecera fisicamente, mas de quem sabia várias coisas das suas vidas, algumas de forma quase lendária, como o Tio Firmino, que morrera novo e diziam ser o maior jogador do pau das redondezas, um autêntico “malhadinhas” do Aquilino. Era comum virem à aldeia desafiá-lo e normalmente saiam de Alcobar, derrotados e cabisbaixos.
Recordou o tio João, um homem alto e bonito, o único que tinha olhos azuis da família, vá-se lá saber porquê. Tinha algo de imperial, como se tivesse existido na família qualquer mistura de “sangue azulado”.
A última morada do bisavô Francisco elevava-se um pouco acima das outras, provavelmente, como reconhecimento da aldeia pelo seu papel activo na defesa da comunidade, ao exteriorizar com tanta energia a importância da água para todos.
Estupidamente lembrava-se mais dos homens que das mulheres da família. Foi por isso que quando descobriu o retrato da tia Isabel, que lhe oferecia uns bolinhos secos deliciosos, reviu-a com gosto. Sorriu ao recordar a sua figura anafada, brejeira e com um andar quase dançante. Agora achava piada ela enchê-lo de beijos quando se víam, na altura nem por isso. Sorriu ao recordar que os beijos lambuzados, eram uma especialidade de quase todas as mulheres da aldeia, especialmente as de mais idade, que o abraçavam e chamavam “filho da minha alma”… [...]»

«[...] Sempre achou graça à diferenciação de sexos assumida na aldeia, até pelo padre e pela igreja. Elas iam rezar para a missa e eles beber do corpo de cristo na taberna do Alfredo.
As coisas não mudaram assim tanto, na actualidade o café continua a ser sobretudo dos homens. As mulheres passam por lá mas quase que não param. Bebem o café e vão para casa. São eles que passam ali as tardes de sábado e domingo a jogar às cartas e a beber minis. [...]»

(Fotografia de Luís Eme)

sexta-feira, outubro 26, 2018

(A Primeira Despedida à Francesa)


Como expliquei na resposta a um comentário, o conto que escrevi para o livro, "Contos do Portugal Profundo", é grandito. Mesmo assim resolvi ir ao encontro de duas frequentadores dilectas do "Largo", que mostraram interesse em ler a história, publico aqui os dois momentos que acabaram por contribuir para o título da ficção ("Despedidas à Francesa num Outro Portugal"). Um hoje. E outro amanhã...

«[…] Na Vila perdeu-se um pouco pelas ruelas, quase desertas, até que entrou num café, decidido a petiscar qualquer coisa. Um dos pratos do dia era ervilhas com ovos escalfados, algo que não comia há muito tempo. Não pensou duas vezes na escolha da ementa.
No final, quando saboreava o café, foi surpreendido pelo olhar vivo de uma mulher da sua geração, cujas rugas indiciavam que poderia ter um ou dois anos a mais que ele. Mas ela não se limitou a olhar, foi-se aproximando e fez-se mesmo convidada para um café, como se estivessem numa daquelas casas onde os homens pagam bebidas às mulheres.
Ao perceber que ele não estava com muita vontade de falar, fingiu não se preocupar e fez quase todas as despesas da conversa. Esperta, começou por o provocar e fazer sorrir, quando tentou certificar se o gato da vizinha Aurora também lhe comera a língua.
Disse ser uma Eva e quis saber quem era ele. Ofereceu-lhe o segundo nome, Manel, o que foi aproveitado para ela misturar logo um pincel na conversa, em mais uma tentativa de deixar mais à vontade.
Naquele momento não sabia muito bem o que pensar da mulher, com o tal nome original que alguns homens fingem acreditar, que foi uma criação por Deus… Mas era impossível passar ao lado da sua lata…
E ela lá continuou a falar sem parar. Queria saber coisas do homem que se ia tornando um mistério, por não lhe dizer praticamente nada do que lhe apetecia ouvir. Foi quando Eva lhe explicou que podia mentir, inventar uma vida, acrescentando que às vezes era uma boa maneira de se sonhar acordado. E sem deixar que a interrompesse afirmou que todos mentimos, todos escondemos alguma coisa. Foi quando ele sorriu de novo, por ser verdade e também por ter à frente uma mulher que parecia não desistir às primeiras às segunda e às terceiras.
Talvez fosse professora de filosofia, ou então psicóloga, daquelas que fartas de ouvirem as histórias dos outros, se resolvem libertar nos lugares mais insólitos e oferecer quase todas as palavras do mundo a desconhecidos.
Ela insistiu e foi ainda mais longe na descodificação que fazia da natureza humana. Falou do medo, da impotência, da solidão, da perda… Metia-se com ele, talvez por sentir que ele fingia não ser grande adversário, E era verdade. Naquele momento estava ali sentado, com a mesma sensação de estar a assistir a uma peça de teatro ou a um filme. E como sabia que o silêncio era de ouro nos momentos em que a arte se confundia com a vida, não perturbava nem um pouco o “monólogo” da Eva…
Numa última tentativa de lhe arrancar alguma coisa dos bolsos de dentro, onde se escondem os sonhos e pesadelos, Eva contou algo que, segundo as suas palavras, nunca tinha dito a ninguém. Pensava cada vez mais vezes que talvez tivesse sido melhor ter uma vida calma, de ser apenas mãe e dona de casa. Ter uma vida mais parecida com a da avó que com a da mãe, que também teve de trabalhar a vida quase toda fora de casa… E foi ainda mais longe. Olhou para outra mesa mais distante, com dois adultos e duas crianças, e falou-lhe de uma família, que poderia muito bem ser a sua, se…
 Foi o único momento em que se sentiu quase obrigado a dizer alguma coisa. Com um sorriso leve afirmou que adoramos desculpas, quando todos estamos sempre a tempo de mudar. Sem se deixar interromper, disse que a vida tem o condão de nos oferecer mais que um caminho, tanto podemos dar um passo em frente, dois para o lado ou um para trás.
Depois das suas palavras apareceu o silêncio. Os segundos que se seguiram pareceram minutos. Foi como se ele quebrasse a magia do “monólogo” anterior.
Foi neste momento que Eva fingiu ir à casa de banho e desapareceu.
Só dez minutos depois é que percebeu que ela não ia voltar… Ainda ficou por ali a pensar, pelo menos outros dez minutos, novamente com a máquina do tempo a fazer marcha atrás, e sem grande esperança de a voltar a olhar.
O mais curioso foi ter gostado de a conhecer, mesmo que soubesse que era provável nunca mais se encontrarem, em qualquer parte incerta, porque como lhe confessou, quando ensaiou a despedida, estava ali apenas de passagem. Depois ela desculpou-se, quase à homem, que ia fazer uma “mija” e já voltava.
Mas desapareceu…
Talvez fossem as suas palavras que quebraram a magia da conversa, comandada pela mulher, do início ao fim.
Foi acordado nas suas deambulações pelo olhar de uma outra mulher, que entrou à procura de alguém e saiu. Sorriu novamente, mais pelo presente que pelo passado, porque há muito que não o olhavam de uma forma estranha, e muito menos se faziam convidados para a sua mesa. [...]»

 (Fotografia de Luís Eme)

quinta-feira, agosto 30, 2018

A Aldeia Mais Florida de Portugal...


Entre o acaso e a curiosidade visitámos a "Aldeia mais Florida de Portugal", Pereiro, no Concelho de Mação...

E de facto, toda a aldeia estava com as ruas cobertas de flores (trabalho artesanal admirável feito com sacos de plástico). E foi assim entre 23 e 26 de Agosto.


Esta rua deve ser de simpatizantes do Benfica, que ontem honrou no nosso país na Europa do futebol.


E esta foi uma das ruas que achámos mais curiosas, pela cor e pelo bom gosto. 

Acabámos por ficar rendidos a este Pereiro florido, entre o Ribatejo e a Beira Baixa, pela beleza ocasional da povoação e pelo labor dos seus habitantes...

(Fotografias de Luís Eme)

quarta-feira, agosto 29, 2018

As Nossas Belas Praias Fluviais


Em mais um período curto de férias, entre outras coisas, foi possível conhecer meia-dúzia de praias fluviais da Beira Baixa.

A que mais gostei foi a praia do Moinho, em Benquerença, no concelho de Penamacor.

Pelo espaço, pelas sombras, pela qualidade da água e pela beleza natural.

(Fotografia de Luís Eme)

domingo, agosto 26, 2018

Postal da Beira...


Esta é a nossa praia da Beira, a Barragem de Idanha-a-Nova...

(Fotografia de Luís Eme)