“Fazer os gestos apropriados para conter a doença, fechar a ferida, acalmar a dor: o cuidado está associado, desde o início da humanidade, à suavidade. Ele exprime a intenção do bem, [...] A suavidade é o suficiente para curar? Ela não precisa de nenhum poder, nenhum saber. Para apreender a vulnerabilidade do outro é preciso que o sujeito reconheça a própria fragilidade. Essa aceitação é uma força, faz da suavidade um grau mais alto na compaixão que o simples cuidado. Ter compaixão é sofrer com o outro aquilo que ele sofre, sem capitular. É poder se deixar atingir por outro, por sua tristeza ou sua dor, e conter essa dor levando-a para longe. Mas a suavidade não é apenas um princípio de relação, qualquer que seja a intensidade que a anime. Ela abre o caminho para aquilo que é mais singular no outro. Se a atenção de suavidade, no sentido do “cuidado da alma” compreendido por Patocka, acena para nossa responsabilidade de ser humano para com o mundo que nos cerca, os seres que o compõem e até mesmo os pensamentos que lhes dedicamos, ela inclui uma relação de familiaridade com o animal, o mineral, o vegetal, o estelar.”
- Anne Dufourmantelle - Potências da Suavidade
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