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A CASA QUE EDUCA
(Por Rubem Alves) Escrevo para vocês, crianças! O Amyr Klink é um navegador. Navega
num barco a vela. Vela é uma armadilha para pegar o vento. O vento tem força.
Os barcos a vela navegam movidos pela força do vento. O vento vem, bate nas
velas e empurra o barco. Mas, o que fazer quando o navegador quer ir para o sul
e o vento sopra para o norte? Peça a um professor para lhe explicar isto. Antes
das velas era preciso remar para o barco navegar. Dava muita canseira. Mas aí
um dos nossos antepassados descobriu que o vento faria o serviço dos remos e o
homem poderia fazer outras coisas...
Toda a nossa história passada, desde os tempos das cavernas, é a
história dos homens aprendendo a fazer a natureza fazer o trabalho por eles. Os
moinhos de vento, os moinhos de água, o arco e a flecha, as alavancas, os
monjolos, o fogo... O Amyr Klink não é só navegador. Ele pensa sobre as
escolas. Perguntaram ao Amyr Klink: "Qual é a escola que você desejaria
para os seus filhos?". Ele respondeu: "Uma escola que há na Ilha
Faroe, entre a Inglaterra e a Islândia. Lá as crianças aprendem tudo o que
devem aprender construindo uma casa viking..." Quem eram os vikings? Eram
navegantes ousados. Há uma aventura do Asterix e do Obelix, heróis gauleses,
entre os vikings. Muito divertida!
O Amyr Klink disse que as crianças aprendem "construindo"
uma casa. Concordo. Para aprender uma coisa é preciso fazê-la. As crianças da
ilha Faroe aprendiam o que precisavam saber para viver construindo uma casa!
Mas não será muito difícil construir uma casa? É difícil. Mas há um truque: a
gente pode "imaginar" a casa que a gente quer construir. Tudo o que a
gente faz começa na imaginação: um quadro, um avião. Santos Dummont imaginou o
14-Bis antes de construí-lo. Uma viagem, uma técnica cirúrgica, um foguete, uma
música, um livro... Tudo começa na imaginação.
Quando vou fazer um papagaio, a primeira coisa é imaginá-lo na minha
cabeça: o seu tipo (há papagaios do tamanho de uma casa!), as suas cores, as
ferramentas de que vou precisar e os materiais que vou usar: tesoura, canivete,
serra, linha, cola, papel... O mesmo vale para uma casa. A primeira coisa é
imaginar a casa, como se estivesse pronta. O Oscar Niemeyer, que planejou os
edifícios fantásticos de Brasília, a primeira coisa que faz é
"desenhar" no papel o edifício que ele vê com os olhos da imaginação.
Imagine a casa que você gostaria de construir. Terá um ou dois andares? As
telhas serão vermelhas? E a paredes? De que cor serão? Terá uma chaminé para um
fogão de lenha ou uma lareira? Terá um jardim na frente? Para que lado estará
virada? Na sua cidade, qual é a direção do sul? E do oeste? Onde nasce o sol?
Onde se põe? Mas o sol se põe? Esses são os pontos cardeais. É importante saber
onde estão os pontos cardeais por causa da luz do sol.
Aí é preciso desenhar essa casa no papel, para que os pedreiros e
carpinteiros saibam como a imaginei. O desenho torna a imaginação visível. Quem
faz esse desenho é o arquiteto. Aí será preciso fazer uma lista dos materiais
que você terá de usar para construir sua casa.
Começando com tijolo, cimento, areia, e sem se esquecer dos pregos. Não
se esqueça do dinheiro, sem o qual não se compra nada. Seu pai e sua mãe terão
prazer em ajudá-lo.
(Publicado na revista Educação, em agosto 2011)
Pedagogo, poeta e filósofo de todas as horas, cronista do cotidiano,
contador de estórias, ensaísta, teólogo, acadêmico, autor de livros para
crianças, psicanalista, Rubem Alves (1933-2014) é um dos intelectuais mais
famosos e respeitados do Brasil.
Dos vários livros de Rubem Alves, destacam-se: “O Que é
Religião?" (filosofia e religião), “A Volta do Pássaro Encantado”, “O
Patinho que não Aprendeu a Voar” (livro infantil), “Variações Sobre a Vida e a
Morte” (teologia) e “Filosofia da Ciência” (filosofia e conhecimento
científico).
(Fonte: e-biografias.net)