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domingo, 21 de maio de 2017

POLÍTICA/OPINIÃO: AUGUSTO NUNES

RADIOGRAFIA DE UMA FRAUDE (FIM)
A CANDIDATA



Dilma Rousseff, candidata à Presidência pelo PT, vota em Porto Alegre. 31/10/2010
DILMA VOTANDO EM PORTO ALEGRE (2010)

O PAÍS EM QUE DILMA VIVE
TEM ATÉ TREM BALA

O Brasil real não conheceu nenhuma obra notável
concluída pela ministra. O país registrado em cartório
por Lula e Dilma inaugurou um deslumbramento por mês

Por Augusto Nunes
VEJA.COM – 16/05/2007

Num dos incontáveis comícios promovidos para celebrar o bom ritmo de obras que nunca ficam prontas, o presidente Lula informou que o trem-bala prometido para aquele ano teria de esperar um pouco mais. “É uma coisa muito grande, mas está tudo mais ou menos encaminhado e a licitação vai ser feita em outubro”, avisou em 26 de abril de 2008.

De onde viriam os R$ 9 bilhões que serão engolidos pela maravilha ferroviária ligando o Rio a São Paulo e Campinas? Lula replicou com um sorriso superior e outra bazófia: “Neste momento, a companheira Dilma está no Japão e na Coreia mostrando o projeto para países mais ricos e empresas que têm tecnologia, a fim de participarem junto do consórcio de empresas brasileiras”. Era esperar pela viagem de volta e correr para o abraço.

A licitação prometida para outubro, que permitiria ouvir o apito na curva até o fim de 2012, já completou nove anos de inexistência. Em 4 de dezembro de 2009, Dilma baixou em Berlim para prosseguir a missão iniciada no Japão e na Coreia. Pronta para embarcar num trem-bala alemão, transferiu a viagem inaugural do similar brasileiro para 2014. “Antes da Copa do Mundo do Brasil”, animou-se.

A coisa demoraria, mas em compensação ficaria maior, soube o país na continuação da discurseira:  “A gente exige transferência de tecnologia, porque esse é o primeiro trem. Você tem outras possibilidades de construção de trens de alta velocidade no país”. Em seguida, Dilma presenteou com trens-balas também os eleitores de Curitiba, Brasília e Belo Horizonte.

O Brasil real não conheceu nenhuma obra notável concluída pela ministra. O Brasil registrado em cartório por Lula e herdado por Dilma inaugurou um deslumbramento por mês. Lá a vida é uma beleza. Lá se vive como rei. Lá a pobreza é uma lembrança tão longínqua, tão remota que os pobres já nem se lembram dos tempos em que faltava dinheiro para comprar passagens de avião. Lá há aeroportos de sobra, e só São Paulo tem três.

O terceiro começou a tomar forma em 20 de julho de 2007, quando Dilma descobriu como acabar com apagões e desastres. “Determinamos a construção de um novo aeroporto e os estudos ficarão prontos em 90 dias”, pisou fundo já na largada da entrevista coletiva, caprichando no plural majestático. “Estamos determinando que a vocação de Congonhas seja de voos diretos, ponto a ponto”.

Como conexões e voos internacionais seriam banidos de Congonhas “em 60 dias”, não havia tempo a perder. Nenhum detalhe escapara à astúcia da Mãe do PAC. “Tivemos de tomar precauções sobre a área de segurança ao redor do aeroporto”, exemplificou. Onde seria construído o mais confortável e mais seguro aeroporto do planeta?, excitaram-se os jornalistas. “Não sabemos onde será e, se soubéssemos, não diríamos”, ensinou a superexecutiva a serviço da pátria. “Jamais iríamos dizer isso para não sermos fontes de especulação imobiliária”.

Dilma Rousseff trucida a realidade com tanta aplicação que parece mais convincente mentindo do que dizendo a verdade.  No começo de julho de 2008, por exemplo, declarou com a convicção ensaiada de uma espiã de cinema que nada teve a ver com a venda da Variglog a um fundo americano e três sócios brasileiros. Claro que teve, insistiu a ex-diretora da Anac Denize Abreu.

Segundo Denize, Dilma havia interferido nas negociações em favor do corretor de luxo Roberto Teixeira, primeiro-compadre e especialista em ganhar muito dinheiro no céu com transações subterrâneas. Denize mentiu, cortou a ministra. O amigo do presidente jamais dera as caras na Casa Civil. Só em 26 de julho, depois de resistir por 20 dias à procissão de evidências, provas e testemunhos, admitiu que haviam ocorrido dois encontros fora da agenda.

“Mas não conversamos sobre a venda da Variglog”, ressalvou. Do que haviam tratado, então? Dilma safou-se da zona de sombra tirando da bolsa a frase da moda no Planalto: “Isso é a escandalização do nada”.

Em agosto de 2009, foi a vez de Lina Vieira, ex-secretária da Receita Federal, enxergar um escândalo onde Dilma Rousseff não viu nada. Demitida do cargo por acreditar que a lei valia também para a família Sarney, Lina contou que foi convidada para um encontro com Dilma na Casa Civil. A secretária-executiva Erenice Guerra transmitiu pessoalmente o convite a Iraneth Weller, chefe de gabinete da Secretaria da Receita Federal.

“Foi uma conversa muito rápida, não durou dez minutos”, resumiu Lina. “Falamos sobre algumas amenidades e, então, Dilma me perguntou se eu podia agilizar a fiscalização do filho de Sarney”. Dilma seguiu jurando que o encontro não existiu. Erenice jurou que o convite não foi feito. Iraneth disse o contrário. Ouvida no Senado, Lina deu todos os indícios de que tinha razão.

Contou que foi até a reunião no carro dirigido por um motorista do Ministério da Fazenda, seu nome foi anotado na garagem, subiu pelo elevador, passou por dois funcionários da Casa Civil quando caminhava rumo ao gabinete de Dilma. “Não sou fantasma”, alertou, lembrando que o circuito interno de imagens podia comprovar o encontro.

Não podia, descobriu-se depois. Em nota oficial, o Gabinete de Segurança Institucional explicou que, “conforme as especificações do edital assinado em 2004, o período médio de armazenamento das imagens varia em torno de 30 dias”, garantiu o texto. Ao obter uma cópia do edital, o site Contas Abertas comprovou a farsa. De acordo com o documento, ficou estabelecido que os registros de acesso de pessoas e veículos ao Palácio do Planalto seriam guardados “em um banco de dados específico, com capacidade de armazenamento por um período mínimo de seis meses” ─ e depois “transferidos definitivamente para uma unidade de backup”.

Dois meses depois, a ex-secretária localizou a agenda que apontava a data exata do encontro, 9 de outubro de 2008, com o seguinte comentário: “Dar retorno à ministra sobre família Sarney”. Dilma continuou rebatendo a declaração de Lina, e o encontro nunca foi provado. Em julho de 2010, um ex-funcionário do Planalto afirmou a Veja que o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República escondeu imagens das câmaras de segurança que comprovariam a reunião.

A passagem de Dilma pela Casa Civil já havia produzido outros momentos abjetos. Em março de 2008, por exemplo, instruída para livrar o governo da enrascada em que se metera com a gastança dos cartões corporativos usados por ministros do governo Lula com fins nada republicanos, Dilma produziu um papelório que tentava reduzir Fernando Henrique e Ruth Cardoso a perdulários incuráveis, uma dupla decidida a desperdiçar o dinheiro da nação em vinhos caros e futilidades gastronômicas. O dossiê foi produzido a mando de Erenice Guerra, secretária-executiva da Casa Civil e braço direito da então ministra. Diante da repercussão negativa do episódio até entre os maiores inimigos de FHC, Dilma, que sempre preferiu se referir ao material como “banco de dados”, ligou pessoalmente para pedir desculpas a Ruth Cardoso.

Em setembro de 2010, Erenice Guerra voltou às manchetes político-policiais depois que outra reportagem de Veja revelou uma rede de negociatas funcionando dentro da Casa Civil, sob a tutela de seu filho, Israel Guerra, e outros sócios. Segundo a denúncia, o bando usava a influência de Erenice, que havia assumido a pasta em abril daquele ano, para favorecer empresários em troca de uma “taxa de sucesso”. O que não ia para o bolso dos lobistas de araque, seguia para os cofres do PT. A ministra também aproveitou o cargo para favorecer os negócios do marido e de irmãos. Diante do escândalo, a melhor amiga de Dilma Rousseff foi despejada do emprego cinco meses depois de empossada.

Sem saber atirar, Dilma Rousseff virou modelo de guerrilheira. Sem passar pela Assembleia Legislativa, virou secretária de Estado. Sem estagiar no Congresso, virou ministra. Sem ter inaugurado nada de relevante, virou supergerente e mãe do PAC. Sem saber juntar sujeito e predicado, virou estrela de palanque. Sem ter disputado sequer uma eleição de síndico, virou presidente da República.
 

sábado, 20 de maio de 2017

POLÍTICA/OPINIÃO: AUGUSTO NUNES




LULA E DILMA EM CUSTÓDIA (PE)



RADIOGRAFIA DE UMA FRAUDE (3)
A SUPERGERENTE

Os interlocutores de Dilma Rousseff acreditaram
durante muitos anos que falavam com uma sumidade em economia

Por Augusto Nunes
VEJA.COM – 16/05/2017

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva veste um chapéu de vaqueiro, ao lado da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, durante encontro com trabalhadores do Lote 11 e moradores da região do canteiro das obras da transposição das águas do Rio São Francisco, no município de Custódia, em Pernambuco.
A secretaria do governo gaúcho que pouco entende de minas e energia virou ministra por que Lula entende menos ainda

Doutor em Física, com mestrado em Engenharia Nuclear, coordenador do grupo que redigiu o capítulo sobre a área de minas e energia no programa do candidato do PT, o professor Luiz Pinguelli Rosa já escolhera o terno para o primeiro dia na Esplanada dos Ministérios quando soube que fora barrado no baile. Por motivos ignorados tanto pelo quase ministro quanto pelos demais integrantes da equipe de transição acampada no Centro de Treinamento do Banco do Brasil, em Brasília, o cargo caiu no colo de Dilma Rousseff, filiada ao PT gaúcho e secretária de Minas e Energia do Rio Grande do Sul.

O que teria levado o dono do time a alterar a escalação minutos antes da entrada em campo?, intrigaram-se os Altos Companheiros. Lula só desvendou o mistério semanas depois da festa de posse: “Já no fim de 2002 apareceu lá uma companheira com um computadorzinho na mão”, contou com a placidez de quem está narrando uma história para crianças. Lá era o Centro de Treinamento do BB. “Começamos a discutir e percebi que ela tinha um diferencial dos demais, porque ela vinha com a praticidade do exercício da secretaria. Aí eu fiquei pensando: acho que já encontrei a minha ministra”.

Simples assim. Se Dilma Rousseff era secretária do governador Olívio Dutra, por que não promover a ministra a companheira do computadorzinho portátil? O maior governante desde a chegada das caravelas entende de minas e energia tanto quanto entende de gramática e ortografia. Como Dilma não entende do assunto muito mais que o chefe, do que teriam tratado nas conversas a dois? O que teria ouvido Lula para dispensar-se de consultas a especialistas no ramo e pedidos de informações a quem a conhecia menos superficialmente?

Em 2007, ela resumiu em duas frases o que os dois conversaram: “O presidente perguntou como tinha sido o apagão do Fernando Henrique no Rio Grande do Sul, e eu contei que lá não teve apagão”. Mitômanos, quando não mentem simplesmente, contam só um pedaço da verdade. Sim, os gaúchos não tiveram de racionar energia em 2001. Nem os catarinenses e os paranaenses, Dilma deixou de dizer. Como não faltaram chuvas, tampouco faltou água nos reservatórios das hidrelétricas da região sul. Os três Estados escaparam das medidas de emergência não pela competência dos secretários estaduais, mas pela clemência da natureza.

Sem chances de concorrer com quem derrotara até o apagão, restou a Pinguelli conformar-se com a presidência da Eletrobrás. Caiu fora em pouco tempo para afastar-se do crônico mau humor da ministra. “Essa moça formata o disquete a cada semana”, ironizou. “Nunca tive simpatia pela maneira como Dilma trata as pessoas”, diz o professor Ildo Sauer, demitido pela ministra da Diretoria de Gás e Energia da Petrobras. “Ela não conversa, só dá ordens. Mas é um doce com quem está acima dela”. Como a guerrilheira obediente aos comandantes dos grupos clandestinos, como a mulher dócil no trato com os maridos, como a secretária que nem piava nas reuniões do governo gaúcho, a ministra sempre sabe com quem está falando.

Os interlocutores de Dilma Rousseff acreditaram durante muitos anos que falavam com uma sumidade em economia. Em 2005, transferida do Ministério de Minas e Energia para o gabinete do qual José Dirceu fora despejado pelo mensalão, o site da Casa Civil manteve no currículo oficial duas informações fraudulentas que enfeitavam a biografia da nova chefe. Ali se lia que Dilma era mestre em teoria econômica pela Universidade de Campinas (Unicamp) e doutoranda em economia monetária e financeira pela mesma universidade”. Nunca foi nem uma coisa nem outra, descobriu a imprensa em julho de 2009. Ela jamais pediu desculpas pela trapaça.

Num e-mail endereçado a amigos, Ildo Sauer confessou que foi uma das vítimas da vigarice forjada pela doutora em nada. No fim de 2002, os integrantes do grupo de energia do Instituto Cidadania, vinculado ao PT, entregaram seus currículos atualizados à direção da entidade. Sauer leu o apresentado por Dilma e, bem impressionado, quis saber se tinha concluído o curso de doutorado. Diante da resposta positiva, perguntou se Dilma toparia participar da banca que examinaria a tese de um candidato a doutor. “Não tenho tempo para essas coisas”, recusou com rispidez a convidada.

“Hoje compreendo”, disse Sauer na mensagem pela internet. “O desprezo e o desdém eram ferramentas para encobrir a impostura… Há outras”. Quais seriam? Sauer acha que ainda é cedo para divulgá-las. “O que já se sabe é suficiente para mostrar que Dilma não é nada do que se imaginava”, explica. Dilma Rousseff é só uma fraude.

A supergerente também achou conveniente omitir da biografia oficial a experiência de um ano e cinco meses à frente da Pão & Circo, loja de bugigangas localizada na região central de Porto Alegre, com filial no centro comercial Olaria, também na capital gaúcha. Registrada para comercializar “confecções, eletrônicos, tapeçaria, livros, bebidas, tabaco, bijuterias, flores naturais e artificiais, vendidos a preços módicos”, como descreveu uma reportagem da Folha em agosto de 2010, a empresa tinha como forte os brinquedos – “particularmente os dos ‘Cavaleiros do Zodíaco’”, animação japonesa sobre jovens guerreiros que fez sucesso nos anos 1990.

Ao lado da ex-cunhada Sirlei Araújo, Dilma viajou ao Panamá “umas duas ou três vezes” — contou Sirlei — para escolher as mercadorias, que eram despachadas de navio até Imbituba (SC) e seguiam depois por terra até a capital gaúcha. Também participavam da sociedade Carlos Araújo, ex-marido de Dilma, e um sobrinho, João Vicente.

Os comerciantes mais antigos do Olaria, lembravam perfeitamente do fiasco. “A gente esperava uma loja com artigos diferenciados, mas, quando ela abriu, era tipo R$ 1,99. Eram uns cacarecos”, recordou Bruno Kappaun, dono de uma tabacaria no local. “A loja era mal-acabada, com divisórias de tábua, um troço rústico. E, claro, não entrava ninguém ali”, disse Ênio da Costa Teixeira, proprietário de uma pizzaria. Um terceiro comerciante, André Onofre, acha que a loja não teve viabilidade econômica porque as “bugigangas” eram “muito baratas”. “Foi uma experiência. Acho que ela não era do ramo”.

Sirlei contou que Dilma cuidava sobretudo da contabilidade e das vendas. A presidente que inventou o Ministério da Micro e Pequena Empresa, levou menos de dois anos para falir o próprio negócio.


sexta-feira, 19 de maio de 2017

POLÍTICA/OPINIÃO: AUGUSTO NUNES




Dilma Rousseff em 1991, quando era presidente da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul

Dilma Rousseff em 1991, quando era presidente 
da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul




RADIOGRAFIA DE UMA FRAUDE (2): 
A EXECUTIVA

Assim como nunca foi além da segunda divisão
da luta armada, Dilma percorreu sem queixumes os caminhos
escolhidos pelo marido da vez

Por Augusto Nunes
VEJA.COM - 13/05/2017 - 23h56


Brizola confessou que nunca entendeu direito o que dizia aquela mineira que trocou o PDT por uma secretaria no governo do PT

A Dilma Rousseff dos relatórios hiperbólicos dos órgãos de segurança também nunca foi vista pelos dois maridos de Dilma Vana Rousseff, filha da mineira Dilma Jane, dona-de-casa, e do búlgaro Pedro Rousseff, advogado e empresário. Sorte deles. Caso a cônjuge correspondesse à descrição superlativa da polícia política, os noivos incautos teriam acumulado derrotas devastadoras na guerra conjugal travada contra a superguerrilheira sem paciência, voluntariosa, onisciente, nascida para comandar e conduzir, que distribuía ordens e pitos entre marmanjos de alta periculosidade empenhados em derrubar a ditadura militar a bala.

Como essa Dilma nunca existiu, ambos conviveram sem maiores sobressaltos com uma mineira de Belo Horizonte que sempre falou pouco, jamais abrilhantou encontros secretos com intervenções luminosas, nunca foi além da segunda divisão da luta armada e percorreu sem queixumes os caminhos escolhidos pelo marido da vez.


LEIA TAMBÉM

 
No início dos anos 70, mais de 100 presos políticos foram embarcados para o exílio em troca da libertação de embaixadores sequestrados. Ninguém considerado importante ficou fora das listas de prisioneiros a resgatar. Dilma não entrou em nenhuma. Por Augusto Nunes, em "Radiografia de uma fraude" (parte 1).
http://orlandosilveira1956.blogspot.com.br/2017/05/politicaopiniao-augusto-nunes.html#comment-form

quinta-feira, 18 de maio de 2017

POLÍTICA/OPINIÃO: AUGUSTO NUNES





Dilma Rousseff, aos 22 anos, responde a um interrogatório na sede da Auditoria Militar do Rio de Janeiro em 1970 

Dilma Rousseff, aos 22 anos, responde a um interrogatório na sede 
da Auditoria Militar do Rio de Janeiro em 1970




RADIOGRAFIA DE UMA FRAUDE (1)
A GUERRILHEIRA

Dilma aprendeu a montar e desmontar uma arma,
mas jamais apertou um gatilho fora da aula

Por Augusto Nunes
13/05/2017


 

O HISTÓRICO DA GUERRILHEIRA TEM
MAIS CODINOMES QUE TIROTEIROS

“Senhora ministra Dilma Rousseff, minha camarada de armas”, assim José Dirceu saudou a herdeira do cargo na abertura da cerimônia do adeus à Casa Civil. “Ela é uma companheira de lutas e, como eu disse, uma camarada de armas”, reincidiu no meio do palavrório o figurão despejado do cargo por não saber ocultar direito as provas do crime. “Lutamos contra a ditadura militar de armas na mão. Lutamos pela redemocratização do Brasil de peito aberto”.

Animado com a salva de palmas, o orador caprichou na pose de primeiro aluno da turma no cursinho intensivo de guerrilha em Cuba. Dilma manteve o semblante severo de quem entrou em Havana no primeiro dia de 1959 ao lado de Fidel Castro. Se esses dois tivessem escoltado Che Guevara na selva boliviana a história seria outra, emocionaram-se na plateia veteranos heróis da resistência que hoje lutam pela prosperidade alistados no exército dos bolsistas da anistia.

O País do Carnaval não estabelece limites nem prazos de validade para a fantasia, constatou outra vez o Brasil que vê as coisas como as coisas são. Na discurseira de junho de 2005, por exemplo, Dirceu travestiu de soldados da democracia dois devotos de seitas que pretendiam trocar a ditadura militar pela ditadura comunista, e tinham tanto apreço pela liberdade quanto um carcereiro nazista.

“A VAR- Palmares é uma organização político-militar de caráter partidário, marxista-leninista, que se propõe a cumprir todas as tarefas da guerra revolucionária e da construção do Partido da Classe Operária, com o objetivo de tomar o poder e construir o socialismo”, confessava já nas primeiras linhas o panfleto de apresentação de uma das quatro siglas frequentadas por Dilma em três anos de militância clandestina. Mas quem faz o que fez Dirceu não fica embaraçado por tão pouco, e o falatório seguiu seu curso.

Sempre fantasiado de democrata, o capitão do time expulso de campo pelo mensalão aproveitou a troca de guarda no primeiro escalão para celebrar a troca de chumbo que não houve. O guerrilheiro diplomado com o codinome Daniel só foi visto de armas na mão nas aulas práticas do cursinho ─ para disparar balas de festim, porque não se desperdiça chumbo em combates imaginários. De volta ao Brasil, assustou-se com o tamanho da confusão e preferiu entrincheirar-se por trás do balcão do Magazine do Homem, em Cruzeiro do Oeste. Em vez de comprar brigas perigosas, esperou a anistia vendendo roupas masculinas.

O histórico da guerrilheira urbana registra mais codinomes que tiroteios. Entre meados de 1967 e janeiro de 1971, a mineira Dilma Vana Rousseff Linhares foi Estela, Vanda, Patrícia e Luiza. Nenhuma participou diretamente de ações armadas. Dilma aprendeu a montar e desmontar uma arma, mas jamais apertou um gatilho fora da aula. “Ela não era uma figura de muito destaque”, disse Carlos Minc, que também se filiou à VAR-Palmares. A sinceridade não pegou bem: Dilma acha que fica melhor no retrato com um trabuco na mão.

“Não gosto de falar sobre isso”, diz com voz inconvincente quando ouve perguntas sobre os velhos tempos. Não há nenhum relato épico a fazer. Num filme inspirado no assalto ao cofre do governador Adhemar de Barros, por exemplo, a atriz escalada para o papel de Dilma jogaria no time dos coadjuvantes. Segundo relatórios da polícia, coube-lhe administrar a distribuição de dinheiro, providenciar esconderijos e comprar um Fusca. Dilma só admite a aquisição do carro. O tom de voz insinua que fez coisas de que até Deus duvida.

“Ela é uma das molas mestras dos esquemas revolucionários”, decidiu o delegado Newton Fernandes na coleção de perfis deliberadamente superlativos de militantes da VAR-Palmares. Convinha valorizar a supressão de qualquer retrato nos cartazes dos procurados. O promotor militar, encarregado de denunciar a organização, venceu o festival da hipérbole ao enxergar na jovem de 22 anos “a Joana d’Arc da subversão”, “a papisa da guerrilha”, “uma figura feminina de expressão tristemente notável”.

Presa em janeiro de 1970, Dilma foi submetida a torturas e ficou três anos na cadeia. Nesse período, mais de 100 presos políticos foram embarcados para o exílio em troca da libertação de embaixadores sequestrados. Ninguém considerado importante ficou fora das listas de prisioneiros a resgatar. Ela não entrou em nenhuma.