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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

DEI NISSO

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Não fui bom pai.

A caçula já me escreveu isso com todas as letras: “Pai, você não foi de todo ruim”.

Só pensava em trabalhar, contas a pagar, sabem como é. 

Inferno, vida de pai e mãe. Gostoso é ser avô de Dudu, primeiro e único, por enquanto. Gabriel vem aí, final de março. Mais um amor para amar. Quando Dudu me abraça, piro. Filhos nem sempre obedeçam aos pais. Peço a eles: façam filhos, preciso de netos.Eles vão me redimir, dar sentido à velhice. Melhor idade é a puta que o pariu.

Fui o possível. Ser possível é pouco, quase nada. Foi o que deu para ser: quase nada.

Meus filhos, por benção de Deus, deram certo.

Gosto da minha mesa de computador quase caindo. Fora dela não escrevo. Gosto de meu teclado antigo, que maltrato feito uma velha Olivetti. Sou velho. Minhas mãos descascaram de tanto limpar livros, muitos herança do maior homem que eu conheci: meu pai.

Aos poucos, minha casa toma corpo, toma rumo. Já não posso dizer o mesmo do novo inquilino, eu. Falta uma planta aqui, um pé de rosa acolá. Mas tenho tudo de que preciso. Continuo apaixonado por minha vizinha. Nunca passeamos tanto. Ela mora na casa nove; eu, na casa cinco; Dudu, na vinte e quatro. Nunca fomos tão amigos e felizes. Minha vizinha é ela, amor de quarenta anos. E tantos.

Querer mais para quê? (OS)


sexta-feira, 23 de novembro de 2018

QUASE HISTÓRIAS: AFINAL, CADÊ OS CRIADOS?

www.soniamoura.com.br


AFINAL, ONDE ESTÃO OS CRIADOS?


Digam o quiserem, mas é inegável: os tempos melhoraram muito. Ao menos no que se refere àquele período que antecede o casamento. Hoje, qualquer um vai à loja indicada pelos noivos, compra o que pode, escolhe uma mensagem já feita, paga e vai embora pra casa esperar o dia de ralar o bucho na festa dos nubentes.

Mas nem sempre foi essa moleza. Sou de um tempo em que, um mês antes de casório, noivo e noiva – e suas respectivas mães, evidentemente, porque aonde uma sogra vai a outra vai atrás – eram obrigados a esperar os convidados, para receber presentes e lhes mostrar o ninho dos pombinhos. Em geral, o expediente era de segunda a segunda. Nos finais de semana, a jornada era dupla. Caceteação sem fim. Peguei nojo de vermute e amendoim, que eram o que dava pra servir.    

Muitos presentes nos deixavam – convidados e noivos – absolutamente constrangidos. Afinal, não se tem notícia de casal que precise de treze ferros de passar roupa, onze jogos de café, sete batedeiras de bolo, onze liquidificadores, meia dúzia de vassouras mágicas e tralhas afins. E ficava tudo ali: em cima da cama do casal. Pra todo mundo ver. E especular: “Quem deu isso, quem deu aquilo?”

Mas há convidados criativos. São os piores. Sabiá e eu ganhamos um treco cujo nome até hoje ignoro. Era uma roda de latão apoiada num suporte. Um porrete com a ponta envolta em feltro acompanhava a engenhoca. Um gongo. Foi um susto. Afinal, que serventia tinha aquilo? “É para chamar os criados”, esclareceu o parente distante, metido a chique.  

Usamos muitas vezes o porrete para chamar os criados. Que jamais nos obedeceram. Nunca tivemos dinheiro para contratá-los.

(Orlando Silveira - Atualizado em novembro de 2018)



Bem, já que o assunto é casamento e caso tenham interesse em saber
 como se "sofria" naquela época, leiam os dois textos abaixo:

PRETINHO BÁSICO
SÓ OS VALENTES SE CASAM

terça-feira, 15 de novembro de 2016

SAPATO DE NOIVA

Cortar a gravata do noivo  já não basta
Mafalda estava mais amuada que zagueiro na hora do gol contra, diria Belchior.  Se pudesse, ela enforcava o Velho Marinheiro, nosso Lobo do Mar:

-- Que papelão!

-- Papelão o demônio! – retrucou nosso caçador de bicho do pé inexistente. Quer dizer que o esfolado tem culpa de ser esfolado? Não me faltava mais nada.

-- Quem mandou você ir ao casamento?

-- Você. Quem seria? Só obedeço você.

-- E precisava ser malcriado, falar tudo aquilo, poucas e boas? Homem sem modos.

-- E o que lhes disse que eles não precisassem ouvir?

-- Nem repito. Sou educada.

-- A gente compra terno, a mulher compra vestido, dá presente, paga estacionamento e um pedacinho de gravata. Pra comer salgadinhos vagabundos e tomar chope quente.

-- Quem mandou ir?

-- Você. Já lhe disse. Agora, nem me assusto com a noiva e amigas virem com um pé de sapato na bandeja, a tomar dinheiro miúdo das convidadas. Roubam dos dois lados: noivo e noiva: um com a gravata do tio; outra com sapatinho da vizinha. Vão se ferrar.  A desgraça é que colocam adesivo em quem contribuiu. E expõe os demais à miséria. São ridículos. 

(setembro/2013)

TALVEZ VOCÊ GOSTE DE LER

"Durante doze anos, vereador Inácio não perdeu uma chance sequer de provar
– e comprovar – sua inutilidade como homem público. Deu no que deu: 
às vésperas da eleição, levou uma sapatada verbal do Velho Marinheiro. 
Foi a pá de cal na sua candidatura..." 
Por Orlando Silveira
http://orlandosilveira1956.blogspot.com.br/2016/11/pa-de-cal-na-candidatura-do-doutor.html#comment-form

quinta-feira, 9 de junho de 2016

QUASE HISTÓRIAS

INTERNET

SÓ OS VALENTES SE CASAM


Naquele tempo era um porre de bebida ordinária, hoje não sei como é. Ninguém se casava na Igreja Católica sem ter feito um cursinho preparatório. Estou convencido de que o dito cujo não preparava ninguém para nada, muito menos para uma vida a dois, como se dizia. Seu objetivo era medir a paciência dos nubentes. Se conseguissem concluí-lo, estavam prontos para tudo. Até para almoçar na casa da sogra todos os domingos.

A duração do curso variava de igreja para igreja. Sabiá, mais por desligamento que por fé, escolheu o mais longo. Foram quatro sábados consecutivos de tortura. Os temas das palestras não me interessavam. Pelo visto não interessavam a quase ninguém. A turma, uns vinte casais, bocejava sem parar depois dos primeiros dez minutos de exposição. Os palestrantes eram de uma ruindade ímpar. Não diziam coisa com coisa. E ainda pretendiam ser engraçados. O que é sempre uma lástima. E eu com a garganta seca, porque ninguém vai a um lugar desses tocado.

Alimentei alguma fantasia em relação à última palestra. De todas, era a que abordava assunto mais palatável: economia doméstica. Não foram necessários mais que cinco minutos para que as ilusões virassem pó. O ilustre palestrante valeu-se de recursos tecnológicos para cativar a plateia: lousa, giz e apagador. O homem só trabalhava com percentuais. Pouco importava se um ganhava R$ 2 mil e o outro R$ 20 mil. Ali, éramos iguais na alegria e na tristeza: recebíamos 100%. Não sei se era adepto do socialismo real. Não me parecia tolo a tal ponto.

O homem começou, então, a enumerar as despesas e seus respectivos percentuais. Moradia: X%. Alimentação: Y%. Vestuário: Z%. No papel, ou melhor, na lousa, parecia que estávamos a caminho da felicidade absoluta. Sobravam até 10% ou 15% para a poupança. Quer mais o quê, mano velho? É só dizer “sim” no altar e sair para o abraço.


www.dreamstime.com

Mas não estava tudo bem. Um gaiato percebeu que a soma das despesas dava 120%, sem levar em conta a tão desejada poupança. Ou seja: em vez de superávit primário, tínhamos um déficit grotesco. Avisado, o palestrante pegou o apagador e começou a fazer as correções. “Agora, sim”, disse ele. O gaiato não se deu por vencido. Somou uma vez, somou duas – e chegou à conclusão de que, apesar dos ajustes, a conta continuava não fechando. Suando em bicas, o palestrante partiu para uma nova rodada de acertos. Em vão. As despesas, agora, somavam 90% incluindo a poupança.

Morto de sede, como todos nós, e com medo de que os remendos continuariam até a manhã do domingo, o rapaz disparou:

- Agora, sim, mestre, está perfeito. Os 10% que faltam são para o dízimo, não são?

- Você é muito inteligente, perspicaz – suspirou aliviado o palestrante. Abençoado. Nossos trabalhos estão encerrados.



E fomos aos copos. Certos de que não sobraria um tostão para a poupança. E para o dízimo. 

(março de 2013)


PSIU - Hoje, por favor, não me faça perguntas difíceis. O máximo que conseguiria é lhe dar respostas fáceis. Não quero decepcioná-la. Para ler outras "Rapidíssimas, clique no link abaixo. 

segunda-feira, 18 de abril de 2016

ONDE ESTÃO OS CRIADOS?


Digam o quiserem, mas é inegável: os tempos melhoraram muito. Ao menos no que se refere àquele período que antecede o casamento. Hoje, qualquer um vai à loja indicada pelos noivos, compra o que pode, escolhe uma mensagem já feita, paga e vai embora pra casa esperar o dia de ralar o bucho na festa dos nubentes.

Mas nem sempre foi essa moleza. Sou de um tempo em que, um mês antes de casório, noivo e noiva – e suas respectivas mães, evidentemente, porque aonde uma sogra vai a outra vai atrás – eram obrigados a esperar os convidados, para receber presentes e lhes mostrar o ninho dos pombinhos. Em geral, o expediente era de segunda a segunda. Nos finais de semana, a jornada era dupla. Caceteação sem fim. Peguei nojo de Martini doce e amendoins.   

Muitos presentes nos deixavam – convidados e noivos – absolutamente constrangidos. Afinal, não se tem notícia de casal que precise de treze ferros de passar roupa, onze jogos de café, sete batedeiras de bolo, onze liquidificadores, meia dúzia de vassouras mágicas e tralhas afins. E ficava tudo ali: em cima da cama do casal. Pra todo mundo ver. E especular: “Quem deu isso, quem deu aquilo?”

Mas há convidados criativos. São os piores. Sabiá e eu ganhamos um treco cujo nome até hoje ignoro. Era uma roda de latão apoiada num suporte. Um porrete com a ponta envolta em feltro acompanhava a engenhoca. Um gongo. Foi um susto. Afinal, que serventia tinha aquilo? “É para chamar os criados”, esclareceu o parente distante, metido a chique.   

Usamos muitas vezes o porrete para chamar os criados. Que jamais nos obedeceram. Nunca tivemos dinheiro para contratá-los... (OS - 2013)

quinta-feira, 3 de abril de 2014

BODAS

blogdomrcondes.blogspot.com

CENA UM

-- Sonhei que estava fazendo amor com você...
-- Jura? E aí?
-- Acordei suada, amedrontada. Um horror.

CENA DOIS

-- Já não lhe falei pra fazer xixi sentado? Que homem sem mira! É tolo?

CENA TRÊS

-- Deixe os bifes pro Toninho.
-- Só peguei meio. Juro.
-- Quem não te conhece que te compre.

CENA QUATRO

-- Seu ronco é insuportável.
-- Eu sei. Em compensação, só solto “pum” no banheiro.

O AMIGO DA ONÇA

CENA CINCO

-- Se soubesse que você ficaria desse tamanho, juro, teria dito “não” ao padre.

CENA SEIS

-- Como estou?
-- Parecendo árvore de Natal.

CENA SETE

-- Boa noite.
-- Vá se f...
-- O quê?
-- Boa noite, amor.




quinta-feira, 5 de setembro de 2013

PIO XXIV NÃO SABIA QUE HÁ MULHERES...


Ernesto podia se conformar com tudo. E com tudo se conformava. Sempre foi homem de boa fé. Mais conformado que ele, se é que existe criatura dessas, não conheci ninguém. Nunca se ouviu um grito seu, um palavrão sequer. Daquela boca bendita só saiam orações. O máximo que ele se permitia era emitir – coisa rara – um sonoro “e que tudo o mais vá para o inferno”. Era fã de Roberto Carlos. Para compensar o rompante desnecessário, a seu ver, partia sempre para uma série de novenas. Aqui se faz; aqui se paga. Ernesto sabe disso. Jamais deixou de rezar, embora fosse homem de pouco pecar.

Mas sua beatitude não lhe tirava o prazer indescritível de se empoleirar, duas, três vezes por mês, sempre às terças-feiras ou quintas-feiras (o Corinthians, seu maior vício, só joga nas quartas e domingos) em Verônica – mulher à moda antiga: patroa de ancas largas, cintura fina, peitos avantajados, mulher que hoje não se faz mais. A elegância exagerada pôs o mundo a perder. Hoje, ser bacana é ser pau de virar tripa, mulher sem carne, só pele e osso, nada mais. Frango a passarinho.  Não quero falar de gravetos. O mote dessa conversa é Ernesto, o pio.

Era terça, era quinta? Não sei. Minha memória falha sempre quando preciso dela. O que sei é que era dia de Ernesto marcar o ponto. Verônica fez o que sempre fez: cumpriu sua parte, simulou com maestria. Mas a vizinha reduziu seu teatro à categoria de circo mambembe: berrou além da conta, pecou pelo exagero.

-- Caramba, ela deve estar tendo prazer medonho. O cara deve ser bom mesmo, disse Ernesto, com uma estaca de inveja no peito.

-- Bom nada. Ela está fingindo, eu sei. Conheço bem a figura.

-- Quem? O cara? – impacientou-se Pio XXIV.

-- Não. A vizinha, Ernesto.

-- Você finge também?

-- Eu não, querido, eu não. Jamais fingi. Você é demais de bom. Vamos dormir. Está na hora. Na semana que vem a gente continua.

Ernesto riscou do seu caderninho as terças e quintas também, dobrou a reza pelas mulheres que fingem. E Verônica encontrou a paz. Finalmente. Mas a vizinha, coitada, continua a ganir o prazer que só o marido dela toma por vero.  (abril de 2013)