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Pus o meu sonho num navio...

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Pus o meu sonho num navio e o navio em cima do mar; - depois, abri o mar com as mãos, para o meu sonho naufragar Minhas mãos ainda estão molhadas do azul das ondas entreabertas, e a cor que escorre de meus dedos colore as areias desertas. O vento vem vindo de longe, a noite se curva de frio; debaixo da água vai morrendo meu sonho, dentro de um navio... Chorarei quanto for preciso, para fazer com que o mar cresça, e o meu navio chegue ao fundo e o meu sonho desapareça.[...] Cecília Meireles

Lua Adversa

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Tenho fases, como a lua, Fases de andar escondida, fases de vir para a rua... Perdição da minha vida! Perdição da vida minha! Tenho fases de ser tua, tenho outras de ser sozinha. Fases que vão e que vêm, no secreto calendário que um astrólogo arbitrário inventou para meu uso. E roda a melancolia seu interminável fuso! Não me encontro com ninguém (tenho fases, como a lua...). No dia de alguém ser meu não é dia de eu ser sua... E, quando chega esse dia, o outro desapareceu...  Cecília Meireles, in 'Vaga Música'     

MORRO DO QUE HÁ NO MUNDO

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Morro do que há no mundo: do que vi, do que ouvi. Morro do que vivi. Morro comigo, apenas: com lembranças amadas, porém desesperadas. Morro cheia de assombro por não sentir em mim nem princípio nem fim. Morro: e a circunferência fica, em redor, fechada. Dentro sou tudo e nada. Cecília Meireles

Pergunto-te onde se acha a minha vida

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Em que dia fui eu. Que hora existiu formada de uma verdade minha bem possuída Vão-se as minhas perguntas aos depósitos do nada. E a quem é que pergunto? Em quem penso, iludida por esperanças hereditárias? E de cada pergunta minha vai nascendo a sombra imensa que envolve a posição dos olhos de quem pensa. Já não sei mais a diferença de ti, de mim, da coisa perguntada, do silêncio da coisa irrespondida. Cecilia Meireles