os veados

nao consegui ver nenhum veado, mas a tarde contemplou-me com esta janela linda. e sem sairem do parapeito ficaram, na mesma, na floresta.
é isso que eu mais gosto na fotografia, sao os momentos no tempo, as coisas improvaveis… as metaforas… (mesmo desfocadas)

veados numa primavera com neve

talvez depois de se viver no lugar como este durante alguns anos se tenha o dom de sentir certas coisas. eu sabia que ia vê-los ao final da tarde. estava a chover imenso no vale. depois do trabalho passei pela florista e entao rumei a casa. chovia ainda. a tarde estava escura e escolhi a estrada da floresta para subir. mas antes liguei a maquina fotográfica e pu-la no colo. assim que comecei a subida, a chuva transformou-se em neve e à medida que avançava os flocos eram cada vez maiores. que silêncio profundo. a floresta profunda também. fui parando e olhando para o abismo de arvores. continuo devagar, mas em certas curvas apertadas nao podia parar; e entao o céu tornou-se cada vez mais escuro, os flocos transformaram-se em penas... que contraste esplendoroso com o verde da relva. a estrada abriu-se, à esquerda um prado com um declive razoável e desviei o olhar no momento certo. eram 8, cervos e cervas.

nao saio do carro, faço poucos movimentos porque nao os quero assustar. tento fotografa-los através da janela mas as imagens saem demasiado escuras. entao decido sair, ainda tenho tempo de clicar durante uns 20 segundos em que me saem estas fotografias desfocadas. e eles dispersam-se a correr...

sao talvez os ultimos antes do regresso do outono... que maravilhosa visao de primavera...

em perfeita sintonia com a natureza

eram duas da tarde ontem, estava um calor de primavera e um sol esplendoroso. entro dentro do carro pronta para iniciar o ziguezague das montanhas... e nem foi preciso chegar à parte da floresta silenciosa... primeira curva, um movimento, uma travagem repentina. um veado "jovem" atravessava a estrada em frente ao meu carro, aos meus olhos, à minha boca aberta a pensar ainda na frase escrita de manhã "look bambi! new spring grass". saio do carro, dou a volta para ver se ele ainda estava por perto e vejo-o pouco metros abaixo. regresso ao carro para ir buscar a maquina fotográfica e novo movimento. dois outros veados queriam atravessar a estrada mas voltaram para trás. um clic, dois clics e a maquina diz "charger betterie". fico incrédula, a pensar que três bambis a comer erva fresca estão parados à minha frente e que a maquina não tem bateria. dois carros ultrapassam o meu e olham para mim, de braços "caídos", à beira da estrada. a única vez que vi um veado à luz do dia foi nesta tarde. mas fico contente com estas duas únicas fotografias e contente que esta magnifica visão tenha acontecido num dia em que registei as primeiras ervas da primavera. sinto-me em completa sintonia com a natureza!

veados * cerfs

os dias ganharam as cores de inverno e ontem de manhã estava um nevoeiro belissimo. desci pela estrada da floresta, devagar porque a visibilidade era mesmo muito pouca. a estrada estava silenciosa, uma manhã perfeita para ver veados. não os vi, mas fotografei a calma invernal dos caminhos que eles percorrem, quando não passa ninguém...

les jours ont gagné des couleurs d'hiver et hier c'était une belle matinée de brouillard . je suis descendu par la route de la forêt, doucement car il y avait très peu de visibilité. la route était silencieuse, un matin parfait pour voir des cerfs. je ne les ai pas vu mais j'ai photographié le calme de leurs parcours d'hiver, quand personne ne passe...

... e depois...

também ha tardes assim, em que subo a casa à procura de alguns minutos de tranquilidade que me separem da vida ca em baixo... é o mesmo dia, mas poucas horas depois... o silêncio ainda não desapareceu ... estranhamente o tempo esta quente... vou distraida nos meus pensamentos a pensar na historia que contarei às crianças dali a poucos minutos e assim, pela primeira vez a meio da tarde, à hora do almoço, olho para a direita e vejo-o tranquilamente a passear no prado. procuro a maquina dentro da mala, sempre com os olhos postos nele para eternizar este momento... ele começa a afastar-se... mas não completamente, e deixa-me regressar com a prova desta magnifica visão...

eles estão de volta...

quinta-feira à noite, jantar com as colegas da escola de linguas num restaurante tipicamente savoyard. conversa animada, entre 15 raparigas vindas de frança, de inglaterra, da russia, de espanha, da holanda, de portugal. sem sairmos da mesa fomos viajando por todos estes paises. previam quedas de neve significativas para essa noite e quando saimos do restaurante ja a grande rue tinha um tapete de neve fôfa, brilhante... subi às montanhas para regressar a casa, devagar por ali acima a pensar no jantar, nas férias e como seria o dia seguinte. a meio caminho, dez veados desciam de um prado para o outro e paravam tranquilamente na estrada, como se esperassem uns pelos outros. olharam para mim e desaparecerem. mas conseguia ver as silhuetas na neve imaculada. tiro a maquina da mala, a pensar que a função "noite" desta vez ia funcionar, mas foi isto que saiu, vêem-se apenas as pegadas que traçam um caminho. uma noite magica, os flocos a cairem em lentamente em cima deles, a paisagem branca, a claridade da lua e dezenas de galhadas misturavam-se na noite. continuo a subir e quase a chegar a casa, vejo outro, sozinho. paro o carro, este so tinha uma galhada. pensava que as perdiam na primavera, depois de ter encontrado um dos meus vizinhos no final de março que me disse que andava a ver se as apanhava, são como troféus... mais um clic que não resultou em nada... quando cheguei a casa contei ao n., ele diz-me que talvez a tenha perdido num combate... deito-te no calor dos lençois e é como se tivesse acabado de fechar um livro de contos maravilhosos...

o dia seguinte amanheceu branco, sem relevo. subo as escadas, de pa na mão, para tentar tirar o carro do sitio, tenho neve até aos joelhos e vou trabalhar. quase não vejo os limites da estrada, vou por ali abaixo devagar, quase hipnotizada...

beautiful beautiful morning...

Este ano já os vi duas vezes de manhã… esta vez foi mais inesperada. Os prados cá em baixo começam a ficar bastante verdes, por isso sei que eles preferem comer a relva que esta em lugares mais altos onde é menos provável encontros com o homem. 8 da manhã, “uma fêmea” (pensei) atravessa a estrada e logo a seguir um veado, e outro. Fico sem reacção, o carro desliza e cruzo outro carro que sobe. Paramos lado a lado. Desfaço-me da surpresa, saio do carro com a máquina e ainda consigo apanha-los. Eu de maquina, o senhor de binóculos. Ficamos assim parados um tempo a admira-los afastarem-se. Ele diz-me que tem vindo a segui-los e que esta na altura de perderem as galhadas. Penso que afinal a fêmea pode ser um macho que já perdeu as perdeu. Volto a entrar dentro do carro, como se o dia já estivesse ganho. Quando tenho estes encontros imediatos, no dia a seguir tenho sempre a esperança de voltar a vê-los no mesmo sítio. Hoje de manhã desci muito devagarinho, e no mesmo lugar, vejo dois homens a pé, a olharem à volta com muita atenção. Abrando mas não vejo nada… penso que devem andar todos à procura das galhadas que caem nesta altura… parece que são difíceis de encontrar, são uma espécie de troféu… continuo a descer… talvez só volte a vê-los no próximo Outono…

beautiful morning...

foi como num conto de fadas...

mais uma desilusão ontem ao final do dia... ao regressar a casa voltei a vê-los "des cerfs, des chevreuils et des biches" e voltei a não conseguir fotografa-los. tinha a maquina no saco, sim, mas ele era fundo e estava fechado e eu não consegui ir a tempo para o momento... mais acima um javali e mesmo ao meu lado outro veado... e hoje, no meio dos raios de sol da manhã vejo-lhes as orelhas, prontos a atravessar a estrada no momento em que eu ia a passar... pé no travão a fundo, a mala estava aberta no banco do lado e tudo o que estava la dentro caiu para o chão... eles fogem... eu tiro o pé do travão e deixo o carro deslizar e mais abaixo consigo apanha-los…

e como se não me bastasse esta belissima visão de um dia de inverno frio, cheio de sol, quase a chegar à vila, ainda a vejo... e mais uma vez me lembro porque é que gosto de viver aqui...

imagens do fim-de-semana iii

eu vinha do cinema, eram quase 20h horas e estava a anoitecer. saio da vila e na primeira curva vejo um animal mexer-se. parei o carro porque ele não se desviava... era um bambi muito pequenino... lá se decidiu e saltou para o meio da floresta. faço mais um km, e vejo outros dois, desta vez adultos,a comerem junto a uma árvore. parei e tirei a maquina da mala. flash para aqui flash para ali eles começaram a assustar-se e subiam na minha direcção. eu feita doida a querer fotografar os bichos à força subia ao mesmo tempo que eles. depois eles pararam e ficaram ali a olhar para mim (aliás, é unica coisa que se vê nesta fotografia). estava tudo tão silencioso... e lá fui eu, com um sorriso nos lábios sempre com aquela sensação de estar a viver numa fábula. fiquei a pensar porque é que fico sempre assim quando os vejo... talvez por serem raros e por surpreenderem sempre ao inicio da noite... e porque são tão misteriosos e discretos no silêncio da noite... e ainda agora vai começar o outono...