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Mostrando postagens com o rótulo amores

Dia notável

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Hoje é o centésimo quinquagésimo dia do ano. Não é um dia como outro qualquer.   É o dia em que Tito cercou Jerusalém e o dia em que Joana D´Arc ardeu um chamas.   É o aniversário de nascimento de Dante Alighieri e o de morte de Voltaire e de Peter Paul Rubens.   Para o bem do swing, também é o aniversário de Benny Goodman.   Para o bem da humanidade é o aniversário de Bakunin.   Para o meu bem e minha felicidade é o dia quem nasceu o meu amor.   E quando eu comemoro o aniversário da mulher que transformou a minha vida pouco me importa se Jerusalém caiu ou se a Joana cremou-se.   A divina comédia pouco significa e Cândido não passa de um ingênuo. Nenhumas das 3 graças tem a graça que só ela tem.   A anarquia se organiza e nem Sing, sing, sing é capaz de superar a voz que é música para meus ouvidos.   Em mais um dos seus aniversários que passamos juntos eu agradeço pela s...

Im- previsões

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Davam-se como o vinho e a toalha de mesa (Fabrício Carpinejar) Ninguém entendeu quando ele entrou à esquerda ao invés da direita. Não era aquela a direção que os levaria de volta para casa. A irmã perguntou o que é que ele estava fazendo, ele disse que estava indo até ali. Mistério. A namorada olhou para ele com um misto de curiosidade e cumplicidade. Poderia até não saber das suas intenções mas confiava no que ele fazia. Ele poderia até ter a intenção de surpreendê-la, mas sabia que era algo que beirava a impossibilidade absoluta. Além de nunca terem tido segredos entre eles eram tão parecidos que algumas vezes se assustavam com isso. Pegou outra rua que levava em direção oposta à da casa. A irmã se inquietava a cada nova troca de rota. Ela e o cunhado tinham sido convidados para um almoço, algo comum desde que o irmão e a namorada moravam juntos. Ele parou o carro num estacionamento. Pediu para todos descerem. Caminharam meio quarteirão e entraram no cartório. Só a irmã e o cunhado...

Bonança

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Mensagem "We are such stuff as dreams are made on." (William Shakespeare)   Quando ele viu aquele rosto algo lhe disse que era conhecido. Extremamente conhecido, apesar disso não sabia exatamente de onde, ou quando.   Ela sorriu para ele e veio na sua direção. Ele retribuiu o sorriso e começou a pensar em formas de driblar a memória que o traia sempre quando mais precisava dela.   Foi salvo pela frase que ela usou para cumprimentá-lo. Não conversavam desde o dia da formatura dela.   As imagens começaram a correr rapidamente pela sua mente. Ele a conhecera na sua festa de formatura. Era a namorada de um dos seus colegas de classe.   Meses depois ele foi à formatura dela, que era da mesma classe de uma das suas primas.   Como ela ainda estava com seu ex-colega, acabaram sentando na mesma mesa e conversaram bastante durante a festa. Especialmente sobre Shakespeare de quem ambos gostavam.   Nos anos seguinte...

Desafiando Neruda

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Posso escrever os versos mais felizes essa noite. Escrever, por exemplo: "A noite está nublada e se escondem, ao longe, todas as angústias" O vento da noite aquietou e o céu está em silêncio. Posso escrever os versos mais felizes essa noite. Eu a quero e todas as vezes ela também me quer Em noite como essa a tenho em meus sonhos e a beijo sem parar sob o céu infinito Ela me quer e todas as vezes eu a quero também Impossível não amar os mais lindo de todos os olhos. Posso escrever os versos mais felizes essa noite. Saber que a tenho. Sentir que nunca a perderei Ouvir a noite imensa, ainda mais imensa com ela Os versos caem na alma como uma tromba d´água Que me importa se a noite está fria e chuvosa Se a guardo no meu coração. Isso é tudo. Ao meu lado a música continua Minha alma está contente de tê-la Como para me achegar a ela meus olhos a vem Meu coração a tem e ela está comigo Na mesma noite que escurece todos os gatos Nós, desde sempre, nos tornamos um Eu a quero, é cert...

Um só coração

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Mensa Não me venha Vinicius com essa história de amor infinito enquanto dure... se é infinito é também eterno. Não me venha Drummond com essa história de o primeiro amor passou....se passou não era amor. Não me venha Rachel de Queiroz dizer que o amor começa a morrer no dia que nasce, o amor não é apenas uma célula (ou, como diria Deleuze, são organismos que morrem, não a vida). Não me venha Gautier dizer que só a arte é eterna, nenhuma arte se constrói fora do amor. Não me venham tantos outros falar do amor verdadeiro, amor falso não é amor O que o meu coração se lembra todas as manhãs são as palavras do mais sábio de todos os homens, Salomão, que escreveu: " As muitas águas näo podem apagar este amor, nem os rios afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens de sua casa pelo amor, certamente o desprezariam. " O que meus poros exalam em todos os momentos são os versos de Becquer Podrá nublarse el sol eternamente; Podrá secarse en un instante el mar; Podrá...

Caminhos cruzados

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“Love seeketh not itself to please, nor for itself hath any care, but for another gives its ease, and builds a Heaven in Hell's despair.” ― William Blake, Songs of Innocence and Songs of Experience Nascido em Boituva, João mudou para São Paulo na adolescência, quando o pai foi transferido para a sede da empresa. Foi morar na Avenida Higienópolis 500 e estudar no Rio Branco. Maria, paulistana da clara, nasceu e morou até casar na Higienópolis 481, em frente ao prédio de João. Menina recatada, estudava no Sion Devem ter se cruzado centenas de vezes no meio dos caminhos do bairro. Nunca souberam que o outro existia. Entraram na faculdade no mesmo ano. Maria foi cursar Direito no Mackenzie. João, engenharia na FAAP. Frequentavam a mesma padaria Barcelona, a mesma farmácia da Angélica e até a mesma loja de CD´s da Vilaboim. Maria conheceu Victor no preparatório do exame da ordem. Casaram dois anos depois na capela do Sion. Tiveram duas filhas, se separaram antes de completarem 10 anos d...

Triângulo horroroso

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Jurássico frequentava o baile todas as terças feiras. Gostava de dançar mas, mais do que isso, queria arranjar uma companhia. Viúvo há quase 10 anos não queria casar de novo, mas também não gostava de passar por longos períodos de solidão. Os filhos tinham vida própria e quase não lhe davam atenção. Experimentou jogar bocha, até que se deu bem com o esporte, mas queria mesmo era companhias femininas. Naquela tarde fazia sol e o baile estava lotado. Mais mulheres que homens, como sempre. Dançou com três diferentes até que viu uma senhora que não saia da cadeira. Apresentou-se e convidou-a para dançar um bolero. Ela só sabia dançar foxtrot e raramente tocava um. Mesoclítica era o seu nome. Professora de português aposentada, solteirona. Jura, como preferia ser chamado, sentou-se e ficou conversando. Ela também não gostava do seu nome e pediu para ser chamada de Tica. A orquestra atacou um standard de Rodgers e eles foram dançar. Passaram a tarde jun...

Meia luz

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Morocha era uma mulher de luz. Luz natural, é claro, detestava lâmpadas quentes ou frias. Não morria de amor por velas nem lamparinas. Sempre dormiu de janelas escancaradas, luz da lua, luz do sol e até a luz fugaz do cometa Halley iluminaram sua cama. Só colocou uma cortina translúcida quando construíram um prédio ao lado do seu e, mesmo assim, exclusivamente para preservar sua privacidade. Alfonso era o homem das trevas. Engenheiro de túneis, só tolerava iluminação artificial e, mesmo assim, só da casa para dentro. Odiava qualquer feixe luminoso que lhe atingisse exogenamente. Morocha usava roupas estampadas e coloridas, sempre muito leves. Alfonso só se vestia de preto, da sola dos sapatos aos colarinho das camisas. Encontraram-se numa praça, num dia de chuva forte. Morocha tinha sido pega de surpresa pela tempestade. Alfonso tinha saído justamente para aproveitar o clima sombrio. Sabe-se lá por que, sabe-se lá como, apaixonaram-se. Sabe-se lá como, sabe-se lá por que resolveram en...

O discurso do olhar

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Não era a primeira vez que ele ouvia falar em linguagem corporal, mas era a primeira em que alguém lhe dava um roteiro mais detalhado. Ele estudou, observou, reparou. Aprendeu todos os truques e sinais. Aliado aos seus conhecimentos de análise de discursos, aprendido durante anos de leitura de Lacan e Barthes, julgou ser capaz de, praticamente, ler pensamentos e intenções . Exceto no dia que a viu pela primeira vez. Tentou entender seus movimentos, mas não conseguia manter a concentração fora dos olhos dela. Prestava atenção em cada palavra que ela pronunciava, esperava achar o significado oculto por trás delas. Nada. Quando foi dormir não conseguiu. Ficou tentando entender o que havia por trás daquele secreto discurso do olhar. Uma demonstração de poder de sedução? Um jogo provocativo à sua capacidade de entender as pessoas? Todas as leituras o levavam a crer que ela estava apaixonada por ele. O que era humanamente impossível. Propôs um novo encontro, passou horas em med...

A ilha pornográfica

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Ana Maria não entrou na cabina, porque as nossas praias não tem mais cabinas para as pessoas colocarem seus maiôs. Chegou à praia num biquini legal, no sentido jurídico da palavra. Afinal, sempre fora uma garota muito comportada. O que não impedia que ela tivesse passado por uma certa, digamos, modernização. Usar biquini era um exemplo disso. Talvez o fato mais marcante dessas suas mudanças é que ela aceitou o convite do namorado para passarem um final de semana na praia. Quartos separados, é claro. Mas, pelo menos, estavam dormindo debaixo do mesmo teto. Claro que as amigas da faculdade não acreditavam nisso, mas Ana Maria não dava bola para o que os outros pensavam. Eduardo, o namorado, era um sujeito liberal. Nem sempre concordava com as atitudes da namorada, mas as respeitava, em nome do amor. Naquela manhã, estavam passeando de mãos dadas na praia quando viram um cartaz nuns barcos de turismo Eduardo pegou o folheto e começou a examinar. Gostou de um deles e sugeriu a Ana Maria: ...

O vôo da pteroposa

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Quando Amanda e Leonardo viram as fotos da Vila de Tuyuyu ficaram encantados, resolveram que seria naquele local que passariam sua lua de mel. A beleza natural era abundante e descobriram que havia uma hotel à beira do Rio Foruat a poucos metros de onde ele desaguava no mar. O hotel era pequeno, seis cabanas espalhadas no meio da floresta, suficientemente distantes uma das outras. Lugar perfeito. A única coisa imperfeita foi que Leonardo, no meio do caminho recebeu um telefonema chamando-o para uma cirurgia de emergência. Ele deixou Amanda no hotel e pegou a estrada de volta. Amanda lamentou, mas sabia que teriam duas semanas exclusivamente um para o outro, além do que, ela conhecia os riscos de casar com um neurocirurgião. Quando estava acabando de jantar a dona do hotel veio conversar com ela. Contou a respeito da lenda da pteroposa, um imenso inseto voador que, segundo os nativos locais, tinha o dom da profecia noturna. Disse para Amanda que nunca ninguém tinha visto tal ser mas, po...

Uma história nada áspera

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Adenilde trabalhava num salão no Tucuruvi. Fazia quase de tudo, mas sua especialidade era a esfoliação. Não só conhecia todas as técnicas e produtos para tal prática como, apesar de sua pouca formação escolar, conhecia profundamente o assunto, ainda que esse fosse muito superficial. Brincava que ela era a tanatopraxista das células mortas. Sua clientes geralmente achavam o termo engraçado. As que entendiam o que era isso, não achavam graça nenhuma. Fora do salão, era uma mulher abrasiva, o que sempre tornou difícil seu relacionamento com os homens. Um dia estava no supermercado Ourinhos comprando produtos para produzir seus esfoliantes caseiros quando seu carrinho, numa curva de gôndola, trombou com o carrinho de Adalberto. Vendo que o carrinho dela tinha fubá, açúcar mascavo, amêndoas, gérmen de trigo e azeite, ele perguntou que tipo de bolinho que ela ia fazer. Ela respondeu na bucha, que estava pouco se lixando para os bolinhos. Adalberto sorriu e antes que ela tivesse tempo de desv...

Linguagem do amor

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O professor de morfologia estava no meio da aula quando Rebeca percebeu que Antonio olhava fixamente para ela . Ela corou, mas não conseguiu disfarçar que também gostava dele. Quando a aula acabou, ele a convidou para tomar um café na lanchonete da escola. Passaram o resto da manhã conversando sobre desinências. Ele a levou para casa e antes de se despedir declarou seu amor radical pelos seus afixos. Ela o beijou com uma vogal de ligação. A cada encontro conheciam-se mais. Trocavam receitas mesoclíticas de sopa fria de cenoura com gengibre, entre orações coordenadas e assindéticas. O romance se aprofundou em outras línguas. A primeira vez que ficaram juntos alternaram momentos de furor apaixonado com as funções dos substantivos, advérbios e adjetivos apostos aos verbo to be. Como denotavam uma existência perfeita a dois, juntaram suas polissemias e casaram-se com a mais correta entonação. Amavam-se de forma articulatória e nunca perdiam a oportunidade, fosse verbal ou no...

Apenas uma declaração de amor

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Enquanto te espero, aproveito para dizer que o que você fez na minha vida é algo que eu jamais poderia imaginar. Não imaginava porque me achava alguém muito cheio de manias imutáveis. Não imaginava porque muitas dessas mudanças jamais tinham passado pela minha cabeça, sequer como hipótese. Aí chega essa mulher. Linda, inteligente, carinhosa, amorosa, apaixonante, perfeita e se torna a minha mulher, contrariando tudo que eu poderia crer . Me ensinou o que é amar, o que é sonhar, o que é tornar sonhos em realidade, o que é ser feliz. Mais que isso, ao seu lado aprendi o que é me apaixonar todos os dias, todas as horas, todos os minutos. Me ensinou a ter alguém por quem eu preciso me preocupar o tempo todo, que eu preciso cuidar (a ponto disso ser uma necessidade física minha) Uma mulher para eu me orgulhar das suas realizações, para eu ficar convencido pelo fato de ser minha. Uma mulher que me motiva a retomar muitas coisas que eu amava fazer, que me motiva a fazer coisas...

Uma ova!

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Leon sempre fora apaixonado por Sulana, mesmo sabendo que suas chances com ela eram remotíssimas. É verdade que nunca perdia a esperança. A forma que encontrou de permanecer sempre perto dela foi oferecendo sua amizade, o que ela nunca recusou. Acompanhou de perto todas as suas desventuras com o namorado, um tipo que não dava a ela um átomo do valor que ela merecia. Mesmo assim, nunca tentou tirá-la dele. Preferia tê-la chorando no seu ombro que o risco dela encontrar alguém melhor. Adorava ser o seu protetor. Até o dia em que Sulana praticamente desapareceu. Não telefonava mais, mas respondia os seus torpedos e, pior, nunca mais tinha tempo para um café no meio da tarde. Não demorou muito para ele descobrir o que estava acontecendo. Sulana encontrara um outro homem que a fazia feliz e não queria dedicar tempo senão a ele. Leon tentou se reaproximar de todas as formas, chegando mesmo a irritar Sulana com a sua insistência. Resolveu ser simpático. Chef de um restaurante francês, Leon c...

Quatro estações

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Para ler ouvindo as 4 estações de Vivaldi ou as 4 estações de Piazzolla, ou ambas. Ele nasceu no inverno, ela no outono, ele sofria no verão, ela odiava o frio. Ela o viu a primeira vez no inverno, ele, na verdade, nem reparou muito nela. Ele a reviu no outono seguinte, ela nem notou sua presença. As estações se sucederam sem que tivessem muito contato. Um inverno de relacionamento. Reencontraram-se num fim de primavera, mas não conversaram até o final do verão. No outono as folhas caiam enquanto a amizade frutificava. Inverno, primavera, verão... Então ele teve um outono quente. Ela teve um inverno acalorado. A primavera os acolheu com suas flores e perfumes. O novo verão os fundiu em seu calor. Amalgamaram-se no outono gelado. Solidificaram-se nos rigores do inverno. Amaram-se eternamente até o final de todas as estações.

Cumpleaños

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Buenos Aires, uma terça feira de manhã de um 30 de Maio do século passado. Uma menina nasce, pequena e linda. Nasce para amar e ser amada. São Paulo, uma segunda feira de manhã do dia 30 de Maio do 11º ano desse século. Uma menina se levanta, pequena e linda. Vive para amar e ser amada. Dias, meses e anos se passaram entre um 30 de Maio e outro. Viagem de navio, estudos por lá e por aqui. Muito trabalho. Filhos. O coração sempre cheio de poesia e de paixão. Encontros, desencontros, alegrias e tristezas, surpresas e decepções. Uma vida, enfim, como a vida é. Assim como a de muitos, assim como a minha (tirando, talvez, a imigração). E minha vida, à espera da paixão e da poesia, um dia, a encontrou. Pequena e linda. Para amar e ser amado por ela. Hoje, no primeiro aniversário seu, desde que estamos juntos, eu quero agradecer. Agradecer por aquele 30 de Maio em Buenos Aires. Agradecer pela viagem de navio para o Brasil. Agradecer pela sua busca de paixão e poesia. Agra...

Obrigado

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Grazie perche é uma canção de 1983 que fez sucesso em italiano na voz do grande Gianni Morandi (o mesmo de C'era un ragazzo che come me amava i Beatles e i Rolling Stones), um sujeito que está na parada de sucessos desde 1962. A traição/tradução (da versão italiana) é totalmente livre e inclui algumas pequenas alterações na letra original. Se quiser ouvir a música, clique aqui Obrigado porque Estava ao meu lado Antes de ser minha Porque queria um homem um amigo Não um escudo junto a você Obrigado por trilhar Sua estrada Cheia de pedras Como a minha Obrigado porque Mesmo distante Estendo a mão E encontro a tua Eu, como tu, vivia confuso de contos de fadas Não preciso mais Obrigado porque Me fez saber Que não posso voar Sem ter você O meu repouso é nos teus olhos E com teu olhos Posso enxergar Obrigado porque Mesmo distante Estendo a mão E encontro a tua Contigo sempre é primeira vez Não há mais medo junto de ti Obrigado porque Não estamos sós Não estamos sós Uma vida nova Não me ass...

O segredo

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Marcondes era um homem sensível. Sensível demais para alguns que não o consideravam tão homem assim. Gostava de ler poesia, de assistir filmes românticos e se desmanchava em lágrimas ao ouvir os trios de Schubert. Era adorado pelas mulheres, ainda que nenhuma delas nutrisse nenhuma esperança por ele, o viam apenas como um ótimo amigo. Ninguém nunca esperou que ele surgisse com alguma namorada, até porque criam que ele guardasse alguma dentro do armário. Quando ele falava a respeito da busca do amor verdadeiro, da sua idealização da mulher perfeita, todos achavam que era puro exercício de retórica. Não era. O choque foi geral no dia em que ele apareceu de mãos dadas com Antonia. A mulher dos sonhos de qualquer homem. Os mais céticos concluiram que aquilo era apenas jogo de cena, cortina de fumaça. Os mais realistas percebiam a forma como eles se olhavam, apaixonadamente demais para ser só uma encenação. Os homens discutiam o que é que Marcond...

Casamento grego

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Antonio já era professor de matemática num colégio particular há alguns anos quando descobriu que qualquer pessoa alfabetizada e com documentação em ordem poderia ser juiz de paz. Não teve dúvidas, se candidatou ao cargo, foi eleito e assumiu os casamentos do seu distrito, no cartório do bairro cujo tabelião tinha sido seu colega de escola. A diferença de Antonio para outros juizes de paz é que ele fazia questão de conversar com os nubentes alguns dias antes da cerimônia. Bom analista da alma humana, ele identificava nos noivos se o casamento era por amor ou não e quanto que iria durar. Tão bom que, no decorrer dos anos, o tabelião começou a tabular as datas de casamentos e divórcios dos noivos de Antonio. A margem de erro era quase nula. Como matemático, começou a atribuir código que apostava junto à sua assinatura nas certidões de matrimônio, todos em letras gregas. Casais equilibrados e sensatos recebiam de Antonio o Σ . O casamento tinha qualidades qu...