A solidão
é pele
sobrepota.
A aranha no seu canto
degusta pensamentos
enquanto devora
o inseto.
As ruas são
agora
galáxias obscuras.
O tempo triturado
dispersa constelações
por entre um bando
de pássaros perdidos.
sábado, junho 21, 2014
quinta-feira, junho 05, 2014
Andorinhas
As andorinhas
do mundo
reunem a
espécie num único fio
num beiral
e ali esperam
enfileiradas
sábias
verões que se
aproximam
porque nada
mais sabem as andorinhas
que do verão.
quinta-feira, maio 22, 2014
A meu pai Pai
Pai,
hoje te encontrei
bem jovem
olhando para mim
da capa de um disco de Tom Waits.
Por entre tantas coisas
tanto refugo e restos
e noites longas
que te deixavam na herança de um outro dia
soturno, a voz quebrada,
por que não me disseste?
Te procurei em tantas fotos
depois que nos deixaste
para saber que sentido teve tua vida
e que dias perdeste
sendo quem nunca foste.
Por que não me disseste?
quarta-feira, abril 30, 2014
As dúvidas de Ismália
Atiro-me no céu
o mar me acolhe
jamais estou bem certa
ou satisfeita.
Não sei se mate ou morra
se decorra
ofenda ou me defenda
se pesquise
atente ateste desafie indique
ou simplesmente fique
dopada e colorida
consumodeslumbrada.
segunda-feira, abril 21, 2014
Veneza versão 2
A mais brilhante estrela está mesclada
a uma sujeira cósmica de argueiros
a uma poeira negra e cintilante
— crinas dispersas de um cavalo negro
juba noturna do leão de Marcos.
Do vão da noite os pórticos abertos
chamam a seu rumo o sonho e o poema
mas a ilusão comanda essa viagem:
seguirão no vazio estas palavras
beirando a noite e seus caminhos sujos
rememorando lembranças — crina e pó
sobre Veneza partida em seus cristais
estátuas perdidas no passado
e seu perfume de tapetes raros
o céu tremeluzindo em seus canais.
sexta-feira, abril 11, 2014
Finito
Perto
de um cais noturno, treva espessa,
conto
as estrelas sozinhas e me esqueço
de
quanto sou também sozinha e triste
desde
semanas atrás, quando partiste.
Conto
as estrelas caladas e o silêncio
contém
a escuridão e é como incenso
subindo
em homenagem aos que sofrem
cantando
um mudo canto sem estrofes.
E nesse
cais escuro debruçada
olho
o balanço sem fim da água apagada
pensando
vagamente no romance,
jogo
finito no primeiro lance,
que
foi como um poema ou uma chance
de
renovar a vida e deu em nada.
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