Queridas,
Hoje é o Dia do Palhaço.
Quem nunca se encantou com a ingenuidade alegre dos palhaços?
Sempre adorei palhaços, os verdadeiros, que me ensinaram a rir despretensiosamente na minha infância.
Quando os circos vinham à minha cidade ficava eufórica, no pé dos meus pais, para ir ver os palhaços e comer um docinho delicioso em formato de guarda-chuva. Esse docinho acho que só tinha em circos, e eu amava. Comia também pipoca, amendoim torrado embalados num cone de papel, maçã do amor, algodão doce. E também viajava no voo dos trapezistas, na coragem do domador, na audácia de um homem que cuspia labaredas de fogo e tapava os ouvidos para protegê-los do barulho de motos que corriam numa gaiola redonda!
Gostava de tudo um pouco, mas o meu encantamento total era com os palhaços. Ria de doer a barriga, de descer lágrimas, de dormir cansada de tantas estrepolias, cercada com bexigas em forma de bichinhos e cataventos que voltavam comigo para casa... De sonhar com os erros daqueles bobos, de me perguntar porque eram assim tão ingênuos e eu tão "esperta".
Essa magia é única e nos marca para sempre.
E a data de hoje deveria ser, ao menos para mim, um dia de comemorações, de alegria, de relembrar de Torresmo e Pururuca, de Arrelia, de Piolim, de Carequinha, de Picolino, de Jerry Lewis, de Didi Mocó... De lembrar dos palhaços que me fizeram tão feliz.
Mas foi um dia muito triste para mim e para o mundo.
Logo de manhã cedo me deparei com o discurso de Barack Obama na entrega do Prêmio Nobel da Paz e, o que era para ser dia de festa com céu de brigadeiro, virou tragédia com céu plúmbeo.
O que tem a ver palhaço com Obama?? Veremos.
No discurso de Obama de hoje fiquei estarrecida, chocada, envergonhada (vergonha alheia existe?), decepcionada...
O homem teve a coragem de subir no púlpito da nobre casa onde se entregam os prêmios Nobel a tantos anos para defender o indefensável num Prêmio da "Paz": defendeu a guerra!
Defendeu o "direito" de guerrearem contra quem atacou as torres gêmeas. E o cara esquece do detalhe de que isso só ocorreu pelo simples fato de tomarem partido descarado por Israel em detrimento dos demias países do Oriente Médio, de promoverem a guerra naquele continente por 20 anos.
Os EUA são o país mais belicoso do mundo desde a 2ª Guerra Mundial. Estiveram presentes, desde então, em golpes de estado que permearam o mundo. Incluindo-se aí o Brasil, no Golpe de 64. Fizeram parte da morte de Salvador Allende, no Chile; são co-responsáveis por milhares de desaparecidos na Argentina. Destruíram a América Central promovendo ditadores da pior estirpe, criaram em Guantánamo a prisão mais violenta do planeta. E isto para ficar apenas em nosso continente.
Na mesma semana em que Obama anuncia que enviará ao Afeganistão 30 mil soldados, ele recebe o Nobel da Paz. É uma palhaçada para nos fazer rir?
E nós, pobres mortais, podemos com certeza absoluta nos sentir impotentes diante disso. Diante de vidas e países dizimados não podemos fazer nada. Iraque e Afeganistão, de histórias riquíssimas e de culturas surpreendentes, hoje são ruínas e morte. Países que levarão décadas para se recompor - se é que conseguirão.
Diante desse discurso pífio de hoje, cercado de nacionalismo barato da pior lavra, fica-se a interrogação: que interesses escusos financeiros há por trás dessa virada de discurso de Obama?? São os fabricantes de armas que financiam guerras e delas necessitam para sobreviver?
E mais: por que, ou por quem, Obama se vendeu tão rapidamente? Por que seu discurso de hoje difere tanto dos que permearam sua campanha política? O que há por trás dessa mudança brusca de enfoque? Interesses comerciais, midiáticos, eleitoreiros?
Ou será que o correto é dizer que tanto o Prêmio Nobel, que eu sempre considerei da maior nobreza, quanto sua campanha antes de ser eleito, foram pura "palhaçada"?
Eu não tenho as respostas com precisão, mas já formulo em minha cabeça que a posição de hoje dos EUA permeará mudanças futuras sérias em nosso mundo - e para o mal.
Meu desejo mais forte é que o Brasil se fortaleça para que não haja aqui respingos desse discurso pobre, que não sobre para nós, como em 64, a vontade deles de definir o que é democracia. Afinal, a definição deles para esse tema só é boa para os próprios, porque onde pisaram nem grama mais nasce. São malditos! O Brasil está sendo uma resposta milagrosa a essa maldição, e que assim permaneça: avante, com força e potencial para definir que a democracia e o diálogo verdadeiros são possíveis.
Que Madre Teresa de Calcutá (falecida), Dalai Lama e Nelson Mandela não se ofendam em dividir o Prêmio Nobel da Paz com esse infame que atende pelo nome de Barack Obama.
O mundo tem solução, tem saída digna. E nunca deixarei de acreditar nisso!
Meninas:
Desculpem-me o desabafo. Segurei este tipo de comentário o quanto pude desde que soube que ele era o ganhador. Eu já achava uma piada de mal gosto a simples indicação desse país, sair-se vencedor então foi a catarse total... Mas juro que tentei me segurar.
Mas depois do discurso de hoje, com o cara deitando falação sobre o que é democracia para o outros, não deu.... Tudo tem limite!
Recebam meu grande...
Beijooooo
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E aqui Arrelia, o grande Mestre!
Obrigada por tudo, meu querido!