

Mais uma vez, lamento não ter ido ao S. João do Porto. Quando me apercebi que este ano até seria o mais propício a uma deslocação, já que a noite do santo foi de Sábado para Domingo, ainda fiquei mais lastimosa. O meu filho pedia-me: "podemos ir, mãe?", em resposta à minha constatação tardia (típica de quem não tem de escrever a data diariamente). Mas, porque a filhota é ainda bebé, desta vez não foi possível improvisar uma partida súbita rumo à Invicta.
Há muitos anos, não perdia uma noite de S. João passada no Porto. Bem, na verdade não perdia ocasião nenhuma para ir ao Porto. Era lá que passava as férias, rodeada de primos e primos dos primos ("a primalhada toda", como dizíamos, ou, noutra versão, "primos esquerdos", já que não eram direitos), tios verdadeiros e emprestados, sobrinhos, irmão, cunhada e amigos.
O Porto é a minha terra do coração. Quem me conhece sabe isso. Nasci em Lisboa, vivi sempre na chamada "linha do Estoril" e, à falta de terra onde ir nas férias e períodos festivos, adoptei o Porto. Outras terras me encantam, mas nenhuma como esta. É a terra do meu pai e de toda a família do lado paterno.
O S. João do Porto é uma das minhas recordações mais antigas e mais saudosas. O espírito festivo, a brincadeira com o alho-porro ou o martelo, a caminhada das Fontaínhas ou outro ponto no centro até à Foz, a senhora que perguntava "estão a dar?" enquanto a minha tia agarrava a caixa de cartão com gelados que a vendedora lhe entregou por ser mais prático, já que éramos muitos e o número de gelados comprados reflectia isso mesmo. O fogo de artifício, fascinante e assustador para uma menina pequena.
Nos primeiros anos, na companhia dos meus pais, tios e primos, depois já só os primos e amigos, numa directa de muitos kilómetros.
No futuro, será o regresso, na companhia dos filhos, a quem quero transmitir este sentido de pertença. A uma família, a um local, a uma tradição que faz parte da identidade nacional.
Até sempre e até já, Porto.
Porto da minha alma.