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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A estupidez

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“Reflecte pois nisto meu filho. Errar é comum a todos os homens. Mas quando errou, não é imprudente nem desgraçado aquele que, depois de ter caído no mal, lhe dá remédio e não permanece obstinado. A teimosia merece o nome de estupidez.”

Sófocles, Antígona, traduzido do grego por Maria Helena da Rocha Pereira, Edição Fundação Calouste Gulbenkian, 8ª Edição, Lisboa 2008, pág. 9.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Reler os clássicos: Histórias de Heródoto (2)

baselitz-oberon-remix.1196183916Quadro do pintor Georg Baselitz, intitulado Oberon (Remix)  de 2005. 

Sólon, um famoso legislador ateniense, numa das inúmeras viagens que realizou foi visitar o rei Creso a Sardes. A propósito desta visita Heródoto relata o seguinte:

«À sua chegada, foi hospedado por Creso no seu palácio. Depois, no terceiro e no quarto dia, por ordem de Creso, os servidores passearam Sólon pelos tesouros e mostraram-lhe toda a riqueza e opulência aí existentes. Depois de ter observado e examinado tudo, quando considerou o momento oportuno, Creso perguntou-lhe: “Hóspede ateniense, até nós chegaram muitas vezes relatos a teu respeito, por causa da tua sabedoria e das tuas viagens, como, por amor à sabedoria, tens percorrido toda a terra, levado pela curiosidade. Veio-me agora o desejo de te perguntar se já viste alguém que fosse o mais feliz dos homens”. Interrogou-o dessa forma, na esperança de ser ele o mais feliz de todos, mas Sólon, sem qualquer lisonja e com sinceridade, responde: “Sim, ó rei, Telo de Atenas”. Surpreendido com a resposta, Creso perguntou com interesse: “Porque julgas que Telo é o mais feliz?” E ele explicou: “Natural de uma cidade próspera, por um lado, teve filhos belos e bons e de todos eles viu nascerem filhos e todos permanecerem com vida; por outro lado, depois de gozar uma vida próspera, para o nosso meio, teve o mais brilhante termo de vida. Declarada guerra pelos Atenienses contra os seus vizinhos de Elêusis, ele ocorreu em auxílio, provocou a fuga dos inimigos e morreu da forma mais gloriosa. Os Atenienses sepultaram-no com exéquias públicas no próprio local em que tombou e tributaram-lhe grandes honras.”

“ (…) Ora, no longo tempo de uma vida, há ocasião para ver e padecer muitas coisas que uma pessoa não queria (…). É necessário ver o fim de cada coisa e como se vai concluir. É que a muitos deixa o deus a felicidade e depois os abate sem apelo”.

Ao falar assim, Sólon não agradou nada a Creso e foi despedido, sem dele receber qualquer palavra. Considerava grande estultícia que alguém, sem ter em conta os bens presentes, aconselhasse a observar o fim de cada coisa».

Heródoto, Histórias (livro 1º), Lisboa, 1994, Edições 70, pp. 74-77.

Estas duas concepções opostas de felicidade - de Creso e Sólon – continuarão a dizer-nos alguma coisa?

Ou estarão, do ponto de vista histórico, completamente ultrapassadas?

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Três exemplos para expressar a ideia de mudança

“Para quem entrar no mesmo rio, outras são as águas que correm por ele.”

Heraclito (séc. VI-V a.C.)


“(…) somente aos deuses não cumpre envelhecer nem conhecer a morte,

o mais, tudo apaga o tempo omnipotente.

Fenece a força da terra, esvai-se a do corpo,

morre a confiança, germina a deslealdade,

e não é o mesmo espírito que passa entre homens,

que se estimam, nem de uma cidade para a outra.

Ora é já amargo o que era doce, ora o será

de futuro, e de novo voltará a apreciar-se.”

Sófocles, Édipo em Colono (607-615).



Notas:

Nas traduções portuguesas de obras filosóficas gregas é, por vezes, utilizada a palavra devir, significando a mudança constante a que a realidade (pelo menos a que é captada pelos nossos sentidos) está sujeita.

O fragmento de Heraclito e o poema de Sófocles foram traduzidos por Maria Helena da Rocha Pereira a partir do grego e podem ser encontrados no livro: Hélade, antologia da cultura grega, 5ª Edição, Coimbra, 1990.

sábado, 27 de junho de 2009

Reler os clássicos: a Antígona de Sófocles (1)

epidauro

Epidauro, um anfiteatro grego, construído na Grécia Antiga.

Hoje vive-se um ambiente, na política em geral e na educação em particular, que não é, utilizando palavras suaves, intelectualmente estimulante. Aproveitar para reler alguns textos clássicos (como a Antígona de Sófocles, por exemplo) pode-nos ajudar a fazer face às constantes tentativas – levadas a cabo pelo Governo, nomeadamente pelo Ministério da Educação - de ficcionar a realidade, pois permite-nos distinguir o que é essencial.

Muitas polémicas políticas que enchem os jornais e os blogues são manobras de diversão, fazem parte de estratégias eleitorais que visam distrair os eleitores do que verdadeiramente importa: a análise dos resultados efectivos das políticas implementadas durante esta legislatura.

Se pensamos no balanço que pode ser feito ao nível da educação, nomeadamente a aplicação do modelo simplex na avaliação do desempenho docente, os resultados obtidos são confrangedores.

Quando o Conselho Científico para a avaliação dos professores emite conclusões (ver aqui e aqui) que põem em causa a imparcialidade e a justeza do processo em curso. Quando o Primeiro Ministro, numa tardia auto-crítica, reconhece publicamente alguns dos problemas verificados na aplicação deste modelo de avaliação (ver aqui). É caso para perguntar: resta o quê deste modelo de avaliação?

A sua aplicação contribui para uma melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem? Se não contribui, como se justifica que ainda se mantenha em vigor?

Vamos todos continuar caladinhos a fazer de conta que vivemos no melhor sistema educativo possível, onde os alunos, a avaliar pelos resultados das provas realizadas a nível nacional, aprendem muito e muito bem?

Para descrever a actual situação na educação (e, infelizmente, noutros sectores da sociedade portuguesa) talvez possam usar-se as sábias palavras que Tirésias, o adivinho, dirige a Creonte para o dissuadir de matar Antígona:

“Reflecte pois nisto meu filho. Errar é comum a todos os homens. Mas quando errou, não é imprudente nem desgraçado aquele que, depois de ter caído no mal, lhe dá remédio e não permanece obstinado. A teimosia merece o nome de estupidez.”

Sófocles, Antígona, traduzido do grego por Maria Helena da Rocha Pereira, Edição Fundação Calouste Gulbenkian, 8ª Edição, Lisboa 2008, pp. 97.