
Epidauro, um anfiteatro grego, construído na Grécia Antiga.
Hoje vive-se um ambiente, na política em geral e na educação em particular, que não é, utilizando palavras suaves, intelectualmente estimulante. Aproveitar para reler alguns textos clássicos (como a Antígona de Sófocles, por exemplo) pode-nos ajudar a fazer face às constantes tentativas – levadas a cabo pelo Governo, nomeadamente pelo Ministério da Educação - de ficcionar a realidade, pois permite-nos distinguir o que é essencial.
Muitas polémicas políticas que enchem os jornais e os blogues são manobras de diversão, fazem parte de estratégias eleitorais que visam distrair os eleitores do que verdadeiramente importa: a análise dos resultados efectivos das políticas implementadas durante esta legislatura.
Se pensamos no balanço que pode ser feito ao nível da educação, nomeadamente a aplicação do modelo simplex na avaliação do desempenho docente, os resultados obtidos são confrangedores.
Quando o Conselho Científico para a avaliação dos professores emite conclusões (ver aqui e aqui) que põem em causa a imparcialidade e a justeza do processo em curso. Quando o Primeiro Ministro, numa tardia auto-crítica, reconhece publicamente alguns dos problemas verificados na aplicação deste modelo de avaliação (ver aqui). É caso para perguntar: resta o quê deste modelo de avaliação?
A sua aplicação contribui para uma melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem? Se não contribui, como se justifica que ainda se mantenha em vigor?
Vamos todos continuar caladinhos a fazer de conta que vivemos no melhor sistema educativo possível, onde os alunos, a avaliar pelos resultados das provas realizadas a nível nacional, aprendem muito e muito bem?
Para descrever a actual situação na educação (e, infelizmente, noutros sectores da sociedade portuguesa) talvez possam usar-se as sábias palavras que Tirésias, o adivinho, dirige a Creonte para o dissuadir de matar Antígona:
“Reflecte pois nisto meu filho. Errar é comum a todos os homens. Mas quando errou, não é imprudente nem desgraçado aquele que, depois de ter caído no mal, lhe dá remédio e não permanece obstinado. A teimosia merece o nome de estupidez.”
Sófocles, Antígona, traduzido do grego por Maria Helena da Rocha Pereira, Edição Fundação Calouste Gulbenkian, 8ª Edição, Lisboa 2008, pp. 97.