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terça-feira, 3 de maio de 2016

PORQUÊ ESTUDAR GEOGRAFIA?

Post Convidado: Luis Romão, professor de Geografia do Agrupamento de Escolas Dra. Laura Ayres.

Geografia

Comecemos por uma questão: a que ramo das ciências pertence esta ciência? É uma ciência humana ou natural?

Como tentarei reflectir, a imensa interdisciplinaridade da Geografia faz com que não apresente uma identidade concreta, contudo o objeto e o objetivo do seu estudo estão bem definidos.

Definimos hoje a Geografia como o estudo das relações entre o espaço e as sociedades.

Esta complexidade de relações exige do geógrafo o recurso a diversas ciências – Geologia, Meteorologia, Oceanografia, Ecologia, Estatística, mas também Ciências Sociais, como a Economia, a Sociologia, a História, a Politica…etc. A Geografia encontra-se na encruzilhada das ciências para poder explicar ao Homem os caminhos que traçou e que caminhos deve seguir para viver equilibradamente e frutiferamente nesta casa a que chamamos Terra.

Estas duas imagens esquematizam estas relações que constituem a sua razão:

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Relação entre a Geografia e outras ciências 

Imagem 2

Ciência Geográfica

Hoje a Geografia tem cada vez mais preocupação com a problemática social, considerando que o desenvolvimento, vindo da industrialização, passou a exercer grandes impactes sobre a natureza (paisagem) e a sociedade degradando e depilando os recursos naturais; o planeta, o espaço, a paisagem “não é apenas um quadro de vida, mas um espaço vivido, isto é, de experiência sempre renovada, o que permite, ao mesmo tempo, a reavaliação das heranças e a indagação sobre o presente e o futuro. A existência naquele espaço exerce um papel revelador sobre o presente e o futuro. A existência naquele espaço exerce um papel revelador sobre o mundo” (Santos, 2000).

Assim podemos perceber a complexidade de uma paisagem, de um país (múltiplas paisagens) percebendo as múltiplas relações e conexões que as suportam. “Os lugares, são, pois, o mundo, que eles, (cada comunidade) reproduzem de modos específicos, individuais, diversos. Eles são singulares (direi únicos, mas ao mesmo tempo cada vez mais iguais), mas também são globais, manifestações da totalidade – mundo, da qual são formas particulares.” (Santos, 2000).

Então do ponto de vista da Geografia, esta é a perspectiva para se estudar o espaço: olhando em volta, percebendo o que existe, sabendo analisar as paisagens como o momento instantâneo de uma história que vai acontecendo, e o olhar geográfico desmonta e explica os riscos e as potencialidades das decisões dos homens da história.

A Geografia desenvolveu o olhar espacial, portanto, construiu um método que faz a leitura da vida que estamos vivendo, a partir do que pode ser percebido no espaço construído.

A Geografia ao ler o espaço, ensina ao homem a leitura da sua própria história, representada concretamente pelo que resulta das forças naturais, sociais, políticas, económicas, etc., vivenciadas desde os seus antepassados até ao presente. O que a paisagem mostra é o resultado do que ali aconteceu e está acontecendo. A Geografia ao materializar o ocorrido transforma em visível, em perceptível as dinâmicas do acontecido.

Por tudo isto a Geografia é tão importante na formação dos nossos alunos. A formação dum pensamento geográfico é indispensável para a existência de cidadãos mais ativos e mais capazes de construir o mundo de hoje, mais sustentável, onde todos tenham abrigo.

a terra

Luis Romão (adaptado).

Bibliografia:

Milton Almeida dos Santos, Por uma outra globalização, São Paulo: Editora Record, 2000.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Um passeio literário pela Lisboa de Pessoa

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Na visita de estudo de 26 de fevereiro, fizemos um percurso  a pé por alguns locais significativos na vida e obra do poeta Fernando Pessoa. Este passeio foi organizado e guiado pela professora de Português, Dina Ferreira. A selecção e as explicações  ficaram a cargo da professora, a leitura dos poemas coube aos alunos. A fotografias que acompanham os poemas lidos, à excepção das duas primeiras, são da autoria do alunos Rafael Fonseca do 11º D.

ESTAÇÃO DO ROSSIO

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.

Fernando Pessoa, 20-9-1933

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IGREJA DOS MÁRTIRES

Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.

E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.

Por mais que me tanjas perto,
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho,
Soas-me na alma distante.

A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

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ESTÁTUA EM FRENTE DO CAFÉ BRASILEIRA

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CASA ONDE NASCEU FERNANDO PESSOA

Aniversário
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
(…)
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

Álvaro de Campos, Aniversário

À minha querida mamã
Eis-me aqui em Portugal
Nas terras onde nasci.
Por muito que goste delas
Ainda gosto mais de ti.

Fernando Pessoa, 26-07-1895 (1º poema escrito e conhecido com 7 anos)

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TEATRO S. CARLOS

(…)
Todo o teatro é o meu quintal, a minha infância
Está em todos os lugares e a bola vem a tocar música,
Uma música triste e vaga que passeia no meu quintal
Vestida de cão verde tornando-se jockey amarelo...
(Tão rápida gira a bola entre mim e os músicos...)
(…)
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro

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ESTÁTUA EM FRENTE DA CASA ONDE NASCEU FERNANDO PESSOA

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LARGO DO CARMO, outra morada de Pessoa

Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.
(…)
Álvaro de Campos, Passagem das Horas

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CAFÉ MARTINHO DA ARCADA

Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples
Tem só duas datas — a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra cousa todos os dias são meus.

Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as cousas sem sentimentalidade nenhuma.

Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as cousas são reais e todas diferentes umas das outras;

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"

E por último, o ponto de vista de alguns dos alunos do 11º D e 12º E:

Já pensaram se fôssemos todos memoráveis? Se o mundo pudesse conhecer a nossa vida através da nossa cidade, dos locais por onde passámos?

Tal como explicou a nossa professora de português:

“As cidades não serão mais do que o resultado das pessoas que nelas viveram, vivem e viverão. Então Lisboa poderá ser também Pessoa: onde nasceu, viveu e morreu. Ainda habitará, hoje, o poeta nas ruas desta cidade? A resposta poderá ser encontrada no percurso que iremos realizar na tentativa de solucionar o dilema: PESSOA EM LISBOA OU A LISBOA DE PESSOA?”

Na expectativa de conhecer mais sobre o memorável poeta, Fernando Pessoa, realizámos um passeio literário pedestre, onde pudemos conhecer mais sobre a vida  e obra deste escritor.

Passámos por vários lugares ligados à obra do poeta e lemos poemas relacionados com esses locais, por exemplo, junto à Igreja dos Mártires, no Chiado, onde Pessoa foi batizado (lemos o poema “Ó sino da minha aldeia”) e a casa onde nasceu o poeta, cujo edifício pertence agora à Caixa Geral de Depósitos. Em cada sítio, descobrimos mais sobre Pessoa e a sua vida: onde nasceu, viveu e com quem conviveu, onde trabalhou e até sobre o seu  romance platónico com Ofélia Queirós.

Podemos assim solucionar o dilema que inicialmente nos foi colocado. É A LISBOA DE PESSOA, pois apesar de passarem por esta cidade muitas pessoas, mais nenhuma conseguiu o que este ilustre poeta alcançou: tornar inesquecíveis certos locais através de alguns dos seus poemas.

Catarina Bárbara 12ºE

Realizámos o percurso pessoano. Passámos por vários locais importantes da vida de Fernando Pessoa em Lisboa, como por exemplo a casa onde o poeta nasceu nasceu, a casa da sua amada Ofélia Queirós, a estação do Rossio em que via partir alguns dos seus amigos, etc. As paragens nos locais eram sempre acompanhadas por uma descrição da professora de Português do local e da sua importância na vida do autor e pela leitura de um poema de Pessoa realizada pelos alunos. Esta parte da visita foi bastante enriquecedora. Os alunos puderam aprender mais sobre a vida de Fernando Pessoa e andar pela mesma calçada que o autor português pisou!

Rafael Fonseca, Fábio Gonçalves, Marco Fidalgo, Patrícia Pacheco e Joana Viegas, 11º D

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Visita de estudo: PESSOA EM LISBOA OU A LISBOA DE PESSOA? (2)

Rua Augusta em Lisboa

PESSOA EM LISBOA OU A LISBOA DE PESSOA?

Fernando Pessoa

As cidades não serão mais do que o resultado das pessoas que nelas viveram, vivem e viverão. Então Lisboa poderá ser também Pessoa: onde nasceu, viveu e morreu. Ainda habitará, hoje, o poeta nas ruas desta cidade? A resposta poderá ser encontrada no percurso que iremos realizar na tentativa de solucionar o dilema: PESSOA EM LISBOA OU A LISBOA DE PESSOA?

GUIÃO DA VISITA

Neste percurso, pisamos o mesmo chão que Fernando Pessoa pisou. Este privilégio é digno de ser fixado, pelo que se propõe um pequeno registo dos vários locais por que passamos, destacando estes dados:

· Identificação;

· Dados biográficos e/ou bibliográficos relacionados;

· Poema;

· No final do percurso, a resposta à questão proposta no cabeçalho.

Dina Ferreira (professora de Português da Escola Secundária de Pinheiro e Rosa)

 

Outras actividades a realizar durante esta visita podem ser consultadas AQUIAQUI.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Uma escola é aulas e mais aulas ou algo mais?

Mais um post convidado, desta vez da professora Cláudia Benedito.

Pinheiríadas

E os alunos, querem a escola e os professores só para as aulas?

Vem o tema a propósito de algumas “queixas” de professores que se sentem “entre a espada e a parede” com o cumprimento dos programas das disciplinas que lecionam, as provas  intermédias, os exames nacionais e a participação em atividades que têm sido tradicionalmente dinamizadas pela escola.

Se por um lado a tutela, e a sociedade em geral, exige dos professores a função para a qual são indispensáveis – as aulas, os programas e as matérias – por outro lado, “enche” os seus horários com cada vez mais atividades letivas, eliminando, pouco a pouco, o tempo para participar noutros projetos com alunos.

Assim, vão “morrendo” atividades nas escolas que faziam os alunos aprender e ganhar outros conhecimentos e competências que não se confinam às paredes de uma sala de aula…são as olímpiadas, os concursos, os clubes, etc…onde está o espaço/tempo para eles?

Ficaremos, por imposições legais, limitados aos minutos letivos, às matérias disciplinares vistas no contexto de situações mais ou menos formais de avaliação, e a relação de turmas, cada vez maiores, com o professor vai ficando cada vez mais distante, impessoal e no sentido restrito da sua função profissional.

Onde ficará o enriquecimento de relações construído no envolvimento em atividades “livres”, de cariz regional, tradicional ou autónomo de cada escola? Gostarão os alunos desta escola?

Cláudia Benedito, Professora de Educação Física e Coordenadora de Projetos. 

(Nota: as Pinheiríadas são um concurso  interturmas que se realiza anualmente na Escola Secundária de Pinheiro e Rosa, com provas variadas: Desporto, Leitura, Matemática, Cultura geral, Teatro, etc.)

terça-feira, 8 de maio de 2012

A ESPR na Assembleia Municipal de jovens

bancadas escolares

Este é um post convidado de André Ramos, professor de Educação Física, que se empenha muito por incentivar a participação na vida política.

Realizou-se, no passado dia 25 de Abril, a primeira  Assembleia Municipal de Jovens, no Salão Nobre da CM de Faro.
A Assembleia Municipal de Jovens foi organizada pelo Juvfaro (Conselho Municipal de Juventude do Município de Faro) e é um projeto dirigido às escolas - do ensino secundário e universitário - que pretende envolver os estudantes na vida do município, contribuindo assim para a sua formação cívica e dando-lhes a possibilidade de conhecer melhor as funções e o funcionamento dos órgãos autárquicos. Pretende-se contribuir para a criação de um espaço de debate e de aproximação entre os representantes eleitos e a população jovem, tornando possível o exercício da cidadania e a criação dos alicerces, no futuro, para uma maior participação na vida política da cidade.
A escola secundária de Pinheiro e Rosa foi representada pelos alunos Emanuel Noivo e Alexandre Mendes (10º B), Miguel Dionísio e Diogo Laranjo (11º D) e Catarina Bárbara (11ºF).  Estes alunos apresentaram propostas para responder à questão:

Como podemos melhorar Faro?

bancada_Pinheiro e Rosa

Eis as propostas apresentadas pelos alunos que representaram a Escola Secundária de Pinheiro e Rosa.

«1. Criação de um circuito escolar (do minibus).

O projeto “circuito escolar” pretende ajudar o transporte dos alunos para cada escola. O objetivo é criar dois tipos de circuitos diferentes para cada secundária. Os horários destes seriam pensados tendo em conta o horário escolar das escolas em questão. É necessário que este projeto seja levado a sério e bem pensado. Há alunos que para chegarem à Escola Pinheiro Rosa têm que esperar por autocarros de dois circuitos diferentes e estes não são seguidos. Por exemplo: quem mora junto ao Fórum, tem de apanhar um circuito para a Eva e outro para a escola. Com este “circuito escolar” os alunos apenas teriam de apanhar o autocarro da respectiva escola. Assim, mesmo que a paragem do autocarro ficasse a 5 minutos de casa, os alunos sabiam que aquele autocarro iria directo para a escola e chegaria a tempo das aulas. O ideal era que os horários de chegada à escola fossem planeados de modo a que os alunos chegassem à escola pelas 8.30, depois às 10.15, 11.50, 15.10 e, por fim, às 16.00 com o objetivo de trazer todos os alunos à escola e a tempo das aulas. No regresso, os autocarros partiam das escolas às 10.20, 13.40, às 18h e por fim às 18.40. Com estes horários todos os alunos teriam transporte garantido para a escola e para casa (os diretores de turma das várias escolas poderiam fazer um levantamento das necessidades dos alunos de cada turma).

É, de facto, necessário dotar a escola Secundária Pinheiro e Rosa com um melhor serviço de transportes públicos. Esta é, das escolas secundárias de Faro, aquela que tem pior localização e piores acessos. As outras secundárias estão ambas muito bem localizadas. Além disso, as duas outras secundárias sofreram obras da Parque Escolar e, por isso, a nossa escola sem melhores transportes não poderá concorrer em pé de igualdade com as outras. É de salientar que a implementação deste projeto faria muito mais gente optar pela nossa escola e seria uma forma justa de compensar a sua localização geográfica periférica.

2. Elaboração de um plano de evacuação para a cidade de Faro.

Não sabemos se existe ou não um plano como este para a nossa cidade. Pode até já existir, mas não temos conhecimento dele nem os habitantes da cidade. Portanto, caso já exista, precisa de ser amplamente divulgado. Se assim não for, precisa de ser criado, pois a cidade de Faro, devido à sua localização geográfica numa zona sísmica, pode estar sujeita a uma catástrofe a qualquer momento. Pensamos que a população deveria estar devidamente informada ou pelo menos ter a mínima noção do que deve fazer no caso de suceder um fenómeno como um sismo e/ou maremoto.

3. Promoção de espaços verdes e/ou zonas lúdicas.

Existe um sentimento geral, entre nós (jovens), de que em Faro existe pouco para fazer fora de casa e o que existe está mal explorado e divulgado. Espaços como o Skatepark deveriam existir com maior abundância na cidade. Já agora, é de referir que a iluminação do Skatepark não é, muitas vezes, accionada. Contudo, é ao fim da tarde ou mesmo à noite que muita gente tem tempo de passar um bom bocado neste local. Era necessário que existissem mais campos de futebol e basquetebol acessíveis às pessoas - zonas de lazer que as chamassem para fora de casa. Seria também desejável que houvesse uma maior dinamização do jardim da Alameda e do relvado junto ao Fórum Algarve. Para revitalizar a baixa de Faro, e em particular do comércio, seria muito importante criar um parque infantil, com aparelhos diversificados apropriados a crianças de diferentes faixas etárias. A existência de uma zona lúdica infantil levaria as famílias a procurarem muito mais a baixa e incentivaria o comércio.»

segunda-feira, 7 de maio de 2012

A alegoria do Bom Governo

Este é um post convidado da minha colega Carla Faustino, professora de História.

Trata-se da análise histórica de uma pintura de Ambrogio Lorenzetti (séc. XIV), intitulada "Alegoria do Bom Governo". A escolha deste quadro deve-se ao facto de Carla Faustino considerar que ele se relaciona com a conjuntura em que vivemos e por ela pensar que "precisamos de governantes com virtudes!"

O esquema seguido na análise da obra pode ser consultado na nota (*) que se encontra no final deste post.

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Alegoria do Bom Governo (c. 1337-1340).

1. Quem produziu a obra? Quem é o Emissor?

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Ambrogio Lorenzetti (c. 1290 – 1348?), pintor de profissão, nascido na cidade de Siena (atual Itália).

2. Para quem? Quem é o Recetor?

Para a Junta dos Nove Governantes da cidade de Siena. Tratava-se de um grupo de banqueiros e comerciantes que tomou o poder em 1287 (ficou conhecida por “revolução comunal”) e que expulsou da cidade grande parte da nobreza. Após a conquista do poder, esta junta lançou um ambicioso programa de modernização da cidade, no qual se destacava a construção de um grande palácio, sede do novo poder comunal. Esta pintura encomendada a Lorenzetti foi pintada numa das paredes do novo palácio.

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3. Análise formal (CANAL)

Suporte: parede (pintura mural)

Técnicas específicas de aplicação: afresco

Consistia na aplicação de pigmentos de cor diluídos em água diretamente na parede enquanto a argamassa ainda está húmida. A imagem torna-se então parte integral da construção arquitetónica onde foi pintada.

4. Análise funcional (CÓDIGO)

Identificação do tema: profano (Alegoria do Bom Governo).

Descrição da pintura (abreviada).

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Lorenzetti coloca o rei virtuoso à direita do observador e representa-o como um velho barbudo. Vestido de preto-e-branco (as cores de Siena), ele simboliza tanto a cidade de Siena como o bem-estar público. O monarca apresenta um escudo, que simboliza o universo e a própria fé cristã. O Bom Governo ainda segura com a sua mão direita um cetro da justiça.

Acima do Bom Governo, três anjos coroados. Um anjo avermelhado representa a Caritas (Caridade), mas, segundo alguns especialistas, esta figura simboliza também o Amor à Pátria. Este anjo vermelho está rodeado por outros dois. Um, com feições masculinas e com uma cruz, simboliza a Fé e o outro, feminino, com longas tranças douradas é a Esperança.

Sentadas ao lado do Bom Governo estão as seis virtudes, representadas como rainhas coroadas. Elas apoiam o rei.

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À sua esquerda, a Magnanimidade, a Temperança (com uma ampulheta) e a Justiça (com uma espada numa das mãos, uma coroa e uma cabeça cortada no colo).

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À sua direita, de branco, a Paz, segura um ramo de oliveira, descansando, tranquilamente ociosa e recostada numa almofada, com outra aos seus pés. A seu lado encontra-se a Fortaleza, com um cetro na mão e um grande escudo protetor na outra, e a Prudência, mais velha, com rugas na face, aponta para a coroa que tem no colo. A Prudência guarda o trono. Todas as virtudes estão protegidas por cavaleiros armados com lanças.

Função: pedagógica e de propaganda

Na Idade Média a finalidade pedagógica era a primeira função da imagem. De facto, através do material artístico, o homem medieval entrava em contato com representações literárias acessíveis somente à minoria letrada. O fiel entrava em comunicação com o texto, invisível para ele (DUBY: 1997, 108).

O afresco de Lorenzetti personificava, tanto para os governantes de Siena como para o público que frequentava o Palácio Comunal, as virtudes (necessárias ao bom governo) e os vícios (que estes deveriam evitar) representados noutra pintura de Lorenzetti da mesma sala, designada de “Alegoria do Mau Governo”. Todos aprendiam pelas imagens.

Além de cumprir essa função, esta pintura enaltecia o poder sienense, representado nesta obra por 24 conselheiros, chefes das casas notáveis da cidade, que seguram uma longa corda que os une e que simboliza a amizade. Segundo o historiador George Duby, esta pintura realçava esse poder, dava-lhe visibilidade, justificava-o (DUBY: 1997, 16)

Qual a intencionalidade do pintor? (o que o autor pretendia com a obra).

Lorenzetti quer mostrar aos governantes o bom caminho? Criticá-los? Ele teria liberdade para isso? O historiador Georges Duby tenta encontrar uma resposta para esta questão:

“Alguns documentos esclarecem as relações entre quem faz a encomenda e quem a executa. São contratos lavrados em presença de tabelião. O artista compromete-se a respeitar fielmente as cláusulas que regulam não só os seus honorários, a qualidade dos materiais que irá utilizar, mas também o pormenor, a maneira de desenvolver o tema.” (DUBY: 1998, 106).

Por isso, esta é a mão do artista, guiada (e paga) por homens de Estado, conclui Duby. No entanto, há que ter em conta que a consciência individual dos artistas se afirma neste período e que por isso recusam ser considerados como meros artífices, executores, e exigem ser reconhecidos como parte determinante na criação da obra de arte.

Para finalizar…

fica aqui a “Alegoria do Mau Governo”, também pintada por Lorenzetti, para ser analisada … e desfrutada.

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Bibliografia:

- Costa, Ricardo da (2003), Um Espelho de Príncipes artístico e profano: a representação das virtudes do Bom Governo e os vícios do Mau Governo nos afrescos de Ambrogio Lorenzetti (c. 1290-1348?)in Utopía y Praxis Latinoamericana - Revista Internacional de Filosofìa Iberoamericana y Teoría Social, Maracaibo (Venezuela): Universidad del Zulia, vol. 8, n. 23, octubre de 2003, p. 55-71

- Janson, H.W., (1989) História da Arte, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian.

(*) NOTA: A análise da pintura de Ambrogio Lorenzetti, a  "Alegoria do Bom Governo", foi realizada de acordo com o esquema seguinte.

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