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quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Talvez não seja um falso dilema...

Será um falso dilema? exemplo de ambiguidade semântica.

Infelizmente, talvez não seja um falso dilema... Em todo o caso, é um bom exemplo de ambiguidade semântica. 

domingo, 11 de outubro de 2020

Falácia das más companhias

falácia das más companhias

A falácia das más companhias (“Guilt by association fallacy”.ou “Bad company fallacy”) é uma falácia informal que consiste em “atacar a posição de outra pessoa apenas porque foi defendida por alguém obviamente malévolo ou estúpido. (…) A sugestão é que se alguém obviamente malévolo ou estúpido defendeu aquela perspetiva, então só quem é também malévolo ou estúpido a defenderá. 
Esta forma de argumentar não é fidedigna, o que rapidamente se torna claro quando consideramos exemplos. 
Por exemplo, (…) se o leitor defendesse a legalização de algumas formas de eutanásia e alguém procurasse refutar o seu argumento chamando a atenção para o facto de Hitler ser a favor da eutanásia e ter criado um programa de eutanásia do qual resultou a morte de 70000 pacientes em hospitais, essa pessoa incorreria no uso da falácia das más companhias. (…) Neste caso, essa falácia sugere que o que Hitler aprovava era, por essa mesma razão, moralmente errado ou algo que se baseava numa crença falsa. Isto não equivale a dizer que não pode haver razões independentes em virtude das quais legalizar a eutanásia poderia ser um erro; sugere apenas que o facto de Hitler pôr em prática a política da eutanásia não é, em si, uma boa razão para evitar fazê-lo. O que precisamos é de um género de análise das semelhanças relevantes entre as duas situações. (…)
Pode ser extremamente desconfortável dar connosco a concordar com pessoas que desprezamos completamente. Todavia, isso não é suficiente para provar que o facto de Hitler acreditar em algo mostra que a crença é falsa. Afinal, Hitler acreditava que 2 + 3 = 5 e que Berlim fica na Alemanha. O que esta forma de argumento ignora é que as pessoas más e estúpidas não só têm inúmeras crenças falsas, mas também muitas crenças verdadeiras. (…)
Embora Hitler tenha defendido muitas práticas perversas e tenha sido responsável por alguns dos piores crimes conhecidos contra a Humanidade, não se segue que tudo aquilo que defendeu ou em que acreditava era moralmente errado ou falso.”

Nigel Warburton, Pensar de A a Z, Editorial Bizâncio, Lisboa, 2012, pp. 128-130. 

Esta falácia é muitas vezes designada por “argumentum ad Hitlerum” (ou “Reductio ad Hitlerum”), mas “falácia das más companhias” é um nome preferível, na medida em que é mais abrangente. Com efeito, além de Hitler há muitas outras más companhias a que se pode apelar para desacreditar um argumento ou ideia. 
Em Portugal, por exemplo, esse apelo ocorre por vezes com Salazar. 

domingo, 9 de agosto de 2020

Falsa dicotomia

Falso dilema estás connosco ou estás contra nós

«Uma falsa dicotomia [ou falso dilema] é uma perspetiva enganadora das alternativas disponíveis. Ocorre quando alguém apresenta uma dicotomia de tal modo que parece haver apenas duas alternativas quando na verdade há mais.

Por exemplo, na maioria dos contextos, a expressão “se não estás connosco, estás contra nós” [logicamente equivalente a “estás connosco ou estás contra nós”] é uma falsa dicotomia, visto que ignora uma terceira possibilidade (ser totalmente indiferente ao grupo em causa) e também uma quarta: a de não ter ainda não ter decidido *. (…)

As falsas dicotomias podem apresentar-se acidental ou deliberadamente (talvez isto seja também uma falsa dicotomia). Quando são acidentais, resultam de uma avaliação imprecisa das posições disponíveis; quando deliberadas são uma forma de sofística.»

Nigel Warburton, Pensar de A a Z, Editorial Bizâncio, Lisboa, 2012, pp. 147-148 (tradução de Vítor Guerreiro).

 * No cartoon é apresentada uma quinta possibilidade, de resto muito plausível.

 Fonte do cartoon: PhilosophyMatters

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Qual é a utilidade do estudo da Lógica?


Para os meus alunos do 11º A.

A resposta à questão, formulada no título deste post, só pode ser verdadeiramente compreendida depois de aplicarmos os conceitos lógicos na resolução de exercícios  e na própria argumentação filosófica. No entanto, faz sentido percebermos à partida o que podemos ganhar em filosofia (e na vida em geral) com o estudo da Lógica. Os autores deste texto explicam-nos isso de forma clara.

«A lógica estuda alguns aspectos da argumentação. A lógica permite-nos 1) distinguir os argumentos correctos dos incorrectos, 2) compreender por que razão uns são correctos e outros não, e 3) evitar cometer falácias ou sofismas na nossa argumentação. Uma falácia ou um sofisma é um argumento incorrecto que parece correcto. Um argumento correcto é um conjunto de afirmações organizadas de tal modo que uma delas (a conclusão) é apoiada pelas outras (as premissas). Num argumento incorrecto as premissas não apoiam a conclusão (...).
O papel da lógica torna-se manifesto quando compreendemos que os filósofos procuram, implícita ou explicitamente, argumentos sólidos e relevantes para defender as suas ideias. Mas para sabermos se um argumento é sólido e relevante precisamos de saber se é válido. E é a lógica que nos ajuda a saber se um dado argumento é ou não válido (...).
A lógica tem dois papéis na filosofia: clarificar o nosso pensamento e ajudar-nos a evitar erros de raciocínio. A filosofia é identificada por um conjunto de problemas. Os filósofos, ao longo da história, têm respondido a esses problemas, tentando solucioná-los. Para isso, apresentam teorias e argumentos.
Precisamos da lógica para avaliar criticamente os problemas da filosofia. Se alguém quiser reflectir sobre o problema filosófico de saber por que razão as ideias verdes não são salgadas, o melhor que temos a fazer é mostrar que esse é um falso problema. Para isso precisamos de argumentos.
Precisamos da lógica para avaliar criticamente as teorias dos filósofos. Será que uma dada teoria é plausível? Como poderemos defendê-la? Quais são os seus pontos fracos e quais são os seus pontos fortes? E porquê?
Precisamos da lógica para avaliar criticamente os argumentos dos filósofos. São esses argumentos sólidos? Ou são erros subtis de raciocínio? Ou baseiam-se em premissas tão discutíveis quanto as suas conclusões?
Assim, para que os nossos estudantes possam enfrentar os problemas da filosofia de forma criativa, têm de dominar os instrumentos críticos elementares que lhes permitirão formular com clareza os problemas, as teorias e os argumentos da filosofia, e que lhes permitirão adoptar uma postura crítica — defendendo as suas próprias ideias com argumentos. A arte da filosofia é a arte da fundamentação das nossas ideias em argumentos sólidos, criativos e inteligentes. Dominar essa arte é ter a capacidade de distinguir os argumentos com essas características daqueles que não as têm, e ter a capacidade para mudar de ideias quando somos incapazes de as defender com argumentos bem fundamentados. O pensamento logicamente disciplinado não inibe portanto a criatividade; pelo contrário, promove-a(...). A lógica ajuda-nos a pensar em diferentes possibilidades. Para determinarmos se um argumento é ou não válido temos de determinar se há algum modo de as premissas serem todas verdadeiras e a conclusão falsa. Uma falácia é precisamente um argumento que parece válido a uma pessoa sem formação lógica porque ela não é capaz de ver que é possível que as premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa (ou seja, não é capaz de ver que a conclusão não é uma consequência lógica das premissas). O estudo da lógica contribui assim decisivamente para a criatividade filosófica, pois habitua o estudante a pensar em circunstâncias novas que de outro modo não teria em consideração.» 

Desidério Murcho e Júlio Sameiro, Lógica – 11º Ano.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Se há progresso moral, o relativismo é falso

Se o relativismo cultural fosse verdadeiro, não faria sentido falar de progresso moral.

Por exemplo: o facto de as mulheres há décadas atrás não poderem votar e hoje já poderem (em muitos países) é habitualmente visto como um mudança positiva, como um progresso. Ver essa mudança como um progresso parece ser algo muito plausível e sensato. Mas isso implica uma comparação entre os padrões culturais atuais e os padrões culturais de épocas anteriores (que eram aceites pela grande maioria das pessoas) e a afirmação de que, pelo menos nesse aspeto, as sociedades atuais são melhores que as sociedades do passado. Ora, segundo o relativismo cultural, esses juízos transculturais não são – supostamente - possíveis (pois quando tentamos fazê-los limitamo-nos a exprimir a nossa própria cultura) 1.

Há vários outros exemplos semelhantes: a escravatura, os direitos das crianças, etc.

Como esses exemplos mostram, temos boas razões para falar da existência de progresso moral. Por isso, o relativismo cultural muito provavelmente não é verdadeiro.

cartoon crítico ds sufragists

Harry Grant Dart, "Why Not Go the Limit?", na revista Puck, em 1908.

O cartoon é uma paródia do movimento sufragista, ou seja, das pessoas que defendiam o direito das mulheres votarem2. O desenho é bom, mas incorre claramente na falácia da derrapagem (também conhecida por bola de neve ou declive escorregadio).

1 James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, tradução de F. J. Azevedo Gonçalves, Lisboa, 2004, Colecção Filosofia Aberta, Edições Gradiva, pp.41-42.

2 The Appendix.

domingo, 25 de novembro de 2012

Autoridade acidental

Uma das condições para um argumento de autoridade ser válido é a autoridade referida ser competente no assunto em causa. Ora, Steven Pinker é de facto especialista naquele assunto, mas, como é óbvio, isso nada tem a ver com o seu nome próprio. :)

steves argumento de autoridade

Cartoon de Kipper Williams

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Um anúncio contra o racismo

Eis o trabalho que as alunas, Catarina Bárbara e Maria Bumbuk, do 11º F fizeram sobre um anúncio publicitário.

Vale a pena ver e ler!

O racismo corresponde a um preconceito e conduz a atitudes discriminatórias. Este anúncio pretende levar as pessoas a repensar algumas das suas ideias e a compreender os efeitos negativos que estas podem ter nos outros e em si próprias. No anúncio vemos uma rapariga a aplicar, ao espelho, um creme (Racism) aparentemente para lhe fazer bem à “pele” e ficar mais bela.

No entanto, os efeitos produzidos são o contrário dos desejados, pois com o passar dos dias a rapariga apresenta olheiras, alergia, vermelhidão e borbulhas e começa a ter feridas, chegando a ficar com a cara completamente desfigurada. Assim, apesar deste “creme” a ir desfigurando, ela continua a aplicá-lo, sem se aperceber do mal que este lhe faz. O mesmo se passa com as pessoas com ideias racistas, também elas não se apercebem que ao discriminarem os outros de forma repetida, esses atos acabam por lhes moldar o carácter transformando-as em pessoas “feias” (moralmente desprezíveis). Trata-se, portanto, de um argumento por analogia. Neste caso é um argumento fraco porque a fealdade física e moral não são comparáveis, as diferenças são maiores que as semelhanças.

Os argumentos implícitos no vídeo podem expressar-se do seguinte modo:

Modus ponens

Se és racista, então vais ficar feio.

És racista.

Logo, ficaste feio.

Modus tollens

Se és racista, então vais ficar feio.

Não ficaste feio.

Logo, não és racista.

A principal mensagem transmitida ao espectador é que não devemos ser racistas.  O termo “feio” é utilizado em sentido moral: é algo condenável por ser contrário ao bem e ao dever. Na prática, o racismo deixa marcas, bastante más até, especialmente na vítima, mas também no indivíduo que tem este tipo de atitudes, pois ele em vez de se tornar uma pessoa melhor, regride, tornando-se irreconhecível para si próprio, tal acontece à rapariga do anúncio.

Neste vídeo utilizam-se, de forma implícita,  falácias informais (argumentos em que as premissas não sustentam a conclusão - em virtude do seu conteúdo e/ou da sua forma - embora isso não pareça acontecer). Exemplos:

- Apelo às consequências: o autor para mostrar que uma crença (o racismo) é falsa aponta as consequências desagradáveis que advirão em sua defesa (o facto das pessoas ficarem feias (ou seja moralmente desfiguradas, com dificuldade em se reconhecerem a si próprias).

- Ataque pessoal: em vez de se apresentarem razões para justificar porque motivo esta é uma crença falsa, ataca-se as pessoas racistas dizendo que elas são feias. Quando o que importava era demonstrar que o racismo não tem qualquer fundamento racional.

A nosso ver, este anúncio é apelativo e faz as pessoas (algumas pelo menos) repensarem as suas atitudes. Este anúncio não foi feito para promover um tipo de alimento, uma marca, ou outros objectos, mas sim para despertar as pessoas: aquelas que ainda permanecem na ignorância, pensando que certos indivíduos são superiores a outros devido às suas características físicas. Recentes investigações provam que a “raça” é um conceito inventado. A noção de “raça” não possui qualquer fundamento biológico. Não existe nenhuma prova científica da existência de raças diferentes. A biologia só identificou uma raça: A RAÇA HUMANA.

Catarina Bárbara e Maria Bumbuk

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Resulta mesmo?

tigre

Uma mulher saía para o alpendre de casa todas as manhãs e exclamava:

- Que os deuses protejam esta casa! Que os deuses protejam esta casa!

Uma vizinha, após ouvir essas palavras muitas vezes, resolveu um dia perguntar-lhe:

- Para que é aquilo? Não há um único tigre num raio de mil quilómetros.

- Estás a ver? Resulta! – respondeu a mulher.

Thomas Cathcart e Daniel Klein, Platão e um Ornitorrinco entram num Bar..., Dom Quixote, Lisboa, 2008, pág. 54 (adaptado).

Qual é a falácia?

sábado, 17 de dezembro de 2011

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Argumentos contra o ateísmo

As alunas do 11º C, Catarina Perez, Inês Pedro e Rute Rita (a quem agradeço o envio da imagem), analisaram e discutiram na aula - a propósito da utilização das falácias na publicidade - um interessante cartaz contra o ateísmo.

Deixo, então, um desafio ao leitor: descobrir, tal como estas alunas fizeram, quais são os argumentos falaciosos utilizados neste cartaz publicitário.

Para defender a tese em causa haverá outras formas de argumentar mais persuasivas? Porquê?

image

terça-feira, 29 de março de 2011

Análise filosófica de um anúncio publicitário (2)

Apelo à Piedade (Ad Misericordium)

Esta falácia consiste em apelar a sentimentos, em vez de boas razões, para levar à aceitação da conclusão. Na maior parte dos casos, a pena não é uma boa justificação para aceitar a conclusão de um argumento. Imagine-se, por exemplo, que um aluno fez directa para terminar um trabalho e reclama da nota baixa que teve, invocando a sua dedicação e sacrifício. Ora, será essa uma boa razão para ter uma boa nota?

Não, essa é uma boa razão para admirar o esforço do aluno, porém este  nada tem a ver com o conteúdo do trabalho. Esse argumento destina-se apenas a invocar um sentimento de pena que leve o professor a subir a nota sem apresentar, no entanto, qualquer justificação racional para tal.

No anúncio considerado, encontra-se também presente uma falácia do apelo à piedade. A cena de apedrejamento a uma mulher desperta certamente sentimentos de pena por esta, os quais são, devido à comparação facilmente perceptível (e discutível como foi referido anteriormente), alargados aos touros. Pretende-se assim influenciar a opinião dos espectadores a respeito das touradas, apelando apenas à reacção emocional despoletada por este anúncio.

Neste caso, a pena pelos animais até é uma boa razão para considerar as touradas imorais se partirmos do princípio de que eles sentem dor. No entanto, o que aqui se tenta fazer não se trata de persuasão racional mas sim de manipulação, visto que o objectivo não é fazer as pessoas pensar acerca da dor que os animais sentem mas sim chocá-las com as imagens apresentadas, ao ponto de as suas emoções se sobreporem ao pensamento. Além disso, o anúncio não nos mostra uma tourada mas sim uma pessoa a ser apedrejada e as únicas imagens de touros são mostradas apenas no final. Porque será? Talvez porque algo que toda a gente está habituada a ver não é de maneira alguma chocante pelo que não teria um impacte emocional tão grande na audiência.

Apelo à Tradição

Esta falácia, também  presente no anúncio,  consiste na justificação de acções ou opiniões apelando a tradições. Ou seja, afirma-se que por algo ser praticado há muito tempo, está correcto. Podemos considerá-lo como sendo um argumento de autoridade falacioso em que a autoridade à qual se apela é a tradição. Ora esta é não qualificada, pois o simples facto de algo ser tido como correcto ou praticado há muito tempo não constitui prova alguma da sua correcção ou veracidade. De facto, existem inúmeros exemplos de ideias que, após séculos de certeza, foram provadas erradas. Um exemplo bastante conhecido, e que retrata bem a situação, é o da posição da Terra relativamente ao Sol. O geocentrismo vigorou durante séculos baseado nos princípios religiosos. Contudo, mais tarde, provou-se a incorrecção de tal ideia e admitiu-se a posição heliocêntrica como correcta.

Neste anúncio, a falácia referida não é apresentada de forma explicita. É antes transmitida na parte falada do texto e é contradita pelas imagens e pelo final do anúncio.

O argumento expresso é:

As touradas fazem parte da nossa tradição há muito tempo.

Logo, a realização de touradas deve ser aceite por todos.

Ora, o que se faz no anúncio é refutar tal argumento, dizendo que uma tradição não é razão para se considerar algo como sendo moralmente correcto e dever ser praticado. Aliás, este apelo à tradição é, em parte, o que inspirou a comparação presente no anúncio: tal como na Península Ibérica temos esta tradição de realizar touradas, também os países do Médio Oriente têm a tradição de apedrejar as mulheres que, por exemplo, cometem adultério. Ora, se afirmamos que temos de respeitar a prática de touradas porque se trata de uma tradição, temos de afirmar o mesmo relativamente a tais tradições. No entanto, não o fazemos. Consideramos que tais práticas são completamente imorais, pois existem razões óbvias para o fazer. Apesar disso, os habitantes desses países continuam a fazê-lo porque é uma tradição. Do mesmo modo, realizamos touradas em Portugal porque foi algo que “sempre se fez”. Uma das coisas que o anúncio tenta mostrar - e com a qual concordo plenamente – é que o facto de as touradas serem uma tradição nacional não as torna moralmente correctas. O facto de se realizarem há muito tempo nada tem a ver com as razões que há para o fazer ou não. Aquilo que é relevante e deveria ser discutido é o sofrimento dos animais ou a sua inexistência.

Trabalho realizado por: Ana Marta Nunes e Inês Ambrósio, 11º C.

sábado, 22 de janeiro de 2011

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Falácias e palhaçadas

palhaços

Pretender que uma teoria económica é falsa apenas porque o seu autor está envolvido num caso de corrupção é falacioso. Trata-se da falácia ad hominem. Esta consiste num ataque pessoal injustificado. Em vez de discutir as próprias ideias, tenta-se refutá-las atacando características pessoais do seu autor que são irrelevantes para o caso. Regressando ao exemplo, não é plausível que a honestidade ou desonestidade de um economista tenha relação directa com a verdade ou falsidade das suas teorias.

Para haver falácia os aspectos pessoais visados têm de ser irrelevantes. Caso sejam relevantes o argumento é válido. Duvidar do testemunho de um indivíduo alegando que é alcoólico e passa o dia embriagado pode não ser falacioso, pois sabe-se que o álcool perturba a percepção e por isso o seu alcoolismo poderá ser uma característica pessoal relevante para o caso.

Quando apreciamos as afirmações e as acções dos políticos, a consideração de algumas características pessoais é frequentemente relevante e não falaciosa. Por exemplo: a eventual homossexualidade de um ministro é irrelevante para a avaliação das suas decisões financeiras, mas torna-se relevante na avaliação da sua actuação política caso ele defenda publicamente a discriminação dos homossexuais. A natureza da actividade política, nomeadamente o enorme impacto que tem na vida dos cidadãos, faz com que seja relevante estes conhecerem eventuais incoerências entre o discurso e a prática dos detentores de cargos políticos.

Vem isto a propósito do facto de alguns governantes (em Portugal e noutros países, como por exemplo a Grécia) andarem actualmente a exigir sacrifícios aos cidadãos: aumentos de impostos, cortes salariais, etc. Pedem também às pessoas para aceitar esses sacrifícios sem protestar, apelando ao seu patriotismo e sentido de cidadania. Creio que, ao avaliar esse pedido, é relevante ter em conta, não apenas as dificuldades económicas actuais, mas também a prática seguida por esses governantes nos últimos anos no que diz respeito à utilização dos dinheiros do Estado, pois há indícios e até provas de que essa gestão foi pouco rigorosa e pouco competente - e, nalguns casos, fraudulenta. Confrontar as actuais afirmações desses governantes com aquilo que têm feito não constitui, portanto, uma falácia ad hominem.

Quando faço essa confrontação lembro-me logo da história dos palhaços que, poucos minutos depois do seu número, regressaram ao palco gritando: “Fogo! Fogo! Há um incêndio! Fujam!” Os espectadores, julgando tratar-se de mais uma palhaçada, riram em vez de fugir. Resultado: no incêndio morreram diversas pessoas e várias outras ficaram feridas.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Non sequitur: qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência

Cartoon encontrado no blogue The Daily Irrelevant sem referência ao autor.

Non sequitur: «Expressão latina que significa literalmente "não se segue". Diz-se dos argumentos (falaciosos) em que a conclusão não se segue das premissas.» DEF - Dicionário Escolar de Filosofia

sábado, 17 de janeiro de 2009

O que é um argumento bom (ou cogente)? - 1

“Um argumento é um conjunto de afirmações de tal modo estruturadas que se pretende que uma delas (a conclusão) seja apoiada pelas outras (as premissas)” (Desidério Murcho, “Argumento”, DEF). As premissas constituem razões a favor da conclusão, ou seja, pretende-se que justifiquem a conclusão.
Dito de modo mais coloquial: temos um argumento quando defendemos uma ideia (a conclusão) relacionando-a com outras ideias (as premissas).
Argumentamos para convencer alguém, para lhe mostrar que a ideia contida na conclusão é verdadeira. Muitas vezes argumentamos para convencer outras pessoas, mas pode também suceder que ao pensar num argumento estejamos a tentar convencer-nos a nós próprios.

(Alguns argumentos têm só uma premissa, mas por facilidade de expressão utilizarei a palavra no plural.)

Um argumento para ser bom ou cogente tem de reunir três condições: ser válido, ter premissas verdadeiras e ter premissas mais plausíveis que a conclusão.

Vejamos a importância de cada uma dessas condições.

Um argumento válido é um argumento que possui a seguinte característica: se as premissas são todas verdadeiras é impossível (no caso dos argumentos dedutivos) ou improvável (no caso dos argumentos não dedutivos) que a conclusão seja falsa. Isso significa que há uma conexão lógica tal entre as premissas e a conclusão que esta se segue daquelas.

(Uma explicação mais completa da validade implicaria explicar o conceito de forma lógica e distinguir argumentos formais e informais, bem como argumentos dedutivos e não dedutivos. Para perceber esses conceitos o leitor pode consultar o DEF e os posts do Dúvida Metódica publicados com a etiqueta validade.)

Se, ao conversarmos com alguém, utilizarmos argumentos inválidos, não seremos levados a sério. Ainda que o nosso interlocutor aceite as nossas razões (ou seja, considere verdadeiras as premissas) poderá rejeitar a conclusão.
A invalidade de alguns argumentos não é nada evidente e a sua detecção implica conhecimentos de Lógica (os argumentos inválidos que parecem válidos chamam-se falácias).
Mas no caso de outros argumentos essa detecção é mais fácil e, mesmo que se trate de uma pessoa sem conhecimentos de Lógica e até desconhecedora da palavra “inválido”, poderá dizer: “Uma coisa não tem nada a ver com a outra”.

Por exemplo. Tentando convencer a mãe a dar-lhe mais dinheiro, um rapaz disse-lhe: “A Vera disse que gosta muito de mim, mas já não quer namorar comigo. Além disso, tenho um TPC de Matemática para fazer para amanhã. Portanto, seria justo que me aumentasses a mesada.”
Por pouco que a mãe saiba de Lógica, poderá facilmente retorquir: “Lamento que ela não queira namorar contigo e espero que faças um TPC muito bom, mas não vejo que relação tenha isso com a mesada ser ou não aumentada”. Se a mãe desse rapaz fosse professora ou estudante de Filosofia, e tivesse portanto alguns conhecimentos de Lógica, poderia simplesmente dizer-lhe: “o teu argumento é inválido e por isso nada prova”.

Se formalizarmos o argumento do rapaz a falta de conexão entre premissas e conclusão (a invalidade, portanto) torna-se ainda mais óbvia: P & ¬Q, R╞ S. É óbvio que, sejam quais forem as proposições que substituam essas variáveis, é possível que as premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa. No caso do argumento apresentado pelo rapaz, as premissas são (nas circunstâncias descritas) verdadeiras, mas a conclusão pode ser falsa: imagine que a mesada já é elevada e até foi aumentada recentemente, apesar de a mãe não nadar em dinheiro; nessas circunstâncias o aumento da mesada não seria certamente justo.

No entanto, não basta a validade para um argumento ser bom ou cogente. A validade é uma condição necessária mas não suficiente da cogência. É também necessário que o argumento tenha premissas verdadeiras.

Por exemplo. Todos os deficientes portugueses são cidadãos da República Portuguesa. Todos os cidadãos da República Portuguesa beneficiam da igualdade de oportunidades em termos sociais, profissionais e políticos. Logo, todos os deficientes portugueses beneficiam da igualdade de oportunidades em termos sociais, profissionais e políticos.

O argumento é válido, mas é mau: a segunda premissa é claramente falsa e por isso a conclusão é também falsa. Dizer que é válido significa dizer que caso todas as premissas fossem verdadeiras a conclusão também seria verdadeira. Mas, como de facto uma das premissas é falsa, esse argumento não consegue assegurar a verdade de conclusão.
Se tentarmos convencer uma pessoa de que “todos os deficientes portugueses beneficiam da igualdade de oportunidades em termos sociais, profissionais e políticos” ela poderá justificar a sua discordância dizendo: “isso é falso, pois também é falso que todos os cidadãos da República Portuguesa beneficiam da igualdade de oportunidades em termos sociais, profissionais e políticos”.

Sendo assim, além de ser válido, um bom argumento tem de ter premissas verdadeiras. A um argumento válido com premissas verdadeiras chama-se argumento sólido.

No entanto, a solidez não basta para um argumento ser bom ou cogente: a solidez é uma condição necessária, mas não suficiente. Um argumento pode ser sólido e, no entanto, ser um mau argumento.

Para um argumento ser bom ou cogente tem de possuir, além da solidez, premissas mais plausíveis que a conclusão.

Essa terceira condição será explicada noutro post.


Bibliografia:

Aires Almeida e outros, A Arte de Pensar – 11º Ano, Didáctica Editora, Lisboa, 2008.
Desidério Murcho, “Argumentos Sólidos”, De Rerum Natura.
DEF – Dicionário Escolar de Filosofia, direcção de Aires Almeida.