Estão bem. 'São uns comilões e estão sempre a pedir festas', disse o dono.
Ai que saudades, meus queridos.
Nenhum homem é uma ILHA isolada; cada homem é uma partícula do CONTINENTE, uma parte da TERRA; se um TORRÃO é arrastado para o MAR, a EUROPA fica diminuída, como se fosse um PROMONTÓRIO, como se fosse a CASA dos teus AMIGOS ou a TUA PRÓPRIA; a MORTE de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do GÉNERO HUMANO. E por isso não perguntes por quem os SINOS dobram; eles dobram por TI - John Donne
Imaginem, estava eu embrenhada nos meu planos de prazos e planeamentos quando me lembrei do Pararata!
O Patarata era um amigo meu do ciclo e do secundário ( até ao 9º ano). Era uma pessoa muito especial. Eram doze anos de vida dura que ali estava!
Família atípica, ou antes, deveria sê-lo, pois era muito comum naquela época: pai trolha, alcoólico, mãe costureira e três irmãos mais velhos.
Com o pai ninguém contava, os filhos esses eram o amparo da mãe. O irmão mais velho, trintão (naquela altura era velho!) já na altura, era electricista, estabelecido por conta própria e era o pilar económico da casa. O outro irmão, solteiro, tal como o mais velho, era picheleiro. A irmã, a mais próxima do Patarata, seis anos mais velha, frequentava o curso de educadora de infância, dando também explicações a miúdos em casa para patrocinar os estudos.
Nenhum deles, para felicidade da mãe, de quem os filhos eram o seu orgulho, se meteu a ser ladrão nem drogado, apesar de viverem num ambiente que seria desculpa para tal!
O Luís, nome próprio do meu amigo, era super divertido e de uma criatividade como eu vi poucas pessoas. Não gostava de futebol nem de brincadeiras de rapazes, pelo contrário, alinhava nas brincadeiras das raparigas, que mesmo assim não eram um exemplo de feminilidade. As brincadeiras mais femininas das raparigas era saltar ao elástico, o resto estão a ver…
Nas aulas de trabalhos manuais ensinava as raparigas a cozer à máquina, fazia-lhes os moldes dos trabalhos…
Estava habituado, era ele quem fazia as suas sacas para a escola com calças de ganga velhas e nas alturas de muito trabalho da mãe, todos em casa ajudavam na costura. A mãe era costureira de trabalhar à peça e quantas mais peças fizesse mais ganhava… não se podia perder a oportunidade!
Quando acabamos o 9º ano, cada um foi para uma escola diferente, consoante as áreas de estudo que escolhemos. Ainda o vi algumas vezes no autocarro, mas depois perdi-o de vista. Passados alguns anos, já andávamos na universidade encontrei-o na rua, estava na UTAD ( universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro) a estudar Engenharia zoológica.
Gostava muito de o reencontrar, tenho saudades dele, provavelmente de uma pessoa que já não existe, pois as pessoas mudam e tornam-se seres completamente diferentes!
Aqui há tempos lembrei-me de no google meter o nome de alguns amigos que tinha perdido e encontrei o nome dele como sendo professor assistente da UTAD. Enviei-lhe um email, mas não obtive resposta... provavelmente já não se lembra de mim... da Gata Chalupa... era assim que ele me chamava!
Nota: o corrector ortográfico não está a reconhecer a palavra 'picheleiro'... é porque o senhor que está lá atrás a corrigir o meu texto não é do norte...só conhece 'canalizador'!