da solidão de um pai
da sua transfiguração
pelas mãos de uma mulher
em monstro
do seu crescente sentimento
de insignificância
de nada disso
é falado
não há fogo a sair da sua boca
e tanto arde o seu peito e o mar
ruge e urge à garganta
tantas vezes ancilosada pela dor
do estreito que vai do coração ao pensamento
as palavras são pedras não medem
distâncias traçam trilhos agrestes
incomensuráveis onde a pouco
e pouco o pai encontra o seu conforto
disso ninguém
fala da solidão e do silêncio
que se alojam não disso
ninguém fala de como saiu o amante
no romper das águas
de como caiu a primeira neve depois
o gelo depois veio
a chuva quando já manhã entrou
à noite o inimigo no chão
junto aos cães sê bem-vindo
pai
acomoda-te ao teu papel
3 comentários:
soco no estômago. angústia. dilacerante.
Caro José, obrigado pela partilha. Um abraço
Não sei se o seu agradecimento sobre a partilha foi pela real partilha do poema que fiz no meu perfil de facebook. Se não foi, não o lamento, até porque não frequento assim tanto aquele sítio e, ao mesmo tempo, não sou muito lido ali. Ainda assim, tão forte realidade do poema fez com que lá o partilhasse quando me decido utilizar essa rede social. Isto porque o meu blog - como o seu - é um blog feito para os meus escritos, não um painel para mostra e/ou fazer citações, sequer considerações em jeito de diário. Não agradeça, é um privilégio ler o que escreve, e há muito tempo que o faço. Pudesse a blogosfera ressuscitar os seus teus áureos, e os facebookes eram uma mera história. Agradeço a resposta.
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