sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Conto

A descoberta que se não consegue tapar com pano nem vontade


Nas desconsiderações acostumadas com o destino, a moça embeiça pela vida no descuido próprio de quem ressabe fundos e quer desposar pelo mistério, um brinde solto, naquela rua que esgueira para o restolho do peito.

Por isso, de crença boquiaberta, deu com pousadas nas baixas mãos aquelas todas juntas palavras, em namoro com o milagre que faz trocar até as escadas de chão e, precipitá-la a ela, no manso acidente que mesmo todos, sonham: a tontura que corta a direito para o céu.

Foi assim, que rescendeu os sentires subidos das páginas no seu colo de vestido com seios, e se infernizou capazmente de doces vontades sem fim de vista. Aquelas palavrandades de cor madura, cozinham nela um feitiço de preto, ficam um beijo grosso num sítio onde não se vê senão, num repente, ternurentos e espumosos mares no sem parar dos olhos.
Saõ essas culposas palavras, que sem motor dentro delas, descabelam os medos nos seus rumores e sopram em chuvas de dentro, desejos de se ser melhor, nos quentes anseios.

Fica só !!- comanda a si mesma.
Onde aquieta ela, o seu palpitante volume apinhado de sensibilidades?
Se não baixo as suas cálidas costelas, então só mesmo no parapeito de dois andares de um coração, tão soba daquela escrita, que lhe engole a existência de hoje em hoje, numa irmã sede.

(Um mimo, ao António Mateus)

Deliciosa leitura

Lançamento de livro:

"Selva Urbana" de António Mateus
(escritor e jornalista)
Apresentação:
José Rodrigues dos Santos

5 Dezembro 2007 - 19.00 hrs
Universidade Nova (Av. de Berna)

Toque na cobra e entre


Puxador de porta. Nova Iorque. 2007

Foto Jota Esse Erre

Sinais


Desenho Maturino Galvão

Arrastão


Agora em http://arrastao.org

"Os quase vestidos e os quase vivos"

"Einstein é sinónimo de génio. Todas as mães querem ter um na família. Qualquer aspirante a inteligente tem um poster dele na parede do quarto. Os Estados atropelam-se para contar um entre os rebanhos que pastejam. As oficinas de automóveis contratam-nos na hora. Mas, bem vistas as coisas, é muito cagaçal para nada, porque, ao contrário do que se pensa, a essencial fórmula do físico alemão não teve impacto algum nos assuntos humanos. Não lhe vemos rasto nas Ciências. A Filosofia passou-lhe ao lado. Então no quotidiano prático, nicles, nada, népia. Não, não é a fórmula da equivalência entre massa e energia, a célebre E = mc2, que até os Big Audio Dynamite cantaram. Mas de uma outra muito mais vital: “se A é igual a um sucesso na vida, então A é igual a X, mais Y, mais Z; sendo X o trabalho, Y o divertimento e Z manter a boca fechada”. (Na era dos cabarets e das Big Bands, a bomba loira, Ina Ray Hutton, sabia divertir-se “Doin’ The Suzy Q”. Entre 1934-39 ela foi chefe de orquestra das Melodears. A festa era de arromba quando as mulheres could jazz!).

A fórmula A = X+Y+Z é tão vista como o canal Parlamento. Trabalhar, ao mesmo tempo ter prazer nessa actividade, e sobretudo não dizer disparates, para alcançar sucesso na vida, não faz parte dos planos do país da Marguerite Yourcenar de jeans e bota cano alto – a Carolina Salgado, a escritora das “Mémoires d’Hadrien” do norte. (Uma desopilada reflexão sobre triunfos na bola, poesia faducha e paixão no actual império português). Desde o leme da nação, ao rapaz que fecha as portas, atropelar a fórmula de Einstein, é palavra nossa de cada dia. Cavaco Silva vocifera conterrâneos, portugueses, emprestem-me os vossos ouvidos: “ainda há muito a fazer para o aproveitamento das riquezas do mar”. Vamos ao carapau e à amêijoa minha gente, que nas lotas privadas, até os cestos se vendem. (Tcharan! As minas de salmão dão à costa!). No outro extremo da escala social, Silva Pereira, ministro da Presidência do Conselho de Ministros, explicava que o Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades foi uma “intensa sementeira” de comportamentos e valores que permitirá colher – no futuro – o “fruto saboroso de uma Europa mais justa”. Mnham, mnham… e a água cresceu nas bocas europeias desiguais. (The Nicholas Brothers trabalharam que se fartaram mas nunca atingiram o sucesso dos whities que também dançavam nos filmes de Hollywood. Na infância. Mais crescidos em “Lucky Number”. Adultos em “I've Got a Gal in Kalamazoo”. Com a orquestra de Glenn Miller, em “Chattanooga Choo Choo”, e com a de Cab Calloway em “Jumpin’ Jive”)."
Táxi Pluvioso a seguir, com links, no Pratinho de Couratos

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Chipre (3)



Nicósia. Chipre. 2007

Fotos FFC

Negri e o "Adeus ao Socialismo" (2)

O livro de Antonio Negri ressalta de uma longa conversa com Raf Valvola Scelsi. São 15 partes de um todo trabalhado pela tentativa de constituição de um novo paradigma sobre a resistência, "resistir para vencer quem nos quer explorar", assinala, já que os conceitos de "resistência e de democracia se legitimam". "O direito à resistência é fundamental, como o é de resto também o direito à desobediência. Isso constituem direitos radicais. É a demanda, a reivindicação, que está na origem do verdadeiro pacifismo. Nisso se coloca/disponibiliza um dispositivo que está na origem da instituição de novos poderes e direitos".

Negri ataca de frente os revisionistas, como Furet e Nolte, que tentam justificar a hipocrisia de um socialismo sem violência ou liberdade."A luta de classes na Rússia representou uma experiência extrema. Isso foi qualquer coisa de monstruoso. Porque consistiu no ataque não só à superstição das religiões, como aos interesses convergentes da propriedade e da ideologia burguesa, foi portanto, qualquer coisa de muito duro".

"Quando falo de corpos, quero sublinhar que uma coerência se coloca entre a argumentação e a troca efectiva de informação, entre o eu e o tu. É desse modo que a iniciativa política se torna efectiva e escapa aos antigos modelos de que a ideia de partido representava a finalidade, da forma: primeiro o movimento, em seguida o partido. O que é que hoje substituiu o partido? Não se vislumbra. Toda a série de tentativas que visavam propor uma nova definição sobre o partido, não resultaram em nada de bom, e observamos que sempre que se quis definir o partido, isso traduziu-se pela formulação de uma tangente em relação aos problemas reais", formula preclaro.

Antonio Negri "Adeus ao Socialismo", Edit. Au Seuil. France 2007

FAR

Sinais


Desenho Maturino Galvão

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Halloween - Um Dia de um Dread de 16 anos

Ignorem o video, que é uma montagem fraquinha, e concentrem-se na letra. Com o grande hino do hip-hop contemporâneo portuguès terminamos a viagem pela nova música negra lusófona. Muito em breve nova viagem por outras latitudes.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Sinais


Desenho Maturino Galvão

Discípulos


"Se realmente me amas, não sejas meu discípulo"
Nietzsche

Falou o Grilo Falante

Soares resolveu mostrar-se como o Grilo Falante.
Pinóquio nem se dignou a responder, mandou um Canas.

A estória repete-se. Pinóquio é um arrogante que arrepia caminho e não dá ouvidos a ninguém.
Na próxima sexta-feira há-de estar na Terra dos Brinquedos e, ao fim de cinco meses, descobrirá que lhe nasceram um par de orelhas asininas.

Felizmente, que haverá um 'deus ex machina' que o virá tirar de tais provações e o há-de levar para mais altos cargos, vide Guterres, vide Durão.
Estes Pinóquios que chegam e estragam e que se safam...

Estes Grilos que falam quando o mal está instalado...

Londres (4)


Bushypark,Teddinton. Londres. 2007

Foto Maya Santimano

domingo, 25 de novembro de 2007

Sinais


Desenho Maturino Galvão

Mambo 30

O objecto

A desfiguração também é na coisa.
Consolada por ter sido leito de acordes, ainda ilude com brilho volumoso, resiste a estar rompida, mas já se abaula em escurecimentos.
Nesse enjaulamento pelo silêncio permanece em trajecto de morte, a coisa numa fidelidade visceral ao rosto, que a embelezou em demasias.
Vorazmente incendeio-me sem ser por partes, com o desprazer do mudo objecto, mas sempre incompletamente.
Há o rosto.

(Por ti, Pai)

Kok Nam (3)




Babushka na padaria


No enclave russo de Brighton Beach, em Nova Iorque, onde tudo é russo, uma padeira atarefada. 2007

Foto Jota Esse Erre

sábado, 24 de novembro de 2007

Kok Nam (2)




Negri e o "Adeus ao Socialismo" (1)

Trata-se do mais recente livro do grande pensador italiano. Consiste num ataque mirabolante e complexo aos preconceitos da Esquerda clássica.
A tradução francesa de "Goodbye, Mr Socialism", data da Primavera passada, e foi publicada pela edit. Au Seuil. Négri assinala entre outros pontos axiais da sua argumenação que: 1) O ciclo "agressivo neo-liberal terminou"; 2) O recuo do "Estado-providência é menor"; 3) Assiste-se a uma "recomposição revolucionária das pessoas"; 4) Perspectiva, por encanto, um "comunismo do capital", produto das acções e dos fundos de pensão a sererem desviados...

"O capital não pode sobreviver sem exploração. Os padres e os socialistas acreditaram, desde sempre, que podia existir uma justa medida de exploração. Mas não pode. Isso não existe. Não há lugar nem para uma relação correcta entre o desenvolvimento e o comando descentralizado, nem para um capitalismo equitável e permanente", acentua. Para indicar, em desdobramento: "O socialismo não é outra coisa senão a transformação estatista do capitalismo".

Négri diz que o regime salarial está em crise. "Hoje, penso que é o novo ciclo do trabalho precário, imaterial e cognitivo, que está em vias de se tornar fundamental. Não somente aqui, mas por todo o lado, num interior de um mercado global unificado até à China. Isso constitui a nova forma de trabalho: é o novo terreno de revolta da força de trabalho. è aqui que se tornaa necessário o " desejo comunista ", pontua. E acrescenta: " Os critérios de avaliação da riqueza não dependem mais da lei clássicas do valor e do desenvolvimento industrial, mas de um processo cada vez mais ligado estreitamenteao controlo das populações e das sociedades, portanto aos dispositivos de biopoder".
"A partir do momento em que se começa a passar de uma economia de subsistência a uma economia de excedente, o trabalho cognitivo torna-se cada vez mais fundamental e obtém-se uma produtividade que não se pode avaliar mais. Isso é uma crítica radical da concepção economicista do real", sintetiza.

FAR

Kok Nam (1)




sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Sérgio Santimano em Bamako


"Niassa, "Terra Incógnita", de Sérgio Santimano, nos 7ºs Encontros de Bamako, que se iniciam no sábado. A Finlândia é este ano o país convidado (em 2006 foi a Espanha) e Santimano, que reside na Suécia, é a única presença da África lusófana.
As fotografias expostas em Bamako ("Dans la ville et au-delà" - Musée National du Mali) publicaram-se no livro "Terra Incógnita", que Sérgio Santimano editou em Upsala/Suécia em 2006, na sequência de um projecto de trabalho dedicado à província do Niassa, a mais distante de Maputo, palco decisivo da luta da independência e imenso território ainda praticamente virgem, aonde estão a chegar novas marcas de desenvolvimento económico e social.
As viagens do fotógrafo iniciaram-se em 2001-2003 e concluiram-se em 2005 de forma a acompanhar alguns marcos da reconstrução do Niassa após o termo da guerra civil, na área das estradas e da energia eléctrica. É um trabalho directamente comprometido com a população da província e com o seu desenvolvimento - "terra épica de Moçambique e lavra do futuro", escreve S.S.
De um preto e branco que recorta esculturalmente as formas, sublinhando a beleza das emoções, a uma cor mais documental, S.S. amplia os seus meios de trabalho. Entre o álbum fotográfico e o registo informativo da transformação da paisagem, são várias as dimensões convergentes deste projecto e deste livro - tornado possível por dinâmicas internacionais de apoio ao povo moçambicano e profundamente comprometido com ele.
o livro:
TERRA INCÓGNITA by Sérgio Santimano. M'siro (ed. do autor), Uppsala, Suécia, 2006), n. pag., 600 MT. Textos do autor, Albino Magaia, Henning Mankell, Bo Hammarstrom e Luís Carlos Patraquim (bilingue, port-ing., P/B e cor, fotos de 2001-03 e 2005)
DE DOIS em dois anos, a fotografia africana reúne-se em Bamaco, capital do Mali, com o apoio decisivo das estruturas da cooperação francesa (em especial, da associação Afrique en Créations, de Paris) e, de novo, sem a participação ou a presença da cooperação portuguesa. António Ole e Sérgio Santimano, de Angola e Moçambique, respectivamente, estiveram presentes como representantes da área lusófona.
O Gana é o país em destaque nos III Encontros de Fotografia Africana de Bamaco. Os festejos da independência, em 1957, presididos por N'Krumah, constituem o tema de uma das mostras, a par de uma recolha de antigos e actuais fotógrafos de estúdio e de mostras colectivas sobre os casamentos tradicionais e sobre o boxe, o desporto mais popular no país.
Outras participações incluem a Argélia, com o fotógrafo Omar D., activo desde 1971, Marrocos, representado por Nabil Mahdaoui, e a Tunísia, com Hichem Driss, todos eles implicados em projectos de identificação cultural das sociedades a que pertencem. Mais extensa é a presença da África do Sul, com uma recolha histórica de retratos de famílias negras das classes médias, uma colectiva de jovens fotógrafos formados no Instituto de Promoção do Jornalismo de Joanesburgo e ainda mostras individuais de Georges Hallet, Rafs Mayet, Themba Radebe e Cedric Nunn.
António Ole, que é um artista plástico com uma trajectória reconhecida, apresenta sob o título «Díptico» um conjunto de fotografias juntas em painéis duplos, com segmentos de fachadas de casas e paredes, organizados segundo contrastes ou afinidades formais, a cor e as marcas estratificadas do tempo.
Sérgio Santimano, que recentemente expôs no Arquivo Fotográfico de Lisboa, expõe um trabalho de reportagem sobre Cabo Delgado. Depois da guerra e à distância dos mais habituais testemunhos sobre a pobreza africana, o fotógrafo pretende mostrar «uma nova respiração social» no seu país, «longe das imagens correntes de violência, da fome ou das famílias abandonadas».
Nos encontros participam igualmente a Costa do Marfim, Madagáscar, Egipto e Nigéria, para além do país de acolhimento, o Mali, que prossegue, depois da descoberta de Seydou Keita e Malick Sidibé, a pesquisa de uma grande tradição africana de fotógrafos de estúdio, agora com Félix Diallo, os irmãos Traoré e Touré M'Barakou
."
Alexandre Pomar

Notas de uma noite à Esquerda

Quando cheguei já tinha, naturalmente, acabado o debate, e, soube-o mais tarde, também o José Mário Branco tinha dado o seu (breve) concerto (e assim continuo sem ver ao vivo o autor de uma dos mais extraordinários álbuns da música portuguesa, o duplo Ser Solidário). Esperava-me o Grande Soba João Carapinha, já presente. Pergunto-lhe como ia aquilo. "Uns gajos no palco a dizer aquelas palermices do costume da esquerdalhada, chinesices, uma coisa sem interesse nenhum". Mas se esperava o habitual, aguardava-me o surreal: um black com ar de intelectual do ghetto: "Incluir, ya? Cidadania, ya?". Ok. Retiramo-nos para a sala de convivio, e eis o primeiro grande momento da noite: durante uma interessante conversa sobre Heidegger e as implicações das opções políticas na Filosofia, o João Carapinha interrompe: "Olha lá, já viste que as gajas aqui olham todas para mim como se eu fosse Jesus Cristo?" "É o teu ar de MFA, para elas é a mesma coisa", respondo. E eis que o Grande Soba dá o salto em frente, gritando "COPCON! Eu fui do COPCON! Ameacei bombardear a esquadra da PSP da Praça do Comércio!". Infelizmente para o Soba, sem grandes consequências.
Mais tarde, iniciou-se o concerto hip-hop. É curioso como agora o pessoal da Esquerda parece que descobriu o hip-hop, um estilo que muitos ignoravam, e até desprezavam. Prova disso, o facto de insitirem em abanar-se, bambolear-se, mexer-se ridiculamente à dread, ao som de uma coisa inenarrável em que os bacanos do ghetto (Incluir, ya? Cidadania, ya?) debitavam umas rimas imperceptíveis ao som (som?) de uma batida pobrezinha. Mas estes gajos já ouviram o Halloween? Vão mas é ter umas lições de ghetto, meus! (private joke, só acessivel a quem sabe o que se passou num certo concerto em Almada do rapper de Santo António dos Cavaleiros).
Segundo grande momento da noite: uma freakzita com os seus 18 anos fala sem parar com um mano com ar de "se te encontrasse lá fora roubava-te": "Ah e tal, vamos jantar à minha casa na Mouraria... Mas já não me respeitas? À bocado dizias que me respeitavas...", enquanto o black vai ficando com uma cara cada vez mais fodida, e eu começo a temer pela segurança da garota. Enfim. Entretanto o Grande Soba era constantemente abordado com diversas conversas que terminavam invariavelmente em "Fala com o Zé Mário", o que o estava a começar a aborrecer porque, soube-o aí, o Grande Soba não grama o Zé Mário, desde certas histórias do tempo da outra senhora.
Acontece que, mercê da cerveja, já a disposição do Grande Soba tinha mudado completamente, e ei-lo a tecer loas ao pessoal de Esquerda, "Uns gajos porreiros, sentes-te em casa, acolhem-te, sorriem, e as gajas olham todas para mim, insisto, TODAS para mim". Terminámos a noite em interessante diálogo com uma tipa que dizia votar sempre em branco, exceptuando quando votou no Cavaco, um professor de Yoga e um fanático pela Psiquiatria (ou seja, os gajos mais fora que conseguimos encontrar), em que o principal tema em liça era a oposição de perspectivas entre mim "Em Política sou extraordinariamente prudente" e o Grande Soba "Sou um comunista radical!". Uma noite à Esquerda.

Frases da noite:

João Carapinha: "As gajas de Esquerda incluem, as gajas de Direita excluem"
André Carapinha: "Há muitos gajos de Esquerda que são uns grandes totós, mas são todos educados e simpáticos"
João Carapinha: "Não gosto de ninguém neste mundo. Mas gosto das mulheres"
André Carapinha: "Somos da ala dos cínicos"

Dal treno




Sardenha. 2007

Fotos Francesca Pinna

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Maurice Béjart morreu


(foto tirada de www.newchatter.com)

O criador do Ballet do Séc.XX, de fama mundial, livre, libertino e audacioso morreu hoje em Lausanne, cidade onde se estabeleceu há cerca de 20 anos.


"Le chorégraphe français Maurice Béjart est mort à l'âge de 80 ans, a annoncé jeudi le Béjart Ballet Lausanne, qu'il dirigeait depuis 20 ans dans la cité suisse.

Né le 1er janvier 1927 à Marseille, Maurice Berger (qui devait plus tard adopter, en hommage à Molière, le patronyme de l'épouse de celui-ci, Armande Béjart) est le fils du philosophe Gaston Berger, qui fut membre de l'Institut. Après une licence de philosophie, il abandonne ses études pour se consacrer à la danse, découverte à l'âge de 14 ans sur les conseils de son médecin pour «fortifier son corps malingre». Il suit une formation classique à Londres et Paris et signe sa première chorégraphie en 1952 pour un film suédois L'oiseau de feu, dont il est le premier interprète.

Dénonçant rapidement un art «coupé des masses», Maurice Béjart innove avec Symphonie pour un homme seul (1955), sur la musique d'avant-garde de Pierre Henry et Pierre Schaeffer. Sous son impulsion, la danse devient physique, sensuelle et les artistes prennent vie. Face à la résistance des cercles traditionnels, il doit s'exiler et rejoint Bruxelles, où son Sacre du Printemps reçoit un accueil triomphal au Théâtre royal de la Monnaie (TRM).

Un an plus tard, il y fonde les Ballets du XXème siècle: ses chorégraphies, montées à un rythme rapide dans la capitale belge avant de partir faire le tour du monde, rencontrent un vif succès. Parmi ses réalisations, figurent le Boléro (1960), la IXème symphonie de Beethoven (1964), Roméo et Juliette (1966), Messe pour le temps présent (1967) ou encore Malraux (1986).

A la suite d'un bras de fer avec le directeur du TRM, Gérard Mortier, Maurice Béjart poursuit son aventure en Suisse en 1987 avec sa troupe, rebaptisée le Béjart Ballet Lausanne, puis avec le Rudra Béjart Ballet (1992), qui dispense une formation de danseur sur deux ans. Il a ouvert également une école à Dakar et à Bruxelles.

Il imagine des créations ambitieuses, frôlant la démesure, comme Ring um den Ring (1990) d'après Wagner, ou MutationX (1998). Plus récemment, on lui doit aussi Mère Teresa et les enfants du monde (2002), Ciao Federico (Fellini, en 2003), Zarathoustra (2006).

Maurice Béjart a été élevé à l'ordre du Soleil levant (1986) par l'empereur japonais Hirohito, nommé Grand Officier de la Couronne (1988) par le roi belge Baudouin, élu en 1994 membre de l'Académie (française) des Beaux-Arts. En dépit d'une carrière internationale, il n'a jamais réussi à s'imposer dans les pays anglo-saxons.
"
Libération

FAR

Debate: "O que é um jornal político popular?"

A não perder, hoje à noite:

Sessão de apresentação e debate "O que é um jornal político popular?"
com redactores e apoiantes do Mudar de Vida.
O debate será seguido de um convívio musical com:
L.B.C. Soldjah (a.k.a. Blacksunt Zureu)
Hezbollah Abugarim
SDD
Kromo di Guetto
R. O. (a.k.a. Kapeta)
Pedro e Clara Branco
José Mário Branco
Hoje, quinta-feira, dia 22 Nov, às 21h30 no Grémio Lisbonense, Lisboa, Rossio (entrada pela Rua dos Sapateiros, 226 - 1º)

(via Bitoque). Eu saio entre as 23 e as 24h do trabalho, vou lá passar a ver se ainda apanho alguma coisa da festa. É com muita pena minha que não posso ir ao debate. Este é um tema que me interessa muito. Que tal irem vocês por mim, para depois contarem como foi?

Chipre (2)


Nicósia. Chipre. 2007

Foto FFC

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Da Capital do Império

Olá,
Como muitos de vocês sabem o meu amigo Armando comprou um GPS. O que significa que agora o Armando já não tem que perguntar a ninguém sobre como é que se vai de sua casa à estação ou de ponto X para ponto Y. Ganhou autonomia.
O Armando claro está não é o único. O táxi que apanhei do aeroporto para a pensão ao pé do Marquês de Pombal também tinha GPS mas disse-me que só o usava quando alguém lhe dizia “quero ir para o pé do café Benfica em Alvalade ou outra coisa estranha do género”.
Aparentemente o GPS pode encontrar esse tal café o que acaba com aquelas discussões tipicamente portuguesas em que dois ou três indivíduos discutem se o melhor meio de chegar ao ponto Y é virar à direita depois da praça ou ir para a esquerda e depois ao pé do café do Melo virar à direita evitando-se a praça que é uma “ganda confusão”. Isto depois de uma grande discussão para saber “qual dos três cafés Benfica” é que se pretende.
Eu tenho a dizer que até há alguns meses atrás não acreditava no GPS. Pensava que era uma daquelas americanices que não funciona. Os americanos como vocês sabem adoram inventar americanices, principalmente a malta da tropa que foi aliás quem inventou o GPS para evitar que as bombas espertas bombardeassem os seus próprios tanques e para o malharal não se perder a caminho de Bagdad e ir parar a Teerão o que só serviria para irritar a malta que governa com pneus de lambreta na cabeça.
Eu não acreditava no GPS. Acreditava isso sim em mapas ou então em pedir direcções e escrevê-las num pedaço de papel tipo “primeira à esquerda, segunda à direita, passas o shopping viras à esquerda” etc.
Mas quando fui à Alemanha para a cimeira do G8 apanhei uma boleia de uma gaja com GPS e o raio da máquina nunca se enganou. E era bilingue!!! E nunca se chateou quando a gaja se enganou uma ou duas vezes. Em vez de se pôr a gritar “porra que te estás sempre a enganar, cum carago”, não. Continuou como se nada tivesse acontecido dando de novo direcções sem alterar a voz. O que é porreiro. Mas que é também prova que no mundo da informatização ganhamos autonomia à custa do contacto humano. Não se pára, não se pergunta, não se fala, ninguém se chateia em público.
O que reflecte de certo modo o paradoxo da Internet que tantas portas abre mas que fecha outras tantas. Na verdade a Internet está de certo modo a tornar-se numa câmara de eco, um local onde se desenvolve uma espécie de narcisismo digital. Isto é: Nós hoje vamos à internet buscar a companhia daqueles que pensam como nós. Alimentamo-nos nos nossos próprios preconceitos, reforçados por outros que com pequenas variações têm os mesmos preconceitos que nós. É a tal câmara de eco. Que é perigosa porque como repete os mesmos preconceitos faz aumentar as pressões sobre a honestidade intelectual. Daí a necessidade de estar sempre na oposição.
Aliás esta compartimentação do mundo levou recentemente alguém a queixar-se num jornal americano que hoje em dia já não há grandes bandas de música como Rolling Stones e outros porque hoje o mercado está subdividido em segmentos em que cada grupo busca o que gosta. O que é bom mas que acaba com as grandes bandas que causavam debates através das fronteiras musicais. Hoje vai-se por segmentos. Há hit parades para todas as espécies de música.
Mas claro está que estou a exagerar. Um GPS é apenas isso: um GPS …
Mas como já estou embalado não posso deixar de notar que outra coisa que eu noto que está a desaparecer é o sindroma “tenho isso aqui mesmo debaixo da língua” ou “porra que eu sei isso, daqui a bocado já me lembro”. Agora vai-se ao Google ou à Wikipedia e está lá tudo. Já não é preciso ter memória de elefante ou então ter que perguntar a várias pessoas se se tiver que saber quando é que morreu o Álvaro Cunhal. Escreve-se o nome no Google e … voilà: Álvaro Barreirinha Cunhal died on June 13 2005. O que prova que já não preciso de memória. O que é bom porque isto surge na altura em que eu estou a começar a perdê-la.
Hoje graças ao Google sabemos tudo … mas será que compreendemos alguma coisa?

Abraços,
Da Capital do Império

Jota Esse Erre

PS – Estou a pensar comprar um GPS. Mas antes disso e para não ter que andar às voltas pelas lojas vou fazer uma busca na internet para saber preços e onde é mais barato.

Londres (3)


Thames River Cruise. Londres. 2007

Foto Maya Santimano

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Pavé sobre a filosofia do devir

Uma "Biographie Croisé" de Deleuze/ Guattari, assinada por François Dosse, acaba de sair na editora La Découverte, em Paris.
Uma perca do primeiro original obrigou-nos a adquirir, em Estrasburgo, de novo, o colossal livro de cerca de 650 páginas. Trata-se com efeito, de um dos grandes acontecimentos do ano. A dupla inconfundível beneficia de um crescendo de reconhecimento nos EUA, Japão, Itália e Inglaterra. Memorável o seminário de três dias com Foucault/Deleuze e Guattari na Columbia University, em Nova Iorque, já em 1975. Para lá de ter induzido a posteriori a constituição de um Centro Internacional de Filosofia na École Normale Supérieure de la Rue dŽUlm.
De incaboudora de Sartre, Althusser, Derrida, a ENS dŽ Ulm é, hoje, a ágora de um conjunto de novos filósofos que defendem com unhas e dentes o legado de Deleuze e Guattári. Élie During,Thomas Bénatouil e Isabelle Stengers, são hoje nomes incontornáveis do novo espaço filosófico francês, entre outros.

Dosse ouviu toda a gente que lidou de perto com Deleuze e Guattari, ao longo dos anos. Traça todas as implicações da sua estratégia, os seus desenvolvimentos, choques e rupturas. Realiza uma maravilhosa e pedagógica maratona conceptual. O perfil da amizade entre a famosa dupla é objecto de uma sucessiva e pormenorizada investigação. Do mesmo modo, analisa com profundidade e sem emoções perdedoras, o encontro de Foucault com Deleuze; e o estreitamento dos laços de inaugural camaradagem entre Deleuze, Chatelêt e Tournier, desde os bancos da Sorbonne.

A génese e desenvolvimento dos conceitos principais dos dois grandes livros escritos pela dupla - O Anti-Édipo e Os Mil Tabuleiros - merece uma exaustiva análise.
"Os primeiros desses princípios são constituídos em torno da conexão e a heterogeneidade. Um outro princípio, o da multiplicidade, com origem em Riemann, adquire uma maior importância do que o de microfísica", diz Deleuze citado pelo biógrafo.

Joaquim Vital, o grande editor português de Paris, que imprimiu o livro de Deleuze sobre Francis Bacon, em 1981, A lógica da sensação, Editions La Différence, revelou a Dosse a história de um jantar falhado entre Deleuze e Bacon. " O jantar foi infecto - tão infecto como o diálogo entre os dois criadores", revela Vital.
Apesar de tudo, Bacon dizia para quem o queria ouvir: " Parece que ele, Deleuze, estava atrás de mim quando eu pintava". Belíssimas histórias as que se prendem com a revelação de uma amizade fantástica entre Deleuze/ Guattari e os seus tradutores italianos e japoneses. Hidenobu Suzuki, membro da extrema-esquerda de Tóquio, chega a Paris para estudar a Língua. Como era admirador de Kafka, descobre Deleuze e os seus livros. Desde 1974 até hoje, Suzuki continua a decifrar a nova filosofia francesa. O mesmo se passa com Giorgio Passerone, vindo de Génova, que traduziu os Mil tabuleiros. Dosse revela-nos que Deleuze deixou um livro inédito - Ensembles et Multiplicités- e Raymond Bellour tem uma entrevista também inédita de centenas de páginas com a dupla, conforme confessou ao biógrafo.

FAR

Do espanto que ainda se vai tendo perante a desonestidade intelectual

É tema recorrente em conversas que tenho com alguns amigos o excessivo destaque que eles entendem que eu dou ao Insurgente: "ajudas a promover os gajos", "andas sempre à volta dos mesmos", etc. Eu costumo replicar que promovidos já eles estão, que um dia destes escrevem nos jornais, que é importante combater as suas ideias, porque são eles que, por mais "revolucionários" que digam ser, são os vencedores do sistema. Contudo, tenho de admitir que começo a duvidar de alguns destes postulados. Dou por mim a pensar se o brilhantismo intelectual que lhes atribuí não foi empolado pelo espalhafato com que apresentam determinadas referências ciêntificas que, confesso, me são algo desconhecidas (a minha área não é a Economia, mas a Filosofia). Mas acima de tudo, desconfio agora da utilidade de entrar em debate com quem utiliza com método primordial o terrorismo intelectual.
Mesmo assim, não resisto (ai a fraqueza humana), a elucidar o "Migas" do seguinte: não é verdade que "um pobre não pode ser liberal porque isso vai contra o seu desejo natural de ter para si o que é de outrém". Nem sequer é verdade que "um pobre não possa ser liberal"; simplesmente, é um facto que, na sua grande maioria, não o são. E não são, não porque desejem "o que é de outrém", mas porque, na imensa sabedoria prática que a vida os obrigou a ter, o que eles desejam é o que é seu, e que lhes é roubado todos os dias: o valor do seu trabalho e a dignidade humana que, muito justamente, julgam ser seu direito.
Também a propósito do título deste blogue que o "Migas" diz que eu "escolhi", só a pura desonestidade intelectual pode ver na referência que contém ao 1984 de Orwell o elogio da "opressão do totalitarismo sobre o indivíduo", e não o contrário. Claro que se o "Migas" se preocupasse em ler o que por aqui se escreve, para lá da sua cegueira ideológica, era capaz de entender o que achamos dos totalitarismos de qualquer espécie, mas isso já era pedir demais. Há coisas que, simplesmente, não podem ser entendidas por determinados interlocutores.
Finalmente, é bem revelador que dos meus dez Aforimos Liberais, o que tenha provocado esta celeuma seja o primeiro: «É natural existirem pessoas mais ricas, e outras mais pobres. O facto de nós, que o dizemos, pertencermos às mais ricas, é uma circunstância da vida que em nada nos afecta a clarividência de o dizer». Esclarecedor. Continuo à espera que os insurgentes me respondam se conhecem algum pobre que seja "liberal". Até lá, encontro-me em reflexão sobre a necessidade e utilidade de dar troco a este tipo de gente.

Ó tempo volta para trás


No enclave russo de Birghton Beach em Nova Iorque alguém tem saudades. Ou será apenas marketing?(notar as pequenas foices e martelos). 2007

Foto Jota Esse Erre

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Mambo 29

Sem desembrulhar

Quereria alongar e alargar um dedo, de forma a que este pudesse ser por ti calcorreado como sendo estrada, quando, com ele aponto sobre o que para mim é o fervor da vida.
Em vez disso, à tua beira exilo-me de vontades e aprendo a arte das ravinas com os seus temporários pássaros, ao sorver os teus não amansados entusiasmos.
O que, é parecido ante o coração e seu lago de inteiras verdades!
Mal se distingue, o que é desmedido em ti e o que é um fundo, que seja desejo meu.

Para um jovem filho

Terra

African Kids /11 (Barragem do Biópio, 06)
Foto:G.Ludovice

Nyimpine já era

Um amigo ligou de Maputo, logo pela manhã, a anunciar-me a morte de Nyimpine Chissano. O “filho do Galo” faleceu durante a noite, na sua cama, provavelmente de AVC. Logo desde manhã, nas barracas e bares da cidade, os maputenses pagavam rodadas uns aos outros, e havia flores frescas no local onde o Cardoso foi assassinado a mando do dito cujo. De imediato começaram a correr sms sobre o assunto, a versão moderna do “telégrafo da selva”. Segundo um deles, o Carlos Cardoso, farto da morosidade da Justiça moçambicana, meteu requerimento a Deus. É feio fazer a festa com a desgraça alheia? “Pois é, bebé”, como diz o meu Zé Luís, mas lá que Moçambique ficou um nadinha mais limpo, lá isso ficou. E por obra e graça dos sms, a notícia até me clareou um pouco esta manhã chuvosa, irredimível anúncio de que o Inverno aí está. É certo que o homem morreu mas nada mudará em Moçambique, porque a espécie está profundamente enraizada, e a governação de papá, mamã e sus muchachos garantiu que a corrupção, o nepotismo e o crime continuarão a vigorar como moeda forte no país. Porém, a morte acaba sempre por baralhar contas, e arrumar velhos processos. O processo por difamação com que o seu advogado me ameaçara, por exemplo, fica em águas de carapau para a eternidade. Nesta hora penso é no Catoja, que está a assistir a tudo já bem instalado na sua nova reincarnação. Pois é. Ás vezes até parece verdade que “cá se fazem, cá se pagam”. Enquanto escrevo estas linhas de pura emoção e irracionalidade, recebo novo sms de Maputo, absolutamente lacónico. E passo a citar: “Só me dói que um gajo assim morra na cama. Com tanto projéctil de 9mm que acerta em quem não o merecia...”


José Pinto de Sá

Dupond e Dupont


O mais curioso nos debates parlamentares desde o final do guterrismo é o facto de o principal, talvez até o único argumento que PS e PSD utilizam é o de "o nosso governo estar a fazer o que o governo anterior não foi capaz de fazer". Este argumento é a confissão pública de que o programa dos dois partidos é exactamente o mesmo, e o que os distinguirá é a "competência técnica". Mas se são partidos gémeos, verdadeiros Dupond e Dupont, para que servirá existirem dois, em vez de apenas um? Ah, já me esquecia: é a alternância democrática...

Il treno


Sardenha. 2007

Foto Francesca Pinna

domingo, 18 de novembro de 2007

Apelo de José Mário Branco

Aos meus amigos e conhecidos

Faço parte de um pequeno colectivo que decidiu lançar, este ano, um jornal político popular chamado MUDAR DE VIDA.
Um jornal de esquerda, em ruptura com o sistema, com uma clara posição anticapitalista, anti-imperialista e que critica o que chamamos "a esquerda do sistema".

O jornal-papel sai todos os meses (16 pág. A4), e não está nas bancas, sendo a distribuição exclusivamente militante.
O jornal online é actualizado diariamente.

Este jornal precisa da vossa ajuda para se aguentar, a ajuda de todos quantos reconheçam a sua utilidade para o movimento social.

Apelo-vos a que tomem conhecimento do jornal (na net) e do seu estatuto editorial, e façam uma assinatura (15 euros, donativo mínimo) na secção "Assinaturas" do site acima indicado. Com 500 assinaturas o jornal fica seguro.

Não basta dizermos que "isto está mal". É preciso fazer alguma coisa para re-politizar as nossas vidas, no sentido nobre que a palavra política pode e deve ter.

Posso contar convosco?

Um abraço,
José Mário Branco

P.S. O Mudar de Vida faz parte da nossa coluna de links Informação Livre, desde a última remodelação do nosso visual. Damos-lhe hoje o devido destaque.

Sinais


Desenho Maturino Galvão

Chipre (1)



Nicósia. Chipre. 2007

Fotos FFC

sábado, 17 de novembro de 2007

Articulista do Wall Street Journal desaconselha o bombardeamento do Irão porque existem dissensões no topo do poder da mullahcracia

Esta é o máximo: não há niilistas, cripto-nietschianos, fernandistas, solistas que me agarrem. Na selva dos Blogues luto. Incito toda a gente a participar, a criticar, a dar a cara. Andamos nisto para acelerar o bom gosto, a libertinagem. Eu não quero liderar coisa alguma. Quero como Makhno ajudar a libertar, a fazer felizes todos quantos o poder tenta aniquilar, por ínvios caminhos. A Fox do Murdoch, aquela intolerável cadeia de intoxicação gwbushista parece que vai fechar. Será que os Clinton irão de novo para a Casa Branca? E, por isso, o Murdoch acelera o seu alinhamento e desfaz-se dos mais-do-que gwbushistas de vómito? Mas, a melhor deste dia 16 de Novembro, é que o Wall Street Journal, recentemente adquirido por Murdoch, publica um artigo de análise e enquadramento sobre o Irão, tudo sobre a estrutura e relações de poder dos Guardas da Revolução, onde é aconselhado que não se bombardeie o país dos mullahs, por ser contraproducente.

O artigo, escrito por um sociólogo residente em França, Amir Thaeri, analisa pormenorizadamente a força virtual dos Guardas da Revolução. Os seus efectivos, o seu enorme poder económico e o capital investido na subversão xiita no Médio Oriente, o que nos provoca: 1 bilião e 200 milhões de dólares por ano . Vocês já pensaram nisto? Só no Líbano, o Irão já investiu mais de 20 biliões de dólares para a manutenção da frente armada contra Israel, desde 1983.

"A few Islamic Revolutionary Guard Corps (IRGC) commanders, including some at the top, do not relish a conflict with the USA, that could destroy their business empires offering Iran victory on the battlefield. There is no guarantee that, in a major war, all parts of the IRGC would show the same commitment to the system. (...) A blanket labeling of the IRGC as " terrorist " as opposed to targeting elements of it that terrorize the Iranian people and others in the region and beyond, could prove counterprodutive". Tudo nos conformes, como diria o outro.

FAR

Londres (2)


Royal Festival Hall. Londres. 2007

Foto Maya Santimano

Sinais


Desenho Maturino Galvão

Terra

Somewildwish/15
Foto:G.Ludovice


"Os trópicos corroem o verniz de Cambridge e de Oxford. Deves saber que lá, na Inglaterra,, todos os ingleses que passaram um período mais longo nos trópicos são suspeitos. Respeitam-nos, reconhecem-nos, mas são suspeitos. Tenho a certeza de que nas suas fichas dos registos secretos há uma nota que diz "Trópicos". Como se dissesse "Sífilis". Ou "Espionagem".Toda a gente que passou um tempo mais longo nos trópicos é suspeita, porque apesar de ter jogado golfe e ténis, de ter bebido whisky na alta sociedade (...) e de ter aparecido de tempos a tempos nas recepções do governador de smoking ou de uniforme, com medalhas ao peito, é suspeito. Porque passou por esse contágio terrível, ao qual é impossível a gente habituar-se e em que há algo fascinante, como em todos os perigos da vida. Os trópicos são uma doença. É possível a gente curar-se das doenças tropicais, mas dos trópicos nunca. (...) Todos ficam contagiados. (...) Lá a paixão está escondida na vida, tal como o tornado se esconde atrás dos pântanos, entre as montanhas e florestas. Paixões de todo o género. Por isso, para o inglês insular, toda a gente que vem dos trópicos é suspeita. Não se pode saber o que há no seu sangue, no seu coração, nos seus nervos. Já não é um europeu simples, de certeza. Não de todo. De nada serve se assinou revistas europeias, se leu tudo no meio dos pântanos, todas as ideias que tinham sido escritas e pensadas nos úiltimoa séculos.. de nada serve, se preservou aquelas maneiras particulares, meticulosamente cuidadosas, que o homem dos trópicos resguarda entre os seus companheiros brancos,, como um alcoólico presta atenção aos seus modos numa festa: comporta-se de um modo demasiado rígido para que não seja possível notar-se a sua paixão, é perfeitamente brando, correcto e bem educado... Mas no seu íntimo é diferente. (...)"
Sándor Márai, As velas ardem até ao fim
Escritor húngaro (1900/1989)

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Sinais


Desenho Maturino Galvão

I- Raoul Vaneigem: "Je veux me battre pour jouir mieux, non pour souffrir moins"

"Quand l´émancipation prolétarise, elle n´est que le masque de l´oppression. Un malade est incurable dès qu´il accepte la maladie, dès que sa volonté de vivre la tolère comme une implantation parasitaire que seul un traitement appliqué de l´extérieur peut résorber ou extirper. Parce que le processus marchand que la classe dominante gère et qui la gère est un processus de mort, tel est aussi son remède. La thérapeutique qu´elle préconise bon gré mal gré est ce qui la tue. Sa solution finale de la maladie de survie tient en une apocalypse de la marchandise universelle."

"Pour les prolétaires, au contraire, la liquidation du sytème marchand n´est qu´un effet de l émancipation des jouissances. Ils peuvent accéder directement à la fin de la prolétarisation- à la fin de la survie-, parce qu´ils ne sont pas gestionnaires de leur propre aliénation. Ils subissent la peine à vivre comme une opression de la classe dominante, et quand ils éprouvent en eux le conflit de la jouissance gratuite et de l´économie, rien ne les retient, au fond, de jetter par-dessus bord travail, contrainte, intellectualité, culpabilisation, volonté de puissance."

"Ce qui réprime le désir sera détruit para le plaisir. Sabotage, absentéisme, chômage volontaire, émeutes, grèves sauvages, propagation de la gratuité, les coups portés à la société marchande se multiplient et je me réjouis que n´y comptent pour rien les mots d´ordre et les incitations. La volonté de vivre n´a que faire des commis-voyageurs du refus et de la radicalité. Elle suffit à subvertir ce qui l´opprime et la falsifie".

In Le Livre des Plaisirs, par R. Vaneigem. Edit. Atelier du possible. France


FAR

Not dirty, not sexy and no money


Metro de Nova Iorque. 2007

Foto Jota Esse Erre

Terra


African Woman/9
(Cubal/06)
Foto: G.Ludovice

"O diálogo: entre quem e sobre o quê?"

Mensagem do Diretor Geral da UNESCO, por ocasião do Dia Mundial da Filosofia – 15 de Novembro de 2007

«“O diálogo: entre quem e sobre o quê?” é a pergunta em torno da qual girará a nova edição do Dia Mundial da Filosofia, acolhido este ano generosamente pela Turquia.

Consolidar os diálogos (políticos, filosóficos, interculturais) e o entendimento mútuo em torno de memórias e valores compartilhados, ambições e projetos comuns, requer, com efeito, um entendimento atualizado das linhas de convergência e divergência, das divisões, dos silêncios, dos mal-entendidos e das situações inextricáveis sempre possíveis.

O principal objetivo desse dia é, portanto, identificar as possibilidades para um diálogo universal, aberto à diversidade dos interlocutores, das correntes e das tradições filosóficas, bem como estabelecer um inventário, observar o mundo e fazer uma re-leitura crítica de nossos conceitos e formas de pensar.

Ao dar a palavra à sociedade civil e aos filósofos, aos historiadores, aos educadores e aos pesquisadores, a UNESCO se propõe a suscitar um amplo debate, aberto à dinâmica das idéias.

Além de ser um fórum de encontro das culturas, o Dia Mundial da Filosofia é, acima de tudo, um exercício coletivo do pensamento livre, racional e informado sobre as grandes problemáticas do nosso tempo.

A UNESCO, por seu lado, tem a satisfação de publicar nesta ocasião um amplo estudo sobre o ensino da filosofia no mundo, entitulado La Philosophie, une école de la liberté – Enseignement de la philosophie et apprentissage du philosopher (A Filosofia, uma escola da liberdade – Ensino da filosofia e da aprendizagem de filosofar), que visa a incorporar a exigência filosófica ao projeto de sociedades do conhecimento.

Faço votos que o maior número possível de Estados Membros respondam presente a este convite e participem na celebração deste Dia, ampliando os debates a todos os atores da Sociedade e em particular aos mais jovens, com a esperança de reconstruir e renovar nossos distintos espaços intelectuais.»

Koichiro Matsuura

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Elite mundial valoriza ultra-liberalismo dos Emiratos Árabes Unidos

Dubai, a capital dos Emiratos Árabes Unidos, tornou-se, há cindo anos a esta parte, na Meca da especulação comercial e imobiliária do Mundo. Os petro-dólares de raiz russa e árabe "fugiram" dos bancos americanos e europeus e refugiaram-se neste reino das Mil e uma Noites. Esta crónica económica do correspondente do Libé, de hoje, acentua esta tendência para o investimento no reino. Bons preços no imobiliário e ausência de uma quase nulidade no pagamento de impostos, estimulam o engodo dos grandes capitalistas russos ou latino-americanos à procura de lucro fácil e seguro.

« «Bénéfice assuré».«Dans la plupart des salons internationaux auxquels nous participons, nous avons remarqué une très forte hausse de la demande de la part de clients russes. Ce sont les prix du marché immobilier de Dubaï qui les attirent. Dans le résidentiel, le mètre carré des appartements ou villas de classe A se situe en moyenne à 3 000 dollars [environ 2 000 euros, ndlr]. Alors qu’à Moscou, les prix pour des logements de qualité très inférieure sont beaucoup plus élevés», explique Mohammed Nazir, un Sri-Lankais directeur général de l’agence Maraicar Real Estate. Beaucoup de ses clients sont de riches hommes d’affaires kazakhs ou russes qui investissent à Dubaï avec la perspective de s’y installer définitivement et d’y transférer leurs activités commerciales. «La corruption est quasiment nulle et vous n’avez pas à payer d’intermédiaires et de fonctionnaires pour votre business comme c’est le cas de façon systématique dans les pays de l’ex-URSS. Par ailleurs, vous ne payez pas d’impôts», explique Russvet Emurlaev, un Ouzbek installé à Dubaï depuis dix ans, directeur de la Deeraj & East Coast LLC, soulignant l’intérêt de «pouvoir investir pour une courte période et revendre avec un bénéfice assuré et non fiscalisé, ce qui est très pratique pour mettre de l’argent à l’abri pendant des périodes d’incertitude économique et politique».
L’explosion de l’immobilier à Dubaï remonte à 2002. C’est à cette époque que le cheikh Zayid ben Sultan al-Nahyan, défunt premier président des Emirats arabes unis, autorise les étrangers à devenir propriétaires pour une durée illimitée d’immobilier résidentiel ou commercial. Il s’agit de faire face à l’afflux soudain de capitaux et de touristes du Moyen-Orient qui, après les attentats du 11 Septembre, ne se sentent plus à l’aise en Amérique du Nord et en Europe. Depuis, Dubaï est devenu un gigantesque chantier où des centaines de milliers de mètres carrés de tours, de villas et de centres commerciaux sont en construction. De grandes sociétés internationales, comme le cabinet Ernst & Young ou Universal, y installent leur quartier général pour le Moyen-Orient.
 »
Ruée russe sur le luxe de Dubaï. JEAN-FRANÇOIS GUÉLAIN
Libération

FAR

Sinais


Desenho Maturino Galvão