Beijinhos e abraços
domingo, 31 de dezembro de 2006
Mais logo com esta gravata (a única que possuo) vou estar com amigos.
Entro o ano numa de prof.
Quero agradecer a Tom Sharpe, o do Wilt, a liçáo que me deu. Não ensinamos, mas aprendemos muito. Referências mais antigas são: Les quatre cent coups e Rumble Fish.
sábado, 30 de dezembro de 2006
A execução de Saddam Hussein
" Um ditador criado e destruído pelos USA"
Em cima da jogada, um artigo de Robert Fisk, do The Independent- Daily.
E publicado agora mesmo no Truthout.org. Resume: Ben Laden fica feliz, a par de
Bush e Blair...
Robert Fisk é um experimentado repórter de guerra e especialista do Iraque. Poucas horas
depois da morte do antigo ditador, revela as suas principais impressões num artigo intitulado, " Um ditador criado e destruído pelos USA". E como conhecedor do pathos árabe
questiona-se: quem sai favorecido desta morte por enforcamento? " Foi uma fácil equação " e acrescenta: " Esperemos que o mundo muçulmano se esqueça que a execução foi feita na véspera da celebração do Eid al-Adha, a Festa do Sacrifício, o momento de maior religiosidade do Mundo Árabe".
Fisk diz que talvez se fale da provável " condenação de outros culpados ". E recorda a invasão do Iraque que produziu centenas de milhares de mortes. "Juntámos a nossa vergonha à antiga de Saddam na prisão de Abu Ghraib . E ainda estamos a conjecturar esquecer estes terríveis crimes quando aplaudimos o rolar da mortalha do ditador que criámos ".
" Encorajámos Saddam a invadir o Irão em 1980, obrigando-o a sacrificar mais um milhão e meio de compatriotas. E quem lhe vendeu os componentes para as armas químicas com que pulverizou o Irão e os Curdos? Fomos nós. Não espanta, por isso, que a América, que controlou todo o processo de Saddam, se abstenha de mencionar tudo isso, as suas mais obscenas atrocidades, nos crimes requeridos contra ele. Não teria sido possível entregá-lo aos iranianos para que eles o sentenciassem? Claro que não. Porque isso teria revelado a nossa culpa".
" Foi o meu colega, Tom Friedman - agora um messiânico colunista do The New York Times - que apreendeu o verdadeiro carácter de Saddam antes da invasão de Março de 2003: Saddam era, escreveu, metade Don Corleone, metade Donald Duck". E nesta singular definição, Friedman captou o horror de todos os ditadores: a sua sádica atractividade e grotesco, inacreditável natureza da sua barbaridade ", frisa.
E remata: " A sua execução decorreu como se de uma questão americana se tratasse - e o tempo acrescentará a esse falso mas pesado simulacro tudo isso - para lá de se aperceber que o Ocidente destruiu um líder árabe que não obedeceu por muito tempo às ordens de Washington"
FAR
Em cima da jogada, um artigo de Robert Fisk, do The Independent- Daily.
E publicado agora mesmo no Truthout.org. Resume: Ben Laden fica feliz, a par de
Bush e Blair...
Robert Fisk é um experimentado repórter de guerra e especialista do Iraque. Poucas horas
depois da morte do antigo ditador, revela as suas principais impressões num artigo intitulado, " Um ditador criado e destruído pelos USA". E como conhecedor do pathos árabe
questiona-se: quem sai favorecido desta morte por enforcamento? " Foi uma fácil equação " e acrescenta: " Esperemos que o mundo muçulmano se esqueça que a execução foi feita na véspera da celebração do Eid al-Adha, a Festa do Sacrifício, o momento de maior religiosidade do Mundo Árabe".
Fisk diz que talvez se fale da provável " condenação de outros culpados ". E recorda a invasão do Iraque que produziu centenas de milhares de mortes. "Juntámos a nossa vergonha à antiga de Saddam na prisão de Abu Ghraib . E ainda estamos a conjecturar esquecer estes terríveis crimes quando aplaudimos o rolar da mortalha do ditador que criámos ".
" Encorajámos Saddam a invadir o Irão em 1980, obrigando-o a sacrificar mais um milhão e meio de compatriotas. E quem lhe vendeu os componentes para as armas químicas com que pulverizou o Irão e os Curdos? Fomos nós. Não espanta, por isso, que a América, que controlou todo o processo de Saddam, se abstenha de mencionar tudo isso, as suas mais obscenas atrocidades, nos crimes requeridos contra ele. Não teria sido possível entregá-lo aos iranianos para que eles o sentenciassem? Claro que não. Porque isso teria revelado a nossa culpa".
" Foi o meu colega, Tom Friedman - agora um messiânico colunista do The New York Times - que apreendeu o verdadeiro carácter de Saddam antes da invasão de Março de 2003: Saddam era, escreveu, metade Don Corleone, metade Donald Duck". E nesta singular definição, Friedman captou o horror de todos os ditadores: a sua sádica atractividade e grotesco, inacreditável natureza da sua barbaridade ", frisa.
E remata: " A sua execução decorreu como se de uma questão americana se tratasse - e o tempo acrescentará a esse falso mas pesado simulacro tudo isso - para lá de se aperceber que o Ocidente destruiu um líder árabe que não obedeceu por muito tempo às ordens de Washington"
FAR
Blanchot: Nietzsche e Klossowsky
" Ao princípio era o recomeço, eis o novo evangelho que, pensando em Nietzsche e aceitando nisso todas as consequências, poderíamos porventura substituir de bom grado ao anterior, sem perder de vista que o antigo já afirmava ( e como seria de outro modo?), na medida em que a palavra, mesmo que seja a da origem, não passa de ser a força da repetição, a que nunca jamais enuncia uma vez por todas, mas ainda mais uma vez, e sempre de novo, de novo. A partir disso se forma uma imensa gargalhada que é o espanto do universo, a abertura do espaço no sentido da seriedade e o humor divino por excelência.
"Porque será bem preciso que o eterno retorno, até ao esquecimento onde atinge a sua revelação como lei, esse eterno retorno onde se estabelece e de qualquer das formas se afirma a ausência infinita dos deuses, venha a querer também o seu regresso. O que Pierre Klossowski revela no seu livro" Un si funeste désir", onde ele se revela e o Nietzsche essencial também.
" Diz ele: " E desta forma se estabelece que a doutrina do eterno retorno se concebe ainda mais uma vez como um simulacro de doutrina cujo sentido burlesco exprime e conforta a hilaridade como atributo da existência confortada em si-própria, sobretudo quando o riso rebenta na profundidade da verdade total, quer a verdade expluda no riso dos deuses, quer os deuses morram de uma convulsão do seu próprio riso. Quando um deus quis ser Deus único, todos os outros deuses se escangalharam de riso até disso acabarem por morrer ".
In Maurice Blanchot, L´Amitié, (dedicado a Georges Bataille).Págs.205/06.
Editions Gallimard, France
FAR
"Porque será bem preciso que o eterno retorno, até ao esquecimento onde atinge a sua revelação como lei, esse eterno retorno onde se estabelece e de qualquer das formas se afirma a ausência infinita dos deuses, venha a querer também o seu regresso. O que Pierre Klossowski revela no seu livro" Un si funeste désir", onde ele se revela e o Nietzsche essencial também.
" Diz ele: " E desta forma se estabelece que a doutrina do eterno retorno se concebe ainda mais uma vez como um simulacro de doutrina cujo sentido burlesco exprime e conforta a hilaridade como atributo da existência confortada em si-própria, sobretudo quando o riso rebenta na profundidade da verdade total, quer a verdade expluda no riso dos deuses, quer os deuses morram de uma convulsão do seu próprio riso. Quando um deus quis ser Deus único, todos os outros deuses se escangalharam de riso até disso acabarem por morrer ".
In Maurice Blanchot, L´Amitié, (dedicado a Georges Bataille).Págs.205/06.
Editions Gallimard, France
FAR
Um bom 2007 para todos!
Amarcord...
Que este ano que entra se apresente tão cheio
como as mamas generosas da dona da tabacaria...
Em quanto ao referendo
Não vou.
Não estou.
É matéria pessoal
logo
não sujeita a voto
ninguém se meta.
O referendo é uma treta.
(Quanto se vai gastar nesta consulta
tão popular?)
Não me levem a mal...
Era só para perguntar...
Sou quem sou e a este referendo não vou, não estou.
A minha pessoa, neste dia, saíu.
E aos senhores do Governo:
-PUTA QUE VOS PARIU!
Não estou.
É matéria pessoal
logo
não sujeita a voto
ninguém se meta.
O referendo é uma treta.
(Quanto se vai gastar nesta consulta
tão popular?)
Não me levem a mal...
Era só para perguntar...
Sou quem sou e a este referendo não vou, não estou.
A minha pessoa, neste dia, saíu.
E aos senhores do Governo:
-PUTA QUE VOS PARIU!
Um país de queixinhas
Um país de queixinhas
São os profs. a fazer queixinhas à OIT. A DECO a dizer que levamos mais 2 semanas que os outros da Europa Com Nós Outros a regular os preços dos combustíveis.
«Ó mãe. o meu irmão deu um peido!»
Queixinhas.
O senhor Jerónimo faz queixinhas ao senhor Anível. O senhor Louçã há-de queixar-se de não sei quê.
Houve mais não sei quem a queixar-se.
Pôrra!
Eu
a quem me hei-de queixar?...
Bom-dia!
São os profs. a fazer queixinhas à OIT. A DECO a dizer que levamos mais 2 semanas que os outros da Europa Com Nós Outros a regular os preços dos combustíveis.
«Ó mãe. o meu irmão deu um peido!»
Queixinhas.
O senhor Jerónimo faz queixinhas ao senhor Anível. O senhor Louçã há-de queixar-se de não sei quê.
Houve mais não sei quem a queixar-se.
Pôrra!
Eu
a quem me hei-de queixar?...
Bom-dia!
sexta-feira, 29 de dezembro de 2006
Feliz 2007!
Entretanto, a redacção do 2+2=5 decidiu por unanimidade eleger como melhores blogues de 2006 os seguintes três: Cinco Dias, Estado Civil e Pratinho de Couratos. Durante o próximo ano ficarão em destaque na coluna dos links, à direita.
Resta-me então agradecer aos leitores, que dão sentido a isto, e desejar a todos um grande ano de 2007!
Desenhos de Mário Cesariny no wc do IPO
radiograma
Alegre triste meigo feroz bêbedo
lúcido
no meio do mar
Claro obscuro novo velhíssimo obsceno
puro
no meio do mar
Nado-morto às quatro morto a nada às cinco
encontrado perdido
no meio do mar
no meio do mar
Mário Cesariny
Fotos de Ivone Ralha
quinta-feira, 28 de dezembro de 2006
A grande confusão
Henrique Raposo escreve no blogue da Revista Atlântico um texto onde justifica a sua abstenção no referendo de 11 de Fevereiro. Vale a pena debruçarmo-nos sobre os seus argumentos, uma vez que espelham uma opinião que se começa o ouvir por aí: a de que, sendo esta uma questão moral, não deveria ser a política, ou a lei, a resolvê-la.
Essa é, justamente, a contradição original do argumento. Se o aborto é uma questão moral, o que é evidente para mim, e parece ser também para HR, então de facto não deve ser resolvida pela lei. Acontece que, como é bom de ver, já existe uma lei, proibicionista. Se HR defende de facto que esta é uma questão da consciência de cada um, então o que deve fazer é votar Sim, ou seja, votar contra uma lei que nega o primado da consciência. Mas se tem assim tantas dúvidas, que vote branco ou nulo em vez de se abster. É que este referendo tem três resultados possíveis: vitória do sim vinculativa, vitória do não vinculativa ou resultado não vinculativo; e só o primeiro irá alterar alguma coisa. Ao abster-se, HR cauciona um dos resultados possíveis que não mudam a lei, essa que, justamente, prevê aquilo com que desacorda. Contradição? Lá saberá.
Parece-me que esta visão contraditória de HR tem uma explicação psicológica: uma repugnância por tudo o que seja "Estado" (é só ler o ínicio do artigo). Pena que não consiga perceber que, neste caso, está a fazer o jogo contrário ao seu, o daqueles que entendem que a lei deve interferir em questões da moral íntima de cada um.
Há uns tempos, num autocarro, um velhote defendia o seu voto Não com o seguinte argumento: "O que é que o governo tem a ver com o aborto? Isso é comigo e com a minha mulher". Não pude evitar lembrar-me deste episódio singelo ao ler o texto de HR.
O embrião tem direitos, já a criança pertence aos pais
Hoje morreu mais uma menina, a Sara, vítima de maus tratos inflingidos pelos pais. Neste país onde se matam crianças à pancada é espantosa a preocupação de alguns com a sobrevivência de embriões com 10 semanas de gestação.
Da Capital do Império
Olá,
Estou de volta mais rapidamente do que o costume porque no dia de Natal estive a ler o relatório da bem britânica Chatham House a criticar a política externa do Tony Blá Blá (Blair) e não quis deixar de compartilhar o humor do tal documento.
Vocês devem ter ouvido falar disso pois pelo que me apercebi foi grande notícia aí desse lado do charco porque o instituto criticava as relações do Tony Blá Blá com o Bush. E como vocês sabem tudo que seja a dizer mal do Bush …é bom!
Eu cá desatei a rir quando cheguei à parte que afirma que “um distanciamento do Reino Unido dos Estados Unidos e uma relação mais próxima com a Europa são requisito para uma política externa pós Blair”. Depois de uns bons copos de vinho foi mesmo a frase que eu precisava para me pôr de bom humor antes de ir para a cama. Melhor que uma “passa” ou um brandy. Ainda estava a rir para mim mesmo já com a luz apagada Tenho quase a certeza que o Tony Blá Blá deve também rido às gargalhadas e respirado de alívio perante tal parvoíce.
É do camandro! Eu pensava que as elites europeias já tinham aprendido a lição, mas pelos vistos não. Continuam a viver na UEtupia, isto mesmo depois de o eleitorado já lhes ter dito claramente que não está interessado na sua versão burocrática e “tachista” da “Europa”.
Merecem em vez do Tony Blá Blá mais dez anos de Margaret Thatcher que é para ver se aprendem de vez! O Rumsfeld que me desculpe por eu fazer uso das suas palavras mas quando a Chatham House fala de relações com a “Europa” refere-se à velha Europa ou à nova? À França ou à Polónia? Talvez à Roménia? Ou será a Alemanha? E qual Alemanha? A da Angie ou a do Helmudt? Ou será a Europa do Luís Amado das frases complicadas “não só mas também e tal e coisa”?
Alguém sabe qual é o número do ministério dos negócios estrangeiros da “Europa”? Eu telefonei à Chatham House para ver se me davam o número do ministério dos negócios estrangeiros da “Europa” e vejam lá … desligaram-me o telefone. A telefonista disse que não sabia e pôs me em contacto com uma senhora do “research department” que me perguntou se eu estava “a brincar” e depois desligou o telefone toda irritada quando eu lhe perguntei se por acaso sabia também o nome do ministro dos negócios estrangeiros da Europa.
Eu depois fui à pagina da Internet da UE e descobri que a “comissária (!!) das relações externas” é uma pessoa de que nenhum de vocês já ouviu falar. Tem o nome bem euro de Benita Ferrero Waldner e é austríaca. Obviamente ela é parte daquele grupo de centenas e centenas de “commisarios” (!) e euro deputados que por não conseguirem emprego ou serem eleitos nos seus próprios países são enviados para a UE com vocês a pagarem os salários, ajudas de custo, viagens de avião etc. etc. para eles decidirem sobre o tamanho das maçãs e das peras, do conteúdo do leite e da cerveja, debaterem voos da CIA, como se vocês não pudessem fazer isso a nível local sem terem essa malta a ter que justificar o salário.
Mas se a Benita pensa que ela é que é a comissária (!) dos negócios estrangeiros da Europa está enganada pois tem concorrência. Isto porque a UE tem também um “Alto Representante para a Politica Externa e de Segurança Comum (!!?)” ocupada pelo Javier Solana, que até é um gajo porreiro mas que está cada vez mais magro e sempre com a barba por fazer devido a andar há meses a tentar convencer os gajos com pneus de lambreta na cabeça a deixarem de produzir urânio e mísseis. (boa sorte!). Ou então por andar à procura da tal politica “comum”.
Confuso que fiquei, eu depois telefonei ao meu “garganta funda” no Departamento de Estado que ficou um pouco atrapalhado com a pergunta mas admitiu não saber quem é o ministro dos negócios estrangeiros da “Europa”. Ele não sabia quem era a Benita Ferrero Waldner e disse-me que parecia um nome de “estrela” de cinema. Contudo acrescentou, no Departamento de Estado conhecem o Javier como “chief”.. Ora bem…. A comissária (!) Benita não vai gostar…
Tenho a dizer em abono da verdade que o relatório da Chatham House admite que no passado em termos de política externa a “Europa” não teve muito sucesso e que a incapacidade dos países europeus darem “uma resposta europeia” a crises no seu quintal, como o Kosovo , foi “lamentável” dando “a distinta impressão que a Europa era incapaz de ter uma visão geoestratégica”.
O que me leva a perguntar: Nesse caso e como noutros idênticos quando a campainha de alarme soa a quem é que se telefona? Quando o Ratko Mladic dá baile e prova - na prática - que não há - na prática - política externa e de segurança “comum” a quem é que se telefona? Ao Javier, à Benita ou ao ministro da defesa da “europa”? (Não sei quem é? vocês sabem?)
O documento da Chatham House diz ainda que uma “dificuldade” para uma política externa da Europa é que os gastos de defesa enquanto percentagem do produto interno bruto nos países europeus vão continuar a cair. Eu sei como é. A malta habitua-se durante anos e anos a viver à sombra protectora dos mísseis dos outros que se esquece que para projectar poder é preciso ter…poder.
Quando os gajos com pneus de lambreta na cabeça tiverem mísseis apontados para a Europa ou se a China (ou mesmo o Qatar) lhe der na cabeça de bloquear as vias marítimas do petróleo do Médio Oriente como é que o Javier ou a Benita vão projectar a politica externa da “Europa”? Indo à Hertz alugar uns Fiat Unos para levar o maralhal para a guerra ou alugando aviões à Ucrânia? Telefonando ao ministro da defesa da Europa (quem é?) ou ao Pentágono?
Alguém no MNE da “Europa” já pensou a sério quais são as ameaças estratégicas a longo prazo para a Europa? E como é que a Europa pode ou não pode responder a isso? Em quem é que o Tony Blá Blá pode confiar em termos de lhe garantir segurança: na UEtupia da “Europa” ou nos States?
Aqui deste lado do charco levou tempo mas está-se a aprender (uma vez mais) que ser superpotência não singifica ser omnipotência. Aí desse lado do charco deveriam aprender (mais uma vez) que de momento e por muito mais tempo nada pode ser feito sem os “states”. Quem o disse não fui eu. Foi o Tony Blá Blá. Ou como diria o Charles De Gaulle: “On peut sauter sur la chaise comme un cabri en disant: ‘L’Europe! L’Europe! L’Europe!’ mais cela n’aboutit à rien et cela ne signifie rien”.
Um abraço,
Da capital do Império
Jota Esse Erre
Estou de volta mais rapidamente do que o costume porque no dia de Natal estive a ler o relatório da bem britânica Chatham House a criticar a política externa do Tony Blá Blá (Blair) e não quis deixar de compartilhar o humor do tal documento.
Vocês devem ter ouvido falar disso pois pelo que me apercebi foi grande notícia aí desse lado do charco porque o instituto criticava as relações do Tony Blá Blá com o Bush. E como vocês sabem tudo que seja a dizer mal do Bush …é bom!
Eu cá desatei a rir quando cheguei à parte que afirma que “um distanciamento do Reino Unido dos Estados Unidos e uma relação mais próxima com a Europa são requisito para uma política externa pós Blair”. Depois de uns bons copos de vinho foi mesmo a frase que eu precisava para me pôr de bom humor antes de ir para a cama. Melhor que uma “passa” ou um brandy. Ainda estava a rir para mim mesmo já com a luz apagada Tenho quase a certeza que o Tony Blá Blá deve também rido às gargalhadas e respirado de alívio perante tal parvoíce.
É do camandro! Eu pensava que as elites europeias já tinham aprendido a lição, mas pelos vistos não. Continuam a viver na UEtupia, isto mesmo depois de o eleitorado já lhes ter dito claramente que não está interessado na sua versão burocrática e “tachista” da “Europa”.
Merecem em vez do Tony Blá Blá mais dez anos de Margaret Thatcher que é para ver se aprendem de vez! O Rumsfeld que me desculpe por eu fazer uso das suas palavras mas quando a Chatham House fala de relações com a “Europa” refere-se à velha Europa ou à nova? À França ou à Polónia? Talvez à Roménia? Ou será a Alemanha? E qual Alemanha? A da Angie ou a do Helmudt? Ou será a Europa do Luís Amado das frases complicadas “não só mas também e tal e coisa”?
Alguém sabe qual é o número do ministério dos negócios estrangeiros da “Europa”? Eu telefonei à Chatham House para ver se me davam o número do ministério dos negócios estrangeiros da “Europa” e vejam lá … desligaram-me o telefone. A telefonista disse que não sabia e pôs me em contacto com uma senhora do “research department” que me perguntou se eu estava “a brincar” e depois desligou o telefone toda irritada quando eu lhe perguntei se por acaso sabia também o nome do ministro dos negócios estrangeiros da Europa.
Eu depois fui à pagina da Internet da UE e descobri que a “comissária (!!) das relações externas” é uma pessoa de que nenhum de vocês já ouviu falar. Tem o nome bem euro de Benita Ferrero Waldner e é austríaca. Obviamente ela é parte daquele grupo de centenas e centenas de “commisarios” (!) e euro deputados que por não conseguirem emprego ou serem eleitos nos seus próprios países são enviados para a UE com vocês a pagarem os salários, ajudas de custo, viagens de avião etc. etc. para eles decidirem sobre o tamanho das maçãs e das peras, do conteúdo do leite e da cerveja, debaterem voos da CIA, como se vocês não pudessem fazer isso a nível local sem terem essa malta a ter que justificar o salário.
Mas se a Benita pensa que ela é que é a comissária (!) dos negócios estrangeiros da Europa está enganada pois tem concorrência. Isto porque a UE tem também um “Alto Representante para a Politica Externa e de Segurança Comum (!!?)” ocupada pelo Javier Solana, que até é um gajo porreiro mas que está cada vez mais magro e sempre com a barba por fazer devido a andar há meses a tentar convencer os gajos com pneus de lambreta na cabeça a deixarem de produzir urânio e mísseis. (boa sorte!). Ou então por andar à procura da tal politica “comum”.
Confuso que fiquei, eu depois telefonei ao meu “garganta funda” no Departamento de Estado que ficou um pouco atrapalhado com a pergunta mas admitiu não saber quem é o ministro dos negócios estrangeiros da “Europa”. Ele não sabia quem era a Benita Ferrero Waldner e disse-me que parecia um nome de “estrela” de cinema. Contudo acrescentou, no Departamento de Estado conhecem o Javier como “chief”.. Ora bem…. A comissária (!) Benita não vai gostar…
Tenho a dizer em abono da verdade que o relatório da Chatham House admite que no passado em termos de política externa a “Europa” não teve muito sucesso e que a incapacidade dos países europeus darem “uma resposta europeia” a crises no seu quintal, como o Kosovo , foi “lamentável” dando “a distinta impressão que a Europa era incapaz de ter uma visão geoestratégica”.
O que me leva a perguntar: Nesse caso e como noutros idênticos quando a campainha de alarme soa a quem é que se telefona? Quando o Ratko Mladic dá baile e prova - na prática - que não há - na prática - política externa e de segurança “comum” a quem é que se telefona? Ao Javier, à Benita ou ao ministro da defesa da “europa”? (Não sei quem é? vocês sabem?)
O documento da Chatham House diz ainda que uma “dificuldade” para uma política externa da Europa é que os gastos de defesa enquanto percentagem do produto interno bruto nos países europeus vão continuar a cair. Eu sei como é. A malta habitua-se durante anos e anos a viver à sombra protectora dos mísseis dos outros que se esquece que para projectar poder é preciso ter…poder.
Quando os gajos com pneus de lambreta na cabeça tiverem mísseis apontados para a Europa ou se a China (ou mesmo o Qatar) lhe der na cabeça de bloquear as vias marítimas do petróleo do Médio Oriente como é que o Javier ou a Benita vão projectar a politica externa da “Europa”? Indo à Hertz alugar uns Fiat Unos para levar o maralhal para a guerra ou alugando aviões à Ucrânia? Telefonando ao ministro da defesa da Europa (quem é?) ou ao Pentágono?
Alguém no MNE da “Europa” já pensou a sério quais são as ameaças estratégicas a longo prazo para a Europa? E como é que a Europa pode ou não pode responder a isso? Em quem é que o Tony Blá Blá pode confiar em termos de lhe garantir segurança: na UEtupia da “Europa” ou nos States?
Aqui deste lado do charco levou tempo mas está-se a aprender (uma vez mais) que ser superpotência não singifica ser omnipotência. Aí desse lado do charco deveriam aprender (mais uma vez) que de momento e por muito mais tempo nada pode ser feito sem os “states”. Quem o disse não fui eu. Foi o Tony Blá Blá. Ou como diria o Charles De Gaulle: “On peut sauter sur la chaise comme un cabri en disant: ‘L’Europe! L’Europe! L’Europe!’ mais cela n’aboutit à rien et cela ne signifie rien”.
Um abraço,
Da capital do Império
Jota Esse Erre
quarta-feira, 27 de dezembro de 2006
Objectivo Irão: diálogo sem peias entre Scott Ritter e Seymour Hersch
O jornalista investigador, prémio Pulitzer, S.Hersch, obriga o antigo espião a desvendar as hipóteses que existem dos USA e Israel bombardearem o Irão...GW Bush foi armadilhado pela direita integrista israelita, o lobby judaico americano e a paranóia dos guerrileiros do Pentágono...Com a vitória eleitoral dos Democratas nas Intercalares de Novembro, o que é que se pode alterar, uma vez que o Irão tem os ateliers de pesquisa nuclear desactivados? Vem tudo no Truthout.News Politics.Com. A não perder.
O blogue Truthout. com. torna o mundo menos perigoso. Porque o torna mais inteligível e nos dá força para o transformar. Um diálogo fabuloso entre dois peritos mundiais da Contra-Informação. Um antigo agente muito especial da Cia e o temível e incorrupto jornalista da The New Yorker, Seymour Hersch. Falam da constituição de uma célula americano-israelita para tentar identificar e localizar os sítios de fabrico nuclear no Irão. Israel há muito que tem espiões a operar no Irão, a que se juntaram diversos comandos especiais disseminados e disfarçados de aldeões nativos...
Os USA infiltraram um grupo paramilitar iraniano, o MEK, que se diz de oposição ao regime dos mollahs, e se apregoa como terrorista, apesar de fazer o frete aos americanos. Mas a história conduzida por mão hábil e ágil de S. Hersch é fabulosa: põe o antigo alto espião a declarar que o Mossad controla tudo na A.I.E.A.O , em Viena de Áustria, e que a direita israelita com o lobby judeu americano levam a melhor sobre a paranóia de G.W. Bush e os seus antigos muchachos predilectos no Pentágono. E mais: é falso que o Irão tenha planos militares de índole nuclear avançados.
Scott Ritter desvenda que a Cia tem um bureau- Serviço de Notícias e Informações Internacionais - que traduz tudo o que surge na Imprensa mundial e nos fornece literalmente uma perspectiva ampla do que se passa." Por isso, se se lê a Imprensa do Azerbaijão, depara-se com o facto de que o Mossad (secreta de Israel) realiza imensos esforços para criar lá uma antena. E porquê? Porque a secreta israelita misturou-se com o povo azerb., uma vez que o governo de Telavive reenviou para lá antigos judeus emigrantes que servem agora a Mossad. Isso vem tudo na Imprensa azerb. Há lá boas pistas que é preciso ler. É preciso ler também a Imprensa turca, porque nos revela detalhe do que se passa no Azerbaijão e no Irão. Isso fornece-nos os pontos principais", frisa.
" Como já não estou no activo, revela Ritter, reenvio esses tópicos para antigos colegas da Cia. E depois bebemos um copo e trocamos informações. Ficamos a saber sempre mais qualquer coisa. E eu próprio descobri que os comandos dos Guardas Revolucionários iranianos estavam muito a par do que se passava, bem como a Mossad israelita tinha também muitos dados sobre o Irão e o Azerbaijão, e o que a Cia tencionava fazer ali. Não adianto muitos comentários no meu livro - " Objectivo Irão: a verdade explicada sobre os planos da Casa Branca para mudar o regime persa "- para não pôr em cheque muitas pessoas no terreno. " Não porei ninguém a descoberto ", frisa.
E Ritter avança: " Um dos maiores problemas relaciona-se - e aí vai a granada - com Israel. Assim que se menciona a palavra " Israel ", a nação Israel, muita gente da Imprensa americana fica com medo. Não podemos criticar Israel e, sobretudo, que a defesa dos interesses israelitas ditem a política americana. E também não se pode dizer que o estamos a levar a cabo no Médio Oriente não reverte a favor da segurança dos USA, mas, sim, a de Israel". E revela, com ironia, os sucessos mediáticos do lobby pró-Israel dos média americanos, que misturam com sagacidade os interesses dos dois países...
Seymour obriga o antigo agente da Cia, que trabalhou quatro anos com a Mossad em Israel, a desvendar o ponto de Tolerância zero do Estado hebraico: "Israel não tolera o plano de tecnologia atómica e de armamento nuclear do Irão!". O sumo da questão é, no entanto, o seguinte: parece que o Irão tem as fabriquetas de tratamento de material nuclear escondidas no subsolo, à maneira norte-coreana. Não há provas que laborem, mas existe um regime político que as pode pôr a funcionar do ponto de vista militar. Por isso, Israel anda a tentar convencer os USA de que só uma acção armada poderá pôr cobro ao regime que, eventualmente, pudesse usar militarmente armas atómicas, a serem feitas...Esta a grande incógnita do Médio Oriente para 2007: Israel e os EUA poderão tolerar por mais tempo os volte-faces ensurdecedores do PR iraniano, Ahmidnejda, quanto ao bluff nuclear?
FAR
O blogue Truthout. com. torna o mundo menos perigoso. Porque o torna mais inteligível e nos dá força para o transformar. Um diálogo fabuloso entre dois peritos mundiais da Contra-Informação. Um antigo agente muito especial da Cia e o temível e incorrupto jornalista da The New Yorker, Seymour Hersch. Falam da constituição de uma célula americano-israelita para tentar identificar e localizar os sítios de fabrico nuclear no Irão. Israel há muito que tem espiões a operar no Irão, a que se juntaram diversos comandos especiais disseminados e disfarçados de aldeões nativos...
Os USA infiltraram um grupo paramilitar iraniano, o MEK, que se diz de oposição ao regime dos mollahs, e se apregoa como terrorista, apesar de fazer o frete aos americanos. Mas a história conduzida por mão hábil e ágil de S. Hersch é fabulosa: põe o antigo alto espião a declarar que o Mossad controla tudo na A.I.E.A.O , em Viena de Áustria, e que a direita israelita com o lobby judeu americano levam a melhor sobre a paranóia de G.W. Bush e os seus antigos muchachos predilectos no Pentágono. E mais: é falso que o Irão tenha planos militares de índole nuclear avançados.
Scott Ritter desvenda que a Cia tem um bureau- Serviço de Notícias e Informações Internacionais - que traduz tudo o que surge na Imprensa mundial e nos fornece literalmente uma perspectiva ampla do que se passa." Por isso, se se lê a Imprensa do Azerbaijão, depara-se com o facto de que o Mossad (secreta de Israel) realiza imensos esforços para criar lá uma antena. E porquê? Porque a secreta israelita misturou-se com o povo azerb., uma vez que o governo de Telavive reenviou para lá antigos judeus emigrantes que servem agora a Mossad. Isso vem tudo na Imprensa azerb. Há lá boas pistas que é preciso ler. É preciso ler também a Imprensa turca, porque nos revela detalhe do que se passa no Azerbaijão e no Irão. Isso fornece-nos os pontos principais", frisa.
" Como já não estou no activo, revela Ritter, reenvio esses tópicos para antigos colegas da Cia. E depois bebemos um copo e trocamos informações. Ficamos a saber sempre mais qualquer coisa. E eu próprio descobri que os comandos dos Guardas Revolucionários iranianos estavam muito a par do que se passava, bem como a Mossad israelita tinha também muitos dados sobre o Irão e o Azerbaijão, e o que a Cia tencionava fazer ali. Não adianto muitos comentários no meu livro - " Objectivo Irão: a verdade explicada sobre os planos da Casa Branca para mudar o regime persa "- para não pôr em cheque muitas pessoas no terreno. " Não porei ninguém a descoberto ", frisa.
E Ritter avança: " Um dos maiores problemas relaciona-se - e aí vai a granada - com Israel. Assim que se menciona a palavra " Israel ", a nação Israel, muita gente da Imprensa americana fica com medo. Não podemos criticar Israel e, sobretudo, que a defesa dos interesses israelitas ditem a política americana. E também não se pode dizer que o estamos a levar a cabo no Médio Oriente não reverte a favor da segurança dos USA, mas, sim, a de Israel". E revela, com ironia, os sucessos mediáticos do lobby pró-Israel dos média americanos, que misturam com sagacidade os interesses dos dois países...
Seymour obriga o antigo agente da Cia, que trabalhou quatro anos com a Mossad em Israel, a desvendar o ponto de Tolerância zero do Estado hebraico: "Israel não tolera o plano de tecnologia atómica e de armamento nuclear do Irão!". O sumo da questão é, no entanto, o seguinte: parece que o Irão tem as fabriquetas de tratamento de material nuclear escondidas no subsolo, à maneira norte-coreana. Não há provas que laborem, mas existe um regime político que as pode pôr a funcionar do ponto de vista militar. Por isso, Israel anda a tentar convencer os USA de que só uma acção armada poderá pôr cobro ao regime que, eventualmente, pudesse usar militarmente armas atómicas, a serem feitas...Esta a grande incógnita do Médio Oriente para 2007: Israel e os EUA poderão tolerar por mais tempo os volte-faces ensurdecedores do PR iraniano, Ahmidnejda, quanto ao bluff nuclear?
FAR
V - Caso Litvinenko: Serviços Secretos ingleses e russos aceleram análises
Dois dos três maiores correspondentes internacionais do Le Monde - Marc Roche (Londres) e Marie Jégo (Moscovo) - analisam tudo num texto superlativo.
Onde a guerra sem quartel dos serviços de espionagem não tem limites. Peça número cinco do nosso folhetim...
Trata-se de um texto magistral de profundidade, de intelecção e de audácia, para ler clicar aqui, que surgiu no Le Monde, na véspera do dia de Natal. Quase um mês depois da morte do antigo agente secreto russo, Alexandre Litvinenko, por envenenamento provocado pela absorção de substância radioactiva num hotel da capital britânica. Duas teses estão em confronto: a da Scotland Yard que parece corroborar as suspeitas avançadas pelos amigos da vítima e próximos do multimilionário russo exilado, Boris Berezovski; e a dos serviços secretos russos, FSB, que se inclinam para inculpar o antigo amigo íntimo de Yeltsin, refugiado em Londres, acusado pelos homens de Putin de financiar as revoluções tutti-frutti na Ucrânia, no Quizikistão e a oposição em armas na Chechénia.
A relevância política do caso impôs a contratação de dois grandes grupos de Média Consultores para ajudarem os dois campos em disputa, o que tem contribuído para o nítido arrefecimento das relações diplomáticas anglo-russas, proverbialmente tão estreitas e compreensivas. Boris Berezovski, o Raspoutine do Kremlin da era Yeltsin, como é chamado em Moscovo, é acusado pelos serviços secretos russos de ter inspirado, quer a morte da jornalista Anna Politkovskaia, quer a de Alexandre Litvinenko. Tudo, acusam, para dar " uma má imagem da Rússia, de modo a que os serviços da justiça inglesa não possam reclamar a extradição do multimilionário refugiado ", reportam no texto os jornalistas.
Um retrato inexcedível de Boris Berezovski, grande senhor do imobiliário de luxo da capital Britânica." Que espantoso caminho percorrido por BB, Bab para os amigos, depois dos finais dos anos 80! Oriundo dos círculos da inteligência judia moscovita, B. Berezovski não passava nessa altura de ser um estudante apagado, com vocação contrariada, obrigado devido às suas origens a renunciar à sua grande ambição - a astronáutica - para se orientar para as matemáticas aplicadas. No início dos anos 1990, lança-se na revenda de carros, o sector mais criminalizado. Comerciante arguto, cultiva relacionamentos com todos os patamares da sociedade, inclusive com o do crime. Atentados, incêndios postos e assassinatos encomendados são o pão-nosso de cada dia. Em 1993, um banqueiro, Ivan Kivelidi, é envenenado por isótopos radioactivos dissimulados na sua poltrona e telefone. É o primeiro assassinato radioactivo ", sublinham os autores do texto.
E mais este extracto sibilino: " Quando o Kremlin procura um sucessor para o presidente Yeltsin, enfraquecido por problemas de saúde, o oligarca (que já disputava 50 por cento das receitas internacionais da Aeroflot...), revela-se o mais ardente apoiante do candidato Putin. Os dois homens apreciam-se mutuamente, e muito. Durante o ano de 1999, Vladimir Putin desloca-se à mansão de férias do multimilionário, em Cádis, Espanha, mais de cinco vezes. No dia em que Putin é nomeado primeiro-ministro, houve festa rija no burgo dos arredores da estância balnear da Costa del Sol".
FAR
Onde a guerra sem quartel dos serviços de espionagem não tem limites. Peça número cinco do nosso folhetim...
Trata-se de um texto magistral de profundidade, de intelecção e de audácia, para ler clicar aqui, que surgiu no Le Monde, na véspera do dia de Natal. Quase um mês depois da morte do antigo agente secreto russo, Alexandre Litvinenko, por envenenamento provocado pela absorção de substância radioactiva num hotel da capital britânica. Duas teses estão em confronto: a da Scotland Yard que parece corroborar as suspeitas avançadas pelos amigos da vítima e próximos do multimilionário russo exilado, Boris Berezovski; e a dos serviços secretos russos, FSB, que se inclinam para inculpar o antigo amigo íntimo de Yeltsin, refugiado em Londres, acusado pelos homens de Putin de financiar as revoluções tutti-frutti na Ucrânia, no Quizikistão e a oposição em armas na Chechénia.
A relevância política do caso impôs a contratação de dois grandes grupos de Média Consultores para ajudarem os dois campos em disputa, o que tem contribuído para o nítido arrefecimento das relações diplomáticas anglo-russas, proverbialmente tão estreitas e compreensivas. Boris Berezovski, o Raspoutine do Kremlin da era Yeltsin, como é chamado em Moscovo, é acusado pelos serviços secretos russos de ter inspirado, quer a morte da jornalista Anna Politkovskaia, quer a de Alexandre Litvinenko. Tudo, acusam, para dar " uma má imagem da Rússia, de modo a que os serviços da justiça inglesa não possam reclamar a extradição do multimilionário refugiado ", reportam no texto os jornalistas.
Um retrato inexcedível de Boris Berezovski, grande senhor do imobiliário de luxo da capital Britânica." Que espantoso caminho percorrido por BB, Bab para os amigos, depois dos finais dos anos 80! Oriundo dos círculos da inteligência judia moscovita, B. Berezovski não passava nessa altura de ser um estudante apagado, com vocação contrariada, obrigado devido às suas origens a renunciar à sua grande ambição - a astronáutica - para se orientar para as matemáticas aplicadas. No início dos anos 1990, lança-se na revenda de carros, o sector mais criminalizado. Comerciante arguto, cultiva relacionamentos com todos os patamares da sociedade, inclusive com o do crime. Atentados, incêndios postos e assassinatos encomendados são o pão-nosso de cada dia. Em 1993, um banqueiro, Ivan Kivelidi, é envenenado por isótopos radioactivos dissimulados na sua poltrona e telefone. É o primeiro assassinato radioactivo ", sublinham os autores do texto.
E mais este extracto sibilino: " Quando o Kremlin procura um sucessor para o presidente Yeltsin, enfraquecido por problemas de saúde, o oligarca (que já disputava 50 por cento das receitas internacionais da Aeroflot...), revela-se o mais ardente apoiante do candidato Putin. Os dois homens apreciam-se mutuamente, e muito. Durante o ano de 1999, Vladimir Putin desloca-se à mansão de férias do multimilionário, em Cádis, Espanha, mais de cinco vezes. No dia em que Putin é nomeado primeiro-ministro, houve festa rija no burgo dos arredores da estância balnear da Costa del Sol".
FAR
terça-feira, 26 de dezembro de 2006
segunda-feira, 25 de dezembro de 2006
Cinco coisas que eu adoro num jogo de futebol
Nick Hornby (Alta Fidelidade, About a Boy) é o autor da pérola mais espectacular para adeptos de futebol: Fever Pitch (Febre no Estádio - Diário de um Fanático). É divino. Enternecedor, magicamente futebolístico e com um sentido de humor simples e britânico.
Num dos últimos capítulos, Hornby sintetiza as razões que o levam a gostar de futebol. Agarrando na ideia (se nos processarem por plágio, eu apago isto num instante, Armando), vou enumerar o que mais gozo me dá na tribo da bola.
1. Golos - é óbvio. Toda a gente gosta de golos. Quantos mais, melhor. Mas eu gosto de golos que me façam saltar e gritar. É diferente marcar o terceiro golo ao Setúbal e marcar nos últimos minutos ou marcar num derby (há ainda o gozo particular de um golo de uma reviravolta). Se tivesse que levar só alguns golos para uma ilha deserta (a expressão é de Hornby), levaria o golo do Geovanni em Alvalade, o 1º golo do Benfica em Milão contra o Inter, o golo do Simão contra o Ceportém na Taça (o 3-3), todos os golos do 3-6 e - last but not least- o golo da Académica no Dragão que nos deu o título (abracei tanto o velhinho que, em pleno Bessa, nos comunicou o golo vindo do relato, que nem sei como é que o homem sobreviveu).
2. O público em grande (especialmente quando estamos a perder) - é tribal, arrepiante e sobre-humano. Estar no meio da multidão e não ouvir a nossa voz, sentir que os jogadores jogam ao ritmo dos cânticos, vê-los a olhar para nós como se as estrelas estivessem na bancada... É indescritível. Escolho o fabuloso apoio no derby de alvalade do golo do Geovanni, o jogo contra o Manchester na Luz e aquela maré vermelha a cantar o Ninguém Pára o Benfica no dia 22 de Maio de 2005.
3. Penalty falhado pela equipa adversária - é uma reviravolta deliciosa. Estão os outros aos saltos a festejar o facto de ser penalty e nós calados já a fazer contas à vida. Quando nos aperecebemos que a rede não andou é como nascer outra vez. E quando é em desempates - o que significa que já há duas horas de tensão no coração de toda gente - é como ver que tivemos boa nota no exame, que a tal rapariga também gosta de nós, enfim. É muito bom. Escolho o penalty que o Miguel Garcia falhou na Taça contra o Benfica e o do Adriano do Nacional no ano em que fomos campeões - o meu pai relatou-mo por telemóvel "foda-se, isto já podia estar resolvido, vamos levar agora o empate... vai marcar agora... FALHOU! FALHOU! À TRAVE!" e eu voltei a respirar.
4. Expulsão de um jogador da equipa adversária - especialmente quando é um dos rivais. O longo caminho de saída merece todos os acenos e sorrisos de gozo. E há aquele momento de expectativa enquanto o árbitro não levanta o cartão. O jogador a esbracejar, o público a pedir o cartão e depois o vermelho no ar, com o jogador a fazer que não com a cabeça e toda a gente a rir. Amei a do Hugo Viana no jogo da Taça e a do Beto no derby do Luisão. A Luz quis enforcá-los ali mesmo. Mais peculiar foi a do Buba na Luz, este ano, sendo ovacionado de pé pelos três golos que tinha marcado aos rivais verdes.
5. Ambiente hostil nas bancadas - não há nada como festejar na cara deles. Em Portugal só acontece em Alvalade, Dragão e...Guimarães. Há poucas coisas tão futebolísticas como entrar no sector visitante de um estádio e sentir os assobios e ouvir a outra versão do Glorioso SLB. Vemos os dedos no ar, os esgares de anti - Benfiquismo, os gafanhotos a voarem do outro sector. E aí, apercebemo-nos de que o clube incomoda muita gente e há cócegas de gozo na alma. Há sorrisos de desprezo, gestos com os dedos devolvidos e a certeza que não há nada mais importante do que o que se vai passar dentro das quatro linhas.
Num dos últimos capítulos, Hornby sintetiza as razões que o levam a gostar de futebol. Agarrando na ideia (se nos processarem por plágio, eu apago isto num instante, Armando), vou enumerar o que mais gozo me dá na tribo da bola.
1. Golos - é óbvio. Toda a gente gosta de golos. Quantos mais, melhor. Mas eu gosto de golos que me façam saltar e gritar. É diferente marcar o terceiro golo ao Setúbal e marcar nos últimos minutos ou marcar num derby (há ainda o gozo particular de um golo de uma reviravolta). Se tivesse que levar só alguns golos para uma ilha deserta (a expressão é de Hornby), levaria o golo do Geovanni em Alvalade, o 1º golo do Benfica em Milão contra o Inter, o golo do Simão contra o Ceportém na Taça (o 3-3), todos os golos do 3-6 e - last but not least- o golo da Académica no Dragão que nos deu o título (abracei tanto o velhinho que, em pleno Bessa, nos comunicou o golo vindo do relato, que nem sei como é que o homem sobreviveu).
2. O público em grande (especialmente quando estamos a perder) - é tribal, arrepiante e sobre-humano. Estar no meio da multidão e não ouvir a nossa voz, sentir que os jogadores jogam ao ritmo dos cânticos, vê-los a olhar para nós como se as estrelas estivessem na bancada... É indescritível. Escolho o fabuloso apoio no derby de alvalade do golo do Geovanni, o jogo contra o Manchester na Luz e aquela maré vermelha a cantar o Ninguém Pára o Benfica no dia 22 de Maio de 2005.
3. Penalty falhado pela equipa adversária - é uma reviravolta deliciosa. Estão os outros aos saltos a festejar o facto de ser penalty e nós calados já a fazer contas à vida. Quando nos aperecebemos que a rede não andou é como nascer outra vez. E quando é em desempates - o que significa que já há duas horas de tensão no coração de toda gente - é como ver que tivemos boa nota no exame, que a tal rapariga também gosta de nós, enfim. É muito bom. Escolho o penalty que o Miguel Garcia falhou na Taça contra o Benfica e o do Adriano do Nacional no ano em que fomos campeões - o meu pai relatou-mo por telemóvel "foda-se, isto já podia estar resolvido, vamos levar agora o empate... vai marcar agora... FALHOU! FALHOU! À TRAVE!" e eu voltei a respirar.
4. Expulsão de um jogador da equipa adversária - especialmente quando é um dos rivais. O longo caminho de saída merece todos os acenos e sorrisos de gozo. E há aquele momento de expectativa enquanto o árbitro não levanta o cartão. O jogador a esbracejar, o público a pedir o cartão e depois o vermelho no ar, com o jogador a fazer que não com a cabeça e toda a gente a rir. Amei a do Hugo Viana no jogo da Taça e a do Beto no derby do Luisão. A Luz quis enforcá-los ali mesmo. Mais peculiar foi a do Buba na Luz, este ano, sendo ovacionado de pé pelos três golos que tinha marcado aos rivais verdes.
5. Ambiente hostil nas bancadas - não há nada como festejar na cara deles. Em Portugal só acontece em Alvalade, Dragão e...Guimarães. Há poucas coisas tão futebolísticas como entrar no sector visitante de um estádio e sentir os assobios e ouvir a outra versão do Glorioso SLB. Vemos os dedos no ar, os esgares de anti - Benfiquismo, os gafanhotos a voarem do outro sector. E aí, apercebemo-nos de que o clube incomoda muita gente e há cócegas de gozo na alma. Há sorrisos de desprezo, gestos com os dedos devolvidos e a certeza que não há nada mais importante do que o que se vai passar dentro das quatro linhas.
domingo, 24 de dezembro de 2006
Feliz Natal!
De acordo com o espírito da quadra, esta é a minha prenda de natal aos nossos leitores. Se a acharem um pouco assim a dar para o parolo, não me levem a mal; é da quadra mesmo.
Da Capital do Império
Olá,
O Natal deveria ser como as olimpíadas – de quatro em quatro anos. Isto porque o Natal é uma das ocasiões que me faz inveja de vocês aí do outro lado do charco na Lusitânia, com décimo terceiro mês para comprar prendas e gastar nos copos e comezainas. Aqui como não há décimo terceiro é o meu cartão de crédito que está cheio de contas de décimo terceiro mês.
Eu nunca soube de onde veio a ideia de se inventar um mês. Foi para aumentar o deficit orçamental? Foi para provar que no estado do bem-estar se pode ganhar dinheiro sem trabalhar? Um prémio à preguiça? Ou foi porque todos concordam que ganham todos mal e portanto em vez de se aumentar os ordenados mensais inventa-se mais um mês?
Não sei. Mas o facto de aqui o ano só ter 12 meses e o meu cartão de crédito ser o décimo terceiro mês é que me deu ideia de fazer coincidir o Natal com os Jogos Olímpicos.
É que aqui crédito é coisa muito fácil. Há poucos dias atrás o meu carro de dez anos deu finalmente o berro e aqui como não quem não tem carro não é gente, eu tive mesmo que telefonar à minha instituição bancária a perguntar se eles me podiam emprestar 10 mil dólares para comprar um carro em segundo mão
Pediram-me o nome, o meu número de assistência social (que é o mesmo que o BI) a minha conta, a minha morada, o meu telefone e depois a sujeita do outro lado diz: “Quer aguardar ou quer que lhe telefonemos com a resposta?” Decidi aguardar e preparei-me para uma longa espera. Minuto e meio de pois veio a voz: “Aprovado. Quer os dez mil dólares mandados para casa ou para o stand de automóveis?”
Ah as maravilhas do capitalismo eficiente. Mais fácil pedir dez mil dólares pelo telefone do que pedir para instalar um telefone em casa …. que geralmente aqui demora cinco minutos embora no meu caso demore sempre um pouco mais porque tenho sempre que soletrar os meus nomes. Fiquei no entanto a pensar se me teriam emprestado meio milhão pelo telefone para serem depositados numa conta em Macau….
Bem, mas como dizia o Natal deveria coincidir apenas com os Jogos Olímpicos porque para além dessa questão do décimo terceiro mês o Natal aqui é uma mistura de pirosismo e consumo como ainda não vi em nenhuma parte do mundo, o que que me irrita sobremaneira.
Aqui a cinco minutos de distância de carro da minha casa, na Rua da Prosperidade, com casas de mais de um milhão de dólares dois vizinhos decidiram entrar em concorrência de pirosidade natalícia. Só visto e para o ano prometo comprar uma máquina fotográfica a crédito para vos enviar o retrato. Mas vou tentar descrever.
Os jardins das duas casas são um mar de luzes e bonecos gigantes em plástico do Pai Natal de desenho estilo pré escola primária. Esses gigantes Pais Natal de plástico de barato a lembrar aquelas bóias de plástico das piscinas são acompanhados de complicadas construções em arame de renas e trenós, tudo enfeitado com luzes das mais diversas cores. Um destes artistas até conseguiu colocar essas tais renas penduradas entre duas árvores cheias de luzes o que dá a impressão das renas estarem a voar.
Isto claro está em casas da Avenida da Prosperidade. Malta fina portanto. Imaginem outras casas de malta menos culta. Até faz corar de vergonha, os desenhos gigantes em cartolina com umas luzes à volta a piscarem toda a noite. Alguma dessas cartolinas já estão um pouco sujas porque são usadas todos os anos. É o suficiente para ficar enjoado antes do peru, animal conhecido entre alguns imigrante tugas como “o turco” devido a confusões linguísticas com a palavra “turkey” e seu significado. Dou-vos um exemplo: fui à loja dos tugas ( “Latino Market” de aspecto muito rasca a precisar de pintura) para comprar rissóis e pastéis de bacalhau e dar uma volta no meu novo (em segunda mão) carro e lá dentro dizia um tuga para o outro: “Então já comprastes o turco?”
Mas voltando às figuras do pai Natal, há que dizer podem causar alguma confusão. Um amigo chinês dizia-me que o ano passado mandou vir o avô do interior da China para vir ver a América. O velhote coitado, sem nunca ter saído lá da aldeia da cochinchina, chegou aqui uns dias antes do Natal e depois de dar umas voltas perguntou se o Pai Natal “é um dos deuses dos americanos”.
A boa notícia nesta época de Natal é que a gigante árvore colocada em frente do edifício do Congresso é de novo oficialmente “árvore de Natal Nacional”. Antes de irem embora os Republicanos acabaram com a parvoíce dos liberais que haviam transformado a árvore de Natal em “árvore das Festas ” para não ferir susceptibilidades de outras religiões. Obviamente malta de esquerda que fumou muita passa nos anos 60 e 70. De tal modo que em frente à Casa Branca a Árvore de Natal ali colocada todos os anos é sempre acompanhada a uma certa distância de uma Menorah judia e em alguns anos também de um crescente muçulmano.
Numa loja onde fui fazer umas compras a empregada de balcão disse “boas Festas” à cliente à minha frente que respondeu “Feliz Natal”. A empregada explicou: ”Nós temos ordens para dizer Boas Festas e só usar Natal se o cliente usar essa palavra”.
Verdade, Verdadinha! O ano passado a companhia “Lowe’s” tinha à venda “árvores de festas” mas felizmente este ano já lhes chama outra vez árvores de Natal.
Não sei qual é a paranóia da malta que não acredita que o menino Jesus nasceu no Natal ou que não acredita no menino Jesus. Ao fim e ao cabo o que é que se celebra no Natal? O Solstício de inverno?
Feliz Natal e Boas entradas,
Da capital do Império,
Jota Esse Erre
PS – antes de terminar não podia deixar de vos contar uma historiazinha de Natal para, espero eu, vos fazer sorrir. O filho de um amigo meu de seis anos de idade disse ao pai no dia 22 que queria também que o Pai Natal lhe enviasse uma “play station”. O pai respondeu que “ó filho agora já não dá tempo de enviar uma carta ao Pai Natal”.
Ao que o miúdo respondeu: “Não lhe podemos mandar um e-mail?”
O Natal deveria ser como as olimpíadas – de quatro em quatro anos. Isto porque o Natal é uma das ocasiões que me faz inveja de vocês aí do outro lado do charco na Lusitânia, com décimo terceiro mês para comprar prendas e gastar nos copos e comezainas. Aqui como não há décimo terceiro é o meu cartão de crédito que está cheio de contas de décimo terceiro mês.
Eu nunca soube de onde veio a ideia de se inventar um mês. Foi para aumentar o deficit orçamental? Foi para provar que no estado do bem-estar se pode ganhar dinheiro sem trabalhar? Um prémio à preguiça? Ou foi porque todos concordam que ganham todos mal e portanto em vez de se aumentar os ordenados mensais inventa-se mais um mês?
Não sei. Mas o facto de aqui o ano só ter 12 meses e o meu cartão de crédito ser o décimo terceiro mês é que me deu ideia de fazer coincidir o Natal com os Jogos Olímpicos.
É que aqui crédito é coisa muito fácil. Há poucos dias atrás o meu carro de dez anos deu finalmente o berro e aqui como não quem não tem carro não é gente, eu tive mesmo que telefonar à minha instituição bancária a perguntar se eles me podiam emprestar 10 mil dólares para comprar um carro em segundo mão
Pediram-me o nome, o meu número de assistência social (que é o mesmo que o BI) a minha conta, a minha morada, o meu telefone e depois a sujeita do outro lado diz: “Quer aguardar ou quer que lhe telefonemos com a resposta?” Decidi aguardar e preparei-me para uma longa espera. Minuto e meio de pois veio a voz: “Aprovado. Quer os dez mil dólares mandados para casa ou para o stand de automóveis?”
Ah as maravilhas do capitalismo eficiente. Mais fácil pedir dez mil dólares pelo telefone do que pedir para instalar um telefone em casa …. que geralmente aqui demora cinco minutos embora no meu caso demore sempre um pouco mais porque tenho sempre que soletrar os meus nomes. Fiquei no entanto a pensar se me teriam emprestado meio milhão pelo telefone para serem depositados numa conta em Macau….
Bem, mas como dizia o Natal deveria coincidir apenas com os Jogos Olímpicos porque para além dessa questão do décimo terceiro mês o Natal aqui é uma mistura de pirosismo e consumo como ainda não vi em nenhuma parte do mundo, o que que me irrita sobremaneira.
Aqui a cinco minutos de distância de carro da minha casa, na Rua da Prosperidade, com casas de mais de um milhão de dólares dois vizinhos decidiram entrar em concorrência de pirosidade natalícia. Só visto e para o ano prometo comprar uma máquina fotográfica a crédito para vos enviar o retrato. Mas vou tentar descrever.
Os jardins das duas casas são um mar de luzes e bonecos gigantes em plástico do Pai Natal de desenho estilo pré escola primária. Esses gigantes Pais Natal de plástico de barato a lembrar aquelas bóias de plástico das piscinas são acompanhados de complicadas construções em arame de renas e trenós, tudo enfeitado com luzes das mais diversas cores. Um destes artistas até conseguiu colocar essas tais renas penduradas entre duas árvores cheias de luzes o que dá a impressão das renas estarem a voar.
Isto claro está em casas da Avenida da Prosperidade. Malta fina portanto. Imaginem outras casas de malta menos culta. Até faz corar de vergonha, os desenhos gigantes em cartolina com umas luzes à volta a piscarem toda a noite. Alguma dessas cartolinas já estão um pouco sujas porque são usadas todos os anos. É o suficiente para ficar enjoado antes do peru, animal conhecido entre alguns imigrante tugas como “o turco” devido a confusões linguísticas com a palavra “turkey” e seu significado. Dou-vos um exemplo: fui à loja dos tugas ( “Latino Market” de aspecto muito rasca a precisar de pintura) para comprar rissóis e pastéis de bacalhau e dar uma volta no meu novo (em segunda mão) carro e lá dentro dizia um tuga para o outro: “Então já comprastes o turco?”
Mas voltando às figuras do pai Natal, há que dizer podem causar alguma confusão. Um amigo chinês dizia-me que o ano passado mandou vir o avô do interior da China para vir ver a América. O velhote coitado, sem nunca ter saído lá da aldeia da cochinchina, chegou aqui uns dias antes do Natal e depois de dar umas voltas perguntou se o Pai Natal “é um dos deuses dos americanos”.
A boa notícia nesta época de Natal é que a gigante árvore colocada em frente do edifício do Congresso é de novo oficialmente “árvore de Natal Nacional”. Antes de irem embora os Republicanos acabaram com a parvoíce dos liberais que haviam transformado a árvore de Natal em “árvore das Festas ” para não ferir susceptibilidades de outras religiões. Obviamente malta de esquerda que fumou muita passa nos anos 60 e 70. De tal modo que em frente à Casa Branca a Árvore de Natal ali colocada todos os anos é sempre acompanhada a uma certa distância de uma Menorah judia e em alguns anos também de um crescente muçulmano.
Numa loja onde fui fazer umas compras a empregada de balcão disse “boas Festas” à cliente à minha frente que respondeu “Feliz Natal”. A empregada explicou: ”Nós temos ordens para dizer Boas Festas e só usar Natal se o cliente usar essa palavra”.
Verdade, Verdadinha! O ano passado a companhia “Lowe’s” tinha à venda “árvores de festas” mas felizmente este ano já lhes chama outra vez árvores de Natal.
Não sei qual é a paranóia da malta que não acredita que o menino Jesus nasceu no Natal ou que não acredita no menino Jesus. Ao fim e ao cabo o que é que se celebra no Natal? O Solstício de inverno?
Feliz Natal e Boas entradas,
Da capital do Império,
Jota Esse Erre
PS – antes de terminar não podia deixar de vos contar uma historiazinha de Natal para, espero eu, vos fazer sorrir. O filho de um amigo meu de seis anos de idade disse ao pai no dia 22 que queria também que o Pai Natal lhe enviasse uma “play station”. O pai respondeu que “ó filho agora já não dá tempo de enviar uma carta ao Pai Natal”.
Ao que o miúdo respondeu: “Não lhe podemos mandar um e-mail?”
Intriga de Cheney põe sauditas à beira de uma crise de nervos...
O todo-poderoso embaixador saudita em Washington, Turki-al Faisal, resignou e regressou a Ryad. Especula-se muito sobre a doença de familiares ou de grandes lutas de influência entre os dois ramos da dinastia, o clero e os enviados especiais de Dick Cheney...
É a primeira grande notícia da era post Irak Study Group. O vice yankee, Dick Cheney, esteve em Ryad há duas semanas atrás e alarmou o staff político-militar do país mais poderoso e rico do Médio Oriente. O NY Times tinha sinalizado a demissão de um conselheiro do príncipe-embaixador por causa de um artigo publicado no Washington Post, em que era ventilada a hipótese de grandes retaliações sauditas contra o Irão, o preço do petróleo e a guerra civil deslizante entre sunitas e xiitas no Iraque. O Libération conta a história para a Europa.
O back-ground do artigo do NYTimes é um pouco escamoteado, no entanto.Helene Cooper do NYT tinha investigado que D. Cheney foi apalpar o terreno a Ryad, tendo em vista testar as directivas do plano Baker/ Hamilton sobre uma possível retirada das tropas americanas do Iraque. Ora o vice-presidente americano o que fez foi deitar gasolina no braseiro. Em telescopagem um pouco aterradora um dos conselheiros do príncipe embaixador na capital federal USA, avança com um plano de ameaças contra o Irão com bastantes detalhes. Aumento das subvenções das milícias sunitas no Iraque, a queda do preço do barril do ouro negro e a mobilização do clero saudita contra a " carnificina e ultraje " a que está sujeita a larga comunidade sunita no Iraque. Tudo com o propósito da instauração de um grande regime xiita no Iraque, Síria e mais tarde com fortes relações de dependência máxima com o poder de Teerão.
O jornalista do Libé recupera um pouco a história e projecta a grande importância política do ex-embaixador e irmão do MNE saudita, membros proeminentes da facção Faysal da dinastia dos Seoud. A administração Bush/Cheney entrega assim um presente envenenado a Roberto Gates, o sucessor de Donald Rumsfeld. O mau relacionamento político entre as duas capitais, que toda a gente desmente, pode dar alento a uma frente sunita internacional unindo a Arábia Saudita, Jordânia, Egipto que incremente a ingerência militar no Iraque, uma espécie de guerra inter-religiosa que poderia levar a perdição aos campos petrolíferos em toda a região e pondo em perigo a economia mundial.
FAR
Jean-Pierre Perrin, enviado especial do Libération, O Reino Saudita vexado por Washington (20.12.06)
Helene Cooper, NY Times, Saudis they may fund Iraqi Sunnis in war against Shiites (14.12.06)
É a primeira grande notícia da era post Irak Study Group. O vice yankee, Dick Cheney, esteve em Ryad há duas semanas atrás e alarmou o staff político-militar do país mais poderoso e rico do Médio Oriente. O NY Times tinha sinalizado a demissão de um conselheiro do príncipe-embaixador por causa de um artigo publicado no Washington Post, em que era ventilada a hipótese de grandes retaliações sauditas contra o Irão, o preço do petróleo e a guerra civil deslizante entre sunitas e xiitas no Iraque. O Libération conta a história para a Europa.
O back-ground do artigo do NYTimes é um pouco escamoteado, no entanto.Helene Cooper do NYT tinha investigado que D. Cheney foi apalpar o terreno a Ryad, tendo em vista testar as directivas do plano Baker/ Hamilton sobre uma possível retirada das tropas americanas do Iraque. Ora o vice-presidente americano o que fez foi deitar gasolina no braseiro. Em telescopagem um pouco aterradora um dos conselheiros do príncipe embaixador na capital federal USA, avança com um plano de ameaças contra o Irão com bastantes detalhes. Aumento das subvenções das milícias sunitas no Iraque, a queda do preço do barril do ouro negro e a mobilização do clero saudita contra a " carnificina e ultraje " a que está sujeita a larga comunidade sunita no Iraque. Tudo com o propósito da instauração de um grande regime xiita no Iraque, Síria e mais tarde com fortes relações de dependência máxima com o poder de Teerão.
O jornalista do Libé recupera um pouco a história e projecta a grande importância política do ex-embaixador e irmão do MNE saudita, membros proeminentes da facção Faysal da dinastia dos Seoud. A administração Bush/Cheney entrega assim um presente envenenado a Roberto Gates, o sucessor de Donald Rumsfeld. O mau relacionamento político entre as duas capitais, que toda a gente desmente, pode dar alento a uma frente sunita internacional unindo a Arábia Saudita, Jordânia, Egipto que incremente a ingerência militar no Iraque, uma espécie de guerra inter-religiosa que poderia levar a perdição aos campos petrolíferos em toda a região e pondo em perigo a economia mundial.
FAR
Jean-Pierre Perrin, enviado especial do Libération, O Reino Saudita vexado por Washington (20.12.06)
Helene Cooper, NY Times, Saudis they may fund Iraqi Sunnis in war against Shiites (14.12.06)
sábado, 23 de dezembro de 2006
Do perigo das tolices
Hoje ao pequeno-almoço dedicava-me a folhear a Dia D, esse orgão oficial do neo-liberalismo tuga- e uma revista com uma pluralidade de opiniões estonteante- quando paro num artigo do Insurgente André Abrantes Amaral. Para além das banalidades habituais, algo houve que me chamou a atenção (e já não é a primeira vez que vejo estas tolices): a dado momento, AAA escreve esta pérola: "Hoje, que vivemos atolados no socialismo...", aliás, um dos seus temas preferidos, o de que, contra todas as evidências, viveremos não no capitalismo, que não passa de uma fachada à Potemkin, mas no pérfido socialismo que manipula por trás da cortina. Isto seria uma anedota, não fora esta opinião excessivamente repetida começar a fazer escola, como acontece habitualmente com as mentiras ditas demasiadas vezes, pelo que desta vez resolvi levar a coisa a sério, e perguntar ao AAA, perguntando-me e perguntando-vos:
- Faz alguma ideia do que é o socialismo e do que os socialistas defendem?- É política de um estado socialista liberalizar os despedimentos e destruir as garantias laborais?
- É política de um estado socialista privatizar bens essenciais dos cidadãos?
- É política de um estado socialista reduzir apoios à cultura?
- É política de um estado socialista introduzir custos cada vez maiores aos cidadãos em áreas como a educação e a saúde?
- É política de um estado socialista aumentar a idade da reforma e reduzir o valor destas, enquanto mantem elevados benefícios fiscais aos PPR?
- É política de um estado socialista manter elevados benefícios fiscais à banca e não taxar os movimentos de capitais, fazendo do trabalho o grande contribuinte para o Orçamento Geral do Estado?
- Isto que eu acima descreví, há quantos anos vem sendo praticado em Portugal? E o contrário, há quantos anos não é?
- Só porque não se liberaliza com a rapidez que deseja, ou seja, tudo e num instante, acha legítimo concluir que vivemos "atolados no socialismo"?
quinta-feira, 21 de dezembro de 2006
Vivam eles!
Os bloggers estão a fazer anos: o Armando e o André.
No equinócio, no Ateneu, lá estaremos para os festejar.
Grande abraço!
No equinócio, no Ateneu, lá estaremos para os festejar.
Grande abraço!
Aos leitores
Inexplicavelmente o nosso sistema de comentários ficou, durante grande parte do dia de ontem, quarta-feira, restrito aos membros do blogue. Provavelmente algum dos administradores carregou involuntariamente no botão errado. Não é nem nunca foi nossa intenção, e prezamos bastante no 2+2=5 a liberdade de comentar. Aos leitores que eventualmente tenham tido intenção de intervir, não o conseguindo por esta razão, em particular, e a todos os leitores em geral, as nossas sinceras desculpas.
quarta-feira, 20 de dezembro de 2006
Leituras
- Democracia e Liberais no por Ricardo Alves no Esquerda Republicana
- O Caldo de Cultura da ERC por Eduardo Pitta no Da Literatura
- Tolos' R' Us por Taxi Pluvioso no Pratinho de Couratos
«Existe hoje, na blogo-esfera dita «liberal», um discurso crítico da democracia que chega a admirar, ou pelo menos desculpar, Pinochet (o homem que pôs fim a meio século de governo constitucional no Chile...). O argumento recorrente é o de que Allende se prepararia para implantar uma ditadura. A teorização que fundamenta essa especulação postula que um regime socialista (com empresas públicas, impostos elevados ou regulação da economia) caminha sempre para a ditadura. Mas a realidade é que não se sabe o que seria o Chile de Allende em 1976 ou 1979. Sabe-se que fora eleito em 1970 com apenas 36% dos votos (e sufragado seguidamente pelo Congresso), mas raramente se refere que a coligação que o apoiava teve 43% numas eleições parlamentares meses antes do golpe de Estado, e que tivera 50% numas municipais um ano após a eleição de Allende.»
- O Caldo de Cultura da ERC por Eduardo Pitta no Da Literatura
«(...) Gostaria de sublinhar que a ERC não nasceu por vontade exclusiva do Partido Socialista. Foi imposta pelo Centrão, isto é, pelo PS e o PPD/PSD (os outros aprovam mas não contam). Dois dos seus membros foram designados pelo PS, outros dois pelo PPD/PSD, e o quinto de comum acordo. Nunca representou o governo. Em última análise representará a Assembleia da República. Et pour cause.»
- Tolos' R' Us por Taxi Pluvioso no Pratinho de Couratos
«O ataque israelita ao Líbano seguiu o banal perfil da “guerra à americana” (...) Por carência de opiniões e posições próprias e preocupados em ganhar aquelas medalhas de ouro, que a Administração americana distribui, ao desbarato, aos mais afoitos defensores do maniqueísmo político, os euro-líderes propagaram a mesma visão religiosa do seu amo sobre o mundo – dentro da simplicidade comic book – de que naquela guerra as “forças do Bem” esborrachavam as “forças do Mal”»
Ethos "liberal"
O Blasfémias tem publicado nos últimos dias vários posts de Pedro Arroja e Rui Albuquerque que merecem a nossa atenção. É apresentada uma tese que, de modo resumido, se pode explicar por duas premissas: 1- que a ditadura é o oposto da democracia do mesmo modo que o totalitarismo será o oposto da liberdade, e 2- que a democracia liberal é a ditadura da maioria, deste modo se negando a possibilidade de uma sociedade verdadeiramente "livre", ou seja, "liberal".
Este raciocínio enferma de alguns erros típicos dos ditos "liberais". Primeiro, aquilo que me apraz chamar um problema do "ethos". Arroja, sobretudo, afirma que a sociedade democrática (sendo a "menos má", isso não põe em questão), limita o poder do homem individual, os seus actos "heróicos", para utilizar a terminologia de Ayn Rand. O que poderia parecer óbvio, e até tentador para um nietzscheano como eu, se não fosse um simples problema de perspectiva: nada impede os actos "heróicos" numa sociedade democrática. Simplesmente, menos factores os obrigam. Numa guerra, os homens distinguem-se pelo heroismo, mas são levados a isso pelas circunstâncias; em paz, tem a opção do comodismo e da resignação. O que, como é bom de ver, aumenta o valor dos que agem de modo "heróico", uma vez que resulta da sua livre escolha, e mesmo da resistência à resignação. Logo, uma sociedade democrática, se não terá mais heroismo em quantidade, te-lo-à certamente em qualidade. Mas o problema do "ethos" revela-se ainda de outra forma, a abjecção pela chamada "ditadura da maioria". Deixando de lado a questão sobre se isso realmente ocorre, o que é muito discutível, o que Arroja não percebe é que não existe uma "maioria", existem "maiorias"; o próprio Arroja pertencerá certamente a algumas- por exemplo, se tiver um carro. Pode-se ser homossexual (minoria) e gostar de musica pop (maioria). Numa sociedade cuja principal característica é a crescente complexidade, cada vez mais a não-pertença se torna a grande questão, sem prejuízo de existirem opiniões maioritárias nos diversos temas. (Aparte: esta questão da maioria é quase patológica nestes "liberais"- parece uma obsessão por se afirmar como diferente, até como superior, face ao desprezado vulgo. Como se Arroja dissesse: eu pertenço à minoria, aos iluminados, não tenho nada a ver com o zé-povinho).
Mais relevante é a questão da oposição descrita como ponto 1, porque origina uma separação conceptual entre liberdade e democracia, e entre totalitarismo e ditadura. Primeiro, deve-se dizer que há aqui uma confusão tremenda: entre conceitos puros, como liberdade, e conceitos instrumentais, como democracia, totalitarismo e ditadura. Depois, que a aplicação que aqui se faz à liberdade como restrita à esfera individual não faz qualquer sentido: quanto maiores as liberdades civís, maiores as liberdades individuais, pelo menos se se quiser pensar estes conceitos como relativos à totalidade dos seres humanos- será de modo diferente, sem dúvida, numa sociedade de tipo aristocrático, mas isso, presumo eu, não é opção que se deva sequer colocar. Ou será? O "totalitarismo" aqui entendido, por aplicado unicamente à esfera das liberdades individuais, não se consegue sequer explicar a si mesmo sem recorrer à acima descrita "ditadura da maioria". Aliás, é uma linha de raciocínio tipo "pescadinha de rabo na boca" em que tudo regressa ao ethos destes "liberais", o seu horror pela dita "maioria". A liberdade é um problema de índole ética, e o seu objecto engloba diferentes camadas: individual, moral, social. Em termos últimos, a sua realização depende da aplicação a um maior número possivel de seres humanos. Para quem acredita na liberdade, o que será importante é a análise sobre como realizar, do melhor modo possivel, estes três vectores do conceito.
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