sexta-feira, 8 de julho de 2005

Why London?

No meio dos habituais e óbvios berros de indignação sobre o ataque de ontem em Londres ("filhos da puta" é a palavra de ordem, p. ex. aqui ou aqui), espera-se ansiosamente pelos argumentos costumeiros: "os terroristas não são humanos"; "odeiam as nossas liberdades e o nosso modo de vida"; "matam inocentes", etc. etc. Vai-lhes, como sempre, escapar o fundo da questão. Como explica o ex-agente da CIA Michael Scheuer numa excelente entrevista na VISÂO de 30 de Junho (infelizmente não está disponível on-line), a Al-Qaeda e Bin Laden não nos atacam por questões culturais, por não gostarem de nós, por serem contra os valores ocidentais, ou simplesmente por serem maus. Atacam-nos por três razões: Israel, Arábia Saudita e Iraque. Concretamente, pela presença do "Infiél" nos lugares santos desses países. Se são relativamente populares no mundo islâmico, não é por qualquer deformação cultural dos Árabes, é pela humilhação que representa essa presença e pela perfeita noção que têm da rapina que se abate sobre os seus países. Quanto ao espantoso argumento dos civís inocentes pergunto apenas: quantos Londres seriam precisos para o número de mortos civís no Iraque? Dez? Cem? Mil?
Enquanto não se for ao fundo da questão, enquanto os europeus e americanos não perguntarem aos seus governos se todo o petróleo do Mundo vale Nova Iorque, Madrid e Londres, vão sobrar apenas bombas um pouco por toda a parte, e consciencias muito tranquilas, e "filhos da puta".

6 comentários:

Anónimo disse...

Penso que sim, uma opção seria deixar o petróleo como fonte de energia para veículos, dado que estes são os maiores consumidores. Como o carvão é mais poluente e não move veículos (modernos), a solução parece estar na electricidade gerada por fontes não-fósseis. Mais limpa e mais segura.
Mas, para além da revolução necessária nas sociedades ditas industrializadas, só tenho uma questão?
O que acontecerá aos petro-países? Para além do ouro negro, o que têm para oferecer?
Turismo? Para receber turistas é preciso tolerar e muito, como se sabe. Pelo que o senhor André Carapinha diz, não me parece que os cidadãos desses países tenham vontade de receber turistas. Tâmaras, areia? Compram-se mais baratas nos países do Magreb.
Sol terão em fartura. Tal como o deserto do Sara, grande parte do "Grande Satã" e mesmo o nosso próprio país.
Tudo isto para tentar antever o futuro dos "grandes explorados": miséria. Muitos anos deverão passar para que o "Grande Satã" e os seus aliados com ruas sujas de sangue, se esqueçam dos atentados. Por muito triste que lhe possa parecer, no Reino Unido, cem iraquianos mortos são menos importantes que um britânico.

Quanto à Palestina e Israel, já me interroguei sobre a razão de não abandonar os colonatos e fechar militarmente as fronteiras com a Palestina. Consequências para Israel? Menos trabalhadores, alguma contestação internacional, menos (nenhum?) atentado, mais turismo. Consequências para a Palestina? Êxtase pela expulsão do inimigo, desemprego, miséria. Bom negócio.

Lembra-se de Ghandi?
Lembra-se de Mandela? Foi com atentados que conseguiram o que têm? Não se apanham moscas com vinagre e não se ganham simpatias explodindo bombas.

André Carapinha disse...

Obrigado pelo seu comentário, teve o prazer de estrear a caixa.
Os paises petro-dependentes nunca conseguirão deixar de o ser enquanto o mundo o for. A própria relação do mundo ocidental com o petróleo é o factor nº 1 para essa dependência (neste caso em termos de receitas).
No entanto, parece-me que o sentido do meu post é outro. Não vejo qualquer entrave a uma relação saudável dos ocidentais com os países produtores de petróleo (embora, obviamente, seja completamente a favor do crescimento do peso das energias alternativas). Agora, uma coisa é relação saudável, outra muito diferente é o que se tem passado, nesses paises como noutros. Não existe um comércio equilibrado, existe um conjunto de multinacionais que, como aliás é legítimo, tentam obter o máximo lucro possíve. O que já não é legítimo é os meios com que o fazem: apoiando qualquer governo corrupto em troca da sua protecção, pressionado e na prática dominando os governos ocidentais (particularmente os EUA) para seguirem a sua agenda. Não questiono minimamente o mercado e o direito ao lucro, questiono a inexistência de mecanismos de protecção da parte fraca nessa balança, em suma, a morte do estado social. E não se pense que isto é só um problema dos europeus, é um problema dos povos de todo o mundo.

Anónimo disse...

por falar nos argumentos costumeiros, quando lia a transcrição de um dos discuros do Blair desse dia, deu-me mesmo a sensação de já ter ouvido aquilo da boca do Bush. e até da do Aznar.

fui à procura dessa transcrição. sei que a tinha visto pelos lados da BBC. não a encontrei. no entanto encontrei
isto
.
"Many dead in Iraq suicide blast"
"A suicide bomber has killed more than 20 people who were queuing outside an army recruiting centre in the Iraqi capital Baghdad."

Obviamente que não estou à espera de ver por aí comentários de "filhos da puta" ou "hoje somos todos iraquianos".

Anónimo disse...

acho aliás que a maioria dos que anteontem nos exigia respeito e silêncio nem vão dar por esta...


já agora André, quais é que são esses problemas com o JAVA? (e o que é que o JAVA tem a ver com os blogs?)

André Carapinha disse...

O Java é prós templates do blog. Mas é Java prá Laura...

Anónimo disse...

Já ninguém vai ler isto, mas não interessa, fica escrito.
Para se chegar ao ponto de escrever publicamente, como fiz, as expressões "filhos da puta" e "filhos dum cabrão", para designar os autores dos atentados de Londres, não basta ser malcriado ou pró-Blair. É necessário ter algum envolvimento emocional com a cidade atacada (teria escrito o mesmo sobre os ataques a Madrid, se tivesse um blog na altura) e bastante experiência de transportes públicos em cidades modernas. Ambos os casos são o meu caso. Não fico, ademais, particularmente emocionado com o que se passa no Iraque porque o Iraque é, para todos os efeitos, um país em guerra. Nos países em guerra, é sempre corajoso atacar os militares inimigos seja de que forma for (e têm morrido muitos soldados ocidentais por via de atentados). Os militares. Agora, massacrar civis que não estão à espera disso é sempre cobardia própria de filhos da puta e de filhos dum cabrão. A carapuça serve a todos por igual, seja lá donde eles forem e onde ataquem. Isto é aquilo a que se chama uma posição de princípio.