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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Los Santeros e Mad Dog no Maxime


(ouvir tracks 18 e 19)

DJOM PÓ-DI-PILOM


Mi própi qu’ê Djom,
Djom Pó-di-Pilom,
qu’ê dono di tchom,
tamanho, largom,
co midjo, rolom,
mandioca, fijom,
batata, mamom,
barnela, cimbrom
co pé di polom!

Mi própi qu’ê Djom,
Djom Pó-di-Pilom,
fadjado, roscom!
Casa, quintalom,
co pato, pintom,
galinha, frangom,
tchiquêro, litom
co roda fogom,
co tcheu calderom
ê‘Nhor Deus qui pô!

Mi própi qu’ê Djom,
Djom Pó-di-Pilom,
qui djunta tistom
contado na mom,
tó qu´intchi cerom,
saco, garrafom,
caxa papelom
co três balaiom,
pa mi co nh’irmom!

Mi própi qu´ê Djom,
Djom Pó-di-Pilom,
fadjado, roscom,
qu´ê dono tchom,
qui tem tcheu tistom
má qui ca ladrom!

Jorge Pedro Barbosa. 1958

(Poema musicado por Mad Dog & Los Santeros)

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Letra para um blues

DJOM PÓ-DI-PILOM


Mi própi qu’ê Djom,
Djom Pó-di-Pilom,
qu’ê dono di tchom,
tamanho, largom,
co midjo, rolom,
mandioca, fijom,
batata, mamom,
barnela, cimbrom
co pé di polom!

Mi própi qu’ê Djom,
Djom Pó-di-Pilom,
fadjado, roscom!
Casa, quintalom,
co pato, pintom,
galinha, frangom,
tchiquêro, litom
co roda fogom,
co tcheu calderom
ê‘Nhor Deus qui pô!

Mi própi qu’ê Djom,
Djom Pó-di-Pilom,
qui djunta tistom
contado na mom,
tó qu´intchi cerom,
saco, garrafom,
caxa papelom
co três balaiom,
pa mi co nh’irmom!

Mi própi qu´ê Djom,
Djom Pó-di-Pilom,
fadjado, roscom,
qu´ê dono tchom,
qui tem tcheu tistom
má qui ca ladrom!

Jorge Pedro Barbosa. 1958

(Poema musicado por Mad Dog & Los Santeros)

domingo, 9 de novembro de 2008

Bye Bye Bird


Sonny Boy Williamson II (1963)



Mad Dog a ensaiar para o Barreiro Rocks 2008

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Digressão interna (epílogo)

Era chegada a hora de desencadear o regresso à ‘ville blanche’. Sei lá, alguém aventou (Mad Dog?) que seria melhor “fazer algum tempo” até à hora do ferry “A Caminho das Estrelas”, pensa-se que uma homenagem a todos os artistas que despontam para o anonimato, largar ferro para a travessia trans-Tejo. Sei lá, amortizar tabaco manhoso, trocar reminiscências e continuar a investigação dos homicídios em carteira.
Dava-se, porém, a circunstância de, com o intrigante desaparecimento do Landru, não haver mortalhas, e de os presentes serem demasiado ortodoxos, procedimentalmente, e avessos a todas as práticas desviantes, tais como, re-utilizações, reciclagens. Mortalha é mortalha, como em “o vinho é minha mortalha, o copo é meu caixão”. Capice?
Clarence ofereceu-se, por tudo isso, para interpelar os locais que trotavam pela Avenida da Praia, nas imediações do banco de jardim em que os sobreviventes recuperavam fôlegos. Clarence ensaiou, sem êxito, vários approches:“O senhor desenrasca-me uma seda? Abonas uma seda? Pode ceder-me uma seda?
“”Não percebo, os gajos fogem…”. Estranho, de facto, nós também não atinávamos com a razão para tanta falta de cooperação e solidariedade. E resolvemos deitar-nos ao caminho.
Arrastámo-nos umas centenas, ou seriam dezenas, de metros em terreno muito acidentado, dir-se-ia um percurso radical para tropas especiais, e aos primeiros ataques sérios de tosse, às primeiras quedas, quais baratas tontas fizemos sinal ao primeiro e único táxi que rodava por aquelas picadas. “Lisboa…a galope”.
À frente, no lugar do morto, seguia o delegado da China, atrás, coabitavam o delegado da Suécia e o Clarence. Ou porque a jornada fôra dura ou porque as juras gritadas do Clarence, em como haveria de “matar todos os comunistas”do universo, o afligiam, o Luís P. encostou-se e desatou a ressonar. Roncos tais que só terão paralelo nos índios do Amazonas que ferram o galho em redes para afugentar os animais selvagens.
“Este gajo é uma vergonha”, lamentou o Clarence, aproveitando para lamentar: “logo hoje que matámos o Landru”.
Entretanto, o taxista aparentava estar mal disposto, a julgar pela lividez da fuça e rigidez do pescoço. Decidi acalmá-lo.
“”Não ligue, são uns brincalhões. Como se chama? Gosta de ser fogareiro? Já foi assaltado? Anda armado? Como avalia o excepcional trabalho do governo de José Sócrates?Que pensa da ‘terceira via’? Se não fosse taxista que gostaria de ser? “
“Como adivinhou? Ando a escrever um livro, mas com esta merda do táxi ainda só avancei uma linha…”
“É o mais difícil. Agora é só juntar entulho. Como é essa linha?”
“É um bocado repetitiva. Pacheco Pereira é uma morsa. Pacheco Pereira é uma morsa. Pacheco Pereira é uma morsa. Pacheco Pereira é uma morsa.”.
Felizmente, acabávamos de chegar à fronteira de Lisboa.

JSP

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Digressão interna (IV)

A ‘little turba’, como entendeu nomear-se o agregado de peregrinos à “cintura da ferrugem”- conhecida noutras latitudes antropológicas por Berreiro, aproveitou o percurso entre o Moutinho e o Mareado para estimular o artista da noite. Segundo o peculiar método Viggi… uma espécie de bota-abaixismo refinado e erudito. “Não há concerto”, “os Santeros andam a gozar contigo”, “cantas pior do que uma cabra velha”, “ninguém te conhece”, “é preciso avisar o INEM”, “não vais receber cachet”,”os gajos andam a gozar-te”, “depois das sessões de canto livre só te faltavam os concertos da JCP”, “se nos deixas ficar mal…”, “ainda tens daquele Hax falso?”. Como os nossos sagazes leitores terão reparado, à excepção da sexta e décima proposições, é tudo baixaria e aleivosia.
Docámos, por fim, num bar de aquecimento, adjacente ao espaço do concerto, para fazer a contagem decrescente para o espectáculo- os Santeros continuavam desaparecidos- e confraternizar antecipadamente com os indígenas. Que é dizer, com o público Santero.
Assim, numa primeira mirada, constatámos que tínhamos irrompido num furo do 12 ano. O Landru, veterano das Mil e Uma Noites, reconheceu imediatamente a confort zone onde nos devíamos refugiar até que avaliássemos a situação ou os Santeros viessem de salvadego. Adivinharam, o balcão daquele bar minimal, atrás do qual atendia aquele que parecia ser a única pessoa com que nos poderíamos convergir numa fala comum.
“Para nós whisky”, pediu o Landru, completando com aquele ar inefável de Príncipe da Cidade: “olha lá, isto que está a tocar é Shadows?!”.
“Shadows? Quá, quá, quá, quá, quá. Shadows, tiozinho? Quá, quá, quá, isto é Ape Man”.
Felizmente, a cousa passou discreta, porque entretanto Clarence era interpelado por todos os passantes. Com palavras de saudação, respeitosas, e cúmplices. “Então, Mad Dog? Boa, Mad Dog! Mais um concerto, Mad Dog? Jubilado, Clarence confrontou as delegações da Suécia e da China que o acompanhavam: “então, não dizem nada?”. Dizemos, dizemos. Onde estão as gajas?
Já se sabe, o nosso Clarence não resiste a uma provocação destas. E vai daí aplicou o seu charme Mad Dog junto da Lolita, de sardas artificiais e cabaia- vá lá, um apontamento etno-linguístico, Cheong Sam ou Qipao- que servia às mesas: “então, não me vais ouvir cantar?”.
“Não, vou a um concerto na Moita”. Foi tal a afronta e a desfeita perante as delegações do exterior, que o Mad Dog embatucou nas virtualidades semânticas da réplica, aproveitando o Luís P. para lhe oferecer uma bebida para a voz. “Toma Joe, é bom. É uma espécie de groselha”. Adiante veremos as consequências deste cordial, uma variante tinta do dry martini. Metade vermute, metade vodka, em copo grande. Sem gelo.
O Landru, sem que ninguém desse conta, ia celebrando a meteórica ascensão a secretário-geral, rilhando copo atrás de copo, ao ritmo imaginário dos…Shadows. Bom, eis que chegam os Santeros e soava o primeiro aviso fasten your seat belts.
A ‘little turba’ esgueirou-se para o exterior, para o passeio ribeirinho da Avenida da Praia, ao Mareado, convicta de que o Landru iria enrolar um telescópio afegão. Só que…o Landru jogava a mão direita ao bolso do mesmo lado e a mão entrava na algibeira esquerda; descia a mão esquerda para o bolso desse lado e a pata teimava em entrar na algibeira direita. Com desagradáveis implicações ao nível da amplitude das rotações e do equilíbrio em geral. E da vontade de fumar em particular.
Desmotivados, partimos para o concert hall e quanto ao Landru, soube-se mais tarde, foi salvo por um anjo que o levou para Lisboa. Como a Madre Teresa fazia em Calcutá.

Uma agradável surpresa

Entrámos no caveau, já os Santeros, duas guitarras e uma bateria, acertavam batidas e acordes. E o que se seguiu foi uma agradável surpresa.
Os Santeros tocam razoavelmente bem, se bem que por vezes enveredem por zonas de energia em que a expertise é de difícil discernimento, dir-se-ia uma falsa banda de garagem, trocam de instrumentos durante o espectáculo (Lyotard? Pós-Punk?) e limitam as intervenções vocais a uma espécie de pregões anarquistas. Tequiiiiiiilla. Pooooolvo. (Matriz Universal). Relegando a dominância anglo-saxónica para a marca das guitarras.
Eis que chegava o momento mais aguardado da noute. A. Carapinha anunciava a actuação do “grande”, “incontornável”, “mítico bluesman do Cais do Sodré”, ele próprio, ao vivo, MAAAAAAAD DOG CLARENCE.
Acreditem, a casa, esgotada, quase ia abaixo. Uma ovação singular atestava bem a boa conta em que Mad Dog é tido nos circuitos para-comerciais da música alternativa. MAAAAAAAD DOG CLARENCE.
Mad Dog que confraternizava ao balcão com sus apoiantes- “Joes, vocês foderam-me com aquelas groselhas”-, arrancou para o palco um tudo nada mareado. Agarrou no mic, apanhou a embalagem do ritmo simples dos blue e atacou, como peça de abertura, um untitled. Frisson.
Da garganta de Clarence, do que ela dava, repetia-se, em carrossel, qual mantra ou mnemónica, Maaad Dog. Maad Dog. Maad Dog. Maad Dog. Nada mais. Maad Dog. Maad Dog.
Imagine-se que um dos liceais que assistia ao concerto, quem sabe, filho de um nosso antigo aluno, volta-se para os colegas e, com aquele ar feliz de quem descobre a gravidade, e bolsa: “este gajo não canta um caralho”. Não resisti pedagogicamente. “Ó imbecil, mais respeito. Não percebes que Dog é anagrama de God. Daí a repetição…aventesma que sai à noite sem reler o argumento ontológico de Santo Anselmo.
Melhor ficaria a contestação de Gaunilo, a partir da experiência do idiota : “In the face of signifying discourse, certainly understands that there is an event of language”, vox, human voice, “but cannot in any way grasp the meaning of the statement”.
Não tardou a tosse, mais ou menos convulsa, e foi tempo de sacar a harmónica, silvá-la, e executar o movimento característico dos grandes deste instrumento: a descida encarpada ao solo. Porque a interpretação o consumiu, com a ajuda das notórias groselhas do Luís P., Mad Dog quedou-se no solo, qual James Brown em transe, ou um mau episódio de Voodoo. Foi resgatado pelos Santeros. Pediram uma grandiosa salva de palmas e anunciaram: agora, o Mad Dog vai descansar!
O nosso Clarence procurou abrigo junto das delegações da Suécia e da China que acompanhavam o suicídio ritual ao balcão. "Boa Joe, grande actuação. Mas acho que os Santeros te andam a foder. Vamos embora."
Saímos e já junto à Avenida da Praia escutámos uma nova ovação. No banco de jardim, fronteiro ao Mareado, lá estavam o João Leão Neves, o Jota Murinello, o José “Barroca”Barros e o Raúl “Panzerbull”Ferreira. E o Sheik. Não quiseram faltar a esta jornada inesquecível.

(continua)

JSP

segunda-feira, 30 de abril de 2007

Digressão interna (III)

Ainda faltava uma meia dúzia de horas até ao concerto…!
Fosse porque a fome, leia-se, sede, do tipo bíblico, começava a apertar, que houvesse a agenda do Encontro Mundial de Viggis para despachar, fosse porque a boa prudência exigia que nos puséssemos a recato de uma subversão na esquadra, decidimos esgaçar o passo rumo ao “Moutinho”, embora com a promessa de voltar, rebentar as fuças ao bófia do chanfalho, o Lopes, e arrancar a farda à nossa agente da PSP- fazendo dela uma mulher…civil. Mais a habitual Intifada de insultos. Estes gajos não crescem…
E foi assim que desaguámos no estábulo da nossa sorte, recebidos, confesso, com meio sobrolho do Moutinho e duas ou três risadinhas multiculturais da senhora de Moutinho. Curioso… não é a primeira vez que isto acontece. Estranharão a pala negra do Mad Dog? Sentir-se-ão ameaçados pela bomba de asma do Clarence?
Seja como for, o degelo foi instantâneo. “Olhe, enquanto a gente escolhe, traga-nos meia dúzia de garrafas do melhor alentejano da casa e tomem providências para que não nos falte vinho; vire um pouco a televisão para a nossa mesa e quando começar o Portugal/Bélgica aumente o som…que a gente vê mal…de tanto forçar a vista cansada ficámos com os olhos vermelhos”. Era apenas o princípio de uma grande amizade; à segunda meia dúzia já tratávamos o Moutinho por ó cabrão e o Luís P. desafiava a patronne a tirar a camisola.
Nos intervalos, como se disse, foi sendo despachada a agenda Viggi e deram-se os últimos retoques na playlist do Mad Dog. Por entre telefonemas aos Santeros que jantavam algures no deserto vermelho.
A agenda foi, pois, sendo aviada nos espaços que sobravam dos “viva Portugal e o Cristiano é o melhor do Mundo” e alguns apontamentos eruditos sobre a Bélgica e os Belgas- “é o país dos dois estrumes e de uma bosta singular (Bruxelas), Portas nasceu lá (Bruxelas), são todos paneleiros, menos o Brel, o Jean-Marie Pfaff e o Preudhomme, e o maquinista é o rei Balduíno, na avenue Louise até os cães são rabetas, os flamengos aliviam-se nas vacas, a Yourcenar fugiu, Liége tem mais idiotas por m2 do que Carrazeda de Ansiães.
Entre os vários pontos abordados, desequilibradamente, sublinhe-se a escolha de Francis Obikwelu para ‘melhor português de sempre’- um gajo que não é português e quer sê-lo é sem dúvida o melhor de todos nós; Marques Mendes, com a licença de Wag the Dog, que por sua vez deveria pedir licença a Vargas Llosa, é um infiltrado albanês com objectivos sinistros- subtrair-nos, substituindo-nos por albaneses de metro e meio, e declarar o estado de Nova Tirana. Diz que, Mendes quer transformar o Palácio de Belém numa mesquita, interditar o álcool, proibir o futebol e o entretenimento em geral. Os albaneses de Nova Tirana só poderão alegrar-se no Karting e nos Matraquilhos, beber laranjada e tocar ao bicho.
Houve lugar, também, para um momento de Cardiologia, a cargo do Luís P., um momento de politicamente correcto- mudar a designação do pau preto e da peste negra-, falou-se do cogito ergo sum do Estado (protejo, logo obrigo) e foi novamente reiterada a expulsão de Gomes da Silva. Landru, muito diplomaticamente, não se manifestou, mas foi encomendando o avental, as divisas, o báculo e a farda de gala Viggi. Brindou-se a um longo consulado do novo secretário-geral.
O jantar/comício estava no fim. Ainda deu para mais uma meia dúzia de tintos e para cantar o hino Viggi na sua dupla manifestação Zen: “A Negra tava mamando” e “Minhas Botas Velhas Cardadas”. O casal Moutinho bateu palmas e implorou “voltem, voltem mais vezes; mas avisem com um ano de antecedência”.
Refez-se a formatura no exterior, alinharam-se tempos, e, tequilla propelled, lá fomos a todo o vapor para o “El Mareado”, o palco que haveria de receber a velocidade dos Santeros e a massa do Mad Dog.

(continua)

JSP

sábado, 28 de abril de 2007

Digressão interna (II)

Escusado será dizer que o Landru, nosso vaticanólogo de referência- é dele a teoria sobre a castidade virtual de sua santidade- e também perito nas relações entre o catolicismo e a indústria farmacêutica- o viagra e a irmã Lúcia-, desembarcou no cais do Barreiro em cima de uma nuvem. Não era caso para menos…não só se preparava para assistir a um concerto integral de Mad Dog e dos Santeros, como muito principalmente estava fresco de ter sido admitido nos Viggis e logo na importante posição de secretário-geral. Aliás, Landru foi, perante a estranheza dos indígenas a quem ofereceramos boleia na “Mad Dog Van”- uma Volvo de 55 lugares que, quando não está sendo precisa, é geralmente emprestada aos Transportes Colectivos do Barreiro-, saudado de forma efusiva pelos demais Viggis. O habitualmente circunspecto Landru, também conhecido pelo cognome de ‘Príncipe da Cidade’, não escondia, pode dizer-se, satisfação e orgulho por ir ocupar um posto que fôra do canalha Gomes da Silva- expulso por delitos axiológicos e pressão do Sérgio Albasini.
Landru reciprocou com uma demonstração de destreza em movimento acelerado: enrolou um charro em menos tempo do que o motorista levou a dizer “não tarda, ponho-vos na rua” e ofereceu a primeira rodada de baldes, no primeiro “buraco” que encontrássemos. Par hasard…a Associação dos Dadores de Sangue do Barreiro. Simpática colectividade da Avenida da Praia que explora um misterioso “comes e bebes”, servido por um duo de barmen: um sósia amarelecido de Peter Cushing e um exemplar do tipo Bela Lugosi on steroids. Declinámos, obviamente.
Havia, pois, que encontrar amesedação condizente com a estirpe da delegação e com a circunstância de ir ser transmitido o Portugal/Bélgica. Lá partimos na demanda do Shangri La: acabámos por estacionar no restaurante “O Moutinho”, propriedade e serventia de um simpático casal da família do grande João Moutinho do Sporting.
Como descobriu Ponce de Léon- no relation-, a viagem assegura a juventude. Razão porque deambulámos bastante até assentar guardanapos no Moutinho. Passando pela sede de um jornal local- Mad Dog comparou-o, para o quem quis ouvir, com o “Choson Sinbo” de Pyongyang, por um mono que aparentava a dignidade de uma mairie mas deve funcionar como clínica de ‘anger management’, a julgar pelos cabrões, sacanas e filhos da puta com que fomos bombardeados, por dois ou três estábulos feitos ‘casas de comida’, e por algumas escalas técnicas para repor líquidos.
Par hasard, também, passámos frente à esquadra da polícia. Um edifício salazaroso, com um adiantado modernista, tipo marquise ao contrário, jardim de Inverno ou gazebo gradeado.
Na dita antecâmara, iluminada, transparente para o exterior, uma valerosa agente da polícia democrática de Alberto e António Costa vagueava pelo teclado de um laptop. Alguns de nós, não vou identificar, acharam que seria interessante chegar à fala com a mulher fardada. Nunca se sabe…e nas polícias democráticas é um par ou ímpar, um cara ou coroa.
“Sua puta, sua grande puta”, foi a fórmula encontrada para quebrar o gelo. Os nossos sagazes leitores já estão a saborear o que se seguiu…mas estão enganados.
A nossa agente, permitam que a refira deste modo, levantou os olhos do écran, onde se atropelavam vários sites de organizações de direitos humanos, e respondeu ao charlot que emergia do interior da esquadra de chanfalho estalinista na mão…”deixe-os lá, Lopes, são uns velhinhos… e já vão cá com uma carroça…que não chegam ao asilo”.

(continua)

JSP

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Digressão interna I

Como soe dizer-se, o prometido é devido...mais os juros simplesmente vincendos. Dirijamo-nos, pois, ao local e momento em que arrancou a digressão de Mad Dog Clarence, descrito nas publicações da indústria, pouco, e no boca-a-boca, muito, como o ‘mítico bluesman do Cais do Sodré’, por terras inóspitas do Barreiro.
Porque a logística é complicada, tanto mais que, para além do staff técnico que habitualmente acompanha o artista, daquela feita pontificavam delegações do exterior (Suécia e China), o “party”, no sentido de grupo, bando, delegação, concentrou-se, pois claro, no British Bar, ao Cais do Sodré. Daí executar-se-ia a ‘transfega’ do artista e convivas para a Outra Margem, onde residem, aliás, os três elementos da banda de apoio nos concertos do Clarence: “Los Santeros”. Sigamos por narrativa simples, pesem os sacrifícios da estilística e da prosódia. Prosódicos não paródicos.

Pelos princípios da tarde de sábado, cerca das 5 horas, Mad Dog e convidados, mal refeitos, ou ainda desfeitos, da noute de sexta-feira, foram arribando à sala de reuniões do BB. Completada a guarnição, passou-se ao briefing técnico/artístico- acústica na sala do El Mareado, play-list, afinação dos instrumentos, as estafada leviandades sobre a origem dos blues, do delta aos urbanos, style, suportes de gravação, e, não há volta a dar, cachets. E outros assuntos menores, tais como a ausência de horários, consequências do desconhecimento da localização do espaço do concerto- “é ali, mais ou menos, perto do El Mareado…a malta pergunta, alguém saberá”, e, principalmente, onde estavam os Santeros?
Claro, simultaneamente, sem prejuízo da atenção prestada às explicações do Clarence, foram sendo tombados os primeiros baldes de cerveja. O Mad Dog optou pelas Cubas Libres, ao que disse, por motivos exclusivamente vocais.
Não se pense, todavia, que o nível desta etapa preliminar foi baixo, embora tivesse sido necessário recorrer a um produto orgânico- química, só mesmo a guerra- deveras estimulante. Discutiram-se, por exemplo, questões como a globalização e as fiscalidades dos países escandinavos, melhor, providência e previdência- o líder da delegação sueca concretizou como “filhos da puta da direita querem que eu pague impostos…eu, que nunca paguei”, justificando com o erro induzido por uma má percepção da utilidade marginal keynesiana “pensei que isso significa que é mais útil ficar na margem, recebendo e não pagando”-, a iminente desintegração do Bloco de Esquerda, o excelente trabalho que vem sendo feito pelo governo de José Sócrates, a castidade de Bento XVI como alegoria, o irreversível regresso à economia de subsistência no Zimbabué, o denominado, por mim próprio, ‘axioma da machamba’, a revisão do Processo Penal e a SAD do Benfica e a possibilidade de cantar um blue em crioulo cabo-verdiano. Mad Dog trazia, inclusive, uma proposta de letra; o colectivo entendeu que os públicos lusos mal-versados nas subtilezas daquele patois poderiam achar estranho um poema cujos versos terminavam todos em pichón.

Duas horas e vinte baldes mais tarde, e tendo ficado decidido que seria mais prudente ir de cacilheiro, a missão cultural formou no exterior do British Bar e Mad Dog, já ataviado para o concerto (de baixo para cima, sneakers, jeans, camisa preta, gravata castanha com motivo pornográfico pintado à mão, jacket a deux poches, de um espreitava a harmónica do outro uma bomba de asma, pala preta de pirata e chapéu castanho abado ao estilo da Suazilândia) deu voz de partida. Um, dois, três, esquerdo, direito- comunas, filhos da puta-, um, dois três, esquerdo, direito- comunas, filhos da puta-, um, dois, três, esquerdo, direito- comunas, filhos da puta.
Lá fomos, cantando e rindo, em direcção ao cacilheiro, por um atalho ribeirinho que Clarence também atribuiu à excelência da governação de José Sócrates, variando, por sugestão tautológica do líder da delegação da China, então, um tudo nada o estribilho, qual sound byte, que ficaria a marcar esta grande digressão interna de Mad Dog Clarence: filhos da puta… comunas; filhos da puta…comunas; filhos da puta…comunas. E Clarence, treinando o contraponto jazzístico ao mambo trash dos Santeros, replicava: dou-vos uma carga de porrada; dou-vos uma carga de porrada; dou-vos uma carga de porrada.
Chegados ao, chamemos-lhe, terminal fluvial, já não deu tempo para molhar o bico. Foi trepar a bordo da embarcação, cuja modernidade o Clarence também associou à excelência da governação do José Sócrates, aterrar no bar, entornar alguns baldes contra o enjoo, e ameaçar perante a indiferença geral: Barreiro, vais virar braseiro. Ah! Já me esquecia: comunas, filhos da puta; filhos da puta, comunas.

JSP