Dançando na rua.
Sol a brilhar, grafonola a tocar e a malta a dançar.
Olá!
Tenho a dizer-vos que na minha recente deslocação ao reino da Dinamarca comecei o meu primeiro dia com um sorriso quando vi numa montra ao lado do hotel o seguinte anúncio: “Fod Massage Nu Kr 250”.
A tal “Fod Massage” não tem nada a ver com a “Thai Massage” que num pequeno “escritório” na zona de lojas de porno e outros negócios do género por detrás da principal estação de caminhos-de-ferro de Copenhaga prometia um “happy ending” por um preço mais alto. “Fod massage Nu Kr 250”, apresso-me a explicar, quer dizer “massagem de pés agora 250 Coroas”, não tem nada a ver com “massagens” com “happy endings” mas deve ser muito popular pois por onde andei vi sempre anúncios com os mais diversos preços.
Apresso-me também a dizer-vos que ao contrário do que acontecia há 30 anos atrás o negócio das lojas de porno deixou de estar nas principais vias turísticas quando então era tabu noutras partes da Europa e portanto atracção neste pequeno país. Agora estão remetidas para uma zona “rasca” da cidade cada vez mais reduzida pelas pressões económicas e demográficas e em Aarhus nem sequer as vi.
Em troca das lojas de porno contudo os inevitáveis McDonald’s, Pizza Hut e outros símbolos do social capitalismo global invadiram as zonas centrais das cidades. A rua de peões de Copenhaga em tempos lugar de turismo par excellence é algo a evitar a todo o custo.
Mas a popularidade da “fod massage” atesta a existência de fundos extra para gastar no lazer e tenho a dizer-vos que as dezenas e dezenas de guindastes que se vêm ao longe quando nos aproximamos de Copenhaga vindos da ilha de Fyn atestam a um boom económico que faz inveja mesmo aos grandes da UEtupia.
Como há mais de 30 anos quando lá estive por muito tempo, projecta-se ainda na Dinamarca um bem estar social em que são raríssimos os pedintes ou “ajudantes” de estacionamento automóvel e em que a ausência de policias nas ruas é algo que - como então - não me deixa de espantar!!!
Ver um carro da polícia é um acontecimento raro. Ver um polícia em uniforme a patrulhar nas ruas é ocasião para se fazer festa. (Tenho a dizer no entanto que desta vez vi dois policias no centro de Copenhaga atrás de uns quatro ou cinco “mangas” obviamente estrangeiros carregando sacos onde, presumo eu, carregavam os proveitos de um dia de “trabalho”. Os “mangas” fintaram os policias e não houve portanto neste caso “happy ending”)
As bicicletas enchem as ruas de Copenhaga provocando em algumas zonas, como por detrás da principal estação de comboios, verdadeiros labirintos de zonas de estacionamento de bicicletas. Se em Nova Iorque em algumas áreas se construíram complicados sistemas mecânicos para estacionar carros uns em cima dos outros em espaços curtos, em Copenhaga existe um sistema de estacionamento de bicicletas de dois andares
Todas as grandes ruas são formadas por um passeio para os peões, via para as bicicletas e via para os carros. Em algumas zonas acrescente-se uma via para os autocarros e isso faz com que virar à direita seja um exercício em cautela. Se lá forem não se esqueçam: antes de virar verificar se há autocarro, ciclista e depois peões a atravessar a rua. No primeiro dia que conduzi na cidade ia atropelando um ciclista que me lançou um olhar glacial em que se podia bem ler “tinha que ser estrangeiro”. Mas tudo funciona com uma simplicidade de espantar, sem polícias de trânsito, sem gritos ou buzinadelas. Aqui há leis de trânsito respeitadas por todos, igualmente, sem histerias, ao contrário da Lusitânia onde as leis de trânsito são – como vocês bem sabem - apenas sugestões.
Nas esplanadas que hoje abundam tanto em Copenhaga como em Aarhus cobertores são colocados nas cadeiras para uso dos clientes quando apesar de já ser Verão a temperatura cai para pouco mais de dez graus centígrados. Um toque bonito!
Os dinamarqueses continuam a ser – para roubar o título do Fernando Namora – os adoradores de sol. Nos dias de sol enchem os parques e isso fez-me notar uma diferença cultural subtil entre os “dinas” e os “tugas”.
Notei isso quando resolvi visitar a campa de Soren Kierkegaard no cemitério Assistens no bairro de Norrebro onde cheguei a viver (no bairro, não no cemitério), em tempos bairro operário dinamarquês hoje bairro operário e de imigrantes árabes. Era um dia em que excepcionalmente a temperatura tinha subido acima dos 25 graus e o cemitério mais parecia um parque.
As campas são austeras, tal como quase tudo na Dinamarca incluindo as igrejas, os monumentos e os palácios da família real. E nesse cemitério dezenas e dezenas de dinamarqueses estendiam-se nos relvados bem cuidados entre as campas, muitos deles com crianças. Perto da campa de Hans Christian Anderson um grupo de jovens estudava em conjunto com livros de “biologi” abertos e discutindo notas escritas à mão em grossos cadernos.
O cemitério foi transformado em parque e a morte não parecia perturbar aqueles que usufruíam o prazer das sombras das árvores e relva verde num oásis fora do barulho da cidade. Difícil imaginar isso num cemitério aí na Lusitânia
Os miúdos das creches continuam a ir aos parques em grandes grupos acompanhados de “professores” de ambos os sexos. É bom ver isso. Como foi bem ver numa rua de Copenhaga, a meio do dia, Dinamarqueses a dançarem ao som de uma boom box. Valsa e tango! Deve ter sido o efeito do sol…. E da Carlsberg e Tuborg que se continua a consumir em grandes quantidades
Em Copenhaga como disse não há a grandeza de Paris, Londres. A segunda cidade – Aarhus – é do ponto de vista turístico não merecedora de mais do que um dia ou talvez dia e meio de visita.
Mas há como disse um bem-estar, uma riqueza austera, uma autoconfiança talvez fortalecida pelo problema económico que se discute nos jornais: o que fazer com o excedente orçamental.
Por todo o lado fica uma certeza: Nada está podre no reino da Dinamarca.
Bem-haja!
Um abraço,
Agora já na capital do Império,
Jota Esse Erre (texto e fotos)
Passeando no cemitério.
Neste parque está sepultado Kierkegaard
Estacionamento de bicicletas.
Hoje só lá no 2º andar