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segunda-feira, 28 de novembro de 2011



Um nenhum (Viviane Mosé)


(Publicado no site da agência Carta Maior, na sequência de cartas endereças “Ao arqueólogo do futuro”.)


Senhor arqueólogo, foi muito difícil encontrar um lugar a partir do qual pudesse me dirigir ao senhor. Infinitas são as perspectivas que nosso tempo nos permite, desintegrado que está por tantas razões que não caberiam nesta cartinha. Então, resolvi falar de um lugar comum.




O lugar de um homem. Todo homem é comum mesmo não sendo. O não ser comum do homem parece estar em sua forma própria de ser comum. Em seu jeito singular de sofrer, brincar, envelhecer. Em sua necessidade de construir, simbolizar, criar. Um homem não deixa de ser comum mesmo entre letras, livros, máquinas, sistemas, signos.


Um homem é sempre uma trajetória que declina.


Que ascende, mas que declina. O comum do homem é sua aparição relâmpago, o seu constituir e o seu perecer. O comum do homem é sua necessidade de dizer, manifestar, inscrever, perpetuar. Ao mesmo tempo sua impossibilidade de permanecer. Todo homem constitui-se na tensão entre viver e morrer, entre dizer e calar, entre subir e descer. Mas, por razões extensas e difíceis, a história humana parece ter se ordenado em torno da vontade de não ser.




Não envelhecer, não sentir dor, não se cansar, não se aborrecer. O homem parece envergonhar-se de ser: pequeno, sensível, mortal, humano. E organiza-se em torno de um ideal de homem, sem corpo. O homem envergonha-se de seu corpo. Não de seu sexo ou de seu prazer, mas de suas vísceras, de seus excrementos, de seus sons e odores, de seu processo bioquímico, fisiológico, orgânico. O homem envergonha-se de morrer e vai acuando-se, escondendo-se, perdendo-se em torno de uma idéia, de uma imagem.




Em sua luta por não ser comum, o homem tornou-se nenhum. Todo homem virou nenhum. Nenhum homem na rua, em casa. Nenhum homem na cama. Nenhum homem, mas um nome. O homem se reduziu a um nome. Não um nome próprio, mas um substantivo. Mas um homem é sempre maior que um nome mesmo que não queira. E uma outra história foi sendo tecida por trás desse desejo de não ser. Enquanto construía seus mecanismos de não corpo, enquanto se constituía como idéia, pensamento, imagem, a humanidade proliferava em seus excessos contidos, em suas angústias não canalizadas, em suas paixões não vividas, em seus pavores maquiados. E um corpo invertido, nascido de tantos corpos abafados, foi constituindo-se socialmente, foi ganhando força e vida.




Uma vida invertida, mas uma vida. Tóxica, ela foi se alastrando pelas casas, pelas ruas, em forma de morte. A morte negada, as perdas e dores abafadas, saíram às ruas reivindicando seu espaço. O que antes esteve circunscrito aos campos de batalha, às margens, aos guetos, agora ganha as escolas, os metrôs, os restaurantes, as praias. Não há mais lugar seguro, carros blindados, condomínios fechados. Agora todos somos igualmente passíveis.


Vivemos a democratização da violência. Vivemos o predomínio daquilo que foi por tanto tempo obstinadamente negado. A violência trouxe-nos de volta a urgência pelo corpo, pela vida, pelo tempo. E apartou-nos de nosso sonho de perenidade, de futuro, de verdade. Agora, todos estamos órfãos de nosso medíocre projeto de felicidade. Agora é preciso viver, temos urgência do instante, precisamos do corpo, mesmo gordo, magro, estrábico. E aqui, de meu lugar comum, de mulher comum, enquanto lavo a louça do café olhando a cor insistente da tarde que passa, me pergunto por quê? Por que não os dias nublados, as dores do parto, os serviços domésticos? Por que não o escuro, o delírio, a solidão? As lágrimas, os espinhos no pé, as quedas?



Dizem que o homem, como conhecemos, tende a desaparecer. É possível que uma espécie mais forte possa surgir, uma espécie capaz de um dia divertir-se com este nosso hábito demasiadamente humano de negar o inexorável, de controlar o incontrolável, e, não conseguindo, de esconder-se em cápsulas virtuais, em psicotrópicos de ultima geração, em imagens. Um homem que talvez tenha sempre existido pode começar enfim a surgir. Um homem capaz de viver a dor e a alegria de ser mortal, singular, sozinho, comum. Um homem capaz de gritar sua dor impossível.


Um homem capaz de cantar. Um homem capaz de viver.
Viviane Mosé, 2005

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

imagem da internet


O custo das coisas é a quantia do que chamo vida que se paga em troca dessas coisas,imediatamente ou a longo prazo.



Henry David Thoreau, Walden

quinta-feira, 13 de outubro de 2011




Lao-tse dizia: "As cinco cores tornam um homem cego.Os cinco tons tornam um homem surdo."



Isso significa que, se você acha que só existem cinco cores, você está cego e, se acha que só existem cinco tons, está surdo. Como você sabe, existe um contínuo infinito de som e de cor, e o espectro é simplesmente uma questão de conveniência na classificação.


Livro:Taoísmo:muito além da busca Alan Watts

domingo, 7 de agosto de 2011



ALICE NO PAÍS DO PLEBISCITO
Há uma passagem muito conhecida de Alice no País das Maravilhas, na qual a pequena
heroína de Lewis Carroll dialoga com um gato. Ela não quer mais continuar onde está e
pergunta ao animal: "Como posso sair daqui?" O gato responde: "Depende". A menina
indaga: "Depende de quê?" E o gato esclarece: "Depende de para onde você quer ir."
O diálogo prossegue. A garota diz que quer sair de onde está, mas não tem nenhuma
preferência quanto ao lugar para onde vai. Então o bicho lhe retruca: "Se você não sabe
para onde quer ir, então é indiferente o caminho que venha a seguir."
O episódio tem fascinado os leitores de Lewis Carroll desde o século passado. Como toda
criação importante da fantasia literária, ele comporta diversas interpretações e não se deixa
esgotar por nenhuma delas. Todos nos identificamos com Alice, na medida em que já
vivemos situações nas quais estávamos em lugares de que desejávamos sair, fosse para
onde fosse. E todos reconhecemos a sabedoria do gato, que nos lembra que o sentido do
nosso movimento é aquele que nós mesmos lhe imprimimos. Sem garantias antecipadas de
sucesso.
A advertência do gato vale para a experiência de cada um e vale, também, para a história
política, que somos chamados a fazer coletivamente. Na vida privada, cada um faz suas
escolhas, tenta decidir seu futuro: opta por um trabalho, por um casamento, por uma
determinada estruturação da família, por uma determinada organização da existência
quotidiana (com seus prazeres e suas responsabilidades). Na história política, procuramos
nos articular com o nosso grupo, assumimos nossos compromissos, discutimos, fazemos
propostas, optamos por um programa de transformações que consideramos exeqüíveis e
convenientes à nossa sociedade. Em ambos os casos, implícita ou explicitamente, estamos
decidindo para onde pretendemos ir.
Quando têm consciência, efetivamente, das escolhas que estão fazendo quanto à direção
que decidem seguir (e sabem dos riscos que tais escolhas sempre comportam), é normal que
as pessoas fiquem tensas, é compreensível que elas tenham momentos de hesitação e
angústia.
Convém recordarmos, entretanto, que a hesitação, tanto na vida particular como na história
política, tem sua legitimidade. E às vezes as pessoas ou correntes que não vacilam nunca
são apenas aquelas que jamais param para pensar na gravidade da advertência do gato de
Lewis Carroll: simplesmente fecham os olhos diante dos perigos.
Algumas embarcam no ônibus da utopia, sem examinar o itinerário que ele vai percorrer;
outras enveredam por qualquer caminho (só para sair de onde estão); e há as que acabam se
resignando a ficar onde já se encontram, aguardando passivamente uma salvação mágica.
(Leandro Konder in “O Globo”, 20/03/1993)

segunda-feira, 18 de abril de 2011

foto:Eliete Cascaldi
"Vosso mau amor de vós mesmos vos faz do isolamento um cativeiro".

Nietzche


sábado, 5 de março de 2011

do blog :http://abstratosdenelsonaharon.blogspot.com/

Existe uma VERDADE elementar,
e ignorá-la mata uma incontável quantidade
de ideias e planos explêndidos:
No momento em que a pessoa
definitivamente se compromete,
então a Providência também se movimenta.
Todas as espécies de coisas ocorrem para ajudá-la,
coisas que nunca teriam ocorrido não fora isso...
Aquilo que você pode fazer,
Ou sonhar que pode,
Comece.
A audácia tem em si genialidade, poder e magia.
Comece agora.
Goethe

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011


"É fácil abster-se de andar; o difícil é andar sem tocar na terra.

(...) Ouviste falar do vôo com asas, nunca porém do vôo sem asas. Ouviste falar do conhecimento que conhece e nunca do conhecimento que não conhece.Olha para a sala fechada, para o quarto vazio no qual nasce a claridade. A fortuna e a benção se acumulam onde há tranquilidade.Mas, se não és tranquilo, chama-se a isso estar sentado,mas correndo ao redor. Que teus olhos e ouvidos se comuniquem com o que há dentro de ti; deixa, porém, do lado de fora a mente e o conhecimento. Então até os deuses e os espirítos habitarão contigo, para não falar dos homens'.

Confúcio
O tao e a psicologia/Paulo V. Bloise

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010


INTERSER
“Se você for poeta, verá nitidamente uma nuvem passeando nesta folha de papel.
Sem a nuvem, não há chuva. Sem a chuva, as árvores não crescem. Sem as árvores não se pode produzir papel.
A nuvem é essencial para a existência do papel. Se a nuvem não está aqui, a
folha de papel também não está. Portanto, podemos dizer que a nuvem e o papel “intersão”.
Interser é uma palavra que ainda não se encontra no dicionário, mas se combinarmos o radical "inter" com o verbo "ser", teremos um novo verbo:

INTERSER.
Se examinarmos esta folha com maior profundidade, poderemos ver nela o sol. Sem o sol, não há floresta. Na verdade, sem o sol não há vida. Sabemos, assim, que o sol também está na folha de papel.
O papel e o sol intersão. E se prosseguirmos em nosso exame, veremos o
lenhador que cortou a árvore e a levou à fábrica para ser transformada em papel. E vemos o trigo.
Sabemos que o lenhador não pode existir sem seu pão de todo dia. Portanto, o trigo que se transforma em pão também está nessa folha de papel.
O pai e a mãe do lenhador também estão aqui.
Quando olhamos dessa forma, vemos que sem todas essas coisas, essa folha de papel não teria condição de existir.

Ao olharmos ainda mais fundo, também vemos a nós mesmos nesta folha de papel. Isso não é difícil porque, quando observamos algum objeto, ele faz parte
de nossa percepção. Sua mente está aqui, assim como a minha.
É possível, portanto, afirmar que tudo está aqui nesta folha de papel.
Não conseguimos indicar uma coisa que não esteja nela – o tempo, o espaço, o sol, a nuvem, o rio, o calor.
Tudo coexiste nessa folha de papel. É por isso que para mim a palavra
interser deveria ser dicionarizada. “Ser” é “interser”. Não podemos simplesmente ser sozinhos e isolados.
Temos de interser com tudo o mais. Esta folha de papel é, porque tudo o mais é.
Imagine que tentemos devolver um dos elementos à sua origem. Imagine tentarmos devolver a luz do sol ao sol.
Você acha que a folha de papel ainda seria possível? Não, sem o sol,
nada poderia existir. Se devolvermos o lenhador à sua mãe, tampouco teremos a folha de papel.
O fato é que esta folha de papel é composta apenas de elementos não-papel. Se devolvermos esses elementos que não são papel às suas origens, não haverá papel algum.
Sem esses elementos não-papel, como a mente, o lenhador, o sol e assim por diante, não haverá papel.
Por mais fina que esta folha seja, tudo o que há no universo está nela”.
Thich Nhat Hanh (poeta e jardineiro vietnamita).

segunda-feira, 20 de setembro de 2010




RECEITA PARA INSÔNIA
"Naõ é pouco saber dormir; para isso é preciso aprontar-se durante o dia.
DEZ VEZES ao dia deves saber vencer-te a ti mesmo; isto cria uma fadiga considerável, e esta é a dormideira da alma.

DEZ VEZES deves reconciliar-te contigo mesmo, porque é amargo vencermo-nos, e o que não está reconciliado dorme mal.

DEZ VERDADES hás de encontrar durante o dia; se assim não for, ainda procurarás verdades durante a noite e a tua alma estará faminta.

DEZ VEZES ao dia precisas rir e estar alegre, senão incomodar-te-á de noite o estômago, esse pai da aflição.

Embora poucas pessoas o saibam, deve-se ter todas as virtudes para dormir bem.

...Paz com Deus e com o próximo; assim o quer o bom sono.E também paz com o diabo do próximo, senão atormentar-te-á de noite".

Assim falou Zaratustra/ Friedrich Nietzsche

quarta-feira, 8 de setembro de 2010


Provérbio Chinês:

Um Caminho.......se não o percorres,nunca o findarás.

Um Negócio.........se o deixares,não prosperará.

Um Homem..........se não o educares,não será bom.

Um Sino...............se não o tocares,nunca soará.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

LUXO
O luxo continua sendo uma raridade. O que é raro?
Primeiro o TEMPO.


Segundo, a AUTONOMIA

terceiro, o SILÊNCIO.

Quarto, a BELEZA

quinto, o ESPAÇO


São esses os cinco elementos de luxo para Domenico de Masi.

Para o psicanalista e médico psiquiátrico Jorge Forbes,o luxo está ligado ao amor e à recusa do amor que passa. No amor há o desejo da eternidade. A eternidade com aquilo que não muda, com o Real de que nos falou lacan, gerador de um presente tão intenso que se torna inesquecível.
fonte:Você quer o que deseja? Jorge Forbes

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A modernidade é o que é - uma obsessiva marcha adiante -, não porque queira sempre mais, mas porque nunca consegue o bastante; não porque se torna mais ambiciosa e aventureira, mas porque as suas aventuras são mais amargas e as suas ambições frustradas. (...) Estabelecer uma tarefa impossível não significa amar o futuro mas desvalorizar o presente. O presente está sempre "a querer", o que o torna feio, abominável e insuportável."
"Modernidade e Ambivalência" de Zygmunt Bauman.

Os tempos modernos não começam de uma vez por todas.
Meu avô já vivia numa época nova.
Meu neto talvez ainda viva na antiga.
A carne nova come-se com velhos garfos.
Época nova não a fizeram os automóveis
Nem os tanques
Nem os aviões sobre os telhados
Nem os bombardeiros.
As novas antenas continuaram a difundir as velhas asneiras.
A sabedoria continuou a passar de boca em boca.
Tempos Modernos"Bertolt Brecht

sábado, 10 de julho de 2010


Sou mesmo um crítico triste; conheço melhor a tristeza do demônio do que a beleza do mundo
É COMUM se dizer, sobre o filósofo Kant (1724 – 1804), que duas coisas o encantavam: no universo, a lei da gravidade e, no mundo, a lei moral. Para mim, duas coisas me assombram: no universo, a solidão dos elementos e, no mundo, a misericórdia.
Não me refiro à falsa misericórdia, aquela que mais é uma alegria mesquinha que sentimos diante da miséria alheia e que é, na realidade, uma espécie de gozo infame a serviço dos recantos mais obscuros de nossa frágil alma.Perdão, mas hoje vou falar de cabala (a mística medieval judaica). Digo “perdão” porque, hoje em dia, ela está na moda.“Meu Deus, como amo a moda”, dizia a madame de Sévigné, em agonia. Deve-se evitar a moda. Infelizmente, “ensina-se” cabala por aí como se fora ela uma forma de escravizar Deus e o universo aos nossos desejos mesquinhos de sucesso.
Cara leitora mística, atenção: se alguém se disser “professor de Cabala”, cuidado! Antes de pagar as aulas, cheque se ele tem um profundo conhecimento de hebraico (não basta ser fluente na língua). Se não for o caso desista.Se quiser escravizar o universo aos seus mesquinhos desejos de sucesso, restrinja-se a alguma técnica energética barata.
Deve haver uns dez caras no mundo que entendem de cabala e nenhum deles mora na Vila Madalena ou atende via web.Um dos “galhos” da árvore da cabala é chamado “Hod”, que é traduzido por especialistas em história da cabala como “agradecimento”

.É nisso que penso quando lembro que respiro, que minha mulher e meus filhos respiram, que meus (poucos) amigos respiram e, às vezes, sorriem.Muitos teólogos sejam judeus, sejam muçulmanos ou sejam cristãos afirmam que a única teologia verdadeira é aquela que agradece. O leitor pergunta: “Mas este colunista deve ser bipolar. Como pode escrever hoje isto, se, nas semanas passadas, parecia habitado pelo demônio da crítica triste do mundo?”.Fácil responder essa. Não tenho diagnóstico de bipolaridade, mas quase sempre sou mesmo um crítico triste do mundo.
Conheço melhor a tristeza do demônio do que a beleza do mundo (acalme-se, leitor, uso a palavra “demônio” como metáfora) e, por isso, é que me sinto parte da humanidade.Os humores variam, como as águas de um mar que responde a fúria da fortuna. Pela tradição judaica, Davi é o especialista na maior virtude hebraica antiga: a humildade. Em seus belos Salmos, ele canta a beleza de Deus e Sua misericórdia que escorre do Céu.Muitos localizam esta misericórdia na mesma “árvore”, como sendo “Hesed” (as vezes também traduzida como “piedade”). Davi respira essa misericórdia, por isso ele é considerado o “preferido de Deus”.Comentários rabínicos ao primeiro livro da Torá, “Bereshit” (na tradição cristã, Gênesis), contam uma história interessante sobre a relação entre a Justiça, a Verdade e a Misericórdia na origem da Criação.
Faço aqui a minha versão preferida dessa tradição: para mim a Verdade de Deus é Sua misericórdia. Estava Deus prestes a criar o homem e a mulher quando foi assolado por dúvidas terríveis. Chamou então alguns de seus assessores, a Justiça (próxima à ideia de julgamento ou “Din”, outro atributo divino na cabala) e a Misericórdia.Pergunta Deus a eles se valeria a pena criar o homem e a mulher, levando-se em conta o que nós faríamos (o pecado). A Justiça se coloca contra a empreitada dizendo que nós não valemos o “investimento”.Somos mentirosos, infiéis e orgulhosos. Seu voto seria contra. Já a Misericórdia vota a nosso favor. Diz que, mesmo sendo como somos, daríamos grande alegria a Deus nos poucos momentos em que seriamos capazes de ver, em meio à impenetrabilidade assustadora do nosso orgulho, Sua beleza.Deus pensa e decide a nosso favor.Todavia, talvez como forma de castigar a Misericórdia, que O convenceu a nos criar, Ele a despedaça contra o chão e a dispersa pelo mundo.Assim sendo, ficamos submetidos, desde o alto, à desconfiança eterna da Justiça divina, ao mesmo tempo em que desesperados, arrastando pelo chão, buscamos os cacos da Misericórdia (ou da Verdade) que habita os recantos distantes do mundo e os detalhes infinitos da vida.Por isso, dirão os sábios, Deus está no detalhe. Felizes aqueles que conseguem ainda contemplar a delicadeza desses detalhes. Toda vez que vejo a Misericórdia no gesto de alguém, me calo.

Artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, 17/05/2010 LUIZ FELIPE PONDÉ

quarta-feira, 2 de junho de 2010


Quino, Autor da “Mafalda”, desiludido com o rumo deste século no que respeita a valores e educação, deixou impresso nos cartoons o seu sentimento.


















segunda-feira, 3 de maio de 2010


“As vidas das pessoas serão diferentes do que costumavam ser nos velhos tempos das carreiras à moda antiga, quando havia a expectativa de pleno emprego. A segurança não está mais incorporada ao mundo do trabalho, ou da educação, por sinal. As pessoas terão que tê-la consigo e dentro de si, o que significa que suas qualificações terão que ser transportáveis”.
Dahrendorf: sociólogo alemão

sábado, 24 de abril de 2010


ERA UMA VEZ...
um fazendeiro chinês que perdeu um cavalo, ele fugiu. À tarde, todos os seus vizinhos vieram lhe avisar e disseram:"Isso é muito ruim". E ele disse: "Talvez". No dia seguinte o cavalo voltou e trouxe com ele sete cavalos selvagens. Todos os vizinhos vieram lhe visitar e disseram:"Isso não é ótimo? E ele respondeu:"Talvez". No dia seguinte, o seu filho estava tentando domar um desses cavalos, foi arremessado ao chão e quebrou a perna. Então, todos os vizinhos vieram-lhe visitar e disseram:"Bem, isso é muito ruim, não é?" E o fazendeiro disse:"Talvez". No dia seguinte, os oficiais do recrutamento vieram procurando pessoas para o Exército, e rejeitaram o seu filhoporque ele tinha uma perna quebrada. À tarde, todos os vizinhos vieram lhe visitar e disseram:"Isso não é maravilhoso"? E ele apenas disse:"Talvez".



Essa história reflete o sentido de uma atitude taoísta fundamental, a de que todo o processo da natureza é uma rede integrada de imensa complexidade.È impossível dizer se qualquer coisa que acontece é boa ou ruim porque nunca se sabe quais serão as consequências finais da boa fortuna.

fonte:Taoísmo: muito além da busca - Alan Watts

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Um persistente cio

Mario Sérgio Cortella
É muito interessante observar o quanto a ditadura da velocidade e do “não tenho tempo a perder” retiram do cotidiano das metrópoles (e de suas tristes simulações) uma das mais profundas maneiras de aproveitar, de fato, o tempo: a necessária paciência para a fruição, quase degustação lenta, dos movimentos de busca intensa do prazer originário do universo da leitura. Essa insana tacocracia, vivida sem reflexão, produz uma amarga rejeição à eroticidade inerente aos momentos nos quais é preciso entrar no cio emanado da leitura prazerosa, do mergulho intencional e povoadamente solitário que nos atinge quando nos abandonamos aos sussurros que vêm de dentro.
Por isso, ao escrever sobre A arte de amar (nela incluída a capacidade de não admitir a banalização do erótico no sexual), o psicanalista alemão Erich Fromm - nas suas geniais tentativas de juntar as concepções de Marx e Freud, que tanto influenciaram a contracultura dos anos 1970 - nos advertiu que “o homem moderno pensa perder algo - tempo - quando não faz as coisas depressa; entretanto não sabe o que fazer com o tempo que ganha, a não ser matá-lo”.
Há frase mais tola do que a daquele ou daquela que diz “acho que, para passar ou matar o tempo, vou ler alguma coisa”... Ler um livro para matar o tempo? Não! Afonso Arinos de Melo Franco, importante jurista e político mineiro, conhecido mais por ser autor da primeira lei em 1951 contra a discriminação racial, mas que também era escritor (ingressou na Academia Brasileira de Letras em 1958, mesmo ano no qual foi eleito Senador), escreveu em A escalada que “domar o tempo não é matá-lo, é vivê-lo”.



Viver o tempo! Vivificá-lo, torná-lo substantivo e desfrutável. Ora, nada como um bom livro para fazer pulsar a vida no nosso interior, vida essa que, quando absortos na leitura, nos faz esquecer a fluidez temporal e nos permite suspender provisoriamente a mortalidade e a finitude. É um pouco a percepção que teve o russo Turgueniev, um dos principais escritores do século 19. Na inquietante obra Pais e filhos escreveu: “o tempo, que freqüentemente voa como um pássaro, arrasta-se outras vezes que nem uma tartaruga; mas, nunca parece tão agradável como quando não sabemos se ele anda rápido ou devagar”.
Mas, o que é um bom livro? A subjetividade da resposta é evidente. No entanto, é possível estabelecer um critério: um bom livro é aquele que te emociona, isto é, aquele que produz em ti sentimentos vitais, que gera perturbações, que comove, abala ou impressiona. Em outras palavras, um bom livro é aquele que, de alguma maneira, te afeta e impede que passe adiante incólume.
A emoção do bom livro é tão imensa que se torna, lamentavelmente, irrepetível. Alvaro Lins, crítico literário pernambucano que chegou a chefiar a Casa Civil do governo JK, fez uma reflexão no Notas de um diário de crítica que expressa uma parte dessa contraditória agonia: “Ah, a tristeza de saber, no fim da leitura de certos livros, que nunca mais os leremos pela primeira vez, que não se repetirá jamais a sensação da primeira leitura, que não teremos renovada a felicidade de ignorá-los num dia e conhecê-los no dia seguinte”.
Certa vez o grande lingüista e pensador brasileiro Flávio Di Giorgi pergunta a um aluno em um sarau na PUC-SP se ele já houvera lido a Odisséia, de Homero; o jovem, cabeça baixa, um pouco envergonhado, diz que não. Imediatamente, o professor, olhos umedecidos, diz a ele, voz embargada e com a sinceridade de sempre: “Te invejo; eu já li”.
Assim - mesmo que quase tudo hoje em dia dificulte a urgência de vivificar-se com uma boa leitura, especialmente a estafa resultante do desequilíbrio e da correria incessante -, muitos não se deixam humilhar pelos assassinos do tempo; para impedir a vitória da mediocridade espiritual, há os que cantam com Djavan - na belíssima Faltando um pedaço - e sabem que “o cio vence o cansaço”...

domingo, 25 de outubro de 2009

Cortella: pensar no futuro
Para o educador e filósofo Mário Sérgio Cortella, é muito grave que atual geração do mundo ocidental não pense no futuro.
Algo muito grave está acontecendo no mundo contemporâneo, advertiu o educador e filósofo Mário Sérgio Cortella, durante suas reflexões no Espaço Cultural CPFL. Segundo ele, a atual geração do mundo ocidental está invertendo, de modo perigoso, uma postura histórica da humanidade.

"De uma maneira geral na história humana a geração atual cuida da próxima. Cuida dos recursos, da sobrevivência. Cuida da possibilidade de meios de existência", observou.
A atual geração, contudo, vai na direção contrária. "Talvez sejamos a primeira geração de humanos no Ocidente que não cuida da próxima geração".
Existem vários motivos para essa postura antiética, acredita Cortella.

"A voracidade do nosso cotidiano, a maneira como nós desmontamos as condições de existência coletiva e, à medida que o egonarcisismo é mais presente, acabamos esgotando as condições de existência no futuro."

O educador identifica as possíveis consequências dessa forma da atual geração se posicionar em relação às gerações futuras: "Em outras palavras, estamos fazendo o que se chama de saque antecipado do futuro. Sacando o futuro por antecipação. Gastando o futuro por antecipação."
Uma nova forma de encarar o futuro, a responsabilidade com as novas gerações, é no entanto possível, acredita Cortella. Pela própria capacidade humana de criar. "O ser humano é capaz de dizer que é possível fazer de outro modo. E não desistir. E ser capaz exatamente de reinventar. E essa é uma capacidade forte nossa."










domingo, 18 de outubro de 2009

A VIDA É UM VERBO
A linguagem é criada para o uso diário, é criada para a vida mundana. No que diz respeito a isso, ela é boa. É perfeitamente adequada para o mercado, mas quando você começa a mergulhar em águas mais profundas, ela se torna cada vez mais inadequada- não apenas inadequada: ela começa a ficar absolutamente incorreta.
Por exemplo, pense nestas duas palavras: experiência e experienciar. Quando você usa a palavra experiência, ela lhe transmite uma sensação de conclusão, como se algo tivesse chegado a um ponto final. Na vida não existem pontos finais. A vida não sabe absolutamente nada sobre pontos finais - ela é um processo contínuo, um rio eterno. O objetivo nunca chega. Está sempre chegando, mas nunca chega. Portanto, a palavra experiência não é correta. Ela transmite uma noção falsa de conclusão, de perfeição.Faz com que você sinta que chegou. Experienciar é muito mais verdadeiro.

No que diz respeito à vida de verdade, todos os substantivos são errados, só os verbos são verdadeiros. Quando você diz:”Isto é uma “ árvore” , está fazendo uma afirmação errada do ponto de vista existencial. Não do ponto de vista linguístico ou gramatical , mas do ponto de vista existencial você está fazendo uma afirmação errada, porque a àrvore não é uma coisa estática. Ela está crescendo. Ela nunca está em um estado de “ausência de ser”, está sempre se tornando algo. De fato, chamá-la de árvore não está correto. Ela está arborescendo. O rio está enriezando.
Se você olhar a vida a fundo, os substantivos desaparecem e só ficam os verbos. Mas isso criará um problema no mundo lá fora.
Você não pode dizer às pessoas:”Eu fui a um enriezando” ou”Esta manhã, vi uma linda arborescendo”. Elas iam achar eu você ficou louco! Mas nada é estático na vida. Nada está em repouso.

Maturidade nada tem a ver com as experiências exteriores da vida. Tem algo a ver com a sua jornada interior, com as experiências do seu interior. Maturidade é um outro nome para realização: você chegou à plenitude do seu potencial, tornou-se você de verdade. A semente empreendeu uma longa jornada e floresceu.
Fonte: Faça o seu coração vibrar.Osho

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

"OS HOMENS ESTÃO FORA DA NATUREZA E DESESPERADAMENTE NELA"
Blaise Pascoal

O filósofo Zigmunt Bauman em seu livro "A Sociedade Individualizada" faz algumas reflexões interessantes, que apresentarei resumidamente aqui.
È uma tentativa de explicação sobre a função da sociedade e do hipnotismo cultural a que nos submetemos frente ao conhecimento da mortalidade.

"È a própria impossibilidade de esquecer nossa condição natural que nos lança e permite que pairemos sobre ela.
O conhecimento da mortalidade dispara o desejo pela transcendência".






"...o homem literalmente se lança em um esquecimento cego por meio de jogos sociais, truques psicológicos, preocupações pessoais tão afastados da realidade de sua situação que são formas de loucura, aceita, compartilhada, disfarçada e dignificada mas
mesmo assim uma loucura".


..."o veneno do absurdo é retirado, pelo costume, o hábito e a rotina, do ferrão da finalidade da vida".

"Loucos são apenas os significados não compartilhados"

"Toda sociedade são fábricas de significados, são sementeiras da vida com sentido."
...a função da sociedade é acobertar, gerenciar o nosso medo da morte (finitude) oferecendo objetos substitutos que deem sentido à vida, que deem a ilusão de transcendência".
È prevenir descobertas similares à triste conclusão de Leonardo da Vinci."Quando pensava estar aprendendo a viver, eu estava aprendendo a morrer"- uma sabedoria que algumas vezes pode proporcionar o florescimento de gênios, mas que com maior frequência resulta em uma paralisia da vontade".








Ouço de algumas pessoas que a Igreja Católica exalta a cruz, a morte de Jesus Cristo e preocupa-se muito
com a vida eterna,e que estas são algumas das razões do afastamento de muitas pessoas.
Tendo como fundamento os pensamentos de
Bauman pergunto: Será a rejeição a estes fatos e
ideias um mecanismo de defesa para não acordar,
e não se deparar com a finitude?


Um acréscimo necessário: A Igreja Católica fundamenta-se na ressurreição de Jesus Cristo.



Gostaria que este blog fosse interativo, deixe sua opinião

fonte: http://artescomtrastestraquinagens.blogspot.com/
















































































































Apontadora de Idéias

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São Paulo, Brazil
"A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)

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