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segunda-feira, 4 de março de 2024

Museu Virtual: Conjunto para refresco.

  

Nome do Objecto: Serviço para refresco em vidro.

Descrição: Conjunto de 6 copos de vidro altos, para refresco e de 6 copos pequenos (Shot), com balde de gelo central. Assentam numa estrutura metálica e tem uma pequena pega para transporte.

 Material: Vidro e metal. As peças em vidro têm uma cobertura que se assemelha às peças Wedgwood “jasperware”. A cor de base é o verde (podiam ser igualmente em azul) e apresentam relevos brancos. Os motivos mais frequentes são figuras gregas, intercaladas com árvores e apresentam um friso superior decorativo.

 

Época: Década de 1960.

 Marcas: Não tem

 Origem: Oferta de Teresa Rodriguez.

 Grupo a que pertence: Equipamento para o serviço e consumo de bebidas.

 Função Geral: Serviço e consumo de bebidas.

 Função Específica: Servir bebidas frescas (refrescos e outras).

 Nº inventário: 5102.

Notas:

Conjunto produzido pela Jeannette Glass Company, fábrica com início em 1898 e que anteriormente era a Jeannette Bottle Works que começou a produção no final da década de 1880, em Jeannette, Pensilvânia, USA. Ficou conhecida pela produção de vidros conhecidos por “Depression” (fabricados no período da Depressão) em cores que variavam do tradicional rosa, verde e transparente a uma cor azul-esverdeada mais incomum, chamada ultramarino.

Na década de 1960 produziram peças de vidro semelhantes ao estilo inglês Wedgwood Jasperware. Os mais divulgados foram os decorados com cenas de indivíduos vestindo toga e um cavalo e uma carruagem em cor branca sobre painéis verdes, ou azuis, com um a banda grega e desenhos de folhas de palmeira. Terminam muitas vezes com um filete dourado. Em 1970, o nome da empresa mudou para Jeannette Corporation, tendo a fábrica encerrado em 1983.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Uma ementa americana extraordinária


Descobrir a origem desta ementa não foi uma missão fácil. Demorou-me vários dias de investigação e ficaram ainda por esclarecer alguns pormenores.
É uma ementa do século XIX, feita à mão, com o feitio do que me pareceu ser um balão e, quando aberta se transforma num leque. Não posso no entanto confirmar a associação ao balão porque no ano a que se refere a ementa todas as tentativas de voos em balão resultaram em insucessos completos, que finalizaram em acidentes graves.
As capas da ementa são revestidas no exterior a seda e no interior a cetim. Dentro contém 5 folhas cartonadas onde está escrita a ementa acompanhada de desenhos alusivos aguarelados à mão.
A primeira surpresa deve-se ao facto de não ter títulos nas várias folhas como era habitual numa refeição servida “à russa”, em que a ordem dos alimentos no Menu era a seguinte: Potage, Hors d 'œuvre; Relevés, Entrée chaude; Entrée froide; Roti; Legume; Entremets e Sucrés.
A ementa data de 1875 e seria de esperar que nos Estados Unidos não se encontrasse esta ordem de alimentos em data tão precoce e ainda por cima numa casa particular, quando a divulgação desta forma de apresentação dos alimentos à mesa se deu na Europa, primeiramente nos restaurantes.
 
Mas a resposta deve-se ao facto de estarmos perante um jantar dado por uma das principais socialites da época, famosa em Nova Iorque pelos jantares e festas que organizava.
 
O seu nome era Annette Wilhelmina Wilkens Hicks e descendia de uma antiga família colonial de origem inglesa, na linha directa de Sir Francis Rumbolt. Annette nasceu no Suriname, um país da América do Sul onde se fala holandês, em 1835, filha de Wilco Peter Wilkens, um rico plantador holandês e de Adelina Schenck, descendente da família Rumbolt. A família foi viver para Nova York até à morte do pai.
Foi nessa cidade que conheceu e casou com um homem com o dobro da sua idade, Thomas Hicks, de quem tomou o apelido[1]. O casal foi viver para Manhattan até à morte de Hicks em 1866. A viúva Hicks, como era conhecida, foi depois viver para o nº 10 West da 14th Avenida, onde dava magníficas recepções que a tornaram famosa não só pelos entretinimentos que oferecia mas também pela sua beleza e elegância no vestir.
Annette viajou também pela Europa onde foi apresentada nos mais selectos círculos de Paris e Londres. Em Londres ocupava as melhores suites do Hotel Claridge e em 1874 foi apresentada à rainha Victoria pelo ministro americano general Robert Schenck. Mais tarde em 1877 esteve presente na recepção e jantar oferecido pela rainha ao presidente americano Ulisses Grant, dado em Londres, no Guildhall. Foi apontada como noiva de vários pretendentes nobres britanicos, um dos quais pode ter sido o convidado de honra deste jantar, que não consegui identificar .
NYC Marriage & Death Notices 1843-1856. NY Society Library.

Pagina em que se lê no recorte de jornal a notícia do casamento. NY Society Library.
Em 1877 Annette casou secretamente com Thomas Lord, um rico comerciante, já octogenário o que levantou problemas com os filhos deste e foi objecto de comentários nos jornais da época. Em 1879[2] o marido estava já muito doente e viria a falecer pouco depois. 
Casa Hicks-Lord - Imagem tirada da internet.
No final do século Annette deixaria a sua casa na 14th avenida e foi viver para uma outra casa, construída em 1850, que ficou conhecida como a Casa Hicks-Lord, localizada em 32 Washington Square West. A casa foi destruída em 1925 para ser construído um edifício de 16 andares.
Annette viria a falecer em 6 de Agosto de1896[3].



[1] Casamento 1851: Na quarta-feira, 7 de inst, na igreja holandesa do Norte, pelo Rev. Dr. Schenck, de New Jersey, o Sr. Henry W. Hicks, a Miss Annette Wilhelmina, filha do falecido Wilco Peter Wilkens.
[2] Noticias sobre o seu estado de saúde saíram no jornal The Baltimore Daily News, January 13, 1879 e em muitos outros, que não deixavam de continuara a comentar ainda as condições do casamento.
[3] Óbito noticiado na Gazette of Alexandria.

domingo, 20 de março de 2016

Campbell's soup: um lata icónica

No final do século XIX as sopas enlatadas faziam o seu aparecimento comercial. É verdade que foram precedidas pelos trabalhos sobre conservação dos alimentos em vácuo levados a cabo por Nicolas Appert, em França, feitos a aprtir de 1790. Mas então os alimentos apresentavam-se em frascos.
Ladies Home Journal 1923
Em 1810 o inglês Peter Durand registou um novo método de conservação em latas seladas que iria modificar a industria alimentar. Nas décadas seguintes o método chegaria à colónia inglesa australiana e aos Estados Unidos.
Em Portugal a fábrica a vapor de José da Conceição Guerra, fundada em 1894 em Elvas, produzia sopa juliana e afirmava ser então a única em Portugal. Esta firma, mais conhecida pela produção e comercialização de frutas, em especial a ameixa de Elvas, apresentou uma grande variedade de embalagens, mas no que respeita às destinadas a sopa nunca vi nenhuma e desconheço de que material seriam feitas.
Nos Estados Unidos, em 1897, John T. Dorrance, um químico que havia estado na Europa, inventou a sopa condensada para a Companhia de Sopa Campbell, em que após a adição de água era possível obter rapidamente uma sopa. Esta empresa, que também era conhecida de forma abreviada por Campbell's, havia sido fundada um ano antes por Joseph A. Campbell e Abraham Anderson, para produzirem vários tipos de alimentos enlatados. Em 1898 os rótulos das latas, por sugestão de Herberton Williams, passaram a apresentar-se nas cores encarnado e branco que as tornariam famosas.
A publicidade em revistas americanas das décadas seguintes mostram-nos donas de casa felizes a darem essas sopas aos seus filhos, representados com rostos risonhos.
A cultura americana, conhecida pelo pouco apreço pela comida caseira, rapidamente adaptou este produto industrial, a par de muitos outros e transformou-o num sucesso.
 
Na década de 1940 surge uma nova campanha publicitária às sopas Campbell's agora dirigidas a homens, a fazer lembrar-nos aquele anuncio a um bacalhau pré-peparado, vendido em Portugal nos anos 70-80, cuja embalagem dizia «destinado a homens temporariamente sós».
É provável que Andy Warhol fosse um apreciador do paladar das ditas sopas. Era-o pelo menos da estética das suas embalagens. E em 1962 utiliza a representação monótona, repetitiva, mas igualmente variada, das 32 das variedades de sopa existentes e reproduz o conjunto em serigrafia, numa manifestação de pop art. 
Ainda na década de 1960 e nos anos de 1970 retomaria este tema, em cores variadas, que a própria fábrica, com sentido de oportunidade, viria a comercializar mais tarde em edição limitada.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Um papel de gelado Mayflower

Um dos meus gostos é descobrir o rasto de velhos papéis. Este foi um desafio difícil sobre o qual consegui pouca informação.
Trata-se de um invólucro em papel de um gelado americano, que se encontrava por mero acaso no meio do espólio de portugueses que viveram nos Estados Unidos nos anos 30. Regressados a Portugal trouxeram os seus haveres que consideravam importantes mas, perdido entre estes, estava este insignificante papel.
O gelado foi produzido pela empresa Mayflower Ice Cream Company, situada no lado oeste da Avenida Vernon, perto da Avenida 43, em Long Island, Queens.

No início do século XIX, nos Estados Unidos, o leite começou a ser produzido em destilarias que aproveitavam os excedentes da produção do whisky para alimentar as vacas. Este leite tinha uma qualidade deficiente e esteve na origem de surtos infecciosos dos que se atreviam a bebê-lo. Apenas em 1895 as máquinas industriais para pausteurizar o leite foram introduzidas nos Estados Unidos, obviando a muitos destes problemas.

Após a Grande Depressão o presidente Roosevelt implementou vários projectos de desenvolvimento entre os quais, um destinado a empregar artistas, o Works Progress Administration (WPA), que teve início em 1935. Estes foram utilizados em várias campanhas publicitárias como as que se destinavam a fomentar o consumo do leite e de que este poster é um exemplo.
Nessa época o fornecimento de leite, manteiga e gelados, isto é de lacticínios,  a Nova Iorque era feito por leitarias locais, entretanto desaparecidas. De entre as mais conhecidas salientava-se a R. H. Renken Dairy, a Sheffield Farms e a Mayflower Ice Cream Company.
Esta última ainda existia em 1945, ano em que publicou um anúncio no jornal Long Island Star Journal de 4 de Agosto, pedindo raparigas, mesmo sem experiência para trabalhar na fábrica, com um horário de 40 horas semanais.
O edifício persiste ainda hoje e este pequeno papel de gelado também.
PS. Dedico este poste ao meu mais fiel leitor, um desconhecido residente nos USA, em Mountain View, California.

domingo, 11 de dezembro de 2011

O orgulho no frigorífico recheado

Ofereceram-me estas duas fotografias fantásticas.

Pelo que me é dado perceber são retratos de um casal de portugueses, emigrantes, a viver nos Estados Unidos.

Penso que se trata de um fotografia dos anos 50 a avaliar pelo modelo do frigorífico e pela disposição da cozinha, ainda com mesa central.

A mulher fez-se fotografar no centro da cozinha, recortando um tecido sobre a mesa. Por trás podem ver-se os armários preenchidos com a bateria de cozinha. Sobre o fogão pode observar-se um panela de pressão e alguns tachos em alumínio e sobre este, numa prateleira, perfilam-se as caixas em plástico para guardar as mercearias.
A certeza de que é uma cozinha americana e não portuguesa é-nos dada pelo linóleum florido que forra as paredes, substituindo os nossos tradicionais azulejos.

Contudo, a fotografia mais interessante é a do marido, sentado numa cadeira junto ao frigorífico, folheando uma revista americana.

Não por acaso, o frigorífico apresenta a porta aberta, revelando orgulhosamente aos seus familiares o seu recheio, traduzindo uma imagem de abundância.
Por trás da fotografia está escrito: «Felicidade o nosso frigorifiqué está cheio de coizinhas boas é um loivar adeus dá bontadinha de comer e saudinha».

O orgulho de quem ultrapassou momentos difíceis e envia, de forma ternurenta, aos seus, imagens de prosperidade na sua nova vida.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Julia Child, a apresentadora da cozinha francesa aos americanos

Faltando ao prometido, ainda não é hoje que falo na cozinha de Julia Child.
Porque primeiro se justifica falar na própria, uma vez que para a maioria dos portugueses o seu nome pouco dirá.

Como imagino que não tenham a noção da importância desta personagem para o povo americano, conto um pouco da sua biografia e actividade.
De forma sucinta, pode dizer-se que foi ela a introdutora da cozinha francesa nos Estados Unidos.
De um modo simples, na sua voz esganiçada, que ainda hoje se pode ouvir no Youtube, explicou aos americanos como se podia comer bem em casa, confeccionando a sua própria comida. A gravação em que ensina aos americanos a fazer uma omelete à francesa é de uma ingenuidade que nos surpreende. Mas é necessário reportarmos-nos à época e ao público alvo.

Só para dar uma ideia do interesse que a sua vida suscitou acabou de ser estreado um filme intitulado “Julie and Julia”, que segue o seu trajecto de vida em França, com o seu marido e seu grande impulsionador na área da culinária. Baseia-se no best seller internacional de Julie Powell, vencedor do primeiro Blooker Prize (que premia livros baseados em blogs) e nas memórias escritas pela autora e publicadas no livro “A minha vida em França”. Realizado por Nora Ephron, tem como actriz principal Meryl Streep no papel de Julia. A sua vida foi diversificada e levou-a a percorrer várias actividades, entre as quais se lhe atribui uma bem misteriosa, como o facto de ter sido espia , a favor dos americanos, durante a sua estada na Ásia. Viveu no Ceilão (Sri Lanka) e na China.
Em 1946 casou-se com Paul Child, igualmente americano, mas que vivera em Paris, onde adquiriu o gosto pela gastronomia. Quando em 1948 o casal foi viver para Paris, Julia iniciou o seu enamoramento com a cozinha francesa. Durante este período inscreveu-se na famosa escola de culinária “Cordon Bleu”. Teve a possibilidade de conhecer vários chefes de cozinha ao fazer parte de um clube feminino, o " Cercle des Gourmettes", onde se relacionou com Simone Beck, reputada chefe de cozinha e Louisette Bertholle. Foi esta última quem convidou Julia Child para colaborar com ela num livro de receitas francesas destinado a americanos, “Mastering the Art of French Cooking” ("Dominando a Arte da Cozinha Francesa").
Desta associação sairia também, em 1951, uma escola de culinária itinerante, digamos, chamada L'Ecole des Trois Gourmandes, destinada a americanas.
O grande sucesso de Julia Child deveu-se ao papel de apresentadora de culinária da televisão americana e à autoria de inúmeros livros sobre o tema.
O primeiro programa de televisão teve inicio em 1963 e foi emitido durante 10 anos. Chamava-se “The French Chef”. Foi um programa didáctico em que Julia introduziu o tema da cozinha francesa aos americanos. Foi com base nesses programas que publicou o seu segundo livro, em 1961, “The French Chef Cookbook”, que foi um sucesso. Segui-se, em 1971, o segundo volume de “Mastering the Art of French Cooking”, em colaboração com Simone Beck. O quarto livro seria “From Julia Child's Kitchen”.

Durante os anos 70 e 80 Julia Child manteve um programa de culinária num programa da televisão ABC, chamado Good Morning America.
Os seus livros mais recentes foram In Julia's Kitchen with Master Chefs (1995), Baking with Julia (1996), Julia's Delicious Little Dinners (1998) e Julia's Casual Dinners (1999), que acompanhavam os seus programas de televisão.

O seu sucesso foi enorme e já em 1966 a sua cara apareceria na capa da revista Time Life.

Em 1993 foi a primeira mulher a ser eleita para o Culinary Institute Hall of Fame e em 2000 Julia foi agraciada em França com a Legião de Honra.

Retirando-se da vida activa em 2001, viria a falecer em 2004 com 91 anos e mais de 40 anos dedicados à cozinha francesa e à cruzada de a ensinar aos americanos. Os americanos, como é seu hábito, tornaram-na numa figura lendária.