Hoje damos pouca importância ao sal. Chegamos mesmo a considerá-lo um inimigo. Os médicos recomendam: «Cuidado. Não coma com muito sal». Isto deve-se a que os portugueses têm tendência a exagerar na quantidade de sal que ingerem. Mas é um elemento importantíssimo na alimentação. Sem sódio (como sabem o sal é cloreto de sódio) as pessoas ficam prostradas, sonolentas, sem actividade. E o agravamento da hiponatremia (baixa de sódio no sangue) pode mesmo levar à morte. Mas o que nós sabemos hoje, já se sabia, de forma empírica, na antiguidade. O sal chegou mesmo a servir de “moeda de troca” quando ainda não havia dinheiro. Foi muito importante na economia portuguesa e em geral na de todos os países do mediterrâneo. A sua relevância pode mesmo comparar-se àquela que tem o petróleo nos nossos dias.
Mas o aspecto que não podemos deixar de esquecer é o do sabor que confere aos alimentos. Com um pouco de sal os alimentos ficam mais apetitosos.
A utilização do sal foi também muito importante, antes da era da congelação, para a conservação dos alimentos. Em Portugal temos ainda muitos exemplos desse tipo de utilização em especial no Alentejo e em Trás-os-Montes.
Na Idade Média, em que poucos objectos eram usados sobre a mesa, o saleiro estava sempre presente. Era o objecto principal e, de tal modo importante que, nas casas ricas, era um objecto de ourivesaria. Subsistem ainda hoje saleiros imponentes, em ouro, adornados de pedras preciosas de que o saleiro feito por Benvenuto Cellini, em 1540, para o rei Francisco I de França é considerado o expoente máximo.

Mas se os ricos saleiros de mesa se conservaram, o mesmo não se pode dizer dos saleiros das cozinhas. O seu pouco valor e o facto de serem facilmente deterioráveis levaram ao seu desaparecimento.
Das várias cozinhas que visitámos observamos, nas mais antigas, dois tipos de saleiros. O mais simples eram constituídos por um buraco na parede de granito, perto da zona da lareira, onde se metia a mão para tirar o sal. Encontrámos esta solução tanto em casas senhoriais como em casas populares. Provavelmente persistem casos em que as pessoas não lhes atribuem qualquer função ou podem mesmo ter sido tapados.
Um outro tipo de saleiro de cozinha era construído em madeira. Feitos de forma simples, ou com entalhes na madeira, desapareceram quase todos, apodrecidos pela humidade. Vimo-los, em forma de caixa quadrada, com tampa, colocados sobre a mesa ou de forma paralelipipédica, com quatro pés e abertura na frente para introduzir a mão. Este tipo era colocado no chão junto á lareira. Vimos um exemplar na Beira Baixa, em Cebolais de Baixo e um outro em Figueira de Castelo Rodrigo, em casa da Srª Dª Sara. No Museu de Escalhão existe um exemplar idêntico, sem pés, de afixar à parede.
Durante o século XX com a divulgação do esmalte, usaram-se saleiros neste material. De várias cores e com a palavra SAL no bojo, apresentavam como forma mais frequente, um meio cilindro e tinham tampa em madeira. Quando se divulgou o alumínio passaram a usar-se saleiros de cozinha de forma idêntica aos de esmalte ou com a forma de cilindro, com tampa igualmente em alumínio.
Também os saleiros em faiança vidrada tiveram divulgação. De forma variada não identificamos uma tipologia única.
Muitos outros me terão escapado à observação, mas gostaria de contar com a colaboração dos mais atentos, para colmatar essas falhas. Até breve.