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sexta-feira, 7 de março de 2014

Os raladores Microplane®

  O meu primeiro contacto com um ralador deste tipo foi numa aula para aprender a fazer licores. Tinha pedido a uma amiga minha, Sofia Loureiro dos Santos, para exemplificar como se fazem licores, num curso no Centro de Artes Culinárias. É verdade que eu andei a investigar a história dos licores durante mais de 3 anos, mas eu sou a teórica e ela a prática que os confecciona há vários anos. 

O licor inicial era um licor de tangerina e para tal era necessário ralar o vidrado dos citrinos. A Sofia puxou de um Microplane® e num instante ali estava a raspa em grande quantidade retirada com uma facilidade extraordinária. Pouco tempo antes numa loja da especialidade numa nova tentativa do ralador perfeito, eu tinha optado por um outro ralador para citrinos em vez deste, muito mais caro. Acabou por ficar junto aos anteriores, como objecto de colecção, agora que descobri esta maravilha da técnica. 

A história do raladores ou raspadores Microplane® começou em 1990 como objectos dedicados à industria de madeira, inventados pelos irmãos Richard e Jeff Grace, que fundaram a Grace Manufacturing, nos Estados Unidos.

Em 1994 uma dona de casa canadiana, Lorraine Lee, utilizou para fazer um bolo de laranja uma raspadora que o marido tinha comprado num armazém para os seus trabalhos e ficou maravilhada com o resultado. A raspa da laranja saia suavemente. Comunicada esta descoberta abria-se um novo campo para esse tipo de produtos: a cozinha. 

Porque razão este ralador não é mais um? É que é feito de forma diferente sendo os orifícios abertos por um processo químico, com um sal corrosivo, que os torna mais cortantes, como lâminas de barbear.
Hoje a empresa, que produz instrumentos médicos e ferramentas para a indústria da madeira e do metal, faz também  utensílios para a cozinha onde tem já mais de 40 variedades, que representam cerca de 65% dos lucros da empresa.

Se virem no youtube há chefes a ensinar como se utilizam as diferentes variedades. Para já apenas adquiri o ralador de citrinos que serve para outras funções como ralar gengibre, alho, etc. Depois de se usar um ralador destes todos os outros nos parecerem obsoletos e, à excepção do ralador quadrado, que é óptimo para legumes (mas péssimo para os citrinos), os restantes entraram na reforma.
Ralador quadrado bom para ralar cenoura, pepino,etc.
Quero só acrescentar que existe uma maneira correcta de o usar: como o arco de um violino. Isto é, segura-se o citrino na mão esquerda e com o ralador com a lâmina para baixo vai-se rodando suavemente sobre a superfície e o vidrado acumula-se na face superior da grelha. Fácil e eficaz. Um grande passo na história da cozinha.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A crise e a «Economia Doméstica"

Em tempos de crise é bom lembrar que em Portugal, ainda não há muitos anos atrás, se vivia com imensas dificuldades.
Quando começou a haver algum desafogo económico deixaram de se valorizar as pequenas coisas. Nos últimos tempos alcançou-se o auge do consumismo, que atingiu mesmo quem não o podia exercer.
Esqueceram-se os valores morais, os mais importantes, e só se valorizou o material. Dentro deste campo apenas as «marcas comerciais», identificadas com qualidade, luxo ou moda, passaram a ser importantes. Os mais novos, mais facilmente influenciados pela publicidade, assimilaram com facilidade estes conceitos.
De repente todos descobriram que afinal o paraíso prometido não estava ao alcance de todos. Nem nunca esteve. Afinal demasiadas pessoas estavam distraídas.

As novas gerações ouvem agora e pela primeira vez o conceito de economizar. Desde sempre essa noção foi sendo assimilada naturalmente, de forma racional e intuitiva.

Nos finais do século XIX, quando o papel das donas de casa se tornou mais relevante começou-se a instruir as mulheres, pilares da família. E surgiram conceitos considerados então científicos de «Economia Doméstica», que em Portugal apenas na primeira metade do século XX foram ministrados. E mesmo assim apenas nas grandes cidades.

Com o tempo perderam-se estes conceitos de economia doméstica ou outra. E hoje fico surpreendida por ouvir a própria EDP a ensinar os consumidores a poupar.

Como vai longe o período oposto em que, a então correspondente CRGE (Companhias Reunidas de Gás e Electricidade) incentivava ao consumo, promovendo mesmo a venda de electrodomésticos.
Tudo a isto a propósito de um pequeno objecto. Uma lata de conservas reciclada em raspador. Foi-me vendida, como sendo um raspador de escamas de peixe. É provável que assim seja.
O seu fundo foi picado com um prego, de forma regular, criando orifícios, em que os bordos cortantes são utilizados para raspar. Pode também ter sido utilizado para raspar a casca de citrinos, à semelhança de outros exemplares que possuo.

Para mim é um objecto fascinante porque encerra em si, para além da noção de economia, uma disponibilidade do tempo e uma atenção pelas pequenas coisas que hoje já não existe. Para meditar em tempo de crise económica.