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sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Votos de Feliz Natal

 

Os votos de Feliz Natal vêm este ano por intermédio de umas belas gravuras a talho-doce, extraídas de um livro de 1660. A obra intitulada Figures des histoires de la Saincte Bible, accompagnees de briefs discours, contenans la plus grande partie des histoires sacrées du Vieil & Nouveau Testament, & des oeuvres admirables du Dieu vivant, …, foi publicada várias vezes a partir de 1614.

Esta edição foi publicada em Paris por Guillame le Bé e os desenhos, em meia página, são atribuídos a Jean CousinAs gravuras, num total de 268, não podiam ser mais belas e, delas escolhi as mais apropriadas para a época. Quanto às mesas de banquete surgirão numa outra oportunidade.

Um Feliz Natal para todos!

quinta-feira, 18 de março de 2021

O mês de Janeiro no Calandrier des Bergers

Ao organizar os livros encontrei um conjunto de gravuras fac-simile da obra Le Calendrier des Bergers. Constituído por 12 gravuras inclui as xilogravuras correspondentes aos doze meses do ano e aos signos do Zodíaco. As imagens foram tiradas da obra homónima, de 1497, existente na Biblioteca Nacional de França ou Biblioteca Mazarine.

Desde o século XII começou-se a difundir o uso de calendários em livros para clérigos, que se apresentavam como saltérios, missais ou martirológios. No final da Idade Média, os Livros de Horas ainda começavam com um calendário indicando feriados religiosos.

No entanto os calendários dos pastores são de natureza diferente. Trata-se de compilações para uso prático e moral, destinadas a um público leigo. Existia uma visão romantizada dos pastores, atribuindo-se-lhe um saber contemplativo, e era-lhes reconhecido um conhecimento da ciência da alma, do corpo, das estrelas, da vida e da morte.

Neles surgiam conceitos de astrologia, com a presença dos signos do zodíaco, as tábuas anatómicas, as danças macabras ou por vezes do inferno. As representações das actividades agrícolas ou artesanais para cada mês do ano, ajudavam a enriquecer o texto e tinham também fins morais.

O primeiro Calendário dos pastores foi impresso em Paris por Guy Marchant em 1491, mas foi reeditado várias vezes, em 1497, 1503, 1510, 1529 e 1541.

Apresento aqui o mês de Janeiro, o meu preferido tal como nos Livros de Horas, por representar cenas de interior, em que a mesa está sempre presente. A palavra Janeiro vem do latim "januarius", de Janus. Na mitologia romana, Janus era o deus das portas e passagens, no espaço e no tempo, como a passagem de um ano para o outro. No final da Idade Média, Janus deu lugar a um homem idoso, que pode ser encontrado nas representações dos meses de Inverno, como vemos aqui.

Se nos outros meses se observam imagens agrícolas no exterior, no mês de Janeiro, devido ao mau tempo e às geadas, o trabalho de cultivo está praticamente suspenso. Nesta xilogravura, a cena é centrada no interior da habitação em que tanto o piso, como os vidrais da janela, e as grandes dimensões da lareira de pedra nos dão indicações sobre a riqueza da casa. A completar esta impressão está a mesa coberta com a toalha, com o pão disperso e os objectos como o pichel, o copo, a faca e o prato com uma ave. Uma criada apresenta ainda um prato coberto com outro alimento.

Vamos encontrar imagens com esta tipologia em muitos Livros de Horas, mais ou menos elaboradas, mas os meus olhos, pelas razões que expliquei, recaem sempre em Janeiro.

domingo, 5 de janeiro de 2020

Patrão fora….


Foi só quando me pediram há uns anos para fazer uma conferência num Congresso Internacional de Paremiologia[1] que me apercebi da diferença que existe nos provérbios dos vários países. Isto é, para dizer o mesmo, não é possível fazer uma tradição literal porque a expressão usada é completamente diferente.
Esta gravura foi retirada de uma revista de 1890 La Ilustracion Iberica, e surpreendeu-me pela presença de um cozinheiro na sala, ainda para mais, a tocar flauta. Olhando melhor percebe-se que afinal estão presentes todos os elementos do pessoal de cozinha e sala. Sentado numa cadeira observa-se um dos criados da casa, mais velho, possivelmente o mestre-sala, responsável pelo serviço que tinha lugar nesta e por todo o pessoal de sala. Dorme profundamente, resultado de excesso de bebida, como nos mostram as garrafas e copos que cobrem a mesa. Em plano de fundo uma cozinheira, com avental e touca, conversa com dos seus colegas, apresentando-se este, com prosápia, a fumar um charuto. Uma caixa sobre a mesa indica-nos a sua origem.
Os restantes casais passeiam e dançam. Eles com as jaquetas de serviço de mesa e elas com roupas melhoradas, pessoais ou alheias. Não sabemos.
A legenda da gravura diz: «Cuando non está lo gato, los ratones bailan». A gravura assinada por Paul Grolleron (1848-1910) tem a data de 1879. Este pintor e ilustrador francês especializou-se em cenas de batalhas, sobretudo da guerra franco-alemã de 1879 e em representações de militares.
Paul Grolleron fotografado em 1882 por Anatole Louis Godet (Wikipedia)
Aqui temos a sorte de ver uma gravura sua com um tema diferente que apresenta um momento de maior descontracção, excessiva diria eu, quando os patrões se encontram fora ….e é dia santo na loja.


[1] Uma palavra que parece aplicar-se a uma doença, mas que significa o estudo dos Provérbios.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Boas Festas... Agora a sério

Com esta imagem idílica, uma gravura de Carl Larsson, onde estão presentes todos os elementos que constituem o arquétipo de Natal: família reunida, harmonia, boa comida, etc., deixo-lhes os meus votos de Festas Felizes.
Não deve corresponder  à consoada da maioria, mas não faz mal.
O que conta é a intenção. E o sonho.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Um "Triclinium des Anciens" com mistério


 Esta oferta do meu amigo Bernardo Trindade deixou-me cheia de alegria. É uma gravura lindíssima que representa um banquete romano que teve lugar no triclinium, que à época correspondia à sala de jantar. No Império Romano, as casas dos cidadãos mais abastados possuíam um pátio rodeado por colunas designado peristilo. Era ao redor deste que se encontravam as salas mais importantes e entre elas o triclínio, ou sala destinada aos banquetes. Designados symposium tiveram a sua origem na Grécia, influenciados pelo reino da Lídia, passaram à Etrúria, e posteriormente ao Imperio romano.
Nesta gravura vê-se a mesa em U aberta para o exterior e, à sua volta, os leitos onde se deitavam os convidados confortavelmente vestidos e normalmente descalços, como é o caso. Os simposium gregos era exclusivamente masculinos enquanto nos romanos encontramos a presença feminina. 
A refeição é acompanhada por música e os escravos servem a refeição e oferecem as bebidas. Esta presença de bebida durante a refeição leva-nos a orientar para o banquete romano, uma vez que no grego as bebidas tinham lugar no final da refeição. A gravura mostra-nos a presença do anfitrião no lugar de honra, dito do cônsul (o locus consularis) e, como era de regra, a presença de 3 pessoas em cada um dos leitos.
Pensamos hoje como foi possível comer deitado e achar isso confortável ou luxuoso. Terá sido no séc. VII a.C. que os banquetes, que decorriam sentados, passaram a ser deitados, posição que os etruscos assimilaram dos gregos e posteriormente o fizeram os romanos.
Nesta gravura de que eu desconheço a origem uma vez que não consegui localizar a obra, (embora saiba que se encontrava no tomo IV na p. 220, como se encontra escrito na parte superior da gravura), existe uma discrepância: o anfitrião e uma das figuras apresentam-se com a cabeça coberta. Como interpretar este facto sobretudo sem ter noção da obra e da data da gravura?.
Como esta é uma área que não domino minimamente fica aqui o desafio para quem souber mais. Não é um Objecto Mistério mas uma imagem mistério de que agradeço a ajuda no esclarecimento.

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Carnaval, música e Stuart

Stuart Carvalhais (1887-1961) foi um ilustrador e gráfico português que deixou uma obra extensa. 
A sua colaboração em revistas, jornais e como gráfico para firmas como a Club Bristol e a Sasseti, permitiram-lhe abarcar áreas diversificadas, utilizando sempre um estilo identificador.
Os seus desenhos retratam figuras populares e cenas da vida noctura em que a mulher é presença constante. Mesmo quando retrata a mulher do povo a figura feminina é delicada e sofisticada com os seus olhos esfumados que a tornam misteriosa. 
Vê-se a sua obra e percebe-se que desenhava como respirava, com uma facilidade extraordinária, uma espécie de Camilo Castelo Branco do desenho.  
Nesta época de Carnaval em que a música é presença constante, mostramos uma pequena parte da sua obra gráfica, as capas de pautas musicais feitas para a Sasseti nos anos 20 e 30, de que excluímos os fados, por demasiado tristes. Uma selecção musical adequada a esta época.
Para um fim de dia mais calmo

sábado, 13 de setembro de 2014

Desenhos fabulosos de... «Fábulas»

O mundo encantado das fábulas vive não só das narrativas mas sobretudo das imagens que nos ficam na memória.
No livro «Fables» de Anatole de Ségur (1823–1902) publicado em 1864, o editor J. Hetzel, juntou os dois primeiros livros de fábulas, publicados em 1847, e os outros dois publicados em 1863. O autor foi um conhecido escritor de fábulas nas horas vagas da sua actividade burocrática.
A enriquecer o livro encontram-se gravuras em madeira feitas por Lorenz Froelich (1820-1908). Este pintor e desenhador dinamarquês salientou-se sobretudo na ilustração infantil e os seus desenhos podem encontrar-se nos principais livros deste tipo de literatura, da época.
Escolhi imagens de duas fábulas que permitem observar a riqueza de pormenores das ilustrações e que se adaptam ao tema deste blog. A primeira fábula intitula-se «A raposa convertida» e a segunda «A miséria à procura da fortuna».
Para terminar uma das imagens do livro «O circo em casa», com texto de P.-J. Stahl e que foi igualmente ilustrado por Froelich, desta vez a cores. 

domingo, 28 de abril de 2013

Portugal Gastronómico na Exposição de Paris de 1937

Este folheto desdobrável intitulado «Le Portugal Gastronomique» foi feito para a Exposição Internacional de Paris de 1937. A verdadeira designação desta mostra, de acordo com o tema, foi a de Exposição Internacional de Artes e Técnicas e teve lugar entre 4 de maio e 27 de novembro desse ano.
Os pavilhões dos vários países participantes foram construídos ao longo do rio Sena e representaram projectos dos mais destacados nomes da arquitectura da época, como Alvaar Aalto que desenhou o pavilhão da Filândia e Mallet-Stevens que desenhou o Pavilhão da Electricidade.
Portugal fez-se representar ao mais alto nível com um belo pavilhão de pendor nacionalista, com o projecto do arquitecto Keil do Amaral.

 O edifício com dois pisos, tinha uma sala destinada às colónias, uma exposição de artesanato, uma sala com as descobertas científicas, outra com produtos agrícolas e uma destinada ao Turismo, entre outras. Em frente do pavilhão estavam atracados dois barcos: um rabelo e um saveiro.
A decoração interior esteve a cargo de Carlos Botelho (1899-1982), mais conhecido como pintor, em especial pela sua visão poética da cidade de Lisboa. Mas Botelho era plurifacetado e foi também ilustrador e caricaturista. Foi um dos pioneiros da banda desenhada em Portugal sendo da sua responsabilidade, entre 1926 e 1929, as imagens do ABCzinho.
Trabalhou em várias mostras internacionais.como no pavilhão de Portugal na Exposição Internacional e Colonial de Vincennes, Paris, 1930-1931, no stand de Portugal na Feira Internacional de Lyon, 1935, etc.
A partir de 1937 passou a fazer parte do SPN (Secretariado de Propaganda Nacional), mais tarde denominado SNI (Secretariado Nacional de Informação), juntamente com Bernardo Marques e Fred Kradofler. Foi com estes que trabalhou em vários pavilhões de Portugal, como neste da Exposição Internacional de Artes e Técnicas em Paris, onde chegou a ganhar um prémio.
Com este folheto percebemos que a sua acção foi mais vasta e que participou também no grafismo da propaganda distribuída. Este folheto extraordinariamente bem concebido, com capas a encarnado e verde em que o local do escudo é ocupado por produtos alimentares portugueses, tem a sua assinatura.
O texto é da autoria de Albino Forjaz Sampaio e é uma elegia à comida tradicional portuguesa, descrita por regiões, a começar pelo norte do país. Terminava com um convite desafiador aos estrangeiros, onde dizia que se os portugueses tinham partido à descoberta do mundo em pequenas naus, que esperavam para também eles partirem à descoberta de uma gastronomia quase desconhecida.

Uma visão de Lisboa por  Carlos Botelho
No lado oposto ao texto surgia um mapa de Portugal onde se podiam ver as imagens típicas dos habitantes das várias regiões acompanhados pelos alimentos tradicionais de cada uma delas. As representações, ordenadas e explícitas, onde predominam vários tons de verde e encarnado, são belíssimas. Regozijo-me por ter chegado às minhas mãos um exemplar em tão perfeito estado, que partilho com imenso prazer.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

A Aviação e o Chá

Ofereceram-me hoje esta interessante gravura que retrata o interior de um pequeno avião que sobrevoa Londres.
Em primeiro plano podem observar-se duas senhoras de calmo sorriso que apreciam o chá oferecido por um “steward”, identificado na lapela e vestido a rigor. As indumentárias femininas remetem-nos para a década de 1920-30.
A gravura apresenta a assinatura de C E Turner que corresponde ao nome de Charles Eddower Turner (1893-1965) que serviu na Royal Air Force durante as duas guerras. Esta sua actividade colocou-o em posição priviligiada para representar cenas de batalha, barcos e aviões.
Para além da representação artística da guerra, com publicações em revistas como o Illustrated London News e a Sphere ficou também conhecido pela sua actividade em campanhas publicitárias, a mais conhecida de todas para a linha de navios Cunard.
Esta gravura corresponde precisamente a esse período de acalmia entre as duas Grandes Guerras, quando se pensava que os problemas na Europa havia acabado e era possível sair de casa simplesmente para beber um chá a bordo de um avião.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

O Cozinheiro e o Médico

Esta gravura colorida à mão é da autoria de Charles Williams e foi publicada por T. Tegg, em outubro de 1815. Este caricaturista teve uma actividade artística intensa entre 1797 e 1830 e a sua crítica social cobriu vários campos da sociedade inglesa da época. Embora algumas caricaturas tenham cariz político, e nos sejam mais difíceis de compreender, na maioria são ainda deliciosas, como outras que mostro como exemplo.
 A gravura inicial intitulada «O Amigo do Médico» mostra um médico e um cozinheiro no interior de uma cozinha e serve como crítica aos maus hábitos alimentares dos ricos.
De forma sarcástica, revela-nos o diálogo que tem lugar no interior da cozinha de uma grande casa, com uma lareira onde se encontra um caldeirão e ao lado uma fornalha onde fumegam vários pratos.
Um médico, de casaco azul, após visitar o seu doente foi cumprimentar o cozinheiro e agradecer-lhe o seu trabalho.
O cozinheiro, empunhando uma colher de pau, afirma orgulhosamente: «Como vê, cá estou a fazer os fricassés, os ragouts e os kickshaws.»
Ao que o médico, agradece: «Sim meu bom amigo, vejo que trabalha duramente. Quando venho a casa dos meus doentes ricos não deixo de cumprimentar o cozinheiro, a quem devo muito. É a sua arte de “envenamento” que permite aos médicos andarem de carruagem. Sem a vossa ajuda andávamos a pé.»
Mais ao fundo duas ajudantes de cozinha continuam o seu trabalho, uma delas colocando um espeto num leitão, sem deixarem de ouvir a conversa, o que leva uma delas a dizer para a outra:«Vamos dar-lhe um pontapé».

É interessante salientar que há aqui uma crítica a um tipo de alimentação pouco saudável, com refogados e cozinhados feitos com carne e gorduras, a que o próprio médico não diria que não, a avaliar pelo seu perfil redondo.
Os kickshaws a que se refere o cozinheiro é uma expressão usada em língua inglesa para se referir a um prato elaborado. Era usada no plural e a sua etimologia vem do francês «quelque chose», sendo já utilizada desde o século XVI. Em português diríamos «qualquer coisinha».