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segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Uma garrafa Tio Pepe vestida a preceito

Colecção da autora
O Tio Pepe é um vinho fino do tipo Jerez feito com uma casta de uva branca Palomino. É um vinho protegido pela Denominação de Origem Jerez-Sherry-Xérès, sendo produzido na área demarcada de Jerez de la Frontera, na Andaluzia, no sul de Espanha.
Imagem tirada do Pinterest
Esta conhecida marca faz parte da produção da firma González Byass que foi fundada em 1835 por Manuel María González Ángel. Desde então a empresa tem tido várias associações mas mantém-se na família González e vai já na 5ª geração. 
O verdadeiro Tio Pepe. Foto da internet
Manuel Maria era jovem quando empreendeu este negócio e foi apoiado pelo seu tio materno José Ángel y Vargas, o Tío Pepe. O vinho com o seu nome foi criado logo em 1844, embora a marca só tenha sido registada em 1888.
Fotografia publicitária de 1953. Colecção da autora.
No centésimo aniversário da firma o director da publicidade da empresa, Luis Pérez Solero, teve a ideia de vestir as garrafas com diferentes trajes típicos. Desconheço o que aconteceu aos outros modelos mas a garrafa do Tio Pepe ganhou uma apreciação imensa com a sua forma humanóide com um grande chapéu na cabeça, uma capa andaluza vermelha e a guitarra. 
Imagem tirada do Pinterest
Associamos esta insígnia a Espanha tal como nos acontece com o touro da Osborne, que em tempos estiveram espalhados pelo país. Ao longo dos anos, e apesar das modas, a imagem tem-se mantido porque agrada às pessoas, embora tenham surgido interpretações modernas deste tema.
Associação da bebida aos toureios
Esta garrafa vestida a rigor, com «traje de luces», que resulta da associação desta bebida aos toureiros como a publicidade da época salientava é uma delícia regressada do tempo em que se enfeitavam as garrafas.

P:S: Não posso terminar sem lhes mostrar um filme publicitário antigo divertidíssimo. Se não ficarem com um sorriso nos lábios é melhor começar a tomar um antidepressivo.



sexta-feira, 6 de junho de 2014

As passas de uva de Málaga em Portugal

Apesar de sermos um país vinícola as passas de Málaga tiveram, durante muito tempo, grande aceitação em Portugal. A principal variedade de uva utilizada na província da Andaluzia para a transformação em passas, é a de uvas Moscatel de Alexandria. A variedade moscatel era já conhecida desde a dominação muçulmana, mas a sua disseminação deu-se na bacia mediterranica durante o século XVII e início do século XVIII.
Biblioteca Nacional de Madrid
No século XIX era cultivada em toda a Andaluzia e a sua produção e exportação aumentaram progressivamente e tornaram-se numa actividade económica importante da região. Contudo a partir de 1870 assistiu-se a uma reversão do processo, no que respeita à produção de passas. À crise económica mundial, juntaram-se os aumentos de impostos, a competição com outros mercados (ex. passas da Califórnia), a filoxera, etc. Começou a haver excesso de produção com baixa de preço nos mercados, pelo que muitos agricultores começaram a arrancar as cepas e a plantar cana-de-açúcar.
Museu de Artes e Costumes Populares. Fundação Unicaja, Málaga.
A acompanhar o desenvolvimento desta produção frutícola surgiu em Málaga, a partir de 1830, uma produção litográfica e impressora destinada à publicidade de empresas, cartazes, cartões, etiquetas, produção de leques, etc. No final do século XIX a qualidade e o número de litografias nesta cidade colocavam-nas entre as mais importantes de Espanha.
Desenhos para caixas de passas. Museu de Artes e Costumes Populares. Fundação Unicaja, Málaga.
A gravura apresentada no início do poste e encontrada em Portugal faria provavelmente parte de uma das embalagens de passas produzidas pela firma «Hijo de Martins Alcausa». Encontrámos notícia da existência desta firma no jornal O Sol, de Madrid, de 15 de Dezembro de 1918. Nela se elogiava esta casa que havia sido fundada em 1870, contrariando a tendência descendente de produção deste tipo de frutos. Então com 48 anos a firma era conhecida pela sua variedade de «frutos verdes e secos», que exportava para vários países como França, Brasil e Portugal. De entre os vários tipos de frutas eram referidos os figos, os limões e as passas. Infelizmente esta bela litografia, não tem identificação do local de produção mas terá sido seguramente produzida por uma das várias litografias existentes na cidade
Gravura de caixa de passas. Museu de Artes e Costumes Populares. Fundação Unicaja, Málaga.
Na tese apresentada por Alfonso Simón Montiel sobre «Los orígenes del diseño gráfico en Málaga 1820-1931», o autor refere que o conceito para as caixas de passas de Málaga é bastante homogéneo, evidenciando-se mais o nome do produto «pasas moscatel de Málaga» do que o nome do produtor. Embora as formas das embalagens pudessem ser variadas a mais frequente era a rectangular. No que respeitava aos motivos o recurso a imagens de toureiros ou figuras femininas típicas espanholas, numa segunda fase com evidente estética modernista, foi o mais utilizado. 
Para além dos modelos humanos, a representação de imagens da cidade, com formas arquitectónicas ou imagens de locais típicos como a catedral ou o porto, foram outros dos motivos utilizados nas embalagens de passas de Málaga. É este último o tema aqui apresentado e foi também nestes, segundo Alfonso Montiel, que se começaram a utilizar as novas técnicas fotomecânicas que imprimiam maior realismo às imagens, o que explica a beleza desta gravura.

Bibliografia:
- Montiel, Alfonso Simón, Los Orígenes del diseño gráfico en Málaga 1820-1931, Tese de doutoramento, Universidade de Málaga, 2007.
- Del Rio, Pilar,  La litografía artística para uso comercial en Málaga, em i+ DISEÑO, Universidade de Málaga.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Os livros do Dr. Adrián Vander

Ao folhear o livro Regimenes Agradables para Sanos Y Enfermos, não pude deixar de me lembrar que, em muitas das dedicatórias para pessoas saudáveis que faço no meu livro Receitas e Truques para Doentes Oncológicos, ressalvo que as mesmas também são boas para pessoas sãs.
O livro, da autoria de Dr. Vander e data de 1955 (5ª edição), despertou-me a curiosidade pelo autor e a sua obra.
O seu verdadeiro nome era Adrian Van Der Put e era de nacionalidade Holandesa, onde nasceu em 1820. Terá sido director do Sanatório Kuhnne, em Leipzig mas, provavelmente por não ser médico, passou para Espanha em 1912, onde adaptou um novo nome mais fácil. Instalou o seu consultório em Barcelona e começou a dar consultas de naturopatia, que publicitava na revista la Salud, de que era editor. 
Embora inicialmente lhe tenha sido concedida licença esta foi-lhe retirada e passou a desenvolver a sua actividade literária publicando mais de 50 livros, todos tendo como tema a Medicina Natural ou Naturismo. Hoje é considerado o pai da naturopatia em Espanha. 
Os seus livros, de que não vou mencionar os nomes (por razões evidentes), apresentavam características ideológicas e gráficas semelhantes ao apresentado.
 
As imagens são aparentemente desenhadas pelo próprio autor, uma vez que apresentam num dos cantos «DR V» e são todas muito interessantes. Ilustram de forma encantadora e muito colorida o que devia ser uma alimentação correcta. Nesse sentido apresenta os principais produtos alimentares e os pratos bem decorados de forma a serem apetitosos. 
Nas suas obras o autor fazia a apologia da «Medicina Natural» e dentro desta destacava os regimes de alimentação lacto-ovo-vegetariano, que considerava mais adequado para pessoas saudáveis e para algumas doenças, e os regimes vegetariano puro e crudíveros (purificador e reconstituinte), mais adaptados aos doentes. 
Os seu livros tiveram um imenso sucesso, o que não admira porque ao observarmos as imagens até nos esquecemos de que se trata de pratos exclusivamente vegetarianos.
Os seus conceitos são ainda hoje actuais, e fazem-me lembrar uma frase do meu professor de desenho, o arquitecto Calais (um homem avançado para a época), que dizia: «Não há nada de novo à superfície da Terra». 

quarta-feira, 11 de julho de 2012

O torrão espanhol

Quando eu era pequena e íamos a Espanha era inevitável que trouxessemos caramelos. Os “caramelos espanhóis” eram uma instituição. Nem me lembro qual era a marca porque eram apenas assim chamados.
Era um doce que se colava aos dentes e que não era fácil de comer mas todos os portugueses os adoravam. Houve um período em que, na Covilhã, batiam à porta umas ciganas que vendiam latas de «melocóton» e caramelos espanhóis de contrabando, claro. E as pessoas compravam, contentes por reforçar a sua despensa com produtos de dias de festa.

Hoje os mais novos já não conhecem estes caramelos que já ninguém compra. Foram substituídos pelo torrão espanhol (turron em castelhano), tal como eu fiz agora numa curta visita a Barcelona. Contudo o torrão é bem mais antigo que os caramelos. O torrão é um doce que leva na sua confecção mel, açúcar, claras de ovo e amêndoas ou avelãs.
Esta especialidade tem uma origem árabe e foi uma herança dos muçulmanos que estiverem em Espanha, embora existam também em Itália e na bacia do Mediterrâneo. Ainda hoje nos países árabes há vários doces parecidos com estes, chamados halva, que em árabe significa “doce”.

O torrão (torró em catalão) que eu comprei é de Agramunt que fica na província de Lérida, na Catalunha. É um produto com «Indicação Geográfica Protegida» identificada por um selo de autenticidade. É, a par dos torrões de Alicante e Jijona, um dos mais conhecidos. O de Alicante é uma variedade dura e o de Gijona pertence à variedade mole, ao contrário do que poderíamos pensar quando nos lembramos do slogan: «O torrão de Alicante mete-se na boca e derrete-se num instante», como muitos recordarão.
O torrão de Agramunt é feito com avelãs que predominam na região e apresenta-se com forma circular sobre obreias. Comprei no entanto as formas clássicas de amêndoa, rectangulares, de pasta dura e mole que aqui lhes mostro.

No fundo o torrão é uma variante do nogat, que, este sim, faz parte das nossas tradições doceiras, sob a forma de pinhoadas, como as de Alcácer do Sal e nogados.
A marca que comprei foi a «Vicens» que existe desde 1775. A destruição dos ficheiros de Agramunt na guerra napoleónica não permite confirmar a sua existência anteriormente a esta data. É contudo muito provável que assim seja. Aliás todos os doces com mel, predominantes na Idade Média, precederam os doces com açúcar.
Eu sei que temos doces muito bons. Na realidade os melhores do Mundo. Mas não faz mal elogiar os dos outros, sobretudo quando estão bem protegidos e com identificação de origem. Quantos dos nossos doces comercializados apresentam como cartão de visita uma origem confirmada desde o século XVIII? 

sábado, 14 de abril de 2012

Um jarro de vinho espadeiro

Tenho um fascínio por cerâmica falante, isto é, por peças que têm palavras escritas. Qualquer que seja a palavra, ou melhor, os «dizeres», alarga o nosso universo e conseguimos obter mais informação de uma simples peça.

Vem isto a propósito de um jarro que comprei na Feira da Ladra com uma frase escrita no bordo superior. Não estava identificado com marca de fábrica e não correspondia a qualquer tipologia de fábricas portuguesas, que eu conhecesse.
Numa das faces tinha escrito “Restaurante Colón”. Esta designação, como sabem, corresponde ao português “Colombo” e identifica imediatamente, no país vizinho, Cristovão Colombo. O pior é que em Espanha existem um sem número de locais a que se atribuiu a designação Colón, desde praças e ruas a restaurantes e hotéis.
Era portanto impensável descobrir o seu local de origem. Tanto mais que uma dos mais conhecidos Restaurantes Colón se situa no Brasil, em São Salvador.
Em Lisboa, em 1911, foi também feito o pedido de registo de nome de um «Café Colon» por um galego de nome Alfredo Pinheiro Lourido, que tinha já um estabelecimento de Café na rua dos Correeiros, nº 125-129, em Lisboa, mas ignoro se chegou a existir.
Encontrei depois um famoso restaurante Colón, em Barcelona, de grandes dimensões de que lhes deixo a fotografia. Para a obter tive que encomendar de Espanha uma revista intitulada «La Saeta», publicada em Barcelona em 1901 e onde o mesmo vem reproduzido. Na vida nada é fácil, mas a imagem do mesmo valeu a pena. Só que, infelizmente, não me permitiu estabelecer alguma relação com esta peça cerâmica.
O jarro
de cor branca, com dourado no rebordo superior, bico e asa, apresenta pinturas de vários mariscos (lagosta, santola, mexilhão) numa alusão ao acompanhamento mais adequado à bebida nele servida. E a bebida era nem mais nem menos do que “vinho espadeiro”.
Vejamos primeiro o que é o vinho espadeiro e depois como eu lá cheguei. O espadeiro é uma casta de vinho verde que em Portugal cresce precisamente na região demarcada do vinho verde. No sul foi apenas cultivada na região de Carcavelos, que praticamente já não existe. Mas é sobretudo na Galiza e nas Astúrias que esta casta mais se cultiva, havendo mesmo quem considere que é essa a sua origem. Apresenta-se com uma cor rosada e um cheiro a framboesa e groselha.
E como cheguei eu à conclusão de que era um jarro para vinho espadeiro? É que este tem no bordo superior a seguinte frase. «Quece os peitos e as almas alumea» que, vim a descobrir, faz parte dos versos de Ramon Cabanillas (1876-1959), um dos mais apreciados poetas galegos, que se tornou famoso por defender a identidade cultural da Galiza. Na sua obra “Da terra asoballada”, publicada em 1917, encontra-se o seguinte poema de onde foi extraída a frase escrita neste jarro de vinho.
Diante dunha cunca de viño espadeiro

¡O espadeiro! ¡Asios mouros, cepas tortas
follas verdes, douradas e bermellas,
gala nas terras vivas de Castrelo,
nos Casteles de Ouviña e nas areas
de Tragove e Sisán, do mar de Arousa
e o Umia cristaíno nas ribeiras!

¡O espadeiro amante! ¡O viño doce!
¡A legría de mallas e espadelas,
compañeiro das bolas de pan quente
e as castañas asadas na lareira!

¡O espadeiro! ¡O risolio que loubaron
en namorantes páxinas sinxelas
os antigos abades do mosteiro
de Xan Daval, na vila cambadesa,
aqueles priores ledos e fidalgos
mestres na vida, na virtú e na cencia,
que sabían ¡ou tempos esquecidos!

canta-la misa, escorrenta-las meigas,
acoller e amparar orfos e probes,
rir coas rapazas, consella-las vellas,
darlle leito e xantar ós peligrinos,
pechar por fuero as portas da súa igrexa
á xusticia do Rei, cobra-los diesmos
e dispoñer vendimas e trasegas!

¡O espadeiro morno! ¡O roxo viño,
sangue do corazón da nosa terra,
que arrecende a mazáns e a rosas bravas,
quece os peitos e as almas alumea,
e sabe a bicos de mociña nova.

Não é interessante as cerâmicas falarem?.

Nota. Em negrito vão evidenciadas as frases transcritas para a caneca.

domingo, 22 de maio de 2011

Uma ida a Bilbao ou como o mundo está cada vez mais pequeno

O mundo está cada vez mais pequeno. Sexta feira de manhã parti para Bilbao para uma reunião que começava nesse dia à tarde e se prolongava por sábado, tendo regressado nesse dia à noite.
Felizmente o hotel estava situado no centro da cidade e pude, ainda ao final da manhã, dar um salto ao Museu Guggenheim, que ficava perto. Tinha lá estado há vários anos, logo após a inauguração do museu, obra de Frank Gehry e inaugurado em 1997. Na altura fiquei com a impressão de que o conteúdo do museu não estava à altura do edifício em si e pensei que talvez não estivesse ainda completo.
 arquitectura é absorvente, no sentido em que não nos cansamos de a ver, pelos seus diferentes ângulos e de a fotografar. Lá dentro a sua imensidão e a mistura de materiais impressiona-nos. Novamente fiquei desiludida com as obras expostas. Algumas instalações conseguiram mesmo provocar-me claustrofobia e fiquei aliviada quando saí. Eu sei que é preciso coragem para dizer isto. Não se fica bem visto pelos intelectuais. Mas senti-me recuperada quando cheguei cá fora e pude novamente observar o cão florido, o «Puppy», obra do controverso Jeff Koons.
Pelo caminho, porque o tempo não dava para mais, entrei numa loja gourmet com frutas, legumes e conservas e fotografei uma fruta que me disseram ser da região. Uma etiqueta identificava-a como «paraguayo». No meu subconsciente aquela imagem lembrava-me alguma coisa. Efectivamente, lembrei-me depois, eu já a tinha comprado em Portugal, mas desconhecia o seu nome. Utilizei mesmo a sua imagem num post sobre pêssegos na ausência de uma outra foto minha desses frutos.
Quando cheguei descarreguei as fotos e fui procurar o que era o “paraguaio”. É por este nome que é conhecido o fruto cujo nome científico é Prunus persica var. platycarpa. É uma variante do pêssego e apresenta uma forma achatada. Resulta de uma mutação relativamente recente e é originário da China, tendo-se espalhado pela Europa. É produzido sobretudo em Espanha em zonas mais temperadas.
E ali estava eu, feita turista, a fotografar um fruto local e afinal tratava-se de um fruto de origem chinesa, que quando o comprei em Lisboa, um ano antes, me deixou alguma inquietação. Nunca sei o que são estas novas variantes.
E fiquei a pensar que não é a distância, mas a confusão do que é característico de uma determinada região, que nos mostra como o mundo está cada vez mais pequeno.