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segunda-feira, 25 de julho de 2011

Waldemar Rossi: Herança bendita ou...


O Correio da Cidadania publicou artigo de Waldemar Rossi abordando o tema da relação entre os governos Lula e Dilma levando em consideração às "alianças para governar" herdadas do antigo governo. Passados seis meses do governo é sempre importante acompanhar as avaliações de quadros importantes como Rossi. Segue o artigo:
Herança bendita ou...

A campanha eleitoral de 2010 para a presidência da República foi patrocinada pelo então presidente Lula. Indicou e bancou Dilma Rousseff, e com sucesso. Após a proclamação da vitória da petista, corria à boca pequena, nos meios petistas, que Dilma receberia uma herança bendita, uma forma de contrapor à campanha de 2002, vencida por Lula, cujo legado para a direção do país era tido como “Herança Maldita”, fruto dos descalabros de FHC.

Pois bem, Dilma, mostrando sua fidelidade ao padrinho político, bancou vários ministros (e seus subordinados) indicados (ou impostos sutilmente) por ele - pessoas da sua confiança e que fizeram parte do seu governo.

Passados menos de sete meses, Dilma vê seu governo envolto num enorme vendaval de denúncias de corrupção com a coisa pública. Como era de se esperar, passou a sofrer ataques da “oposição” política, da mídia, da base do seu partido e de parte significativa da população, principalmente de alguns movimentos organizados. Por incrível coincidência (?), todos os acusados de envolvimento com falcatruas em suas esferas de poder foram bancados por Lula.

Causa estranheza os esforços de um ministro (Gilberto Carvalho, Secretário Geral da Presidência), também bancado por Lula, em defender o retorno do diretor do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), Luiz António Pagot, afastado do cargo enquanto está em férias.

Até o momento em que escrevo este comentário, já são sete os assessores da mesma pasta demitidos por Dilma. Convém lembrar que o ex-ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento – ministério a que o Dnit está vinculado –, já havia sido demitido e substituído. A corrupção denunciada pela Controladoria Geral da União (CGU) envolve os próprios demitidos, seja pela ação direta seja pela conivência com os desvios do dinheiro público, praticados, segundo denúncias também públicas, por alguns familiares desses “servidores”.

Não causa, porém, estranheza saber que grandes empresas estão envolvidas nas denúncias de corrupção, porque já era sabido que empresas não fazem favores. Fazem investimento e querem o retorno sobre o capital investido especialmente nas campanhas eleitorais. Como nossa “Justiça” é vesga, grandes empresas, historicamente envolvidas em denúncias – muitas delas comprovadas por investigações mais sérias – não sofrem condenações e muito menos são banidas dos contratos com a gestão pública.

Até pelo contrário, as empresas mais acusadas de improbidade são as que detêm os contratos mais rentáveis, tanto com a União quanto com vários estados e prefeituras. E a mídia tem revelado tais escândalos com muita frequência. Aliás, é deprimente folhear jornais, ver ou ouvir noticiários em que prevalecem os lamentáveis fatos da criminalidade política que impera no país. E isto vai contaminando a mente e a moral do nosso povo, que já não se abala com tais novidades. Pior, a elas se acostuma, chegando a justificar os desmandos como práticas normais dos políticos. Não é por menos que o crime organizado cresce concomitantemente com a organização e evolução do crime do colarinho branco, corroendo, infelizmente, os Três Poderes da “República” em seus vários níveis.

É de se considerar a luta interna da presidente Dilma, que, imaginamos, se vê na obrigação ética de se livrar de tamanha herança nem tão bendita, considerando que está à mostra apenas a ponta desse iceberg da corrupção institucional. Não tenhamos dúvidas de que outros vendavais virão porque o sistema está apodrecido. Basta acompanhar as informações diárias dos contratos criminosos para a construção de estádios e demais obras, que visam adequar o país às “exigências” da FIFA e do COI, tendo em vista a Copa do Mundo 2014 e os Jogos Olímpicos 2016.

Enquanto esse caudaloso rio de dinheiro público é desviado para a farra financeira a serviço das grandes empresas e de dirigentes nacionais e internacionais dos “esportes”, sentimos a sangria nos orçamentos da saúde, da educação, do transporte público, do saneamento básico, da moradia popular, da reforma agrária, da preservação ambiental (das nossas matas, nascentes, biomas, da poluição sonora e atmosférica).

Nem tudo, porém, são espinhos. Felizmente estamos vendo que parte significativa da população está reagindo, ainda que com muita fragilidade. Movimentos vão se organizando, manifestações populares estão em curso, embora embrionárias. O que se pode esperar é que os esforços da minoria que jamais se rendeu ao canto da sereia do poder e da vida fácil dêem o resultado esperado. Temos esperanças também de que bons ventos vindos do movimento social europeu e norte-africano soprem suaves, mas eficazmente no Brasil.

A Esperança está mudando de curso, não mais restando na doce ilusão da fácil solução dos nossos graves problemas. Que assim seja, para felicidade do nosso povo, sobretudo das novas e futuras gerações. Porém, é indispensável que cada um faça a sua parte, se entenda como protagonista do processo das mudanças tão sonhadas por todos nós. Que já não sejamos “paus mandados” e sim mandantes.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Waldemar Rossi: 2009 – avanços e retrocessos

O portal Correio da Cidadania publicou artigo de Waldemar Rossi, coordenador da Pastoral Operária da arquidiocese de São Paulo, fazendo a avaliação do ano que se finda. Publicamos na íntegra o artigo.

2009, avanços e retrocessos

O ano de 2009 vem sendo marcado por avanços e retrocessos das forças sociais. Houve retomada de algumas lutas até então estagnadas, apesar dos movimentos atrelados aos interesses do governo federal e do capital, que por essa razão se tornaram imobilizadores descarados.

Descontentes com a contínua recusa do governo Lula em realizar a tão prometida reforma agrária, o MST e outras forças menores dos sem terra esquentaram os meses de abril e maio, com ocupações de fazendas improdutivas, de terras devolutas griladas, de sedes regionais do INCRA e de outros espaços dos governos federal e estaduais. E isto apesar das violentas repressões e dos mandados judiciais de reintegração de posses (posses de terras griladas, como a Fazenda da CUTRALE).

Ora, a justiça neste país! Pena que o enfrentamento mais importante, diretamente com o governo Lula, não tenha ocorrido. Pena porque Lula prometeu à direção do MST que faria a reforma agrária "numa canetada". Usou de sua caneta para liberar, neste ano, a produção do milho transgênico e para entregar terras devolutas aos grandes fazendeiros grileiros, legalizando o que é ilegítimo.

O MST foi e continua sendo o movimento que mais dá ibope (pois a imprensa cai matando sobre ele em defesa dos latifundiários). Mas outros movimentos também colocaram as manguinhas de fora. Assim foi com os carteiros em todo o Brasil, com sua greve prolongada; os bancários não deixaram por menos e enfrentaram com galhardia os poderosos bancos nacionais e internacionais, numa greve de vários dias; metalúrgicos de várias cidades do país enfrentaram as montadoras, sobretudo ante as dispensas provocadas pela crise financeira que se abateu sobre o sistema neoliberal - por óbvio, não houve greves nos sindicatos ligados à Força Sindical.

Méritos maiores para sindicatos da Conlutas e da Intersindical. Professores universitários também tiveram seus movimentos reivindicatórios, assim como os sindicatos de funcionários da USP, por exemplo. Merece destaque a resistência dos petroleiros ao processo de cessão de áreas petrolíferas para a exploração de empresas internacionais, assim como à entrega do pré-sal. Neste caso - da luta em defesa do petróleo como exclusividade nacional -, contradições permearam o movimento, porque setores ligados ao governo federal, de um lado, e aos partidos da direita, do outro, se engalfinharam numa luta inglória (inglória para os trabalhadores) em denúncias de corrupção na Petrobrás ou em defesa da sua direção, neste caso, contra a implantação da CPI. Em ambas as posições, o que prevaleceu foram os mesquinhos interesses eleitoreiros e não uma postura verdadeiramente nacionalista.

Por outro lado, o povo estarrecido vem assistindo às seguidas denúncias de corrupção nas altas esferas políticas, seja na Câmara de Deputados, no Senado, no Judiciário ou ainda nos vários governos estaduais, com destaque para o governo gaúcho de Yeda Crusius e, mais recentemente, com o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda. Da quadrilha de Brasília fazem parte pelo menos mais 18 políticos ligados ao governador, todos envolvidos no novo mensalão, amplamente divulgado pela mídia televisiva e imprensa escrita.

Aconteceu algo de novo que foi a "unificação" do movimento sindical nacional na luta pela redução da jornada de trabalho, sem redução salarial. Muitos panfletos, discursos, entrevistas e até uma caminhada em Brasília. Esse "fato novo" se deve à aproximação entre as centrais que estão mancomunadas com o governo de um lado e a Conlutas e Intersindical do outro.

Porém, como já era de se esperar, tal movimentação serviu apenas para manter uma antiga bandeira de lutas, já que depois da Constituinte de 1988 - que reduziu a jornada para 44 horas semanais – jamais houve mobilização da classe trabalhadora para um enfrentamento real com os interesses do capital. Se não houver a paralisação da produção de bens capitalistas, nenhuma vitória é conseguida, como nos mostra a longa da história das lutas entre o capital e o trabalho.

E esse enfrentamento, uma greve geral, não aconteceu, o que deixa o capital muito senhor de si para simplesmente ignorar tais protestos vazios e inconseqüentes, que contam sempre com muita gente desempregada e aposentados, contratados pelo peleguismo para inchar suas manifestações.

Merece destaque os esforços da Conlutas e da Intersindical para organizar uma nova força sindical - que venha superar as limitações do sindicalismo pelego que vigora no país desde Getúlio Vargas. A proposta da nova organização sindical dá destaque para a organização de base, a inclusão dos desempregados e de vários movimentos sociais de trabalhadores em sua estrutura e planos de lutas. Se isto ocorrer, será, de fato, um enorme avanço na construção de novos e mais eficientes instrumentos de lutas dos trabalhadores.

Em nível mundial, merece citação o atual confronto entre as forças populares e os reacionários governos dos países capitalistas no encontro de Copenhague, por conta do aquecimento global. Os protestos populares vêm sendo reprimidos pela polícia, sempre em defesa dos interesses do capital.

Avanço pra valer se deu no setor da repressão oficial. Os esforços para criminalizar os movimentos sociais nos fazem lembrar os tempos da ditadura militar. As polícias dos vários estados da União não hesitaram em reprimir com selvageria as manifestações populares ocorridas durante o ano. É o sinal claro do recrudescimento dos conflitos entre o capital e o trabalho, com o aparato estatal sempre a serviço dos exploradores.

A perseguição aos sem terra do RS, envolvendo a máfia do Ministério Público estadual mancomunado com as empresas grileiras e com os tucanos do governo de Yeda Crussius, mereceu protesto no país inteiro; a repressão sobre os sem terras que ocuparam a sede da empresa Cutrale, as mentiras e meias-verdades veiculadas pela mídia sobre o episódio, negando a verdadeira história daquela fazenda, bem revelam o quanto governadores estaduais, imprensa e capital fazem parte da mesma quadrilha; a selvagem repressão sobre os cidadãos e cidadãs que exerciam seu legítimo direito de protesto ante as falcatruas do governo do Distrito Federal não deixa dúvidas do tipo de fascismo que impera neste país.

E, para coroar o ano de 2009, pudemos ouvir o presidente da República dizer que é preciso tirar o povo da m..., isto depois de sete anos de governo fazendo promessas e mais promessas que não se cumprem. Porém, da m... mesmo ele só conseguiu tirar as empresas que se disseram em dificuldades financeiras. Na m... continuam os serviços de saúde e de educação públicas, o saneamento básico, a moralidade pública...

Apesar disso tudo, Feliz Natal e melhor Ano Novo a todos os nossos leitores.

sábado, 21 de março de 2009

Waldemar Rossi: Os trabalhadores da Embraer não reivindicaram esmolas, nem indenizações.

rossi O portal Correio da Cidadania publicou ontem, dia 20, o artigo Justiça do Capital, de Waldemar Rossi tratando do papel das instituições da democracia burguesa tomando como base o caso da Embraer.

Rossi destaca o absurdo do socorro dos governos às empresas em crise quando “durante o período das vacas gordas todo o lucro gerado pelos trabalhadores” foi devidamente abocanhado por seus diretores e acionistas. No caso das demissões da Embraer, o artigo destaca que só existe Justiça na Justiça do Trabalho no nome e que “os trabalhadores da Embraer não reivindicaram esmolas, nem indenizações”.

Reproduzimos aqui o artigo na íntegra:

“Nada como os momentos de crise econômica para que as estruturas institucionais se revelem. A começar, claro, pelo Executivo Federal, passando pelos Executivos estaduais e municipais (salvo raríssimas exceções), que não vacilam em meter as mãos nos cofres públicos e entregar rios de dinheiro dos seus orçamentos para as empresas que dizem estar em crise. E isto vem sendo feito com a cara mais deslavada do mundo, com os chefes dos Executivos fazendo de conta que eles são donos do patrimônio público, inventando histórias e mentindo descaradamente para o povo.

Ora, será que tais executivos não sabem que uma empresa pode estar em crise financeira, mas não o estão seus diretores e seus maiores acionistas? Não sabem que durante o período das "vacas gordas" todo o lucro gerado pelo trabalhador foi generosamente dividido entre eles, os acionistas, o que fez com seus patrimônios pessoais crescessem de forma extraordinária e que nadam em riquezas? Por que então não exigir que usem dessa dinheirama toda para tirar suas empresas do vermelho? Por que teriam os governantes de socorrê-las se, em sua maioria, são sonegadoras de impostos? Bem disse o "Macaco Simão" em sua coluna (19/03/09): "O povo não é culpado pelas enchentes por jogar lixo, é culpado por VOTAR em lixo!".

Se começamos pelos executivos, teríamos que passar pelos demais também. Porém, quero passar, hoje, para analisar o papel da chamada "Justiça do Trabalho" que, invariavelmente decide a favor dos grandes empresários. O último caso que me chega ao conhecimento se refere às demissões praticadas pela EMBRAER, empresa construída com dinheiro público, mas que foi doada para o capital particular pelo governo Covas/Alckmin (leiloada à revelia da vontade popular por preço de "banana em fim de feira"). Foram 4.200 as demissões feitas pela Embraer, mesmo tendo recebido generoso apoio financeiro do BNDES, banco dependente do governo federal.

Questionada na Justiça do Trabalho pelo Sindicato dos Trabalhadores de São José dos Campos, diante de tantas irregularidades éticas e desmandos sociais, a empresa teve as demissões suspensas temporariamente. Levado o caso para o Tribunal Regional do Trabalho (ou do Capital?), os desembargadores da 15º Região entenderam que as demissões foram abusivas! Porém... Mantiveram as demissões! Determinaram que a empresa pague as devidas indenizações e etc. e tal, como se isso fosse resolver o maior problema do trabalhador, que é a única fonte de recursos de que dispõe: seu emprego com seu respectivo e permanente salário. É com seu salário que o trabalhador se mantém e mantém sua família, sem precisar das esmolas das várias "bolsas" compensatórias que demagogicamente os governantes criam, desmancham, recriam, fazendo propaganda eleitoreira.

Os trabalhadores da Embraer não reivindicaram esmolas, nem indenizações. Reclamaram JUSTIÇA SOCIAL, cuja primeira palavra só existe, na prática, nas portas dos tribunais. Claro está que tais juízes e desembargadores, ou nomes que o valham, estão de bem com a vida, pois não têm nenhuma chance de perder seu emprego, nem seu salário, aliás, salários bem mais elevados que os míseros tostões que recebem aqueles que realmente produzem as riquezas das empresas e do conjunto do país. Riquezas produzidas e que garantem os gordos salários de juízes e governantes.

Curioso que, apesar de julgar abusivas as demissões, os desembargadores não mantivessem também a permanência no emprego e cobrassem dos diretores e acionistas da Embraer assumir as supostas quedas de lucro com a partilha dos fabulosos dividendos que receberam durante os vários anos das "vacas gordas". A pergunta pertinente é: o que se entende por JUSTIÇA? Justiça é o poder absoluto do capital? Onde está o bem comum, que deveria ser o eixo motriz de toda a atividade econômica de uma sociedade assentada na justiça, na igualdade e na fraternidade?

Dois pesos, duas medidas. "Dai a César o que é de César. E também dai a César o que é dos que vivem do trabalho".”

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Waldemar Rossi e a Marcha à Brasília

O Correio da Cidadania publicou ontem o artigo "Um desserviço à luta dos trabalhadores" de Waldemar Rossi acerca da marcha do dia 24. No artigo, Rossi critíca setores do PSOL por desviar o centro da marcha que é a luta contra a retirada dos direitos para "colocar como centro dessa manifestação os ataques ao corrupto senador Renam Calheiros".

Waldemar Rossi conclui seu artigo assim:
"Como não podia ser diferente, a mídia - o grande baluarte defensor dos interesses do capital – deu destaque aos entreveros e aos ataques a Renan, omitindo descaradamente do conhecimento da opinião pública aquilo que foi a razão de ser da manifestação: o protesto da classe trabalhadora contra os assaltos aos direitos trabalhistas, principalmente aos direitos previdenciários.

Sem dúvidas, os representantes do PSOL prestaram um desserviço à luta de resistência da classe trabalhadora, praticando profundo desrespeito aos milhares de participantes e, neste sentido, se igualando à prática do governo petista. Infelizmente só nos resta lamentar e protestar, porque o estrago já foi feito!"