imagem- doctor swam/flickr
Sou poeta.
E por ser poeta
canto
a leveza do fardo,
a beleza do cardo
do mar
do fogo-fátuo
que exala formas no ar.
E canto enquanto vivo.
Canto a beleza do instante
mutante,
inconstante,
do incessante vir a ser.
Canto o transitório
e o transe dos amantes
lapidados diamantes:
canto os laços desfeitos
e os liames que virão.
Não gozo gozos aflitos
nem sofro horrores.
Sou calmo. Sorvo pranas,
sou zen,
sou sem destino
no mundo.
Por isto tudo é que canto.
A canção sem fim.
Canto canções
da transitória permanência,
essências de vertigens
e caminho rumo ao novo,
ao velho,
ao novo
romper do ovo,
buscando transcendências
e inconfidências
contidas em corpos e almas
para confundir as mentes.
Por isso, canto.
A beleza do verso,
a fúria do verso,
a flor do cume
e o lírio do lodo,
o tudo e o todo,
o inútil e o passageiro.
Amanhã, na manhã,
Posso ser nódoa
que fica
na folha de papel.
Mas não importa.
Enquanto vivo,
canto,
e teimo
em buscar o céu.
cântico para cecilia meirelles e walt whitman