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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Novo poema nº 9 para Ana Isabel

 


Novo poema nº 9 para Ana Isabel

De Outubro de 1958 a Julho de 1961 percorri os quatro anos lectivos da Escola Primária em três anos civis. Entrei na Escola com sete anos mas nunca me sentei na fila dos burros nem dos assim-assim; sempre na dos bons.

Graças a uma carta do pároco da minha aldeia, o Ministro da Educação Nacional autorizou o exame da terceira classe em Abril e o da quarta em Julho de 1961.

Porque nunca é tarde para se fazer justiça que, sempre relativa, não deixa de ser justa mas da humilhação já ninguém me pode livrar.  

José do Carmo Francisco 

(Óleo de Karl Schmidt)


segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Novo poema nº 8 para Ana Isabel


Novo poema nº 8 para Ana Isabel

O grupo de mulheres mandou o menino «brincar para a estrada» mas em 1956 não era perigoso porque entre Alcobaça e Caldas da Rainha o trânsito era muito reduzido.

As vizinhas insistiam nas toalhas limpas e nas panelas de água quente para que tudo corresse bem à criança a nascer e à mãe de vinte e cinco anos.

Porque nem a tosse convulsa nem a infecção intestinal a conseguiram derrotar é que a alegria de hoje é feita de lágrimas e de sangue pisado.    

José do Carmo Francisco  

(Óleo de Frederic Bazille)


quarta-feira, 8 de maio de 2019

Balada dos brinquedos da infância (para o Pedro)



Balada dos brinquedos da infância (para o Pedro)

O pedreiro cheira a cal
O carpinteiro a madeira
No ofício de cada qual
Passou uma lavadeira.
A roupa num alguidar
Na cabeça uma rodilha
Não se cansa de cantar
A tarde é uma maravilha.
Passado que se desenha
Lugar de pedra e sabão
A água vem da azenha
Já moeu todo o seu grão.
O brinquedo improvisado
O carro é uma lata lavada
As pinhas estão lado a lado
Como uma junta na estrada.
Para que a carga seja mais
Há uma pedra pequena
E imagino uns animais
Na nossa tarde serena.
Às vezes oiço um sinal
Comboio em S. Martinho
É o vento em vendaval
Traz a chuva de caminho.
Tenho toda a infância
Nas linhas duma balada
Mesmo a grande distância
Aqui ninguém deu por nada.

José do Carmo Francisco

(Óleo de André Henri Dargelas)

Poema autógrafo para Adelino Gomes em 24-4-2019  

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Balada da colónia balnear do Montijo



Balada da colónia balnear do Montijo

Numa toalha estendida
Que era como um muro
Estava o mistério da vida
Onde o passado é futuro.
Na caixa de fato de banho
Fundo negro branca espuma
Sem dimensão ou tamanho
Tudo é coisa nenhuma.
Sessenta anos depois
Da colónia balnear
Ficamos aqui os dois
Para sorrir e cantar.   
Na Praia da Figueirinha
Ou será na Cachofarra
Da neblina da tardinha
Só fica uma algazarra.
Do passado é só memória
E do futuro é só sonho
O poema conta a história
Do mistério que proponho.
De tantos anos passados
 A vida não se revela
Anda por todos os lados
Entre sépia e amarela.
Perto do Cais da Cortiça
Com galeras de Pegões
Um sabor a injustiça
Sem motivos ou razões
Mesmo que tente e insista
Num futuro apenas meu
Este filho dum motorista
Nunca irá para um Liceu.
Seu destino é só cantar
Na camionete da carreira
Que a colónia balnear
É tempo de vida inteira.

José do Carmo Francisco

(Fotografia da Colecção Particular de JCF)

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

A água de 1956



A água de 1956

Na manhã de Abril
quando não me disseram
(nem poderiam ter dito)
«A tua mãe morreu»
Porque (todos o sabemos)
as mães de facto não morrem
apenas o seu corpo se esconde
nos degraus da terra e do silêncio.
Nessa manhã de Abril
senti que toda a terra secou
não toda a terra mas apenas
a que ficou entre os meus pés
e a terra propriamente dita.
Lembrei-me então de como
essa secura só poderia ser
de facto resolvida pela água
uma certa água de 1956
trazida em cântaros vermelhos
do Poço do Povo para os louceiros
com dois intervalos para o bojo.
Havia um pano branco a tapar o sol
que entrava por uma telha de vidro.
Havia uns papéis com motivos berrantes
a servirem de naperon nas prateleiras.
Havia o ar, o peso do ar de 1956
e só a memória desse ar me segurou.
Havia uma rodilha feita de um lenço azul
comprado na Feira Grande de Rio Maior.
Havia (enfim) a água de 1956
aquela que hoje me poderia matar a sede
ou resolver de vez a secura da terra
debaixo dos meus pés suspensos
como naquela manhã de Abril.  

José do Carmo Francisco

(Fotografia do arquivo pessoal de JCF)

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Bebé



Bebé

Só podes ver o que podes ver do berço
E choras para dizer que queres alcançar
Mais do que este horizonte submerso
No limite que determinas com o teu olhar.
Nos teus sonhos cheios de segredos
Navegas como um barco às escuras
E a cama quase cheia de brinquedos
Não te dá a alegria que procuras.
Nas palavras que apenas anuncias
Há o som dos pensamentos a nascer
Na surpresa à flor dos teus dias
Vais adormecer bebé e acordar mulher.

José do Carmo Francisco

(Foto de Mário Ribeiro)

sábado, 27 de janeiro de 2018

Rua Sacadura Cabral (Montijo)


Rua Sacadura Cabral (Montijo)

A minha infância cabe toda numa telefonia
Onda curta, média, modulação de frequência
O telefone que toca sempre ao fim do dia
Matos Maia sabe como manter a audiência.
O senhor Messias abre o dia na Rádio Rural
Para o «serviço seis, sala quatro, cama dois»
A radionovela parava então um certo Portugal
Até aos sete anos fui aquilo que serei depois.
«Candeeiros bem bonitos, modernos, originais»
Ouvia eu de Lisboa nos Emissores Associados
Hoje sei que tudo isso foi para nunca mais
Porque os modelos estão todos ultrapassados.
O comboio para Setúbal parava na Jardia
Montijo tinha uma estação CP hoje perdida
A minha infância ficou dentro da telefonia
Perdida em todas as mudanças desta vida. 

José do Carmo Francisco

(Fotografia de Autor desconhecido)

domingo, 13 de agosto de 2017

Canção breve para uma foto de 1957


Canção breve para uma foto de 1957

Quem diria, quem diria
Seis por nove de ocasião
Na casa onde eu nascia
A primeira comunhão.
Era apenas na tranqueta
A porta da casa velha
O peixe frito na gaveta
Pão no tecto junto à telha.
Quando alguém ia a correr
Buscar brasas para o incenso
Com soluços de mulher
As lágrimas ficam no lenço.
Quem diria, quem diria
Sessenta anos mais tarde
O retrato que eu sabia
É a fogueira que arde.
Na casa feita em ruínas
Só uma memória resiste
Nas horas mais pequeninas
A infância é um campo triste.
Das ilusões semeadas
Numa fazenda em pousio
A eira das madrugadas
Tem o milho junto ao rio.
Era em Santa Catarina
Que os sonhos eram reais
Música ao virar da esquina
Nasciam as festas anuais.
Naquilo que foi destino
Ruínas em vez de amor
Meu retrato pequenino
Perdeu-se e não tem valor.

José do Carmo Francisco      

(Fotografia de autor desconhecido)

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Os pastores da cidade


Os pastores da cidade

Não vou dissertar sobre o «pastor do ser» que todo o poeta digno desse nome, afinal é. Falo do outro pastor, o pastor da cidade, o que se levanta cedo ou se deita tarde para acompanhar o seu cão no passeio à volta do quarteirão. Vivi no campo, vivo na cidade. Conheço bem o que são os cães nas quintas, nas casas, nas aldeias, nos casais. Tive um cão (o Fadista) que nunca vi entrar na porta da cozinha. Vivia no quintal, dominava a serventia entre a vinha e o pomar. Vivia no seu círculo mas não atropelava o nosso – privado, doméstico e abrigado. Hoje atravesso a cidade e vejo outro tipo de cão. Há o ácido da urina nos pneus, há a porcaria pelos passeios, há anúncios na TV, comida especial, xarope contra as lombrigas, vitaminas, coleiras. Todos os sábados de manhã eu encontro esses pastores da cidade, ternos e pacientes, na condução dos seus cães. Todos os sábados de manhã (vivo perto da Misericórdia de Lisboa) eu encontro um grupo de crianças abandonadas conduzidas pela terna, paciente, atenta e dedicada monitora para o seu passeio matinal. Nada nem ninguém pode substituir as relações verdadeiras. Ternura em segunda mão, amor sucedâneo e sem horizonte humano, nada disso serve. Por essa razão não sou capaz de compreender todos os sábados como não foram coincidentes os caminhos desses pastores da cidade com os caminhos dessas crianças abandonadas. Porque há muita criança a precisar de ternura, de atenção e de um espaço de carinho num lugar sem sobressaltos nem angústias diárias. Afinal, pensando melhor, os cães podem esperar. As crianças já esperaram demasiado tempo e o seu olhar começa a estar cristalizado nas grandes olheiras, negras e fundas, nascidas num tempo assim, tão hostil.

José do Carmo Francisco

(Fotografia de autor desconhecido)

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Marta


Marta (1985)

Nada sabes ainda dos telhados e do sol
Olhas sem ver as flores na janela.
O som dos barcos mais abaixo no rio
chega-te diluído pela distância, pelo vidro
talvez pela tua distraída maneira
de estar aqui como quem não está.
Soltas monossílabos no impulso da cadeira
- são ainda os primitivos da tua voz
a que não existe ainda e está em construção.
Sobes de tom, olhas tão profundamente
que quase assustas na serenidade.
Uma vez por outra dormes – no silêncio
dizes tudo, cansada, costas voltadas para nós.
Não tens ainda sonhos ou remorsos
demasiado pequeno é o teu universo
e levantas o olhar como quem duvida
como quem nada sabe dos telhados e do sol.


José do Carmo Francisco 

(Óleo de Maluda)

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Carta a um menino pastor


Carta a um menino pastor

As ovelhas são mansas e os cães obedientes
Neste rebanho que te coube a ti guardar
Da tua flauta saem sempre sons diferentes
E as ovelhas não se afastam desse teu lugar

Na planície sem limites por onde tu passas
Ao tomar conta dos vários rebanhos divinos
Há um limite e a partir dele as desgraças
Apagam-se nos olhos de todos os meninos

Afinal menino é o que continuas tu a ser
Na maneira como falas e como caminhas
Na alegria quando vais lá longe recolher
As ovelhas afastadas distantes e sozinhas

Não sei se sabes mas andamos estranhos
Desde que partiste para a tua nova função
Oxalá consigas cuidar dos teus rebanhos
Como nós vamos cuidar da tua recordação      


José do Carmo Francisco

(Fotografia da autoria de Aníbal Sequeira)

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Canção breve para dois retratos


Canção breve para dois retratos

Dois retratos tipo passe na cabina
Do centro comercial movimentado
Entre o passeio na quebra da rotina
E o som das gentes no café ao lado

Tomás mais habituado a fotografias
Mas Lucas olha de surpresa a cidade
Cinco anos são mil e oitocentos dias
Quatro meses são apenas novidade

Lucas no seu olhar confia e acredita
No Mundo à sua volta na praceta
A mãe que lhe dá ternura é bonita
O pai vê o retrato quando projecta

Um Mundo novo sai do estirador
Onde Lucas vai ter o seu lugar
Tomás é pai pequeno, protector
Na praceta onde o verbo é amar

José do Carmo Francisco    

(O óleo é de  Kris Lewis)

sábado, 30 de agosto de 2014

Primeira Balada para Rosarinho


Primeira balada para Rosarinho

Num olhar que não divide
Antes aumenta e amplia
Num quarto para Carnide
Surge uma nova alegria.
Num tempo hostil e duro
De agressões à esperança
Numa aposta ao futuro
Nasce uma nova criança.
De seu nome Rosarinho
Tem uma luz de quimera
Ao fazer do seu caminho
Anos só com Primavera.
Nem chuva de vendavais
Nem o forno do Verão
Nem sombras Outonais
Dentro do seu coração.

José do Carmo Francisco      
  
(O óleo é de Linda McCord)

sábado, 7 de junho de 2014

Retrato breve de Filipa em Vila Franca


Retrato breve de Filipa em Vila Franca

Flor da Lezíria, menina
Em Vila Franca, cidade
Descobre a cada esquina
O mapa de uma saudade
Passam alunos da Escola
Que ficam na fotografia
Todos usam camisola
A manhã está muito fria
Fecharam as tronqueiras
Já se sente uma emoção
As paixões verdadeiras
Não precisam explicação 
Entre gaibéus e avieiros
Passa a memória sentida
Do Tejo a encher esteiros
Com água que traz a vida
Os barcos cheios de areia
Chegam de manhã ao cais
Hoje o Gil Conde passeia
Nas águas do nunca mais
E no comboio que passa
Tão veloz para o Oriente
Há memória da barcaça
Com automóveis e gente
Ao lado fica um jardim
O ringue de patinagem
Os jogos não tinham fim
As palmas eram coragem
Olha de longe o Mouchão
Onde só olhar é preciso
E a terra vem dar razão
A quem busca o paraíso
Água, fogo, ar e terra
Conjugados num lugar
Coração em pé de guerra
Tem um poema de cantar
Flor da Lezíria, menina
Em Vila Franca, cidade
Descobre a cada esquina
O mapa de uma saudade

José do Carmo Francisco


(Fotografia de autor desconhecido)

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Até Esse Momento


Até Esse Momento

Lembrarás então o pai aqui sentado
A máquina de escrever no chão
Os discos na parede entre a luz e o pó

Irão passar talvez muitos anos
Farás promessas que não vais cumprir
E dirás ruas para voltar noutras horas

Será como quem percorre um caminho
Iluminado pela luz do teu olhar
À procura das palavras subterrâneas

Lembrarás então o pai aqui sentado
Um gelado presente do indicativo
E silencioso que não fala – não esquece

Passarás nas tuas mãos um fio
Será talvez a memória das noites
O tempo do leite e das fraldas

Será como quem procura descobrir
Nos desenhos (nos cadernos escolares)
Uma outra maneira – a tua outra voz

Lembrarás então o pai aqui sentado
Não como pai mas como anónima pessoa
Surpresa a esperar no céu do outono

Terás nas tuas mãos um retrato
O voo das aves por cima da casa
Como inesperada vírgula do tempo

Será como quem procura fragmentos
Num momento ou talvez num lugar
Na tua idade como um portão aberto

José do Carmo Francisco

(óleo de Judy Drew)

sábado, 8 de junho de 2013

Domingo à tarde em Falconwood


Domingo à tarde em Falconwood

O olhar do menino entrou no meu poema
E não mais saiu. Era um olhar sentido
Na revolta de uma exclusão cruel e súbita.
Sentado num banco frente à mesa da festa
não o deixam falar com os conhecidos
Entre vizinhos e colegas de turma na escola.
Quase tudo em seu redor era em miniatura  
locomotivas e linhas de volta à infância
Porque o carvão e os apitos são verdade. 
O olhar do menino era em ponto grande
e a sua dôr tinha o volume da sua idade /
Sete anos bem medidos no meu olhar.
Não era problema não o terem convidado
 mas sim a proibição de se aproximar 
E de comunicar com as crianças da festa.
Festa com pouco de muito recomendável
 além de bolos de fábrica e sumos de pacote 
Bebés e mães com problemas hormonais.
Vejo no menino de Falconwood o meu olhar
quando na minha vida outros me disseram 
Que queres daqui? - como quem bate a porta. 
E ao bater a porta deixam do lado de fora
os sonhos de quem, como eu, só queria fazer
Um breve recado sobre o tempo que passou.
Nos jornais, nas revistas e nas editoras
 nos encontros e desencontros das letras e da vida
Muitas vezes ouvi a pergunta - Que queres daqui?
Foi esse desprezo, essa vaidade, esse rancor
que eu vi hoje no olhar triste do menino 
Nos comboios miniatura de Falconwood.
Lá tudo é miniatura desde o fumo ao apito
desde as várias linhas às passagens de nível
Tudo menos o olhar do menino afastado. 


José do Carmo Francisco   

(Fotografia de Autor Desconhecido)

sábado, 11 de maio de 2013

25 de Abril para uma jovem



25 de Abril para uma jovem

Na caixa postal da tua idade
Deposito aos poucos a memória

Sei coisas que tu não imaginas:
A fome diária mal disfarçada
Ao longo das batatas da semana.
Os pés descalços na missa de domingo
Entre botas de quem podia mais.
A lágrima numa medalha ao sol
Num dia dez de Junho na TV.

Sei coisas que tu não imaginas:
A morte a instalar o luto
Por telefone e telegrama à porta.
A Europa num comboio nocturno
Sem fronteiras para a dor.
As prisões como navios pedidos
À procura duma chave ou da luz.

Podia ser um pedaço de pão
Hoje não se curvam já a ele
Nem o beijam em respeito à vida.

Perdem-se em buracos de som
Sapatos de ténis debaixo da terra.

E não escrevem cartas nem escrevem
O que não sabem nem procuram.

In «Leme de Luz»  (edição Sol XXI Poesia - 1993)    

José do Carmo Francisco

(Fotografia de José Marques)

terça-feira, 23 de abril de 2013

Balada da Serra dos Candeeiros



Balada da Serra dos Candeeiros

Grande parte da minha vida
Feita de paz e sem guerra
Foi numa casa construída
Com pedras daquela serra       (Mote)

Na Serra dos Candeeiros
Parava o vento do mar
Eram lentos os carreiros
Com os olhos a cantar

Traziam pedras gigantes
Para a mão dos britadores
Fazer em poucos instantes
As pedras dos construtores

Os pedreiros sujos de cal
A pegar no fio de prumo
Que traça numa vertical
Lugar do fogo e do fumo

Sem desenhos ou papéis
Nascia a planta dum lar
Quatro canas dois cordéis
São os limites dum lugar

Na Serra dos Candeeiros
O azeite era o mais puro
Os ventos tão verdadeiros
A cantar por sobre o muro

Vinha a água das cisternas
Sempre boa e sempre fria
Sem as técnicas modernas
A limpeza era uma enguia

Vinha o leite já fervido
Vinha o queijo saboroso
O dia era mais comprido
Tudo era mais vagaroso

A pedra que me defende
Do Verão e do Inverno
Não se paga nem se vende
É um valor forte e eterno

José do Carmo Francisco

(Fotografia de autor desconhecido)       

   

segunda-feira, 18 de março de 2013

Thomas em Brooklands Shool ou a floresta na cidade


Thomas em Brooklands School ou a floresta na cidade

O menino está crescido
Tem seis anos quase sete
Vai à escola num sentido
Conduz uma trotinete
Quando não chove há sinais
Na luz do parque em passeio
Os mais diversos animais
Vão na estrada pelo meio
São corvos e raposinhos
Em grande velocidade
Os esquilos são vizinhos
Da floresta na cidade    
Forma-se o grupo informal
Dos vizinhos estrada fora
Quem vem longe vê o sinal
E junta-se à última hora
Na esquina de certa igreja
Vira-se à esquerda é caminho
Pede-se à cruz que o proteja
Para nunca andar sozinho
Esta escola é um reduto
Onde as crianças estão bem
Nas salas há um produto
Que não se nega a ninguém
Mais do que ser um ofício
Ou trabalho de empreitada
Professores em sacrifício
Dão tudo sem esperar nada
E é nos olhos das crianças
Que surge uma recompensa
Na sementeira de esperanças
Todos sentem a diferença

José do Carmo Francisco (avô de Thomas Francisco Sutherland )

(fotografia de autor desconhecido)