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sexta-feira, 14 de março de 2025

Canção nº 93 do Messenger

 


Canção nº 93 do Messenger

É um abraço apertado
De confiança e ternura
Daniel tem a seu lado
A menina bem segura.
Eles olham o presente
À procura dum futuro
Onde caiba toda a gente
Um tempo certo e seguro.

José do Carmo Francisco

(Fotografia de JCF)


sexta-feira, 7 de abril de 2023

Poema dos sete anos do António


Poema dos sete anos do António
 
Fazer os anos em Paris
Não é qualquer pessoa
Votos de um dia feliz
Longe do sol de Lisboa.
Nasceu em dia molhado
A ternura tem humidade
Vai com ele a todo o lado
No campo ou na cidade.
O tempo passou depressa
E o bebé já é menino
Que tenha voz e cabeça
A escolher o seu destino.
E sempre ao longo da vida
Não saia deste valor
Amar tudo sem medida
Única medida do amor.
 
José do Carmo Francisco

(Fotografia de autor desconhecido)

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Novo poema nº 10 para Ana Isabel

 


Novo poema nº 10 para Ana Isabel

Em Janeiro de 1960 foi a fuga de Peniche; um GNR veio de bicicleta chamar o meu pai para conduzir a camioneta do Palácio da Justiça com um grupo de guardas prisionais, polícias e guardas republicanos.

Iam todos do Montijo para Pegões tentar deter no cruzamento os por eles chamados malandros que tinham fugido do Forte de Peniche pelo lado do oceano com os lençóis a servirem de cordas.  

Meu pai nunca acreditou que os presos de Peniche fossem aparecer em Pegões mas como ele disse baixinho «El-rei manda avançar, não manda chover.»

José do Carmo Francisco 

(Desenho de Cruzeiro Seixas)

    

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Brado e clamor nº 26 para Ana Isabel


Brado e clamor nº 26 para Ana Isabel

Hoje soube que na Festa do Jardim Infantil do meu neto António que tem cinco anos cantaram uma canção de José Mário Branco na qual se diz que «quando for grande quero ser pequeno». 

Poucos minutos depois vi um filme sobre Sandy Denny (1947-1978), vocalista do Grupo Fairport Convention e ainda agora rainha da pop inglesa cujo corpo repousa num dos cemitérios de Londres.

O segredo está em perceber que ao lado da luz da vida está o escuro da morte, entre o Príncipe Real e Putney Vale, um jardim e um cemitério, uma possível chave para «ser pequeno quando for grande» como diz a canção de José Mário Branco.

 José do Carmo Francisco

(Fotografia de autor desconhecido)


domingo, 7 de novembro de 2021

Novo poema nº 4 para Ana Isabel


Novo poema nº 4 para Ana Isabel

Para Vergílio Ferreira «A música é sempre anterior a si, não existe no momento em que a ouvimos»; eu, modesto escriba, em Iniciais escrevi poemas para diversos compositores e intérpretes.

Um Domingo de manhã, a Filarmónica Catarinense parou à porta da casa: minha mãe fez o bolo de iogurte, minha filha Ana tinha um prato com fatias, meu pai veio encher copos de vinho para os músicos.

Porque as lágrimas não cabiam no estojo do clarinete do primo, num Domingo pouco posterior, morreu de AVC três dias depois, frente à televisão num particular Portugal-Espanha em futebol.

José do Carmo Francisco

(Fotografia de autor desconhecido)


quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Breve poema nº 47 para Ana Isabel

 


Breve poema nº 47 para Ana Isabel

«O meu trabalho é brincar» respondeu o meu neto António à vizinha que, na escada do prédio, queria saber dos seus trabalhos de casa; a resposta tem a ver com os seus cinco anos.

Brincar com os pneus do Jardim Infantil, brincar com os animais da selva, seja em livro ou em três dimensões, brincar com as peças do LEGO, brincar, brincar sempre – é este o seu programa.

Afinal para o António o importante é Ser; o Mundo que o rodeia vai, mais tarde ou mais cedo, ao longo da vida, indicar-lhe a importância de Ter.

José do Carmo Francisco

 

terça-feira, 31 de agosto de 2021

Breve poema nº 46 para Ana Isabel

 


Breve poema nº 46 para Ana Isabel

 Alguns dos algarismos do meu neto Pedro são perfeitos mas outros são mais que perfeitos; rigorosos, acabados e exactos. Quase parecem saídos do caixotim duma tipografia.

Um dia dei-lhe uma folha A5 e pedi-lhe o registo imediato da sua caligráfica obra de arte. Em 1966 a Caligrafia era uma disciplina do velho Curso Geral do Comércio; não foi assim há tanto tempo.   

Afinal no sangue pisado da vida, ninguém sabe se nas Artes ou nas Letras, vai haver para ele um futuro caminho para o seu actual talento no desenho dos algarismos.

José do Carmo Francisco          

 

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Breve poema nº 45 para Ana Isabel

 


Breve poema nº 45 para Ana Isabel

Meu neto Lucas passa todos os dias à porta da casa onde viveu Charles Gounod, ali a meio caminho entre Blackheath Park e o Paragon, com os patos, os ventos e os papagaios de papel.

Quando no telefone o ouço ao piano na perseguição do tom mais perfeito para uma próxima apresentação pública, percebo melhor como toda a obra de arte (até a arte pobre das palavras) precisa do seu tempo de oficina. 

Afinal os aplausos na Sala do Conservatório atingem um valor elevado pois são o preço do trabalho obscuro e continuado que foi preciso fazer para os alcançar.

José do Carmo Francisco


sexta-feira, 16 de julho de 2021

Breve poema nº 44 para Ana Isabel


Breve poema nº 44 para Ana Isabel

«Gosto desta casa apesar dos bêbados durante a noite» - esta frase do meu neto Tomás explica uma ideia de pertença mesmo com a revolta, a raiva e o rancor dos noctívagos a descerem a Rua da Rosa com gritos para um Mundo que não os ouve.

Eu, pela minha parte, gosto muito das linhas rigorosas e límpidas duma casa por si desenhada em Greenwich, ali à beira do Tamisa, perto dos Museus, dos Cinemas e das Livrarias.

Afinal foi na avó Joan, na mãe Ana e no pai Ian que todos os desenhos começaram a dar razão à nossa tão conhecida frase feita - «filho de peixe sabe nadar».    

José do Carmo Francisco


segunda-feira, 26 de abril de 2021

Até Esse Momento


ATÉ ESSE MOMENTO

Lembrarás então o pai aqui sentado
A máquina de escrever no chão
Os discos na parede entre a luz e o pó
 
Irão passar talvez muitos anos
Farás promessas que não vais cumprir
E dirás ruas para voltar noutras horas
 
Será como quem percorre um caminho
Iluminado pela luz do teu olhar
À procura das palavras subterrâneas
 
Lembrarás então o pai aqui sentado
Um gelado presente do indicativo
E silencioso que não fala – não esquece
 
Passarás nas tuas mãos um fio
Será talvez a memória das noites
O tempo do leite e das fraldas
 
Será como quem procura descobrir
Nos desenhos (nos cadernos escolares)
Uma outra maneira – a tua outra voz
 
Lembrarás então o pai aqui sentado
Não como pai mas como anónima pessoa
Surpresa a esperar no céu do outono
 
Terás nas tuas mãos um retrato
O voo das aves por cima da casa
Como inesperada vírgula do tempo
 
Será como quem procura fragmentos
Num momento ou talvez num lugar
Na tua idade como um portão aberto
 
José do Carmo Francisco
 
(Óleo de Edward Hooper)


domingo, 7 de março de 2021

2006 (O esquilo no jardim)

 


2006 (O esquilo no jardim)
 
Meu neto Pedro elabora
Uma banda desenhada
Em menos de meia hora
E ninguém deu por nada.
Numa cidade escocesa
Em particular excursão
O esquilo foi a surpresa
Que armou a confusão.
Foi um esquilo de jardim
Que queria travar o passo
De quem assado ou assim
Era intruso no seu espaço.
Com respeito ao animal
Assustou, foi assustado
Tudo tem uma moral 
Vai comigo a todo o lado.
 
José do Carmo Francisco
 
(Fotografia de autor desconhecido)

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Balada para uma valsa



Balada para uma valsa

Nasci a cinquenta e um
Lá em Santa Catarina
Sou um poeta comum
Tenho a voz pequenina.
Falta a força ou amplitude
Seja o timbre ou potência
E o poema não se ilude
Que a arte não é ciência.
Numa adega sem tecto
Abandonada e pequena
Logo mudou o aspecto
Nasceu a casa serena.
Não esqueço a madeira
Que serviu embarcação
A suportar uma lareira
Nas viagens da paixão.
Sou primo da prima Alice
Por parte do meu avô
Foi minha mãe que disse
Por tudo aquilo que sou.
Foi lá no Alto Alentejo
E quando Alice nascia
Que cresceu este desejo
De celebrar uma alegria.
Numa simples partitura
Um sentimento profundo
Que seja formosa e segura
Face ao desastre do Mundo.
Mas numa gaveta calada
Um neto fez da noite dia
A melodia bem datada
Esperava uma harmonia.
No acaso dum destino
O encontro logo deu fruto
Foi com maestro Adelino
Que a valsa ganhou estatuto.
Com os naipes bem afinados
Palhetas, cordas e metais
Com futuros multiplicados
Ovações não são de mais.

José do Carmo Francisco

(Oléo de Pablo Picasso)

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Balada para António (em 3 de Abril 2020)



Balada para António (em 3 de Abril 2020)

Neto António é a figura
Da festa que se anuncia
Há quatro anos que dura
A luz do primeiro dia.
Atendida uma distância
Criada pela pandemia
Não será a circunstância
Que vai esconder alegria.
E a coisa mais estranha
Numa festa diferente
O outeiro é a montanha
E quatro são muita gente.
Com devidas proporções
A festa tem mais beleza
Pelas tão diversas razões
Da Cultura e da Natureza.
E cada voz multiplicada
Por cinco e dez e vinte
Cresce sem dar por nada
Este efeito de requinte.
Dum microcosmo feliz 
Festa de anos pequena  
Naquilo que não se diz
Está toda a força serena
Dum menino organizado
Entre sonhos e conceitos
O seu Mundo é todo o lado
Mas com deveres e direitos.
E tudo é só uma memória
Dum lugar certo e preciso
A Patrícia lê nova história
A Ana abre porta e sorriso.

José do Carmo Francisco

(Fotografia de autor desconhecido)

sábado, 21 de março de 2020

Para os 128 anos da Filarmónica Catarinense



Para os 128 anos da Filarmónica Catarinense

(Poema autógrafo para Luís Almeida)

Primeiro eram as minhas lágrimas
No dia da Padroeira eu chorava
Porque não tinha visto o Peditório
E a Festa quase me passou ao lado.
Lágrimas da mãe do João Chicote
Ao entregar o seu querido menino
Ao meu avô e que o tratasse como
Se ele fosse mais um dos seus filhos.
Meu avô José Almeida era músico
Tocava trompete ou bombardino
Mas fazia caixões para os anjinhos
E usava lágrimas em vez de pregos.
Fosse na Granja Nova, no Carvalhal
Na Ramalhosa ou nas Alcobertas
Nós sem farda íamos fora também
E mesmo sem sair da nossa terra.
Primo Luís Freire fechou seu estojo
Não tocou mais e morreu em casa
Dois dias depois das fortes lágrimas
Da minha mãe no Domingo à tarde.
Só as trompas já eram um poema:
O Padre Castelão a falar ao Raposo
Vejo o Arnaldo e o David Funcheira
E todos os músicos do nosso passado.
Sem esquecer essas meninas todas
Melodias, contrapontos, harmonias
E capazes de salvar a Humanidade
Da sua morte já há muito anunciada.
Lembro meus tios Álvaro e Armindo
Meu tio-avô Joaquim com a tarola
As nossas lágrimas continuam a cair
Para eu trocar a Morte pela Vida.

José do Carmo Francisco

(Fotografia de Luís Eme)
    

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Cantiga Catarinense



Cantiga Catarinense

Novembro Natal à porta
E a festa da Padroeira
Poesia em hora morta
A quadra é uma cadeira.
Quatro versos são pernas
Dá o resumo do Mundo
Com palavras modernas
Um sentimento profundo.
Entre ser bom e ser mau
Vai o menino ao leilão
Carne, louro e colorau
Leva um prato na mão.
Com tanto sol tanto pó
Cavacas doces com vinho
Não vejo pena nem dó
Para o rapaz mais sozinho.
Rebentou-lhe o morteiro
A mão ficou esfacelada
O tempo era verdadeiro
E ninguém dava por nada.
Está no ar uma cantiga
No tempo nunca distante
É uma voz de rapariga
Que fica no altifalante.

José do Carmo Francisco

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Lamentação no Rossio para Ana e Marta



Lamentação no Rossio para Ana e Marta

Desiguais fusos horários
Para saber de duas filhas
Em hemisférios contrários
As duas diferentes ilhas.

Uma fica do lado inferior
Outra no Hemisfério Norte
Mas o tamanho do Amor
Tem a proporção da sorte.

José do Carmo Francisco

(Óleo de Émile Claus)

sábado, 17 de agosto de 2019

As bicicletas de 1959



As bicicletas de 1959

(poema para os oito anos do meu neto Pedro)

Quando eu tinha oito anos
Ia sempre a pé para a Escola
Porque era assim o tempo
E eram outras as palavras.
Festejei a idade no Montijo
Nessa Rua Sacadura Cabral
Com marmelada e azeitonas
Tio Cristiano, homem do pão.
À porta da Pastelaria Mimosa
Uma senhora importante
Disse para o teu bisavô atónito:
«Filho de motorista não vai para Liceu».
Era assim naquele tempo escuro
Quando o nosso Quim Zé marcou
Um grande golo pelo Sporting
No minuto 87 ao Barreirense.
Em 1989 teu pai fez oito anos
Estava eu a publicar um livro
Desporto na Poesia Portuguesa
Poemas que vão subir ao palco.
A única coisa que permanece
Do tempo dos meus oito anos
É a recomendação ao aluno:
«Não tragas bengalas e bicicletas»

José do Carmo Francisco 

(Fotografia da colecção particular de JCF)

terça-feira, 23 de julho de 2019

Poema periférico para Ana Santos Barros



Poema periférico para Ana Santos Barros

Meu avô José Almeida usava as lágrimas
Em vez de pregos nos caixões dos anjinhos
Que fazia sem levar dinheiro pelo trabalho.
Vinham rapazes de longe, primos ou irmãos
Do menino morto com o tifo ou o garrotilho
Com o pedido por favor do pai da criança. 
Vestir o morto e chorar era coisa delas
Das mulheres da família reunidas em casa
A comer apenas o que as vizinhas davam.
Meu avô trabalhava devagar na oficina
Na nossa terra nem médico nem farmácia
Mais que solidão aquilo era o desamparo.
«Fazer versos dói» como pregar pregos
No caixão para o anjinho a pedido do pai
Chama-se S. Catarina podia ser S. Mateus.
Qualquer lugar serve para sofrer a vida
Sem os momentos felizes nem as ilusões
Do Cinema, do Teatro ou da Literatura.

José do Carmo Francisco

(Fotografia de autor desconhecido)

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Balada dos brinquedos da infância (para o Pedro)



Balada dos brinquedos da infância (para o Pedro)

O pedreiro cheira a cal
O carpinteiro a madeira
No ofício de cada qual
Passou uma lavadeira.
A roupa num alguidar
Na cabeça uma rodilha
Não se cansa de cantar
A tarde é uma maravilha.
Passado que se desenha
Lugar de pedra e sabão
A água vem da azenha
Já moeu todo o seu grão.
O brinquedo improvisado
O carro é uma lata lavada
As pinhas estão lado a lado
Como uma junta na estrada.
Para que a carga seja mais
Há uma pedra pequena
E imagino uns animais
Na nossa tarde serena.
Às vezes oiço um sinal
Comboio em S. Martinho
É o vento em vendaval
Traz a chuva de caminho.
Tenho toda a infância
Nas linhas duma balada
Mesmo a grande distância
Aqui ninguém deu por nada.

José do Carmo Francisco

(Óleo de André Henri Dargelas)

Poema autógrafo para Adelino Gomes em 24-4-2019  

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Balada dos meninos do Montijo em 1958


Balada dos meninos do Montijo em 1958

Os meninos tão diferentes
E já passaram tantos dias
Trazem os olhares quentes
No fervor das nostalgias.
Tantos anos terão passado
Sobre a foto tão singular
Andamos por todo o lado
Voltamos sempre ao lugar.
E até a côr do retrato
Está no tempo passado
Castanho, sépia, exacto
Num desenho recortado.
O tempo desses meninos
É um profundo mistério
Por cada um dos destinos
Entre o cómico e o sério.
Sobre o processo mental
De quem guardou o incenso
Há um olhar principal
Um tempo inda suspenso.
Na naveta da memória
Nas casas da nostalgia
Estamos todos na glória
De cantar em cada dia.

José do Carmo Francisco

(Fotografia da Colecção Particular de JCF)