sexta-feira, 14 de março de 2025
Canção nº 93 do Messenger
sexta-feira, 7 de abril de 2023
Poema dos sete anos do António
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022
Novo poema nº 10 para Ana Isabel
Novo poema nº 10 para Ana Isabel
Em Janeiro
de 1960 foi a fuga de Peniche; um GNR veio de bicicleta chamar o meu pai
para conduzir a camioneta do Palácio da Justiça com um grupo de guardas
prisionais, polícias e guardas republicanos.
Iam todos do
Montijo para Pegões tentar deter no cruzamento os por eles chamados malandros que tinham fugido do Forte de
Peniche pelo lado do oceano com os lençóis a servirem de cordas.
Meu pai
nunca acreditou que os presos de Peniche fossem aparecer em Pegões mas como ele
disse baixinho «El-rei manda avançar, não manda chover.»
José do Carmo Francisco
(Desenho de Cruzeiro Seixas)
segunda-feira, 20 de dezembro de 2021
Brado e clamor nº 26 para Ana Isabel
Brado e clamor nº 26 para Ana Isabel
Hoje soube
que na Festa do Jardim Infantil do meu neto António que tem cinco anos cantaram
uma canção de José Mário Branco na qual se diz que «quando for grande quero ser
pequeno».
Poucos
minutos depois vi um filme sobre Sandy Denny (1947-1978), vocalista do Grupo Fairport Convention e ainda agora rainha
da pop inglesa cujo corpo repousa num dos cemitérios de Londres.
O segredo
está em perceber que ao lado da luz da vida está o escuro da morte, entre o
Príncipe Real e Putney Vale, um jardim e um cemitério, uma possível chave para
«ser pequeno quando for grande» como diz a canção de José Mário Branco.
(Fotografia de autor desconhecido)
domingo, 7 de novembro de 2021
Novo poema nº 4 para Ana Isabel
Novo
poema nº 4 para Ana Isabel
Para
Vergílio Ferreira «A música é sempre anterior a si, não existe no momento em
que a ouvimos»; eu, modesto escriba, em Iniciais escrevi poemas para diversos compositores
e intérpretes.
Um
Domingo de manhã, a Filarmónica Catarinense parou à porta da casa: minha mãe
fez o bolo de iogurte, minha filha Ana tinha um prato com fatias, meu pai veio encher
copos de vinho para os músicos.
Porque as lágrimas não cabiam no estojo do clarinete do primo, num Domingo pouco posterior, morreu de AVC três dias depois, frente à televisão num particular Portugal-Espanha em futebol.
José
do Carmo Francisco
(Fotografia de autor desconhecido)
quarta-feira, 8 de setembro de 2021
Breve poema nº 47 para Ana Isabel
Breve poema nº 47 para Ana Isabel
«O meu trabalho é brincar»
respondeu o meu neto António à vizinha que, na escada do prédio, queria saber
dos seus trabalhos de casa; a resposta tem a ver com os seus cinco anos.
Brincar com os pneus do Jardim
Infantil, brincar com os animais da selva, seja em livro ou em três dimensões,
brincar com as peças do LEGO, brincar, brincar sempre – é este o seu programa.
Afinal para o António o importante é Ser; o Mundo que o rodeia vai, mais tarde ou mais cedo, ao longo da vida, indicar-lhe a importância de Ter.
José do Carmo Francisco
terça-feira, 31 de agosto de 2021
Breve poema nº 46 para Ana Isabel
Breve poema nº 46 para Ana Isabel
Um dia dei-lhe uma folha A5 e pedi-lhe o registo imediato
da sua caligráfica obra de arte. Em 1966 a Caligrafia era uma disciplina do
velho Curso Geral do Comércio; não foi assim há tanto tempo.
Afinal no sangue pisado da vida, ninguém sabe se nas Artes ou nas Letras, vai haver para ele um futuro caminho para o seu actual talento no desenho dos algarismos.
José do Carmo Francisco
sexta-feira, 13 de agosto de 2021
Breve poema nº 45 para Ana Isabel
Breve poema nº 45 para Ana Isabel
Meu neto
Lucas passa todos os dias à porta da casa onde viveu Charles Gounod, ali a meio
caminho entre Blackheath Park e o Paragon, com os patos, os ventos e os
papagaios de papel.
Quando no
telefone o ouço ao piano na perseguição do tom mais perfeito para uma próxima
apresentação pública, percebo melhor como toda a obra de arte (até a arte pobre
das palavras) precisa do seu tempo de oficina.
Afinal os
aplausos na Sala do Conservatório atingem um valor elevado pois são o preço do
trabalho obscuro e continuado que foi preciso fazer para os alcançar.
José do Carmo Francisco
sexta-feira, 16 de julho de 2021
Breve poema nº 44 para Ana Isabel
«Gosto desta casa apesar dos bêbados durante a noite» - esta frase do meu neto Tomás explica uma ideia de pertença mesmo com a revolta, a raiva e o rancor dos noctívagos a descerem a Rua da Rosa com gritos para um Mundo que não os ouve.
Eu, pela minha parte, gosto
muito das linhas rigorosas e límpidas duma casa por si desenhada em Greenwich, ali
à beira do Tamisa, perto dos Museus, dos Cinemas e das Livrarias.
Afinal foi na avó Joan, na mãe
Ana e no pai Ian que todos os desenhos começaram a dar razão à nossa tão
conhecida frase feita - «filho de peixe sabe nadar».
José do Carmo Francisco
segunda-feira, 26 de abril de 2021
Até Esse Momento
ATÉ ESSE MOMENTO
Lembrarás então o pai aqui
sentado
A máquina de escrever no
chão
Os discos na parede entre
a luz e o pó
Irão passar talvez muitos
anos
Farás promessas que não
vais cumprir
E dirás ruas para voltar
noutras horas
Será como quem percorre um
caminho
Iluminado pela luz do teu
olhar
À procura das palavras
subterrâneas
Lembrarás então o pai aqui
sentado
Um gelado presente do
indicativo
E silencioso que não fala
– não esquece
Passarás nas tuas mãos um
fio
Será talvez a memória das
noites
O tempo do leite e das
fraldas
Será como quem procura
descobrir
Nos desenhos (nos cadernos
escolares)
Uma outra maneira – a tua
outra voz
Lembrarás então o pai aqui
sentado
Não como pai mas como
anónima pessoa
Surpresa a esperar no céu
do outono
Terás nas tuas mãos um
retrato
O voo das aves por cima da
casa
Como inesperada vírgula do
tempo
Será como quem procura
fragmentos
Num momento ou talvez num
lugar
Na tua idade como um
portão aberto
José do Carmo Francisco
(Óleo de Edward Hooper)
domingo, 7 de março de 2021
2006 (O esquilo no jardim)