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segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Sobre um tema de Vitorino Nemésio

 


Sobre um tema de Vitorino Nemésio
 
                                                                                    Viver nas ilhas pequenas
                                                                         É comprar paz com desconto      
(Vitorino Nemésio)
 
Viver nas ilhas pequenas
É ter mais tempo nos dias
Entre manhãs tão serenas
E as noites longas e frias
 
O dia tem horas cheias
Passam os vários vapores
E na sombra das baleias
Há vozes de trancadores
 
O vinho das cepas velhas
Desce com a neve do Pico
Desde a porta até às telhas
É nesta adega que eu fico
 
No sossego das lagoas
Na distância das fajãs
Perdi a voz das pessoas
Na gramática das manhãs
 
Viver nas ilhas pequenas
É comprar paz com desconto
Ter numa factura apenas
A vida ponto por ponto
 
José do Carmo Francisco  

(Óleo de Henry Moret)

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Casa dos Açores


Casa dos Açores

Anabela queria estar mas não podia
Na música e na palavra em recital
A chuva, a tempestade e a ventania
Não a deixavam viajar até à capital.
Nos seus olhos se desenha o Universo
Na sua voz Terra e Água, a Geografia
Um som concentrado mas disperso
Resume toda a origem da Poesia.
Que é juntar de novo o que a morte
Nos ajudou a separar em cada dia
Como se fosse uma oração mais forte
Do que a ganga de toda a nostalgia.
Carla Seixas tocava e Sidónio dizia
A palavra mais perdida e levantada
Foi um tempo de completa harmonia
Na cidade ficou serena a madrugada.

José do Carmo Francisco      

(Fotografia de autor desconhecido)

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Fotografia antiga




Fotografia antiga

Toda de branco ficaste ao colo do teu pai
Pequena e loira tu não podias caminhar
Há as fotografias das quais nunca se sai
Mesmo quando nós julgamos ter um lugar

Mesmo se pensamos ter o poder de decisão
E escolhemos nossos quotidianos caminhos
Descobrimos ser o nosso lugar na procissão
Ali bem perto de todos os outros anjinhos

Era aí que deverias para sempre ter ficado
Nos braços fortes de um pai tão protector
Então o futuro confunde-se com o passado
E havemos de o encontrar seja lá onde for

Não durmas embora seja grande o cansaço
Eu já oiço a filarmónica ali ao fim da rua
Olha bem. É aqui o teu lugar, o teu espaço
A memória dessa menina ao colo é só tua    
                
 José do Carmo Francisco

(A fotografia é de autor desconhecido)    
        

sábado, 5 de julho de 2014

Breve canção para «A balada das baleias»


Breve canção para «A balada das baleias»

Tantas bocas à espera
Da riqueza da baleia
Na lancha da Primavera
Não tememos maré-cheia

Os velhos lobos-do-mar
Sentados na nostalgia
Já nada podem pescar
Quando chega o fim do dia

Botes, lanchas e vapores
Na Vigia da Queimada
As vozes dos trancadores
São tempestade poupada

Quando o mar é labirinto
Quando saudade é memória
Tudo aquilo que eu sinto
Faz nascer a nova história

Aqui no centro do Mundo
Casa dos botes, meu lar
Sentimento mais profundo
Tem a fundura do mar

Com chapéu ou em cabelo
Há nestes homens cansados
As muralhas dum castelo
Batido por todos os lados   

Mulheres são como sereias
Lanchas com nome escrito
Fazem as horas mais cheias
Quando se pesca em conflito

As Filarmónicas perdidas
Chegam o som junto ao cais
No mapa das nossas vidas
Há baleias de nunca mais

José do Carmo Francisco

(nota: A Balada das Baleias é um livro de Sérgio Ávila, Ermelindo Ávila e Sidónio Bettencourt, da Ver Açor Editores)    

(Ilustração de autor desconhecido)

sábado, 31 de agosto de 2013

Balada do Vulcão dos Capelinhos


Balada do Vulcão dos Capelinhos

O Vulcão dos Capelinhos
Na voz de Carlos Lobão
Projecta vários caminhos
Numa mesma direcção
Verdades nuas e frias
Contra o pó da emoção
Contra as pobres teorias
Só lhe interessa a razão
Vive sono nos ficheiros
Deixou de contar os dias
Argumentos verdadeiros
Saíram das secretarias
Vê a areia em telhados
E estuda o passaporte
Entre tantos sinistrados
Não resultou uma morte
Kennedy é fotografado
Como grande benfeitor
Mas não ficou provado
Que ele teve tanto valor

Pela carta americana
Bilhete de identidade
Dentro de uma semana
Já começava a saudade
Levam nos seus ouvidos
O som destas procissões
Rosários tão compridos
Envolvem seus corações
Outros embarcam a medo
Moçambique é o destino
Ninguém revela o segredo
Daquele grupo peregrino
Que se interna no capim
Numa terra tão diferente
Mesmo longe era assim
Fortes a querer ser gente
O vulcão dos Capelinhos
Na voz de Carlos Lobão
Projecta vários caminhos
Numa mesma direcção            


José do Carmo Francisco          

(Fotografia de Autor Desconhecido)